ANÁLISE DA AUTODEPURAÇÃO DO RIO ALEGRE, NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO APÓS LANÇAMENTO DE DEJETOS DE SUÍNOS

Documentos relacionados
Poluição Ambiental. Autodepuração dos corpos d água. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

RECURSOS HÍDRICOS AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DE ZONAS DE MISTURA DE EFLUENTES PARA A PORÇÃO SUPERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTA MARIA DA VITÓRIA

Ciências do Ambiente

II-521 CAPACIDADE DE AUTODEPURAÇÃO DO ARROIO HERMES COMO CORPO RECEPTOR DE EFLUENTES DOMÉSTICOS

CAPACIDADE DE AUTODEPURAÇÃO DO RIO SÃO MIGUEL, PAINS/MG

Avaliação da Capacidade de Autodepuração do Rio das Mortes no Município de Vassouras/RJ

Poluição Orgânica. Oxigênio Dissolvido e DBO. Modelagem e Controle da Qualidade da Água Superficial Regina Kishi, 11/11/2014, Página 1

CONCESSÃO DE OUTORGA DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES, MEDIANTE A APLICAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO DE STREETER-PHELPS

O meio aquático I. Bacia Hidrográfica 23/03/2017. Aula 3. Prof. Dr. Joaquin Bonnecarrère Garcia. Zona de erosão. Zona de deposição.

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

Programa Analítico de Disciplina CIV442 Qualidade da Água

O meio aquático I. Aula 3 Prof. Dr. Arisvaldo Méllo Prof. Dr. Joaquin B. Garcia

CIV 227 SANEAMENTO. Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Civil

Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM. (2)

Poluição Ambiental Matéria Orgânica e Carga Poluidora. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

Poluição Ambiental Matéria Orgânica e Carga Poluidora. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

Estudo de autodepuração do rio Paraíba do Sul após lançamento do efluente de uma ETE

Caracterização físico-química de efluente de indústria de laticínios tratado por sistema de lagoas de estabilização

SUMÁRIO. PARTE A CONCEITOS BÁSICOS E ESTUDOS DE CARACfERIZAÇÃO. CAPÍTULO 1 Introdução. Marcos von Sperling 1.1. PRELIMINARES 21

MODELAGEM AMBIENTAL APLICADA AO RIACHO MUSSURÉ-PB

IV ESTIMATIVA DE ESGOTO E MODELAGEM DA AUTODEPURAÇÃO DOS EFUENTES DOMÉSTICOS LANÇADOS NO RIO DOCE NA CIDADE DE BAIXO GUANDU, ES

Raoni de Paula Fernandes

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE UM CORPO HÍDRICO APÓS LANÇAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

ESTIMATE OF ORGANIC CHARGE AND MODELING OF A DEPURATION WASTE OF A PIG IN THE RIBEIRÃO VALA DO SOUZA, JERÔNIMO MONTEIRO, STATE OF THE ESPÍRITO SANTO

Qualidade da Água em Rios e Lagos Urbanos

Acadêmicas 2 ano do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Goiás Unidade de Morrinhos.

CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA DO ESGOTO

2 - Sistema de Esgotamento Sanitário

Avaliação do Potencial e da Capacidade de Desnitrificação em Sistema Pós-D de Tratamento de Esgoto

DETERMINAÇÃO DE EFICIÊNCIAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO PARA ALCANCE DA META DE ENQUADRAMENTO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO NOVO - ES.

Avaliação da Qualidade da Água

RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA - CEPIC INICIAÇÃO CIENTÍFICA

MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BENFICA COM VISTAS À SUA PRESERVAÇÃO

Módulo 2. Requisitos Legais Identificação da Legislação Aplicável Requisito da norma ISO Exercícios.

NORMA TÉCNICA CONTROLE DE CARGA ORGÂNICA EM EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS CPRH N 2.001

II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.

Água doce disponível: pequena parcela da água mundial:

Eixo Temático ET Recursos Hídricos APLICAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO STREETER-PHELPS A UM RIO QUE RECEBE LANÇAMENTO DE POLUENTE ORGÂNICO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE ÁGUA DE CORPO HÍDRICO E DE EFLUENTE TRATADO DE ABATEDOURO DE BOVINOS

CONCEITOS GERAIS E CONCEPÇÃO DE ETEs

I APLICAÇÃO DE MICROORGANISMOS EM ESGOTOS SANITÁRIOS PARA AUXILIAR NA DEPURAÇÃO DE CURSOS D ÁGUA

Gerenciamento e Tratamento de Águas Residuárias - GTAR

Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN

Estimativa de esgoto e modelagem da autodepuração dos efluentes domésticos lançados no Rio Doce na cidade de Baixo Guandu, ES

ANÁLISE QUANTITATIVA PRELIMINAR DE ESTUDOS DE MEDIÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA DO RIO NEGRO-RS

Prof. Dr. Luciano dos Santos Rodrigues EV-UFMG. Contato: Telefone: (31)

Poluição Ambiental Poluição Hídrica

Química das Águas - parte 3

Aluna do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo/RS 3

ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS DETERMINADOS PELA SUDEMA DO RIO JAGUARIBE COM PADRÕES CONAMA 357/05

Tratamento alternativo do corpo hídrico do Ribeirão Vai e Vem no município de Ipameri GO contaminado por efluente doméstico.

disposição de resíduos, mesmo que tratados.

ESTUDO PRELIMINAR DE COLIFORMES TERMOTOLERANTES NA ÁGUA DOS ARROIOS PEREZ E BAGÉ. 1. INTRODUÇÃO

IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO USO IRREGULAR DE DEJETOS DE SUÍNOS NO SOLO

MODELAGEM DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO NO CÓRREGO SALOBINHA, MONTES CLAROS DE GOIÁS

Tonimara de Souza Cândido1, João Henrique Miranda2, Marcos Vinicius Sanches Abreu3, Larissa Quartaroli⁴

Valoração ambiental por dano aos recursos hídricos

TRATAMENTO DO EFLUENTES

POLUIÇÃO AMBIENTAL: DIAGNÓSTICO DAS FONTES CONTAMINANTES DO CÓRREGO DE TANQUES

Ambientes de água doce. Esses se dividem em ambientes: -Lóticos: água corrente -Lênticos: água parada

LAGOAS DE AGUAPÉS NO TRATAMENTO TERCIÁRIO DE DEJETOS DE SUÍNOS

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL HIDROLOGIA APLICADA

Programa Analítico de Disciplina CIV446 Tratamento Biológico de Resíduos Sólidos Orgânicos

TRATAMENTO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DO PERÍMETRO RURAL DA CIDADE DE PINHALZINHO/SC

Regulamentação do uso de efluentes de biodigestor na fertirrigação. Gabriel Vidal Gaspar Engenheiro Ambiental Mestrado em Saneamento Ambiental

Características e padrões de qualidade da água

Química Ambiental Aula 5 Química das águas Parte 3b Antonio Pedro Guimarães Departamento de Química

AVALIAÇÃO E MODELAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA E CAPACIDADE DE AUTODEPURAÇÃO DO RIO DO PEIXE

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DO RIO PARAGUAÇU E AFLUENTES, BAHIA, BRASIL

Engenheiro Civil, Doutorando em Geologia Ambiental, Curitiba, PR - Brasil, [b]

O Meio Aquático II. Comportamento de lagos, Abastecimento, Tratamento, conservação e Reuso de água. Aula 4. PHD 2218 Introdução a Engenharia Ambiental

Aula 4 O Meio Aquático II

PQI 3221 Cinética Química e Processos Ambientais

Avaliacao do Corrego Campestre Apos a Implantacao da ETE do Municipio de Lins-SP. Ferreira Rina, Carlos

TÍTULO: VERIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTE INDUSTRIAL, UTILIZANDO COMO BIOINDICADOR A PLANÁRIA DUGESIA TIGRINA.

4.2 - Poluição por Nutrientes Eutrofização Aumento de nutrientes, tipicamente compostos contendo N e P, no ecossistema.

Esgoto Doméstico: Coleta e Transporte

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

estas atividades deparam com a presença de amônia nos efluentes industriais e, em conseqüência, nos recursos hídricos. Desta forma, são desenvolvidos

Poluição Ambiental Poluição Hídrica

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO DE PEDRA DO CAVALO BA.

Amostragem e monitoramento de corpos d água

Eixo Temático ET Recursos Hídricos AVALIAÇÃO DE ATRIBUTOS ORGÂNICOS EM RESERVATÓRIOS DA SUB-BACIA DO ALTO JAGUARIBE, CEARÁ

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA DE UM POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO SÍTIO VÁRZEA NO MUNICÍPIO DE GURJÃO-PB

A CINÉTICA DO NITROGÊNIO NO RIO MEIA PONTE, ESTADO DE GOIÁS, BRASIL

CARACTERIZAÇÃO DE CURSOS DE ÁGUA SITUADOS NA ÁREA INTERNA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR.

DETERMINAÇÃO DO IQA DO ARROIO CLARIMUNDO NA CIDADE DE CERRO LARGO/RS 1 DETERMINATION OF THE IQA OF CLARIMUNDO RIVER IN THE CITY OF CERRO LARGO/RS

ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CÓRREGO ANDRÉ, MIRASSOL D OESTE MT 1

NITROGÊNIO. Princípios da Modelagem e Controle da Qualidade da Água Superficial Regina Kishi, 7/24/2015, Página 1

CARACTERIZAÇÃO RESPIROMÉTRICA DA DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO DO SEDIMENTO (DBOS) E MODELAGEM DE SEUS IMPACTOS SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA

Gilda Vieira de Almeida, Leonardo Duarte Batista da Silva, Alexandre Lioi Nascentes, Camila Pinho de Sousa, Thayza Oliveira Nacena de Santana

DESEMPENHO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO PELO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS OPERANDO POR BATELADA

Caracterização das Águas Residuárias das Principais ETAs do Estado da Paraíba

Saneamento I Tratamento de Esgotos

II DETERMINAÇÃO DAS CARGAS DE NUTRIENTES LANÇADAS NO RIO SALGADO, NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE, REGIÃO DO CARIRI-CEARÁ

ESTUDO DE VIABILIDADE PARA INCORPORAÇÃO DE LODO DE ESGOTO EM SOLOS: CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICA E DE PARÂMETROS QUIMICOS

Avaliação preliminar das nascentes do Rio Mundaú inserida na zona urbana do município de Garanhuns

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS DEPARTAMENTO DE OBRAS HIDRÁULICAS

Transcrição:

ANÁLISE DA AUTODEPURAÇÃO DO RIO ALEGRE, NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO APÓS LANÇAMENTO DE DEJETOS DE SUÍNOS Larissa de Souza Vianna 1 ; Thábata Nágime Mendes 2 ; Kmila Gomes da Silva 3 ; Ana Paula Almeida Bertossi 4 ; 1. Bióloga, Faculdade de Filosofa Ciências e Letras de Alegre. Rua Belo Amorim, nº100, 29500-000, Centro, Alegre (ES), Brasil. larissasouzav@hotmail.com 2. Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Rua Belo Amorim, nº100, 29500-000, Centro, Alegre (ES). 3. Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Governador Lindenberg, s/n, Jerônimo Monteiro ES, Brasil 29550-000 4. Engenheira Agrônoma, Mestre do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Governador Lindenberg, s/n, Jerônimo Monteiro ES, Brasil 29500-000 Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO Objetivou-se com esse estudo, avaliar o fenômeno de autodepuração do Rio Alegre, ES, após o lançamento de efluentes oriundos da suinocultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Este processo foi analisado utilizando a Planilha de Streeter-Phelps e o programa AD ÁGUA, juntamente com as metodologias que compartilham do mesmo tema desta pesquisa. Verificou-se que no programa AD ÁGUA, à distância para o restabelecimento do equilíbrio no meio aquático é a partir de 15 km. Já conforme o modelo Streeter-Phelps o restabelecimento do OD ocorreu em 600 km, o cálculo nessa planilha contemplou maior distância do rio, além de apontar o perfil de OD no tempo (dias) que neste caso ocorreu em 9 dias. PALAVRAS-CHAVE: Autodepuração; Suinocultura; Dejetos líquidos; Recursos hídricos. ANALYSIS OF THE PHENOMENON OF SELF-PURIFICATION AFTER RELEASE OF PIG SLURRY, IN RIVER BASIN ALEGRE - ES ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the phenomenon of self-purification of the Rio Alegre, ES, after the release of effluent from pig farming to the Center of Agrarian Sciences, Federal University of Espirito Santo. This process was analyzed using the Bill Streeter-Phelps AD'ÁGUA and the program, along with the methodologies that share the same theme of this research. It was found that the program AD'ÁGUA, distance to restoring the balance in the aquatic environment is from 15 km. Already as the Streeter-Phelps model restoration occurred in the OD 600 km, the calculation in this spreadsheet looked farther from the river, besides indicating the profile of OD over time (days) in this case occurred in 9 days. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1076

KEYWORDS: Depuration; Swine; Liquid wastes; Water Resources. INTRODUÇÃO Os recursos hídricos superficiais e subterrâneos estão susceptíveis a constantes riscos de contaminação pelos mais diversos poluentes (ASSIS e MURATORI, 2007). Avaliando os recursos passíveis de impacto pela produção suinícola, os recursos hídricos foram considerados os mais afetados devido à peculiaridade do principal resíduo da produção, que são os dejetos líquidos (PALHARES e CALIJURI, 2007). A expansão da suinocultura é uma questão que tem gerado certa preocupação quando se trata da disposição final dos resíduos. O lançamento de dejetos suínos não-tratados no ambiente compromete tanto o equilíbrio dos ecossistemas aquático e terrestre quanto à saúde humana, face ao potencial poluidor de seus dejetos (SCHMIDT et al., 2002). A presença de matéria orgânica em um corpo d água implica indiretamente na disponilibilização do oxigênio dissolvido para as espécies existentes no meio. As bactérias decompositoras no processo de degradação da matéria orgânica consomem o oxigênio para o desdobramento de substâncias orgânicas complexas (carboidrato, proteínas e gorduras em substancias orgânicas simples), causando o decréscimo do oxigênio dissolvido da água (DAY e FUNK, 1998 citado por SCHMIDT et al., 2002). Para assegurar a estabilização das comunidades aquáticas é necessário que haja tratamento das águas residuais para atender as condições mínimas aceitáveis para o lançamento de efluentes, com características e concentrações permitidas pela legislação (BRASIL, 1986). Torna-se necessário, desta forma, prever a capacidade do sistema de receber efluentes, além de quantificar os impactos causados por determinadas ações. Um dos principais modelos matemáticos aplicados à qualidade da água foi desenvolvido por H. S. Streeter e E. B. Phelps em 1925, para o Rio Ohio. Este modelo é utilizado para prever o déficit da concentração de oxigênio em um rio, causado pela descarga de águas residuárias. A quantidade e variedade de modelos que simulam a qualidade das águas são grandes. Sendo assim, a escolha pelo modelo mais adequado, deve ser promovida de acordo com as necessidades do pesquisador (SARDINHA et al., 2008). É possível citar dentre os vários modelos, o programa AD ÁGUA desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa em 2001. Segundo Von SPERLING (2007), o ecossistema de um corpo d água antes do lançamento de despejos encontra-se usualmente em um estado de equilíbrio. Após a entrada da fonte de poluição, o equilíbrio entre as comunidades é afetado, resultando numa desorganização inicial, seguida por uma tendência posterior à reorganização. Neste contexto, o objetivo do estudo foi avaliar a capacidade de autodepuração do rio Alegre, ES, após lançamento de efluentes da suinocultura da área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCAUFES), utilizando o modelo de STREETER-PHELPS (1925) e o programa AD` ÁGUA 2.0 (UFV, 2001). METODOLOGIA O estudo apresentado neste trabalho foi realizado no sistema de produção de suínos (SPS) (Figura 1) sob coordenadas 20045 3 Sul e 41029 12 Oeste e altitude ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1077

112m, localizado na Área Experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), em Alegre/ES, às margens da Rodovia BR-482, que liga Alegre a Cachoeiro de Itapemirim. SUINOCULTURA FIGURA 1- Foto aérea da Área Experimental do CCA-UFES, com destaque para a localização da suinocultura. (FONTE: GOOGLE EARTH). Foi necessária a caracterização do empreendimento, com a obtenção de dados que subsidiassem o cálculo da carga de poluente gerada. Posteriormente foi estimada a vazão e velocidade média do rio Alegre, uma vez que, esses parâmetros são obrigatórios na modelagem do perfil de oxigênio dissolvido (OD) ao longo do curso d água. Por último foi feita a modelagem do perfil de oxigênio dissolvido, com auxílio do software Ad água 2.0. O sistema de produção é no modelo de criação confinado, onde todas as categorias (machos, fêmeas e leitões) encontram-se sobre piso e sob cobertura e as diferentes fases são desenvolvidas em um único prédio. A área de criação é pequena, com edificações e equipamentos simples. No total são criados 32 animais, sendo: 4 fêmeas adultas, 3 machos adultos e 25 leitões, com exigência de um funcionário para o fornecimento de ração e limpeza. Sendo a suinocultura altamente dependente de recursos naturais como água, solo e insumos, principalmente, ração e energia elétrica, foi estabelecido um programa de uso racional destes o qual irá proporcionar uma longevidade produtiva à criação e vantagens econômicas a serem refletidas no custo de produção. Apesar de ser uma criação pequena, a produção, armazenagem e destino dos dejetos deve merecer muita atenção, pois estes, lançados no solo e nos mananciais de água podem causar desequilíbrios ambientais. Os resíduos produzidos pelas atividades da suinocultura compreendem efluente compostos por fezes, urina e água das etapas de lavagem que ocorre diariamente das unidades de criação. Para determinar a distância em que o rio, após receber o lançamento do efluente, retorna ao seu estado inicial de equilíbrio, pelo processo de autodepuração, foram utilizados o programa AD ÁGUA e a Planilha de Streeter-Phelps, juntamente ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1078

com referências sobre estudos que compartilham do mesmo tema desta pesquisa, ou seja, a influência dos resíduos, produzidos nas suinoculturas, sobre os recursos hídricos. RESULTADOS E DISCUSSÃO O desenvolvimento da suinocultura tem apresentado como fator mais preocupante, o alto poder poluente da quantidade de dejetos produzidos. A capacidade poluente dos dejetos suínos, em termos comparativos, é muito superior à de outras espécies animais criadas em confinamento. A quantidade de dejetos produzidos, por dia, por animal adulto corresponde, em termos de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), aproximadamente, à quantidade produzida por seis a oito pessoas. Neste caso, pode-se estimar que uma granja com 1.000 animais possui poder poluente semelhante ao de um núcleo populacional de aproximadamente 7.000 pessoas (PERDOMO e LIMA, 1998). Os principais constituintes dos dejetos suínos que afetam a qualidade das águas superficiais são a matéria orgânica, os nutrientes, as bactérias fecais e os sólidos sedimentáveis. Nitratos e bactérias podem vir a ser sério problema em relação à contaminação de águas subterrâneas e compostos voláteis podem ocasionar problemas de odor desagradável (PERDOMO et. al, 2001). Para determinar a distância em que o rio, após receber o lançamento do efluente, retoma o seu estado inicial de equilíbrio é necessário conhecer alguns parâmetros relacionados ao rio e ao efluente. As características do rio são: profundidade, velocidade, vazão, temperatura, oxigênio dissolvido (OD) e a classe, como não existem dados fluviométricos disponíveis, foi utilizado o método do flutuador para estimativa dos valores de velocidade média e vazão onde para o rio em estudo os valores encontrados foram: 0,80 m, 0,8 m/s, 6 m 3 /s, 22 o C, 7,71 mg/l e a classe 2 (águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento convencional, a irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, entre outros), respectivamente, para efeito de cálculo o rio foi considerado como razoavelmente limpo. Esses valores serão utilizados como parâmetros para modelagem da autodepuração do corpo receptor. Os parâmetros relacionados ao efluente são: vazão, DBO, OD, que para o efluente em estudo foram: 4*10-6 m 3 /s, 10.000 mg/ L e 0 mg/l, respectivamente. Na área de estudo (suinocultura) são criados 32 animais, onde: 04 são fêmeas adultas, com peso de aproximadamente 100 kg cada, 03 são machos adultos, com peso de aproximadamente 150 kg cada e 25 são leitões, com aproximadamente 35 kg cada. Para calcular a vazão de efluente produzida diariamente e sua DBO, foi utilizada uma tabela com as características das águas residuárias de algumas indústrias encontrada no livro de Von SPERLING (2005). Para cada tonelada de animal/dia estima-se que seja produzido 0,2 m 3 de efluente por dia e a carga específica de DBO por tonelada seja de 2 kg por dia. Como o peso total dos animais é de 1725 kg ou 1,725 ton viva/dia, os valores de vazão em m 3 /dia e de DBO em Kg/dia, encontrados foram: 0,345 m 3 de efluente/dia e 3,45 kg DBO/dia. Para utilizar esses dados no programa é necessário que a DBO esteja em mg/l e a vazão do efluente em m 3 /s, que transformados apresentaram os valores de 10.000 mg/l de DBO e 4.10-6 m 3 /s de efluente. Os valores obtidos pelo programa AD ÁGUA e pela planilha de Streeter- Phelps estão apresentados nos quadros 1 e 2, respectivamente. Assim como nas ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1079

figuras 2 e 3 estão apresentados o perfil de oxigênio dissolvido obtido em cada método utilizado. QUADRO 1- Cálculo da autodepuração do rio estudado utilizando o programa AD ÁGUA DADOS DE ENTRADA Efluente Vazão: 0,0024 m³/s K1(22ºC): 0,44 dia-1 DBO5: 10000 mg/l Oxigênio dissolvido: 0,00 dia-1 Curso d'água Vazão: 6 m3/s Classe: 2 Velocidade média: 0,8 m/s Altitude média: 112 m Profundidade média: 0,8 m Temperatura: 22ºC Distância do percurso: 12,5 km DBO5 do rio: 3mg/L Oxigênio dissolvido no rio: 7,71 mg/l K2: 6,13 dia-1 RESULTADOS Concentração de O 2 na mistura: 7,71 mg/l Déficit de O 2 na mistura: 0,86 mg/l DBOu da mistura: 3,38 mg/l DBO5 da mistura: 3,01 mg/l Concentração crítica: 8,32 mg/l Tempo crítico: 0,00 dias Distância crítica: 0,00 Km FIGURA 2 - Perfil de oxigênio dissolvido ao longo da distância do rio obtido com o auxílio do programa AD ÁGUA. (FONTE: AUTORES). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1080

QUADRO 2 - Cálculo da autodepuração do rio utilizando da planilha Streeter-Phelps PERFIL DE OXIGÊNIO MODELO DE STREETER-PHELPS Tempo (dias) OD (mg/l) Distância (km) OD (mg/l) 0.00 7.71 0.00 7.71 Dados de Entrada do Modelo 1.00 8.53 69.12 8.53 2.00 8.60 138.24 8.60 Vazão do rio (Qr, m³/s) 6.00 3.00 8.64 207.36 8.64 Vazão do efluente (Qe, m³/s) 0.000004 4.00 8.66 276.48 8.66 DBO rio (DBOr, mg/l) 3.00 5.00 8.68 345.60 8.68 DBO efluente bruto (DBOefluente, mg/l) 10000.00 6.00 8.69 414.72 8.69 Eficiência do Tratamento (%) 0.00 7.00 8.69 483.84 8.69 DBO efluente tratado (DBOe, mg/l) 10000.00 8.00 8.69 552.96 8.69 OD rio (ODr, mg/l) 7.71 9.00 8.70 622.08 8.70 OD efluente (ODe, mg/l) 0.00 10.00 8.70 691.20 8.70 OD saturação (Cs, mg/l) 8.70 11.00 8.70 760.32 8.70 Coeficiente de desoxigenação (k1, 1/dia) 0.44 12.00 8.70 829.44 8.70 Coeficiente de reaeração (k2, 1/dia) 6.13 13.00 8.70 898.56 8.70 Velocidade média do rio (V, m/s) 0.80 14.00 8.70 967.68 8.70 Temperatura (ºC) 22.00 15.00 8.70 1036.80 8.70 DBO última (Lo, mg/l) 3.30 16.00 8.70 1105.92 8.70 Coeficiente inicial de oxigênio (Co, mg/l) 7.71 17.00 8.70 1175.04 8.70 Déficit inicial de oxigênio (Do, mg/l) 0.99 18.00 8.70 1244.16 8.70 19.00 8.70 1313.28 8.70 20.00 8.70 1382.40 8.70 Dados Corrigidos 21.00 8.70 1451.52 8.70 Coeficiente de desoxigenação (k1, 1/dia) 0.48 22.00 8.70 1520.64 8.70 Coeficiente de reaeração (k2, 1/dia) 6.43 23.00 8.70 1589.76 8.70 24.00 8.70 1658.88 8.70 25.00 8.70 1728.00 8.70 Valores Críticos 26.00 8.70 1797.12 8.70 Tempo crítico (tc, dias) 0.7 27.00 8.70 1866.24 8.70 Distância crítica (dc, km) 45.06 28.00 8.70 1935.36 8.70 Déficit crítico de oxigênio (Dc, mg/l) 0.18 29.00 8.70 2004.48 8.70 Concentração crítica de 8.52 30.00 8.70 2073.60 8.70 ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1081

oxigênio (Cc, mg/l) PERFIL DE CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO PERFIL DE CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO 8,80 8,80 Concentração de OD (mg/l) 8,60 8,40 8,20 8,00 7,80 7,60 0 5 10 15 20 25 30 35 Tempo (dias) Concentração de OD (mg/l) 8,60 8,40 8,20 8,00 7,80 7,60 0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 Distância (Km) FIGURA 3 - Perfil de oxigênio dissolvido ao longo da distância do rio obtido com o auxílio da planilha Streeter-Phelps. (FONTE: AUTORES). O parâmetro Oxigênio Dissolvido (OD) manteve-se constante até o ponto de lançamento do efluente considerado zona de águas limpas, tanto no programa AD ÁGUA, quanto na planilha de Streeter-Phelps. O valor do OD apresentado na linha pontilhada em vermelho, de 5 mg/l, corresponde ao valor determinado com base no Art. 15 do CONAMA Nº 357 de 2005 para rios classe II. Considerando o Art. 42 que enquanto ainda não houver enquadramento dos corpos d água, os mesmos serão considerados todos classe II. CONCLUSÃO De acordo com o programa AD ÁGUA, à distância para o restabelecimento do equilíbrio no meio aquático é a partir de 15 km, após esta distância não foi apresentado pelo programa o comportamento do OD do rio. Já conforme o modelo Streeter-Phelps o restabelecimento do OD ocorreu em 600 km, o cálculo nessa planilha contemplou maior distância do rio, além de apontar o perfil de OD no tempo (dias) que neste caso ocorreu em 9 dias. Cabe ressaltar que não existem outros pontos de produção de efluentes à jusante da suinocultura, o que poderia dificultas a autodepuração do curso d água. Mesmo se tratando de uma pequena criação de suínos, com baixa produção de efluentes, devem-se tomar certos cuidados com o destino que vai ser dado aos resíduos para que estes não causem nenhum desequilíbrio ambiental. REFERÊNCIAS ASSIS, F. O. ; MURATORI, A. M. Poluição hídrica por dejetos de suínos: um estudo de caso na área rural do município de Quilombo, Santa Catarina. Rev. Eletrônica Geografar, v.2, n.1, p.42-59, 2007. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. Resolução n. 01 de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente. Disponível em: http//:www.mma.gov.br. Acesso em: 01 de dez. de 2010. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1082

PALHARES, J. C. P.; CALIJURI, M. do C. Caracterização dos afluentes e efluentes suinícolas em sistemas de crescimento/ terminação e qualificação de seu impacto ambiental. Ciência Rural, v.37, n.2, p. 502-509, 2007. PERDOMO, C. C.; LIMA, G. J. M. M. Considerações sobre a questão dos dejetos e o meio ambiente. In: SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S.; SESTI, L. A.C. Suinocultura intensiva: produção, manejo e saúde do rebanho. Brasília: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 1998, p.223-235. PERDOMO, C. C.; LIMA, G. J. M. M. de.; NONES, K. Produção de suínos e meio ambiente. In: 9o Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, Gramado, RS, Anais, Gramado, RS, p. 08-24, 2001. SARDINHA, D. S.; CONCEIÇÃO, F. T.; SOUZA, A. D. G.; SILVEIRA. A.; DE JULIO, M.; GONÇALVES, J.C.S.I. Avaliação da qualidade da água e autodepuração do Ribeirão do Meio, Leme (SP). Engenharia Sanitária Ambiental, v.13, n.03, p.329-338, 2008. SCHMIDT, V.; GOTTARDI, C. P. T.; SANTOS, M. A. A.; CARDOSO, M. R. I. Perfil físico-químico e microbiológico de uma estação de tratamento de dejetos suínos. Ars Veterinaria, vol. 18, n 3, p. 287-293, 2002. STREETER, H.W.; PHELPS, E.B. A study of the pollution and natural purification of the Ohio River. Whashington: Publish Health Bulletin, 1925. UFV. Sistema para simulação de autodepuração de cursos d água, AD ÁGUA, versão 2.0, Viçosa, 2001. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental Universidade Federal de Minas Gerais, 2005. VON SPERLING, M. Estudos e Modelagem da Qualidade das Águas de Rios. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1083