O CONCEITO DE JUSTIÇA NO LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES

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Transcrição:

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 O CONCEITO DE JUSTIÇA NO LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES Julio Tomé Granduando em Filosofia pela UFSC Resumo: Este trabalho tem como objetivo trazer à tona algumas das considerações que Thomas Hobbes fez sobre o conceito de Justiça na obra Leviatã, sua principal obra de Filosofia Política, por meio de uma discussão filosófica sobre o que seria o Justo e o Injusto; o Bom e o Mau etc. Essa discussão se norteará baseada em análises Jusfilosóficas dos conceitos elaborados e utilizados por Hobbes e que estão em constante discussão até hoje) nas obras de Filosofia Política e Filosofia do Direito. Trata-se então de um trabalho cujo foco é o conceito de Justiça, trazendo consigo as implicações dos termos hobbesianos como, por exemplo, Estado; Soberano; Leis; Verdadeiro e Falso; Bom e Mau; Justo e Injusto etc., e seus significados. Palavras-chave: Conceito de Justiça. Filosofia Política. Filosofia do Direito. Leviatã. Abstract: This paper aims to discuss some of the considerations that Thomas Hobbes did about the concept of Justice in the book Leviathan, his main work of Political Philosophy, through a philosophical discussion about what is the Just and Unjust; the Good and Evil etc. This discussion will be guide based on analyzes of Jusphilosophical concepts elaborated and used by Hobbes and are in constant discussion nowadays) in the writings of Political Philosophy and the Philosophy of Law. In order to that, it is a work its focus is the concept of Justice, bringing itself the implications of hobbesian terms, as, for instance, State; Sovereign; Laws; True and False; Good and Evil; Just and Unjust, and their meanings. Keywords: Concept of Justice. Political Philosophy. Philosophy of Law. Leviathan. Introdução O pensamento hobbesiano sobre a Justiça parte da premissa que esta só é possível em um Estado Civil, constituído por meio de um contrato 62 entre todos os cidadãos e o soberano, percebe-se isso logo no início do quarto capítulo do Leviatã, quando Hobbes está tratando sobre a linguagem e afirma que: [...] o verdadeiro e o 62 Nesse trabalho não se fará a diferenciação entre pacto e contrato para Thomas Hobbes. A quem o assunto interessar, recomenda-se a leitura da obra Hobbesiana Do cidadão. 96

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 falso são atributos da linguagem, e não das coisas [...]. 63. A partir dessa frase pode-se chegar à conclusão de que são os homens, por meio da linguagem, que atribuem o valor verdadeiro ou falso às coisas, ou seja, as coisas não são verdadeiras ou falsas por natureza, mas sim porque são atribuídos a elas certos valores, e o mesmo valerá para justo ou injusto; certo ou errado etc., no pensamento de Hobbes, sendo que para haver essa valoração, sobre o que seria justo, é necessário que haja um poder comum a todos os cidadãos, como se verá mais detalhadamente no decorrer deste trabalho, pois, segundo o pensamento de Hobbes, [...] sem linguagem não haveria Estado, nem sociedade, nem contrato, nem paz, tal como não existem entre os animais. 64. Para Hobbes, a valoração de justo ou injusto, bom ou mau etc., deve vir após a instituição de um poder comum a todos, pois, segundo o pensamento hobbesiano, cada pessoa terá sua própria concepção dessas palavras, ou numa linguagem mais próxima do autor, o objeto de desejo ou apetite vontade de um homem, será chamado por ele de bom; já ao objeto de ódio ou aversão, chamará de mau, quando então essas palavras terão valores diferentes dependendo da pessoa que as usar. Disso se pode concluir, adiantando um pouco o que será dito mais à frente, que é o soberano que determinará o que é bom ou mau, justo ou injusto, para os cidadãos de um Estado Civil, e isso, na verdade, será fruto do desejo dos próprios homens pertencentes ao Estado. Sendo que em um Estado de Natureza, não haverá injustiça, pois além de não haver poder comum, para determinar o que é justo ou injusto, todos os homens têm o direito de se defender uns dos outros. Este trabalho, então, se propõe a analisar o conceito de justiça do Leviatã hobbesiano. A primeira seção é a análise de como Hobbes entende que algo pode ser considerado justo ou injusto; bom ou mau etc. e, por meio dessa análise, chega-se a interpretação que se pode ligar o pensamento hobbesiano à teoria juspositivista, pois, como se verá, algo só poderá ser valorado como certo em sentido de justo) em um Estado Civil, na figura do soberano, onde uma lei será justa por ser uma lei, independente de seu conteúdo, pois a justiça está naquilo que determina o soberano. 63 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 18. 64 MELLO, Elson Rezende. Considerações sobre o Estado em Hobbes. In: Revista de C. Humanas, Viçosa, v. 12, n. 1, p. 217-234, jan./jun. 2012. p. 223. 97

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 O que então leva esse trabalho a sua segunda seção, onde se fará a ligação da justiça ao poder, pois, para Hobbes, os homens têm como uma tendência geral, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que só acaba com a morte. O poder, para Hobbes, ou melhor, a busca deste, será o que determinará as diferenças dos talentos nos homens. Sendo que: [...] O maior dos poderes humanos é aquele que é composto pelos poderes de vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de todos os seus poderes na dependência de sua vontade: é o caso do poder de um Estado. [...] 65. E disso chega-se a questionamentos como: Quem está mais apto a ter em suas mãos o poder de dizer o que é justo em um Estado Civil, i.e., de ser o soberano do Leviatã? A justiça então ficaria a cargo do soberano, e tudo que for determinado por meio da espada do Estado como justo, será justo? Já na terceira e última seção, será abordada a relação entre soberania e coerção, i.e., como as ações do soberano no Estado Civil podem, por meio do medo de sanções e punições, ou seja, do poder coercitivo, do poder de coerção, fazer com que os súditos cumpram as leis do Estado Civil e com isso garantir que suas vidas sigam em um Estado de paz. SEÇÃO I JUSTO E INJUSTO: A ESPADA E O PODER Hobbes afirma que há a tendência nos homens de considerar algo como justo ou injusto por meio do costume, sendo que essas palavras não têm qualquer valor moral, por si próprias, sendo que os homens: [...] considerarem injusto aquilo que é costume castigar, e justo aquilo de cuja impunidade e aprovação pode apresentar um exemplo [...] 66. Hobbes explica esse ponto por meio do exemplo de uma criança pequena que tem como regra de bom ou mau os castigos e correções impostas, ou não, por seus pais sobre suas ações. Porém, segundo o pensamento de Hobbes, os homens já adultos) afastam-se dessa regra, quando seus interesses são contrários àquilo que é imposto pela regra, colocando-se assim contra a razão, todas as vezes que a razão fica no lado contrário aos seus desejos. É por meio dessa traição da razão que: [...] a doutrina do bem e do mal é objeto de permanente disputa, tanto pela pena como pela espada [...] 67. 65 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p.13. 66 Idem. Ibidem. p. 39. 67 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 39. 98

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 Por meio dessa afirmação de Hobbes, de que o bem e o mal são objetos de disputa, pode-se chegar à conclusão de que não haveria uma moral pré-determinada que fosse correta, pois sempre haveria uma disputa sobre quais ações seriam certas ou justas e quais seriam incorretas e injustas, sendo necessário, para dar fim a essa disputa pelo que seria bom ou ruim, um poder comum a todos, pois se pode afirmar que os costumes não são suficientes para determinar o que é bom ou mau. É então, por meio da espada do Estado que se universaliza o que é justo e injusto para os cidadãos de um Estado Civil, pois para Hobbes: [...] durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens.[...] 68, onde nesse Estado de guerra, no Estado de Natureza, não haverá ações que possam ser consideradas injustas. O que foi dito anteriormente, está assim escrito, de acordo com Thomas Hobbes, no capítulo XIII do Leviatã: Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. [...] A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. [...] São qualidades que pertencem aos homens em sociedade, não na solidão. Outra conseqüência da mesma condição é que não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a cada homem aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo. 69 No entanto, nesse momento pergunta-se: já que não há injustiça em um Estado de Natureza e todos os homens podem fazer aquilo que acharem necessário para a preservação de suas vidas, por que então entrar em um Estado Civil onde esse poder se torna limitado e há noções e valorações de justo e injusto, assim como ações que podem ser punidas pela espada do poder? O Leviatã de Hobbes responde a essa pergunta, afirmando que em um Estado de Natureza os homens estariam em um estado de liberdade total, porém estariam em completa insegurança. Sendo que a insegurança os levaria a pensar em sua autopreservação e, com isso, a abdicarem de sua liberdade completa sendo que liberdade para Hobbes é entendida apenas como ausência de impedimentos externos), para então viverem em um estado que lhes garantisse a segurança, i.e., o Estado Civil. 68 Idem. Ibidem. p. 46. 69 Idem. Ibidem. p. 47. 99

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 Como complemento à abdicação da completa liberdade por parte dos súditos, todos os homens, em comum acordo, acabariam por decidir que é preferível a submissão a um poder que garanta a segurança deles por meio de um contrato. E, a partir desse momento, por meio do contrato entre todos os homens com aquele sendo um homem, ou uma associação de determinados homens, ou de todos os homens que será o soberano, constitui-se o Estado Civil. Lembra-se aqui que são apenas os homens que fazem o contrato uns com os outros, entrando assim no Estado Civil, por meio da figura do soberano, para garantirem sua autopreservação, segurança, mas que o soberano não fará contrato com ninguém, pois este é absoluto e o responsável por garantir a segurança no Estado Civil. Para Hobbes, é uma lei de natureza a terceira) que os homens cumpram com os pactos que celebrarem e, se assim não fizerem, pode-se se ter como resultado a volta da vida em um Estado de Natureza. Sendo que a espada do Estado trabalha por meio do medo, das possíveis sanções, sendo a responsável por tentar fazer que com que essa lei de natureza seja cumprida, tornando-a uma lei civil, pois, como pode ser lido no Leviatã, uma lei de natureza só se torna uma lei civil, se assim for do interesse do soberano ou esse se calar frente à prática comum dessa lei, por parte dos súditos). E é por meio dessa lei que reside, segundo o pensamento hobbesiano, a fonte e a origem da justiça, pois para Hobbes [...] definição da injustiça não é outra senão o não cumprimento de um pacto. E tudo o que não é injusto é justo. 70. Portanto, para que as palavras justo e injusto possam ter lugar, é necessária alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao beneficio que esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que renunciaram. E não pode haver tal poder antes de erigir-se um Estado. 71 Sendo que, por meio do poder coercitivo, ou das leis de coerção que ordenam faças isso ou faças aquilo é que podem ser definidas ações como justas ou injustas, e elas só passam a ter determinada valoração após serem impostas como tais, o que ocorre por meio da imposição do Estado Civil, na figura do soberano. 70 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 52. 71 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 53. 100

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 O que foi dito até o momento, nas palavras de Hobbes está posto assim: [...] Portanto, onde não há Estado nada pode ser injusto. De modo que a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, e é também só aí que começa a haver propriedade. 72 Segundo o pensamento de Hobbes, há duas formas de interpretar as palavras justo e injusto : uma quando se refere aos homens, outra quando se refere às ações, sendo que quando são atribuídas: a) aos homens, expressam a incompatibilidade injusto) ou conformidade justo) com os costumes e com a razão; b) já quando essas mesmas palavras são atribuídas a ações, indicam conformidade ou incompatibilidade com a razão de ações determinadas. Nas palavras de Hobbes: [...] Portanto um homem justo é aquele que toma o maior cuidado possível para que todas as suas ações sejam justas, e um homem injusto é o que despreza esse cuidado. [...] 73. Hobbes afirma que a Justiça que é chamada de distributiva deveria ser chamada de equitativa, sendo que quando uma pessoa, a pedido do soberano assumisse um cargo de juiz numa causa que envolvesse dois homens como as partes conflitantes [...] é um preceito da lei de natureza que trate a ambos equitativamente. Pois sem isso as controvérsias entre os homens só podem ser decididas pela guerra. [...] 74 SEÇÃO II ESTADO CIVIL: O SOBERANO E O PODER O objetivo da criação do Estado Civil, para Hobbes, é o cuidado com a preservação da vida dos cidadãos, quando é feito pelos homens um cálculo racional, por meio da razão e das paixões, para verificar que é melhor abdicar da liberdade total, para que assim suas vidas sejam preservadas. Mesmo existindo as leis de natureza, para Hobbes é necessário que seja instituído um poder suficientemente grande para a segurança dos súditos. Pois, levando em conta o pensamento de Hobbes [...] no estado de natureza, cada um se representa sua vida e seu direito à vida [...]. 75. A instituição desse poder, que é representado pela 72 Idem. Ibidem. p. 52. 73 Idem. Ibidem. p. 53. 74 Idem. Ibidem. p. 55. 75 MALHERBE, Michel. Liberdade e necessidade na filosofia de Hobbes. Tradução de Maria Isabel Limongi. In: Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 12, n.1-2, p. 45-64, jan.-dez. 2002. p. 58 101

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 figura do soberano 76, é necessária, pois segundo Hobbes os homens não conseguem ficar em paz sem sujeição. Segundo o pensamento de Hobbes, a partir da instituição do Estado Civil cada indivíduo súditos) será o verdadeiro autor de tudo aquilo que o soberano vier a fazer. A conclusão desse pensamento de Hobbes é que o soberano não pode ser responsável por atos injustos e o soberano tem como função de seu cargo ser o juiz e prescrever as regras das quais os homens do Estado poderão gozar, pertencendo também ao poder soberano a autoridade judicial. Como já dito anteriormente, está na mão do soberano decidir aquilo que é bom ou mau em um Estado, assim como justo e injusto, como pode ser visto nessa citação retirada do Leviatã: [...] Competia, portanto, ao soberano ser juiz, e prescrever as regras para distinguir entre o bem e o mal, regras estas que são as leis; por conseqüência, é nele que reside o poder legislativo[...] 77, onde: [...] A soberania é a alma do Estado, e uma vez separada do corpo os membros deixam de receber dela seu movimento. O fim da obediência é a proteção, e seja onde for que um homem a veja, quer em sua própria espada quer na de um outro, a natureza manda que a ela obedeça e se esforce por conservá-la. 78. A soberania seria então, a única representação absoluta do povo, para Hobbes. Há, no Estado Civil criado por Hobbes, um poder judicial onde os ministros públicos são delegados pelo Poder Soberano, [...] Porque em suas sedes de justiça representam a pessoa do soberano, e sua sentença é a sentença dele. [...] 79. Sendo que haverá dois tipos de controvérsia, as de fato e de direito, podendo haver assim também dois juízes, os de fato e de direito. Haverá, nos Estados Civis, aquilo que Hobbes chamará de Leis Civis, sendo que essas são [...] para todo súdito, constituídas por aquelas regras que o Estado lhe impõe, oralmente ou por escrito, ou por outro sinal suficiente de sua vontade, para usar como critério de distinção entre o bem e o mal; isto é, do que é contrário ou não é contrário à 76 Lembra-se aqui que esse soberano pode ser apenas um homem monarquia, ou por meio de assembleias, de todos os homens democracia; ou de alguns homens aristocracia. 77 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 72. 78 Idem. Ibidem. p. 76. 79 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 83. 102

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 regra. 80. Explicando: o Estado diz o que é bom ou mau, assim como justo ou injusto, por meio de regras, às quais os súditos deverão seguir e, a partir de então, o que for colocado como bem serão regras a se seguir ou seja, leis às quais se deve cumprir; e o não cumprimento destas poderá ser penalizado), e o inverso também será verdadeiro, ou seja, pode haver regras onde serão expostas coisas contrárias ao bom andamento do convívio em sociedade, coloca-se assim, e as ações que entrarem nesse leque serão ditas contrárias às regras e poderão ser penalizadas. Sendo [...] as leis são as regras do justo e do injusto, não havendo nada que seja considerado injusto e não seja contrário à alguma lei. [...] 81. O soberano é o único legislador, sendo ele o único autorizado a revogar uma lei, onde: [...] o súdito obedece de acordo com as regras, mas o soberano faz as regras e age de acordo com o que considera ideal. 82. Sobre a questão das leis, Hobbes afirma que o soberano é o responsável pela interpretação das Leis de Natureza. [...] Porque no ato de judicatura o juiz não faz mais do que examinar se o pedido de cada uma das partes é compatível com a eqüidade e a razão natural, sendo, portanto, sua sentença uma interpretação da lei de natureza, interpretação essa que não é autêntica por ser sua sentença pessoal, mas por ser dada pela autoridade do soberano, mediante a qual ela se torna uma sentença do soberano, que então se torna lei para as partes em litígio. Sendo de responsabilidade de um bom juiz, ou bom intérprete das leis uma correta compreensão da lei principal de natureza, chamada de lei de equidade. Essa boa interpretação se dará por meio da sanidade da própria razão e mediação natural, desprezando as riquezas desnecessárias, assim como as preferências. Sendo capaz de despir-se de todas as paixões, assim como deve haver paciência para ouvir e dirigir e aplicar o que se ouviu. SEÇÃO III A SOBERANIA E A COERÇÃO Para Hobbes, o direito de punir as injustiças cometidas dentro do Estado Civil, vai ao encontro da vontade do soberano. O direito de punir é pertencente ao Estado, quem determinará o que é uma lei e, consequentemente, que tal ato sendo lei é bom para o Estado e seus cidadãos será o soberano. E independente de seu conteúdo as leis criadas têm de ser respeitada, pois foram os próprios súditos na figura do soberano os 80 Idem. Ibidem. p. 90 81 Idem. Ibidem. p. 90. 82 BUENO, Marcelo Martins. Medo e Liberdade no pensamento de Thomas Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n.1, ano 1, 2 sem. 2010. p. 9. 103

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 autores de qualquer que seja a lei. Isso fica exposto na seguinte passagem da obra hobbesiana: [...] Todo indivíduo particular é juiz das boas e más ações. Isto é verdade na condição de simples natureza, quando não existem leis civis, e também sob o governo civil nos casos que não estão determinados pela Lei. Mas não sendo assim é evidente que a medida das boas e más ações é a lei civil, e o juiz o legislador, que sempre é representativo do Estado. [...]. 83. Para Hobbes, a forma de garantir a segurança dos cidadãos do Estado Civil motivo pelo qual eles aceitaram o pacto) é por meio das ações coercitivas do soberano, isto é, por meio das leis criadas para a proteção dos cidadãos e do Estado. A obediência dos súditos às leis do Estado é, para Hobbes, o principal meio para que o soberano consiga cumprir seu principal objetivo do pacto, ou seja, manter a segurança dos cidadãos do Estado Civil, sendo que, para isso, fica implícito que os cidadãos devem cumprir as leis do Estado, pois além de eles serem os autores destas, elas servem para protegê-los, o que levaria a um pensamento compatível com o do positivismo jurídico, pois como o próprio Hobbes comenta, as leis positivas são aquelas criadas e não naturais), que são justas, pois são leis, e por isso devem ser obedecidas. O próprio Hobbes argumenta em favor a isso, na seguinte passagem do Leviatã: [...] Pois a prosperidade de um povo governado por uma assembléia aristocrática ou democrática não vem nem da aristocracia nem da democracia, mas da obediência e concórdia dos súditos; assim como também o povo não floresce numa monarquia porque um homem tem o direito de governá-lo, mas porque ele lhe obedece. 84 Para Hobbes, a justiça deve ser ensinada, assim como as consequências do não cumprimento das leis, pois é fazendo uso do medo que se deve fazer com que os cidadãos cumpram as leis, as quais não estariam dispostos a cumprir se não houvesse um poder comum a todos, lembrando que o pensamento hobbesiano traz consigo a ideia de que, se for necessário, o cumprimento das leis será por meio de ações de coerção, sanções. Sendo que, segundo a visão hobbesiana, é função do soberano fazer boas leis, entendidas por Hobbes como: 83 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 108. 84 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 113. 104

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 85 Idem. Ibidem. p. 116. 86 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). p. 123. 105 [...] apenas uma lei justa, pois nenhuma lei pode ser injusta. A lei é feita pelo soberano poder e tudo o que é feito por tal poder é garantido e diz respeito a todo o povo, e aquilo que qualquer homem tiver ninguém pode dizer que ë injusto. [...] Uma boa lei é aquela que é necessária para o bem do povo e, além disso, evidente. 85 Seguindo o pensamento de Hobbes, nenhuma lei pode ser injusta, e isso se deve ao fato de que a lei é de autoria dos próprios cidadãos na figura personificada do soberano, ou seja, independente do que for ali colocado como lei isto é, de seu conteúdo), como fora já colocado, ela não poderá ser considerada injusta, pois tem como objetivo o bem dos cidadãos do Estado Civil. O objetivo das leis é dirigir e manter os cidadãos num movimento para que assim não se firam com os seus próprios desejos. Para finalizar, traz-se uma ultima citação da obra de Hobbes: [...] a ciência da justiça natural é a única ciência necessária para os soberanos e para seus principais ministros, e que eles não precisam ser sobrecarregados com as ciências matemáticas como precisam nos textos de Platão), além de por boas leis serem os homens encorajados ao seu estudo, e que nem Platão nem qualquer outro filósofo até agora ordenou e provou com suficiência ou probabilidade todos os teoremas da doutrina moral, que os homens podem aprender a partir daí não só a governar como a obedecer, fico novamente com alguma esperança de que esta minha obra venha um dia a cair nas mãos de um soberano, que a examinará por si próprio pois é curto e penso que claro), sem a ajuda de algum intérprete interessado ou invejoso, e que pelo exercício da plena soberania, protegendo o ensino público desta obra, transformará esta verdade especulativa na utilidade da prática. 86 Traz-se esta citação, para encerrar esse trabalho, que teve como objetivo apresentar aquilo que Hobbes entende por justiça em seu Leviatã, pois de acordo com o raciocínio hobbesiano em sua obra, o soberano é aquele que tem como função dizer o que é certo e o que é errado; o que é justo e o que é injusto etc., em um Estado Civil, que, por meio das leis civis, tem como um dos principais objetivos, para um bom governo, manter seus súditos seguros um dos outros e de Estados vizinhos). CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredita-se que, pelo contexto histórico no qual Hobbes estava inserido, a obra Leviatã não trata propriamente de como se chegar ao poder, mas sim de como o soberano pode manter-se no poder, e para tal, Hobbes afirma a necessidade de se instituir um Estado Civil, com a figura do soberano forte, sendo ele o responsável por

RevistaAproximação Segundosemestrede2014 Nº8 dizer aos súditos quais as leis civis e naturais transformadas em civis) que eles devem respeitar para assim garantirem sua segurança. Com isso Hobbes descreve um Estado que pode ser lido pela visão jusfilosófica contemporânea como um Estado com leis positivadas positivismo jurídico), no qual quem dirá o que é justo é o próprio soberano, representando com isso a vontade dos súditos do Estado Civil. Afirma-se então que o conceito de justiça no Leviatã de Hobbes é de uma justiça positivada na espada do soberano, podendo até mesmo ser chamada de uma justiça legalista também em termos mais contemporâneos), sem entrar aqui naquilo que tange a discussão sobre a desobediência civil em Hobbes. Referências: AGUIAR, Renan. Direito Natural e Direito Positivo a partir da Teoria da Linguagem de Thomas Hobbes.Versão Digital. Disponível em: <http://www.cp2. g12.br/uas/se/departamentos/sociologia/pespectiva_sociologica/numero1/renan%20a guiar%20-%20thomas%20hobbes.pdf>. Acesso em: 19 maio 2014. ARAUJO, Bernardo Goytacases de; LUNA, Sérgio. Duas concepções da Filosofia Política Moderna: Hobbes e Locke. Versão Digital. p. 3. Disponível em: <http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/dcfpmhl.pdf.>. Acesso em: 20 maio 2014. BUENO, Marcelo Martins. Medo e Liberdade no pensamento de Thomas Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n.1., ano1, 2. sem. 2010. MALHERBE, Michel. Liberdade e necessidade na filosofia de Hobbes. Tradução de Maria Isabel Limongi. In: Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 12, n.1-2, p. 45-64, jan.-dez. 2002. HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Coleção Os Pensadores). Versão Digital. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/ marcos/hdh_thomas_hobbes_leviatan.pdf>. Acesso em: 15 maio 2014. MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. Thomas Hobbes, avatar do positivismo jurídico: uma leitura jusfilosófica do Leviatã. In: PHRONESIS Revista do Curso de Direito da FEAD-Minas, v. 1, n. 1, jan. 2006. MELLO, Elson Rezende. Considerações sobre o Estado em Hobbes. In: Revista de C. Humanas, Viçosa, v. 12, n. 1, p. 217-234, jan./jun. 2012. MONTEIRO, João Paulo. A ideologia do Leviatã hobbesiano. Versão digital. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/monteiroleviatahobbesiano. pdf/at_download/file>. Acesso em: 7 maio 2014. 106