[Recensão a] Winkler, Martin M. - Cinema and classical texts: Apollo s new light Autor(es): Publicado por: URL persistente: DOI: Rodrigues, Nuno Simões Centro de História da Universidade de Lisboa URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23816 DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0871-9527_19_33 Accessed : 12-Jan-2017 10:52:20 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt
CADMO Revista de Historia Antiga Centro de História da Universidade de Lisboa 19
blemáticas ligadas à sexualidade e ao erotismo. R. Guarino Ortega estuda Ovídio, poeta particularmente apto para estas temáticas; M. Ruiz Sánchez analisa Marcial, um outro clássico quase omnipresente nos estudos em torno do erótico-sexual greco-romano; M. P. López Martínez propõe um trabalho sobre 0 erotismo nos fragmentos conheeidos do romance antigo, quer 0 grego quer o latino; e M. López Pérez centra-se na literatura médica greco-romana para a partir dela estudar a hipersexualidade masculina ou satiríase, enquanto patologia reconhecida nesses mesmos textos. A S. Perea Yébenes cabe estudar a epigrafia grega e a existência de informações nela ligadas à sexualidade. Parte assim para um trabalho de investigação em que relaciona de uma forma, quanto a nós, totalmente pertinente os chamados ex uotis sexuais e aquilo que poderia designar-se por «medicina sagrada». Este é um texto bem ilustrado e fundamentado que honra 0 coordenador do volume. Por fim, A. Urbán contribui com um texto no âmbito da história da arte, ao analisar a representação de Leda e 0 cisne, tema parafílico e particularmente interessante por isso mesmo, num mosaico romano de Complutum, datado dos séculos IV-V d. C. Com este conjunto de trabalhos, estamos perante mais um exempio de que a historiografia ibérica da Antiguidade tem desenvolvido nos últimos anos um esforço considerável para estar a par das mais recentes tendências de investigação nesta área, ao nível europeu e não só. Parabéns pois aos seus autores. Eventualmente, a bibliografia poderia ter sido apresentada de uma forma global no final do volume. Nuno Simões Rodrigues MARTIN M. WINKLER, Cinema and Classical Texts. Apollo s New Light, Cambridge: University Press, 2009, 347 pp., ISBN 978-0-521- -51860-4 (hb), 55.00 ; 99.00 US$. Qualquer eventual crítica que possamos fazer a falhas ou lacunas neste livro de M. M. Winkler facilmente será rebatida por alguma afirmação do tipo «Winkler já o escreveu em trabalho anterior». Com efeito, este Cinema and Classical Texts vem na sequência de outros trabalhos igualmente importantes, publicados ou coordenados pelo A. em anos anteriores, como Classics and Cinema (1991), Classical Myth and Culture in the Cinema (2001), Gladiator. Film and History (2004), 363
Troy: from Homer s Iliad to Hollywood Epic (2006), Spartacus: Film and History (2007) e The Roman Salute: Cinema, History, Ideology (2009). Este conjunto de publicações torna Winkler um dos mais importantes investigadores neste domínio, tendo inclusivamente começado a publicar antes do já considerado clássico The Ancient World in the Cinema (2001) de J. Solomon. Por outro lado, é inevitável referirmos que só eventualmente 0 texto castelhano poderá explicar que Winkler não cite um outro trabalho, verdadeiramente pioneiro neste domínio: 0 de P. Cano, Influencias del mundo clásico en el mundo de la cinematografía (tese de doutoramento defendida na Universidade de Barcelona em 1973). A novidade deste contributo de Winkler assenta agora na perspectiva epistemológica de que parte para a abordagem do seu objecto. De algum modo, essa perspectiva havia já sido iniciada em Classical Myth and Culture in the Cinema. Mas reencontramo-la agora, ao centrar-se no «tema clássico» e sua presença na obra cinematográfica e não necessariamente na adaptação da obra literária antiga ou do tema histórico antigo. Neste sentido, não podemos deixar de referir a escolha pertinente e quanto a nós apropriada de Rita Hayworth, no papel de Terpsícore em Down to Earth (1947), como motivo para a capa do livro. É por isso bem interessante 0 percurso filológico em torno dos conceitos da cinematografia e a relação que 0 A. estabelece com a cultura clássica em geral e a grega em particular. Acresce referir a presença do tema de Apoio nesta exegese, deus da luz e das arte e por isso convenientemente reclamado como deus do cinema, além da Musa que eventualmente proteja esta forma artística. O périplo de Winkler inicia-se com o texto para passar ao metatexto. Parte por isso das descrições ecfrásicas da literatura antiga, onde a presença do visual é particularmente forte, quase cinematográfica, diríamos. Passa pelas representações do divino antigo no cinema, onde Apoio é reconhecido como senhor, para se deter de seguida no mito de Édipo e na forma como a sétima arte se aproveitou dele. Neste contexto, é evidente que foi determinante o uso que Freud e a psicanálise fizeram do mito grego, e da fama que lhe granjearam, para 0 êxito de Édipo na tela, de que a versão de Pasolini é um dos exemplos mais bem conhecidos. Mas aqui se reclama igualmente 0 problema da legitimação histórico-historiográfica nas sociedades. Os temas do patriotismo e da guerra estão igualmente presentes, confirmando-se a sua universalidade cronologicamente transversal. A receita é eficaz é o estudo de Winkler prova-o. Outro tema recorrente é 0 do 364
feminino, aqui estudado através das várias composições que Helena de Tróia tem tido no cinema (sendo este um tema igualmente tratado por nós num colóquio dedicado à heroína mitológica e decorrido em Coimbra em 2006). Cleópatra é outra figura que assume naturalmente contornos mitológicos neste contexto e que 0 A. sabe aproveitar igualmente bem. De facto, na cultura contemporânea, a última rainha do Egipto assumiu uma posição sem dúvida mítica, em grande parte graças ao cinema. O livro encerra com o regresso à poesia, definida pelas metáforas que Homero e Apoio permitem construir. Em suma, este livro lida com as representações modernas de temas clássicos, confirmando a importância do Mundo Antigo na cultura contemporânea, sendo de realçar que essas temáticas assumem formas de acordo com os objectivos e os media a que recorrem para se retransmitir e reformular. Apesar de a qualidade do produto não ser sempre homogénea, 0 certo é que nos basta a presença do tema ou motivo clássico para atestarmos a retransmissão cultural. Winkler ciassifica pertinentemente essas metamorfoses de «Protean nature». Esta característica confirma ainda 0 carácter continuamente reinventivo do mito antigo/clássico, falando mesmo num «neo mitologismo» que se pode estudar através de uma ciência a que poderíamos chamar «filmofilologia». Mas será mesmo necessário reinventar 0 seu nome? Não continuamos no domínio da boa e velha hermenêutica, tout courf? Seja como for, não resistimos a terminar esta recensão com as palavras do próprio Winkler: «if Antiquity is important for cinema, cinema is also important for antiquity and the presence of classical Greece and Rome in our culture and education.» Na verdade, quanta da percepção, para não dizer mesmo suposto conhecimento, que as massas possuem do Mundo Antigo, e da Antiguidade Clássica em especial, não será devida ao cinema? Nuno Simões Rodrigues JOSÉ LUÍS LOPES BRANDÃO, Máscaras dos Césares. Teatro e Moralidade nas Vidas suetonianas, Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2009, 482 pp., ISBN 978-989-8281-14-2. O estudo em epígrafe é urna recentíssima edição da biblioteca online Classica Digitalia (http://classicadigitalia.uc.pt): constitui, assim, mais um marco do excelente trabalho que os seus responsáveis vêm 365