Relatório de Pesquisa Indicadores Mundiais do Setor Elétrico: Março Julho 2008

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Transcrição:

Projeto Provedor de Informações Econômico-Financeiro do Setor de Energia Elétrica Relatório de Pesquisa Indicadores Mundiais do Setor Elétrico: Março Julho 2008 Rio de Janeiro

Relatório de Pesquisa Indicadores Mundiais do Setor Elétrico (*) - Indicadores do Setor Elétrico na China Nivalde J. de Castro** Paula Goldenberg*** Índice 1 Sumário Executivo...3 2 Economia...4 3 Geração de Eletricidade...6 4 Matriz de Energia Elétrica e Externalidades...8 5 Carvão...10 6 Hidroeletricidade...12 7 Nuclear...14 8 Gás Natural...15 9 Conclusões...17

1 Sumário Executivo A economia chinesa é um fenômeno mundial devido a seu singular ritmo de expansão. Entre 1980 e 2005, a taxa média de crescimento anual foi de 10,8%, atingindo PIB de 2,6 trilhões de dólares (Centro Nacional de Estatística da China, 2007). Para alimentar esse ritmo de crescimento, o governo chinês promoveu investimentos pesados no setor elétrico. A geração de eletricidade no país cresceu a uma taxa média anual de 9,02%, entre 1990 e 2005, e em 2007, gerou 3.277,7 TWh (BP GLOBAL, 2008). Por causa da participação expressiva do carvão na matriz de energia elétrica, quase 80% (International Energy Agency, 2008) a China tem sérios problemas do ponto de vista ambiental e social: é o segundo maior emissor de gás carbônico resultante da geração de eletricidade, 2,6 bilhões de toneladas por ano, (Carbon Monitoring for Action, 2008) e apresenta o maior índice de mortes resultantes de acidentes de trabalho (minas de carvão). Os dados apontam para uma expansão da produção de carvão, que cresce a uma taxa média anual de 8,8% (BP GLOBAL, 2008). Contudo, apontam também para um esforço do governo em diversificar a matriz de energia elétrica do país: a hidroeletricidade cresce a uma taxa média anual de 7,2%, a energia nuclear cresce a uma taxa média anual de 27,7% e a energia a partir do gás natural cresce a uma taxa média anual de 25% (BP GLOBAL, 2008).

2 Economia No final da década de 1970, após a morte de Mao Tsé tung, a economia chinesa passou por grandes transformações. Sob o comando central do Partido Comunista Chinês, a política das quatro modernizações (indústria, agricultura, defesa e cultura) foi implementada juntamente com a abertura econômica (ampliação do comércio com o Ocidente e permissão para entrada de multinacionais). Além disso, o governo estimulou pequenas empresas privadas, como padarias e oficinas, e tentou aumentar a produtividade nas empresas estatais por meio de diferenciação dos salários. Todas essas medidas tornaram a economia chinesa altamente dinâmica e competitiva. Por outro lado, o aumento da desigualdade social resultante desse processo deixou significativa parcela da população chinesa à margem da prosperidade econômica. Os dirigentes chineses chamaram esse procedimento econômico de socialismo de mercado (Schmidt, 2004). O gráfico 2.1 mostra a evolução do Produto Interno Bruto da China, que reflete o salto da economia chinesa após as reformas econômicas, chegando a 2,6 trilhões de dólares em 2005. Gráfico 2.1 30 China: Evolução do PIB (em 100 bilhões de US$ ) 25 26,6 20 15 14,4 10 8,8 5 0 1,3 2,7 0,6 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fonte: Centro Nacional de Estatística da China. Elaboração: GESEL.

No período de 2000 a 2005, a taxa média de crescimento anual da economia chinesa foi de 10,8%. Essa taxa é elevada, comparativamente à taxa média de crescimento anual dos países do BRIC, apresentada na tabela 2.1. Tabela 2.1 BRIC: Taxa Média de Crescimento Annual do PIB. 2000-2005 (%) Brasil China Índia Rússia 2,9 10,8 9,2 6,4 Fonte: Banco Mundial. Elaboração: GESEL Em relação às maiores economias do mundo, o ritmo acelerado de crescimento da China fica ainda mais evidente. De acordo com dados do Banco Mundial, a taxa de crescimento da economia japonesa, entre 2000 e 2005, foi 1,9%, enquanto a taxa de crescimento da economia dos EUA, no mesmo período, foi 3%. É natural que economias em desenvolvimento, quando em aceleração, cresçam mais que economias desenvolvidas. Em 2007, a China apresentou o quarto maior PIB do mundo, como mostra o gráfico 2.2. De acordo com Medeiros, os principais fatores propulsores do crescimento da economia chinesa foram os investimentos do governo e do setor privado na ampliação da capacidade produtiva, e as exportações com alto dinamismo. Gráfico 2.2 Maiores PIBs Mundiais. 2007. (em trilhão de US$) 16 13,81 12 8 4 4,37 3,29 3,28 2,72 0 EUA Japão Alemanha China Reino Unido Fonte: Banco Mundial. Elaboração: GESEL.

A expansão do setor elétrico chinês, necessária para o crescimento da economia da China, será analisada nas próximas seções. 3 Geração de Eletricidade Para sustentar o crescimento veloz da economia chinesa, o governo adotou a estratégia de formar gigantes industriais estatais em setores estratégicos, como o setor do carvão e o setor de máquinas e equipamentos (Medeiros). A Companhia Nacional de Equipamentos Elétricos da China (CNEEC) é um exemplo claro: fundada em 1970, realiza investimentos pesados no setor elétrico até hoje. De acordo com a evolução da geração de eletricidade na China, apresentada no gráfico 3.1, a estratégia de investimento e crescimento do governo chinês parece ter sido bem sucedida. A uma taxa média de crescimento anual de 9,02% entre 1990 e 2005, a geração elétrica na China passou de 621,2 TWh para 2.474,7 TWh. Com esse ritmo de crescimento, a geração de eletricidade chinesa ultrapassou a geração no Japão, na metade da década de 1990, fazendo da China o segundo maior gerador de eletricidade do mundo. Gráfico 3.1 5000,0 Evolução da Geração de Eletricidade nos 5 Maiores Geradores. (TWh) 4000,0 4.257,4 3000,0 2000,0 1000,0 0,0 2.474,7 1133,6 953,1 679,2 1990 1995 2000 2005 China EUA Índia Japão Rússia Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL

A tabela 3.1 apresenta as taxas médias de crescimento anual por período dos dez maiores geradores de eletricidade do mundo. Esses dados evidenciam o ritmo de crescimento singular do setor elétrico da China, relativamente aos outros países. Tabela 3.1 Taxa Média de Crescimento Anual da Geração de Eletricidade Nos10 Maiores Geradores. (%) País 1990-1995 1995-2000 2000-2005 Alemanha -0,5 0,9 1,6 Brasil 3,6 4,0 2,4 Canadá 2,5 1,3-0,2 China 8,4 5,3 10,4 Coréia do Sul 9,5 6,3 5,0 EUA 1,7 2,1 1,1 França 2,7 1,5 1,0 Índia 6,4 5,1 3,4 Japão 2,4 1,5 1,2 Rússia -3,7 0,3 1,4 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. O ranking dos dez maiores geradores de eletricidade da BP GLOBAL mostra que, em 2007, a geração de energia elétrica na China se aproximou ainda mais da quantidade de eletricidade gerada nos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, a geração de energia elétrica na China correspondeu a 16,4% do total de eletricidade gerada no mundo (19.894.8 TWh). Tabela 3.2 Maiores Geradores de Eletricidade No Mundo. 2007 (TWh) País Geração Alemanha 636,5 Brasil 433,6 Canadá 602,4 China 3.277,7 Coréia do Sul 440,0 EUA 4.367,9 França 566,5 Índia 774,7 Japão 1.160,0 Rússia 1.014,9 Fonte: BP GLOBAL.

4 Matriz de Energia Elétrica e Externalidades Na matriz de energia elétrica da China, predomina o carvão, fonte não renovável e muito poluente no tocante a emissões de CO 2. Gráfico 4.1 China: Matriz de Energia Elétrica. 2005. Gás - 0,5% Derivados Petróleo - 2,4% Nuclear - 2,1% Hidro - 15,9% Carvão - 79,1% Fonte: IEA. Elaboração: GESEL. De acordo com dados do Carbon Monitoring for Action, base de dados gerada e financiada pelo grupo independente Confronting Climate Change Initiative, a China é o segundo maior emissor de gás carbônico resultante da geração de eletricidade no mundo. Segundo essa base de dados, a geração de energia elétrica corresponde à 25% das emissões globais de gás carbônico. Em 2002, a China aderiu ao esforço conjunto internacional para combater o efeito estufa, ratificando o Protocolo de Kyoto. Entretanto, por ser um país em desenvolvimento, a China não está sujeita à metas de redução da emissão de gases do efeito estufa. O governo chinês defende a tese de que o combate às mudanças climáticas deve ser mais fortemente realizado pelas nações desenvolvidas. O gráfico 4.2 apresenta os cinco países que mais emitem gás carbônico na geração de eletricidade.

Gráfico 4.2 Maiores Emissores de CO2 Resultante da Geração de Eletricidade. (milhões ton por ano) 3.000 2.500 2.790 2.680 2.000 1.500 1.000 500 661 583 400 0 EUA China Rússia Índia Japão Fonte: CARMA. Elaboração: GESEL Além da questão ambiental, o uso intensivo do carvão apresenta também externalidades sociais. Isso porque o trabalho nas minas de carvão, muito duro e perigoso, é uma opção de emprego e sustento para os chineses das camadas mais pobres. Muitas empresas burlam as normas de segurança, tornando o setor ainda mais inseguro para os operários. Analisando a evolução da matriz de energia elétrica da China, na tabela 4.1, nota-se um aumento da participação da termoeletricidade a partir de combustíveis fósseis na matriz elétrica. Essa tendência pode agravar as externalidades ambientais e sociais. A redução dessas externalidades requer inovações profundas na estrutura da matriz elétrica chinesa. Tabela 4.1 Evolução da Matriz de Energia Elétrica da China (%) Fonte 1990 1995 2000 2005 Hídrica 20,3 19,0 16,5 15,9 Térmica 79,4 80,2 82,7 82,1 Nuclear - 1,3 1,2 2,1 Fonte: Centro Nacional de Estatística da China.

5 Carvão A expressiva participação do carvão na matriz de energia elétrica da China, 70,1%, pode ser explicada por suas vastas reservas de carvão. A China possui a terceira maior reserva de carvão do mundo, que corresponde a 13,5% das reservas mundiais. A tabela 5.1 apresenta as maiores reservas de carvão do mundo. Tabela 5.1 Mundo: Maiores Reservas de Carvão. 2007. (Milhão de toneladas) País Reservas China 114.500 EUA 242.721 Rússia 157.010 Austrália 76.600 Índia 56.498 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL A produção de carvão na China é a maior do mundo. Em 2007, chegou a 39,7% da produção mundial, que foi 6,3 bilhões de toneladas. A tabela 5.2 apresenta os maiores produtores mundiais de carvão. Tabela 5.2 Maiores Produtores de Carvão No Mundo. 2007 (milhões de toneladas) País Geração África do Sul 269,4 Alemanha 201,9 Austrália 393,9 Cazaquistão 94,4 China 2.536,7 EUA 1.039,2 Índia 478,2 Indonésia 174,8 Polônia 145,8 Rússia 314,2 Fonte: BP GLOBAL.

Como mostra o gráfico 5.1, ocorreu uma aceleração do crescimento da produção de carvão da China no período de 2000 a 2005. A taxa média de crescimento anual da produção nesse período foi 9,2%, maior taxa de crescimento no grupo dos cinco maiores produtores de carvão. Gráfico 5.1 Mundo: Evolução da Produção de Carvão. (milhões de toneladas) 2500,0 2.204,7 2000,0 1500,0 1000,0 500,0 0,0 1.026,5 428,4 378,8 298,3 1985 1990 1995 2000 2005 Austrália China EUA Índia Rússia Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. A tabela 5.3 mostra as taxas de crescimento da produção de carvão dos cinco maiores produtores por período. Tabela 5.3 Taxa Média de Crescimento Anual da Produção de Carvão. (%) País 1985-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2005 1985-2005 Austrália 4,0 2,6 4,0 3,3 7,8 China 3,6 3,9-0,8 9,2 8,8 EUA 2,6 0,1 0,6 0,9 2,3 Índia 6,0 4,4 2,5 4,2 9,5 Rússia 0,0-6,6-0,3 2,4-2,5 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL Esses dados apontam para uma intensificação das externalidades ambientais e sociais decorrentes da produção de carvão, não só na China, mas também na Índia e Austrália.

6 Hidroeletricidade Apesar da participação relativamente baixa da hidroeletricidade na matriz de energia elétrica chinesa, a China é o maior consumidor de hidroeletricidade do mundo. A tabela 6.1 apresenta o ranking dos maiores consumidores de hidroeletricidade em 2007. Tabela 6.2 Maiores Consumidores de Hidroeletricidade. 2007. (TWh) País Consumo Brasil 371,5 Canadá 368,2 China 482,9 EUA 250,8 Rússia 179,0 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. O gráfico 6.1 mostra a evolução do consumo de hidroeletricidade de 1985 a 2005. A uma taxa média de crescimento anual de 7,2% no período analisado, a China ultrapassou o consumo hidroelétrico de países cuja base da matriz é predominantemente hídrica, como o Brasil e o Canadá. Gráfico 6.1 Evolução do Consumo de Hidroeletricidade. (TWh) 500 400 300 200 100 397,0 363,6 337,5 273,1 174,9 Brasil Canadá China EUA Rússia 0 1985 1990 1995 2000 2005 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL.

A Tabela 6.1 mostra as taxas médias de crescimento anual do consumo de hidroeletricidade dos maiores consumidores hidroelétricos do mundo, por período. Esses dados evidenciam o crescimento acelerado do consumo de hidroeletricidade da China no período de 2000 a 2005, quando a taxa média anual de crescimento foi 10,1%, significativamente maior do que as taxas de crescimento dos outros países indicados. Tabela 6.2 Taxa Média de Crescimento Anual do Consumo de Hidroeletricidade 1985-2005. (%) País 1985-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2005 1980-2005 Brasil 2,5 3,5 3,1 1,7 3,1 Canadá -0,4 2,1 1,1 0,2 0,9 China 5,4 7,0 2,6 10,1 7,2 EUA 0,5 1,0-2,0-0,3-0,2 Rússia 0,7 1,0-1,1 0,9 0,4 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. A usina hidroelétrica Três Gargantas, em construção no rio Yangtzé, deve ficar pronta no final de 2008. Com 18.200 MW de capacidade, a hidroelétrica chinesa ocupará o lugar de maior hidroelétrica do mundo, no lugar da Binacional Itaipú. Quando entrar em atividade, a usina ocasionará um aumento significativo da participação da hidroeletricidade na matriz de energia elétrica da China. Em suma, os dados indicam que há um esforço do governo chinês em explorar o potencial hidroelétrico do país.

7 Nuclear As usinas nucleares são recentes na China. Apenas em 1993, o país começou a consumir eletricidade gerada nas centrais nucleares. O gráfico 7.1 apresenta a evolução desse consumo até o ano de 2007. Gráfico 7.1 China: Evolução do Consumo de Eletricidade Nuclear. TWh 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 43,3 53,1 62,9 20,0 10,0 0,0 12,8 17,5 1,6 14,4 15,0 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. À taxa média de crescimento anual de 27,7%, o consumo de eletricidade nuclear cresceu consideravelmente na China. Essa tendência de crescimento da energia nuclear é estratégica para a China, tanto em relação à segurança energética como em relação às questões ambientais de mudança climática e emissões de gás carbônico. Por essas razões, verifica se um esforço do governo chinês em ampliar a participação das nucleares na matriz elétrica, de forma a minimizar as externalidades do carvão.

8 Gás Natural As reservas de gás natural na China são relativamente baixas, assim como a produção e o consumo desse insumo energético, que corresponde a apenas 0,5% na matriz elétrica do país, como foi apresentado na seção 4. O gráfico 8.1 mostra as reservas de gás na China comparadas às maiores reservas do mundo. Gráfico 8.1 Reservas de Gás Natural: Comparação entre China e Maiores Reservas. ( trilhões de m 3 ) 50,00 44,65 40,00 30,00 27,80 25,60 20,00 10,00 0,00 6,09 Rússia Iran Catar Emirados Árabes 1,88 China Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL Os gigantes mundiais da produção de gás natural são EUA e Rússia, que em 2007 produziram 607,4 e 545,8 bilhões de m 3, respectivamente. Juntos, produziram cerca de 40% do gás natural produzido no mundo. A produção de gás natural na China em 2007 foi 69,3 bilhões de m 3, maior produção na região da Ásia. O gráfico 8.2 apresenta a evolução da produção de gás natural nos maiores produtores desse insumo energético comparativamente à evolução da produção do mesmo na China, entre 1985 e 2005. Iran e China foram os países com maiores taxas de crescimento da produção no período analisado, 38% e 25% respectivamente.

Gráfico 8.2 800,0 Evolução da Produção de Gás Natural: Comparação entre China e Maiores Produtores. (bilhões m 3 ) 600,0 400,0 200,0 0,0 598,0 511,1 187,4 100,9 49,3 1985 1990 1995 2000 2005 China EUA Iran Rússia Canadá Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. Na tabela 8.1, que apresenta as taxas médias de crescimento anual da produção de gás natural por período, nota - se que a aceleração do crescimento da produção do gás natural na China se deu mais fortemente a partir do período 1995 2000. Tabela 8.1 Taxa Média de Crescimento Anual da Produção de Gás Natural 1985-2005. (%) País 1985-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2005 1985-2005 China 2,8 2,7 7,2 10,4 25,0 Canadá 4,3 6,6 2,2 0,5 14,3 EUA 1,3 0,7 0,5-1,0 1,6 Iran 8,0 7,3 9,3 9,0 38,0 Rússia 5,6-1,2-0,3 1,6 5,6 Fonte: BP GLOBAL. Elaboração: GESEL. Em suma, a utilização do gás natural na China para geração de eletricidade está em expansão, mas esse insumo ainda não desempenha um papel expressivo no setor elétrico chinês, como o carvão e a hidroeletricidade.

9 Conclusões O ritmo de crescimento da economia chinesa exige maior ritmo de crescimento do setor elétrico do país, de modo que o crescimento econômico não seja estrangulado por deficits de eletricidade. A matriz de energia elétrica da China apresenta sérios problemas do ponto de vista ambiental e social por causa da expressiva participação do carvão. Os dados apontam que há um esforço do governo chinês em diversificar a matriz elétrica, principalmente na direção da hidroeletricidade, da energia nuclear, e do gás natural para reduzir os riscos de deficit de eletricidade e diminuir os impactos da geração de eletricidade a partir do carvão. Os dados apontam também para uma forte expansão da produção de carvão na China, o que mostra que o carvão é um insumo estratégico para o país. Claramente, há uma política energética cujo objetivo central é a segurança do suprimento de energia elétrica. Bibliografia

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