Desenvolvimento do Sistema de Gestão Ambiental na Unidade Escolar de Ensino Fundamental Prof.ª Marisa Lapido Barbosa, Taubaté, SP. Costa, K. R 1 ; Cortez, C. L 2 ; Ayrosa, A. M. I. B 3 1,2,3 Fundação Armando Álvares Penteado/ Departamento de pós-graduação Tecnologia e Gestão Ambiental, Av. Dr. Jorge Zarur, 650-12243-081 - Serimbura - SJC/SP, key_feit@yahoo.com.br Resumo- O meio ambiente ocupou os horizontes da humanidade e se instalou em caráter definitivo diante das ações humanas. A implementação de sistemas de gestão ambiental faz hoje, parte da realidade de muitas empresas que visam novos mercados. Em órgãos públicos, porém, este processo começa a despertar. Nas instituições de ensino superior é possível notar certa movimentação neste sentido. Em contrapartida, nas instituições de educação básica, o tema meio ambiente é desenvolvido em sua maioria como conteúdo específico de uma disciplina. Sentiu-se a necessidade de buscar novas ferramentas de se trabalhar a educação ambiental nas escolas e vivenciar a cidadania ambiental. O presente trabalho teve por objetivo elaborar um sistema de gestão ambiental adequado à unidade escolar Prof.ª Marisa Lapido Barbosa, pertencente ao município de Taubaté, SP. Por meio do levantamento da percepção ambiental da comunidade escolar e de seus principais aspectos e impactos ambientais foi possível elaborar uma política ambiental visando a sustentabilidade da instituição. Palavras-chave: Ensino fundamental. Gestão ambiental. Educação ambiental. Município de Taubaté - SP. Área do Conhecimento: Ciências Biológicas (meio ambiente)/ Ciências humanas (educação) Introdução É no contexto histórico sobre as discussões ambientais, em meio à organização de movimentos ambientalistas, preocupados com as conseqüências das atividades humanas, cujas causas, apontavam principalmente para a visão insipiente dos setores produtivos, com relação ao meio ambiente, que se inicia a trajetória da Educação Ambiental (EA). O tema meio ambiente, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, deve ser trabalhado de forma transdiciplinar. Nas instituições de ensino básico, porém, percebe-se que muitas vezes os conteúdos abordados não ultrapassam as salas de aula, permanecendo assim, como mais um conteúdo específico, distante da realidade dos estudantes. De acordo com Dias (2004), é recomendado que a EA nas escolas dê prioridade a problemas concretos, à utilização do meio ambiente imediato como recurso pedagógico, à colaboração docente de diferentes disciplinas e à necessidade de que a escola esteja aberta à comunidade. Com o intuito de integrar os princípios, valores e práticas do desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da educação e ensino, a Unesco declarou o decênio 2005 2014, a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A proposta visa incentivar os governos a incluir medidas para implementar a Década em seus respectivos planos de ensino, e se for o caso em seus planos de desenvolvimento nacional (Unesco, 2009). A Norma ISO 14001, sobre sistemas de gestão ambiental, enfatiza em seu item 4.4.2, a competência, o treinamento e a conscientização, como formas de assegurar a conformidade com a política ambiental da organização. Da mesma forma, promovendo a compreensão por parte de seus colaboradores sobre os impactos ambientais reais ou potenciais, inerente às atividades da empresa, e a importância e benefícios de sua prevenção (ABNT, 2004). O objetivo deste trabalho foi elaborar um sistema de gestão ambiental adequado à realidade da EMIEF Prof.ª Marisa Lapido Barbosa, localizada no município de Taubaté, SP. Para a elaboração deste adotou-se a utilização do método de Gerenciamento de Melhorias (PDCA). Metodologia Primeiramente buscou-se a autorização do departamento de Educação do município de Taubaté, para que se pudesse firmar um compromisso com a prefeitura municipal, a fim de facilitar a coleta de informações inerentes ao tema. Adotou-se a utilização do método PDCA (plan do check action), como forma de subsidiar o gerenciamento das atividades realizadas na unidade escolar, além de pesquisa a literatura pertinente ao tema. A unidade escolar municipal Prof.ª Marisa Lapido Barbosa, localiza-se no bairro Caixa 1
d`água, no município de Taubaté, SP, região do Vale do Paraíba (Figura 1). O município possui 43 escolas municipais que oferecem o ensino fundamental. Figura 1 Localização da unidade escolar. Fonte: EMIEF, 2009. A instituição escolar foi inaugurada em 2000 e iniciou suas atividades no ano de 2001. Atende turmas no período da manhã das 7h10 às 11h40, no período da tarde das 13h10 às 17h30, e no período noturno das 19h às 22h. Recebe crianças que permanecem em período integral na escola das 8h às 17h. Oferece à comunidade o ensino fundamental, uma das etapas da educação básica no Brasil, com duração de nove anos. A escola recebe crianças a partir dos seis anos de idade que concluirão o ensino fundamental em média aos 14 anos. O nível sócio econômico dos alunos é bastante variado. As informações referentes ao número de funcionários, alunos e o Índice de Desenvolvimento Escolar IDEB foram solicitadas à direção escolar. Informações referentes ao consumo de água e energia na escola foram solicitadas aos departamentos responsáveis da Prefeitura Municipal de Taubaté (Tabela 1). A Política Ambiental foi elaborada em parceria com a administração escolar com o objetivo de atender às prescrições da NBR 14001, e as previstas na Agenda 21, que sugere que o ensino é fundamental para conferir consciência ambiental e ética, valores, e atitudes, técnicas e comportamentos, em consonância com o desenvolvimento sustentável. (Brasil, 2009). A preocupação em atender as legislações e outros requisito legais, o comprometimento com a prevenção à poluição e a busca pela melhoria contínua foram aspectos evidenciados na Política Ambiental da unidade escolar. Os dados obtidos através do levantamento dos aspectos e impactos ambientais que perfazem a instituição, e os objetivos e metas visando à prevenção desses, foram a base para a elaboração da política ambiental. O processo de desenvolvimento do sistema de gestão ambiental da unidade escolar sentiu a necessidade de saber qual a percepção da comunidade sobre o meio ambiente. Para a obtenção de informações, foi elaborado dois questionários, para alunos e pais/ responsáveis, com perguntas abertas e fechadas, inclusive com questões atuais, como por exemplo, aquecimento global, efeito estufa e agenda 21. O levantamento dos aspectos e impactos ambientais da organização objetivou conhecer, de forma sistemática, os impactos ambientais significativos causados pela instituição e definir seu nível de importância. Inicialmente foi realizada a coleta de todo resíduo produzido por um dia letivo na escola, resíduos das salas de aula, administração, pátios, sanitários, e cozinha, com o objetivo de avaliá-los qualitativa e quantitativamente. O resíduo orgânico, proveniente do refeitório e da cozinha foi quantificado pela produção semanal. Os resíduos orgânicos provenientes de restos e sobras foram quantificados juntos, pois a unidade escolar não apresenta um sistema de separação, sendo ambos depositados em um mesmo recipiente. Para os resíduos orgânicos encontrados misturados aos demais resíduos sólidos, mais especificamente cascas e resíduos de bananas, 2
foi dado valor separado, haja vista que a distribuição de frutas na escola ocorre em média uma vez por semana, motivo da geração desse tipo de resíduo. Os resíduos depois de coletados foram separados em resíduos plásticos, papéis, materiais não recicláveis, papéis de bala, isopor e orgânico. Com o objetivo de identificar os aspectos e impactos relacionados a cada área, foram realizados mapas de processos de cada atividade ou local, com vista a identificar as entradas e saídas de materiais e outros. Resultados Para cada questão dos questionários entregues aos alunos, pais/responsáveis, foi calculada a porcentagem de respostas positivas e negativas, e em alguns casos, a expressão às vezes foi utilizada como resposta. Para melhor compreensão acerca dos resultados das questões, optou-se por separar os resultados de acordo com o sexo, exceto quando a questão foi do tipo aberta. Observou-se que a questão referente ao conhecimento por parte dos alunos sobre o destino do lixo produzido em casa ou na escola, foi a que obteve maior porcentagem de respostas negativas entre meninos e meninas, 58 e 70% respectivamente. Nas demais questões, não houve significativa variação entre as respostas de meninos e meninas. Com relação ao questionário entregue aos pais/ responsáveis, foi possível concluir que a questão referente ao conhecimento da agenda 21, foi a que mais apresentou resposta negativa, entre homens e mulheres, 89 e 92% respectivamente. Respeitando a proporção entre homens e mulheres entrevistados, a variação entre respostas positivas e negativas tendeu a normalidade, exceto com relação às questões sobre conhecimento do significado de desenvolvimento sustentável, a maior parte dos homens (61%) respondeu de forma positiva e a maior parte das mulheres (75%) de forma negativa. O mesmo observou-se na questão sobre conhecimento por parte de alguma legislação ambiental, a qual a maior parte dos homens (72%) respondeu também de forma positiva e a maior parte das mulheres (69%) de forma negativa. É importante ressaltar que do número de questionários entregues aos alunos, para que os mesmos levassem até seus responsáveis, a maior parte foi entregue às mulheres 74%. É possível que este número tenha sido expressivo devido à porcentagem de mulheres que relataram serem do lar 36%. Através dos resultados obtidos com o questionário, respondido por uma parcela da comunidade escolar, foi possível perceber o quanto a população está, atualmente, relativamente informada sobre as questões ambientais. Na questão apresentada aos responsáveis do tipo aberta, sobre o conhecimento de alguma legislação ambiental, observou-se a influência exercida pelos meios de comunicação disponíveis, evidenciadas em algumas das respostas, tais como: sabão Ypê, que possui uma campanha de reflorestamento; Partido Verde, MMA, IBAMA, entre outros. Para a obtenção de dados qualitativos e quantitativos sobre os resíduos produzidos pela escola, os mesmos foram separados e tiveram sua massa quantificada. Os dados obtidos por um dia letivo, foram multiplicados de modo a mensurar o valor aproximado de resíduo produzido em um ano pela escola 200 dias letivos (tabela 2). Analisando os dados é possível observar a excessiva quantidade de resíduos produzidos, com exceção do isopor, utilizado como base para maquetes quando solicitado pelos professores. Optou-se por separar o papel de bala dos demais resíduos pelo conhecimento do excessivo consumo de balas pelos estudantes, e o resultado como esperado foi bastante significativo. Tabela 2 Dados obtidos com a separação e quantificação dos resíduos da escola. Produção de resíduos sólidos na escola (kg) (data coleta 11/11/2008) Tipo diário anual *Orgânico (cascas de banana) 11,5 460,0 papel 19,2 3840,0 plástico 4,1 820,0 não reciclável 9,9 1980,0 papel de bala 0,6 120,0 isopor 0,4 80,0 Total 45,7 7300,0 Orgânico da cozinha **restos e ***sobras (data coleta 25/11/2008) semanal anual Total 80,5 3220,0 * Produzido em média uma vez por semana, considerando que em 200 dias letivos há 40 semanas;** Restos: alimento servido e não consumido; *** Sobra: alimento excedente que não saiu da panela. 3
Discussão Segundo Coimbra (2004) as representações ambientais da sociedade variam de acordo com as diferentes regiões, culturas e classes sociais. Estão traduzidas no modo de ver, ou na opinião corrente sobre a realidade ambiental. Os meios de comunicação social produzem ou retransmitem mensagens e programas de interesse ambiental, porém, muitas vezes inadequados ou reducionistas e por esta razão, permitindo efeitos duvidosos em termos de percepção ambiental pela população. Há, todavia, boas informações, assim como há grupos populares conscientes e bastante esclarecidos acerca do pensamento ecológico. Segundo Faggionato (2009), o conhecimento de como os indivíduos com os quais atuaremos percebem o ambiente em que vivem é de fundamental importância, pois somente assim será possível a realização de um trabalho local, partindo da realidade do público-alvo. Com relação à realidade dos resíduos produzidos pelas escolas do país, segundo relatório realizado por Veiga et al (2009), nas regiões Norte e Nordeste, a reutilização e a reciclagem do lixo são praticamente inexistentes nas escolas que oferecem EA. Apenas as escolas da Região Sul, no ano de 2004, possuíam um padrão diferenciado no que diz respeito à reutilização do lixo quando comparadas às das outras regiões do país. Ainda segundo a autora, os dados analisados em sua pesquisa, permitiram afirmar que as escolas particulares e federais possuem claramente as melhores práticas no que diz respeito à destinação do lixo. As escolas municipais foram as que menos evidenciaram práticas ambientalmente corretas. O município de Taubaté, segundo inventário realizado pela CETESB, produz diariamente 157 t/ lixo/ dia, ao passo que menos de 1% é encaminhado para reciclagem. Em 2007, o município obteve avaliação 6,7 com relação ao Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), onde o resíduo é depositado em condições controladas (São Paulo, 2008). Sem o compromisso, a participação e a cooperação de cada municipalidade não será possível alcançar os objetivos firmados na Agenda 21 global. É necessário darmos conta de nossa realidade, para podermos nos manifestarmos sobre ela (Pellicione, 2006). De acordo com Coimbra (2006), o caminho para mudanças ambientais aponta para as comunidades locais e significa primeiramente transformação cultural, a qual demanda um trabalho os moldes da Lei nº 9795/99, a qual dispõe sobre a Educação Ambiental. Conclusão Com base nos resultados obtidos com o inventário do resíduo escolar, tanto orgânico, como o reciclável, ficou evidente que este pode ser considerado o maior aspecto/ impacto ambiental apresentado pela unidade escolar. Todavia, é também passível de solução com o auxílio de atividades de conscientização ambiental, partindo do princípio da redução. Concluiu-se através da pequena amostra sobre a percepção ambiental com alunos e seus responsáveis, como a população está familiarizada com os temas ambientais. Tendo em vista que na história do movimento ambiental, as ações tiveram início com pequenos grupos populares interessados em um novo olhar sobre nosso meio, fica claro como estes atores são importantes na busca por mudanças ambientais. Pode-se perceber no levantamento bibliográfico sobre o tema, que as empresas que buscam certificação ambiental adotam a educação ambiental como instrumento de gestão ambiental. Em contrapartida, nas instituições de ensino, é visivelmente possível que a gestão ambiental seja um instrumento da educação ambiental e viceversa. Espera-se com esta primeira etapa de um complexo sistema de gestão ambiental despertar a comunidade escolar para as causas e os efeitos de nossas ações, por meio da promoção de eventos, atividades transdiciplinares e de conscientização ambiental. A insustentabilidade caminha mais rápido que a sustentabilidade, por isso é preciso respeitar os limites de nosso meio, vivenciando a cidadania ambiental. Referências ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14001: Sistemas da Gestão Ambiental: requisitos com orientação para uso. 2. ed. Rio de Janeiro, 2004. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (Org.). Agenda 21 brasileira: ações prioritárias, 2004. 2º ed. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conte udo.monta&idestrutura=18&idconteudo=4989&id Menu=4590>. Acesso em: 10 jan. 2009. COIMBRA, José de Ávila Aguiar. Linguagem e Percepção Ambiental, in PHILIPPI JUNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet (Org.). Curso de Gestão Ambiental. Barueri: Manole, 2004. p. 527-570. 4
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004. 551 p. EMIEF Marisa Lapido Barbosa Imagem por satélite. Disponível em: www.maps.google.com. Acesso em: 10 Abril 2009. FAGGIONATO, Sandra. Percepção ambiental. Disponível em: http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.ht ml. Acesso em: 12 jan. 2009. PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Fundamentos da Educação Ambiental, in PHILIPPI JUNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet (Org.). Curso de Gestão Ambiental. Barueri, Sp: Manole, 2004. p. 460-483. SÃO PAULO. Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental. Inventário Estadual de Resíduos Sólidos domiciliares: relatório de 2007. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/solo/publicacoes.asp. Acesso em: 20 nov 2008. UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Education for Sustainable Development: United Nations Decade (2005 2014). Disponível em: http://portal.unesco.org/education/en/ev.phpurl_i D=27234&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION =201.html. Acesso em: 10 Jan. 2009. VEIGA, Aline de Carvalho; AMORIM, Érica; BLANCO, Mauricio. Um retrato da presença da Educação Ambiental no Ensino Fundamental Brasileiro: o percurso de um processo acelerado em expansão. MEC/ INEP. Disponível em: <http://www.iets.org.br/biblioteca/um_retrato_da_p resenca_da_educacao_ambiental_texto_para_dis cussao.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2009. 5