Antiga Igreja da Misericórdia de Grândola



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Transcrição:

Antiga Igreja da Misericórdia de Grândola

1. Da fundação à demolição da igreja da Misericórdia de Grândola Durante muitos anos fez-se remontar a 1603 1 a fundação da Misericórdia de Grândola. Sabe-se, hoje, que a decisão de instituir a confraria nesta vila alentejana foi tomada numa reunião que decorreu na Câmara, a 23 de Julho de 1568 e que juntou as pessoas mais significativas do concelho, tendo como primeiro outorgante o padre António Barradas 2. Ao pedido da vila respondeu D. Sebastião a 13 de Novembro seguinte, concedendo-lhe o Compromisso. É possível que a primeira sede da nova confraria tenha sido a igreja matriz, dando-se início, mas poucos anos depois, à construção da igreja e dependências. Já no século XVIII, o templo foi objecto de uma nova campanha artística, encomendando-se então os painéis de azulejo com representações das obras de misericórdia que revestiam os panos murários da nave. O desaparecimento do arquivo da Misericórdia impede um estudo mais aprofundado sobre todas estas questões, apenas se podendo intuir, a partir dos exemplos das restantes confrarias, sobre o funcionamento e orgânica interna da Misericórdia de Grândola 3. Já no século XX, todo o património móvel e integrado da igreja foi disperso e o edifício transformado em cine-teatro 4. O investigador José Queiroz viu os azulejos no seu local original, em 1916, mas quando os descreveu no seu bloco de apontamentos, em 1917, estes já haviam sido retirados para outro local. Nas suas anotações refere, a propósito da obra Castigar os que erram, que lhe parece que a cercadura não é a mesma que guarnecia os quadros no primitivo lugar, e logo ao início afirma que estes azulejos guarneciam a igreja e que há um ano ainda lá estavam. Todavia, em 1920 já haviam sido vendidos a um antiquário de Lisboa, José Manuel Pereira Martins, com loja na Rua da Escola Politécnica. Não se sabe se este adquiriu a totalidade dos painéis, vendendo parte deles, ou se apenas comprou os que conservou na sua posse e que hoje se encontram numa colecção particular. 1 José Cipriano da Costa GOODOLPHIM, As Misericórdias, Lisboa, Imprensa Nacional, 1897, p. ; Fernando da Silva CORREIA, Origens e Formação das Misericórdias Portuguesas, 2ª Ed., Lisboa, Livros Horizonte, 1999, p. 566; Raul PROENÇA, Guia de Portugal Estremadura, Alentejo e Algarve, vol. 2, p. 8; Manuel Costa Gaio TAVARES DE ALMEIDA, Selo brasão bandeira e pedras de armas da vila de Grândola, 1957, p. 58. 2 Germesindo SILVA, A Fundação da Santa casa da Misericórdia de Grândola, Vila Real de Santo António, Empresa Litográfica do Sul, 1988, p. 27; José Pedro PAIVA, coord., Portugaliae Monumenta Misericordiarum Crescimento e Consolidação: de D. João III a 1580, vol. 4, Lisboa, União das Misericórdias Portuguesas, 2005, p. 301. 3 Germesindo SILVA, op. cit., pp. 34-49. 4 Actualmente o imóvel, que é propriedade da Câmara Municipal, encontra-se encerrado, à espera de uma intervenção de reabilitação integrado no projecto do edifício da banda filarmónica Música Velha. 88

2. Os painéis subsistentes em colecção particular O espaço onde os dois painéis foram aplicados e onde ainda hoje se conservam é, com certeza, menor que o da igreja original, sendo muito evidentes os cortes e as adaptações. Desconhece-se ainda a data da sua execução, embora seja atribuível aos anos de 1719-20 5. São dois painéis de grandes dimensões, representando diferentes partes do mesmo episódio bíblico a pecadora arrependida -, identificada como sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e perdoar as injúrias, isto é, duas obras de misericórdia espirituais. O episódio retratado (Lc 7, 36-50) é o de Jesus em casa de um fariseu que O havia convidado a comer consigo. Uma pecadora veio, entretanto, com um frasco de perfume, lavando-lhe os pés com as suas lágrimas, enxugando-os com os cabelos e ungindo-os de perfume. À indignação do fariseu Simão, Jesus respondeu que perdoava os pecados da mulher. Fig. 98 - Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo que procura levantar um cântaro, sugerem a utilização de fontes gravadas. O painel representando sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo revela uma imponente arquitectura fundeira, aberta ao centro por um arco de volta perfeita. Em primeiro plano, a mesa com Cristo enquadrado pelo referido arco, dirigindo-se a uma outra figura a seu lado. São cinco as personagens sentadas em torno da mesa, e quatro os servidores, que trazem alimentos e bebidas. Para além de Cristo, ganha especial destaque a figura que se encontra sentada à cabeceira, numa imponente cadeira, certamente Simão, o fariseu. As poses do personagem de costas, que estende a taça para receber o líquido e a outra 5 João Miguel dos Santos SIMÕES, Azulejaria em Portugal no século XVIII, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 369. 89

Na zona inferior da composição é identificada a obra de misericórdia representada, em português. Sobre o arco, dois anjos num movimento instável, seguram uma filactera com a seguinte passagem: Rogabat Jesum quidam defariseis uiman ducaret cumillo 6 Lucae 7º, isto é, um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu e pôs-se à mesa (Lc 7, 36)). Note-se que este quadro, ao contrário do restante, apresenta uma moldura muito fina. Fig. 99 - Perdoar as enjurias (sic) O outro painel, visivelmente cortado, apresenta a cena seguinte, quando a pecadora lava os pés de Cristo. Do lado direito, uma composição arquitectónica coroada por um frontão circular interrompido e com um vaso central, abre um vão onde se encontra um anjo a exibir uma faixa: Misericordias Domine / in aeternum cantabo / Psal. Ve - Heide cantar para sempre o amor do Senhor (Sl 89 (88), 2). Mais atrás, um arco de volta perfeita com aduelas e fecho bem marcados, e à esquerda, com a figura de Cristo cortada, Madalena lava- Lhe os pés. mesa prolonga-se para o interior do espaço, em torno da qual estão sentadas mais quatro figuras, a primeira das quais aponta um dedo a Madalena. Junto aos pés de Cristo, a identificação da obra representada perdoar as enjurias (sic). Superiormente, dois anjos pairam sobre a cena, segurando a filactera com a inscrição: Dixit adillam pernituntur tibi pecata 7 Luca 7º, ou seja, Depois, disse à mulher: «os teus pecados estão perdoados» (Lc 7, 48). Apesar da estranheza da A Fig. 100 - Pormenor de perdoar as enjurias (sic) 6 Texto original da Vulgata: Rogabat Jesum quidam Pharisaeus ut manducaret cum illo et ingressus. 7 Texto original da Vulgata: Dixit autem ad illam: Remittuntur tibi peccata. 90

composição do lado direito e da sua ligação à cena da esquerda, crê-se que era a original ou, pelo menos, a que José Queiroz viu. O mesmo investigador refere que a cena era formada por vinte e quatro azulejos, pelo que as terminações em arco de volta perfeita que hoje se observam foram posteriormente colocadas. Aliás, é bem visível o corte no vigésimo quarto azulejo, logo após a filactera segura pelos anjos. Em ambos os painéis as cercaduras são inexistentes e apenas em baixo se observa uma de enrolamentos barrocos. 3. Os restantes painéis segundo as notas de José Queiroz O único investigador a ver e a deixar registado o conjunto dos painéis da Misericórdia de Grândola foi José Queiroz. É a partir dos seus apontamentos 8 que se procura reconstituir o que foi o revestimento da igreja, assinado por Policarpo de Oliveira Bernardes. A primeira obra descrita representava Castigar os q herrão (sic). Era uma composição com cinco figuras, uma das quais, Cristo, castiga com umas cordas quatro que roubaram ( ), duas já por terra e duas que fogem levando uma delas um cofre nas mãos. Cercadura típica barroca com cantos de máscara. A inscrição, a toda a altura do quadro, era uma fita como a dos painéis sobreviventes, com a transcrição: Fcumfecisset quasi flagelum defuniculis omnes / eiieit jeterpto 9. Joanis 2º, que significa Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo (Jo 2, 15) e é referente à expulsão dos vendilhões do templo. A identificação da obra era acompanhada, neste caso, pela assinatura do pintor: Policarpodeoliueyra Bernardes; o fes. Fig. 101 - Assinatura de Policarpo de Oliveira Bernardes, copiada por José Queiroz 8 Os seus cadernos foram legado a João Miguel dos Santos Simões e estão hoje na posse da filha deste, Maria João Real, a quem muito agradecemos a consulta de tão importante fonte. 9 Texto original da Vulgata: Et cum fecisset quasi flagellum de funiculis omnes eiecit de templo 91

O quadro seguinte, também identificado na zona inferior, era alusivo a Conçolar os tristes (sic), e a inscrição superior referia: Dixit illi Jesus Resurget frater tuus 10 Joa 2º, que significa: Disse-lhe Jesus : «Teu irmão ressuscitará» (Jo 11, 23). Trata-se do episódio da ressurreição de Lázaro. Continuando a seguir as descrições de José Queiroz, encontravam-se três painéis nos muros do pátio, ou seja, já apeados do seu local original. Eram os de maiores dimensões, com 24 azulejos de altura. Fig. 102 - Ensignar os ignorantes (sic) cópia de José Queiroz Ensignar os ignorantes (sic) apresentava também uma inscrição latina: Uider Jesus turbas ascendit inmontem 11 / Adoauat eos n.º 5. É o primeiro versículo do capítulo de São Mateus dedicado ao sermão da Montanha e às Bem-aventuranças (Mt 5, 1): Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Considerada pelo investigador a melhor composição, como desenho, grandeza, atraente e entoação de tintas, integra muitas figuras Christo (sic) ao centro sobre penedos cercado de arvoredo, prega ao povo que o escuta homens, mulheres e crianças. Saltando a descrição de sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo, e de perdoar as injúrias, resta a referência a um outro painel, na entrada, que representa a Visitação: os dois casais cumprimentam-se mutuamente os dois homens e as duas mulheres. A cena passa-se ao cimo de uma escada da casa, naturalmente de Santa Isabel. Há ainda um cão que ladra à Virgem. A porta de acesso ao salão de exposições encontrava-se envolta por azulejos, com urnas no remate superior e ao centro flores variadas, tal como a que lhe era fronteira. José Queiroz defendia serem todos estes azulejos da igreja da Misericórdia. Há ainda uma outra figura de anjo, cuja inscrição é diferente da que se observa no painel da obra perdoar as injurias. Fig. 103 - Anjo com inscrição diferenciada 10 Texto original da Vulgata: Dicit illi Jesus: Resurget frater tuus. 11 Texto original da Vulgata: videns autem turbas ascendit in montem. 92

4. Para uma leitura integrada do programa iconográfico José Queiroz apenas descreveu cinco painéis com representação de obras de misericórdia. Ter-se-ão perdido as restantes descrições do seu bloco ou já só figurariam em Grândola estas cinco composições? Seria o programa iconográfico constituído apenas por cinco das sete obras espirituais? A estas e a outras perguntas não será fácil responder, uma vez que tudo desapareceu e não há registos das deslocações dos azulejos. Nem sequer a memória dos poucos que ainda poderiam recordar alguma preciosa informação, como era o caso do mais antigo funcionário da loja de antiguidades onde os azulejos estavam à venda 12. Restam-nos dois painéis de grande qualidade, que sabemos terem sido pintados por Policarpo de Oliveira Bernardes, e a descrição de mais três que, no seu conjunto, formavam um programa dedicado às obras espirituais, facto único no panorama das representações das obras de misericórdia, onde a preponderância foi, claramente, para as corporais, ou para a representação em paralelo das espirituais e corporais. Apesar dos poucos elementos, os que subsistem permitem afirmar que este foi um programa de grande significado não apenas no plano artístico mas também no plano iconográfico. 12 Agradecemos uma vez mais toda a colaboração da Dra. Vera Pinto Basto, nomeadamente, nas diligências efectuadas no sentido de procurar reconstituir a aquisição dos painéis de azulejo. 93