"UM VELHO CALÇÃO DE BANHO!" 05/11/2013 Um velho calção de banho Quanta beleza tem na nossa gente, garota de Ipanema, Calção de banho em Itapoã, indolências à parte, nosso cancioneiro popular é cheio dessas pérolas: Eu voltei, agora pra ficar, por que aqui, aqui é o meu lugar! Eu voltei pras coisas que eu deixei... Clareia manhã O sol vai esconder a clara estrela Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos A luz do dia a contemplar seu corpo Sedento, louco de prazer e desejos Ardentes Para quem quer se soltar invento o cais Invento mais que a solidão me dá Invento lua nova a clarear Invento o amor e sei a dor de me lançar Eu queria ser feliz Invento o mar Invento em mim o sonhador Para quem quer me seguir eu quero mais Tenho o caminho do que sempre quis E um saveiro pronto pra partir 1
Invento o cais E sei a vez de me lançar É pena que você pense Que eu sou seu escravo Dizendo que eu sou seu marido E não posso partir Como as pedras imóveis na praia Eu fico ao seu lado sem saber Dos amores que a vida me trouxe E eu não pude viver Eu perdi o meu medo O meu medo, o meu medo da chuva Pois a chuva voltando Pra terra traz coisas do ar Aprendi o segredo, o segredo O segredo da vida Vendo as pedras que choram sozinhas No mesmo lugar Eu não posso entender Tanta gente aceitando a mentira De que os sonhos desfazem aquilo Que o padre falou Porque quando eu jurei meu amor Eu traí a mim mesmo, hoje eu sei Que ninguém nesse mundo É feliz tendo amado uma vez... Uma vez Eu perdi o meu medo O meu medo, o meu medo da chuva Pois a chuva voltando Pra terra traz coisas do ar 2
Aprendi o segredo, o segredo O segredo da vida Vendo as pedras que Choram sozinhas no mesmo lugar Vendo as pedras que Choram sozinhas no mesmo lugar Vendo as pedras que Sonham sozinhas no mesmo lugar Minha jangada vai sair pro mar, se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou comer! Caminhando contra o Vento, sem lenço, nem documento, num sol de quase dezembro, eu vou! Hoje Trago em meu corpo as marcas do meu tempo Meu desespero, a vida num momento A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo... - Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou Às vezes você me pergunta Por que é que eu sou tão calado Não falo de amor quase nada Nem fico sorrindo ao teu lado Você pensa em mim toda hora Me come, me cospe, me deixa Talvez você não entenda Mas hoje eu vou lhe mostrar Eu sou a luz das estrelas Eu sou a cor do luar Eu sou as coisas da vida Eu sou o medo de amar Eu sou o medo do fraco 3
A força da imaginação O blefe do jogador Eu sou, eu fui, eu vou Gita! Gita! Gita! Gita! Gita! Eu sou o seu sacrifício A placa de contra-mão O sangue no olhar do vampiro E as juras de maldição Eu sou a vela que acende Eu sou a luz que se apaga Eu sou a beira do abismo Eu sou o tudo e o nada Por que você me pergunta? Perguntas não vão lhe mostrar Que eu sou feito da terra Do fogo, da água e do ar Você me tem todo dia Mas não sabe se é bom ou ruim Mas saiba que eu estou em você Mas você não está em mim. Das telhas eu sou o telhado A pesca do pescador A letra A tem meu nome Dos sonhos eu sou o amor Eu sou a dona de casa Nos pegue pagues do mundo Eu sou a mão do carrasco Sou raso, largo, profundo Gita! Gita! Gita! Gita! Gita! 4
Eu sou a mosca da sopa E o dente do tubarão Eu sou os olhos do cego E a cegueira da visão Eu! Mas eu sou o amargo da língua A mãe, o pai e o avô O filho que ainda não veio O início, o fim e o meio O início, o fim e o meio Eu sou o início O fim e o meio Eu sou o início O fim e o meio Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Eu pergunto a você Onde vai se esconder 5
Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Este samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza De desinventar Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Inda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir Que esse dia há de vir Antes do que você pensa 6
Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear De repente, impunemente Como vai abafar Nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai se dar mal Etc. e tal Lá lá lá lá laiá Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem Quem vai chorar, quem vai sorrir? Quem vai ficar, quem vai partir? Pois o trem está chegando, tá chegando na estação É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral 7
Amém. Jurei mentiras E sigo sozinho Assumo os pecados Uh! Uh! Uh! Uh! Os ventos do norte Não movem moinhos E o que me resta É só um gemido Minha vida, meus mortos Meus caminhos tortos Meu Sangue Latino Uh! Uh! Uh! Uh! Minh'alma cativa Rompi tratados Traí os ritos Quebrei a lança Lancei no espaço Um grito, um desabafo E o que me importa É não estar vencido Minha vida, meus mortos Meus caminhos tortos Meu Sangue Latino Minh'alma cativa Não sei andar sozinho Por essas ruas Sei do perigo que nos rodeia Pelos caminhos Não há sinal de sol 8
Mas tudo me acalma no seu olhar Não quero ter mais sangue Morto nas veias Quero o abrigo do teu abraço Que me incendeia Não há sinal de cais Mas tudo me acalma no seu olhar Você parece comigo Nenhum senhor te acompanha Você também se dá um beijo dá abrigo Flor nas janelas da casa Olho no seu inimigo Você também se dá um beijo dá abrigo Se dá um riso dá um tiro Não quero ter mais sangue Morto na veia Quero o abrigo do teu abraço Que me incendeia Não há sinal de paz E tudo me acalma no seu olhar Você parece comigo Nenhum senhor te acompanha Você também se dá um beijo dá abrigo Flor nas janelas da casa Olho no seu inimigo Você também se dá um beijo dá abrigo Se dá um riso dá um tiro Quando você foi embora fez-se noite em meu viver Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar Estou só e não resisto, muito tenho prá falar 9
Solto a voz nas estradas, já não quero parar Meu caminho é de pedras, como posso sonhar Sonho feito de brisa, vento vem terminar Vou fechar o meu canto, vou querer me matar Vou seguindo pela vida me esquecendo de você Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver Solto a voz nas estradas, já não quero parar Meu caminho é de pedras, como posso sonhar Sonho feito de brisa, vento vem terminar Vou fechar o meu canto, vou querer me matar Você que só ganha pra juntar O que é que há, diz pra mim, o que é que há? Você vai ver um dia Em que fria você vai entrar Por cima uma laje Embaixo a escuridão É fogo, irmão! É fogo, irrnão! Falado: Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa... Você que não pára pra pensar Que o tempo é curto e não pára de passar Você vai ver um dia, que remorso! Como é bom parar Ver um sol se pôr Ou ver um sol raiar 10
E desligar, e desligar Falado: Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito (e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra Você que só faz usufruir E tem mulher pra usar ou pra exibir Você vai ver um dia Em que toca você foi bulir! A mulher foi feita Pro amor e pro perdão Cai nessa não, cai nessa não MMXIII by alcanu Obra original disponível em: http://www.overmundo.com.br/banco/um-velho-calcao-de-banho 11