Análise da Precipitação e Interceptação Pluviométrica em Floresta Estacional Decidual, Vitória da Conquista - BA Francisnei da Silva Brilhante (1) ; Emerson Iuri de Paula Araújo (2) ; Willyan Charles Amaral Batista (3) ; Cristiano Tagliaferre (4) ; Alessandro de Paula (2) (1) Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB: brilhante.nei@gmail.com; (2) Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB: iuridpaula@hotmail.com; (3) Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB: willyanbatista@yahoo.com.br; (4) Professor Doutor do Departamento de Engenharia e Solos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: tagliaferre@yahoo.com.br; (5) Professor Doutor do Departamento de Engenharia e Solos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: apaula@uesb.edu.br RESUMO Precipitação é a principal forma de retorno da água da atmosfera para uma cobertura vegetal. A vegetação tem forte relação com o ciclo hidrológico, interferindo na dinâmica da água nos mais variados compartimentos do sistema. Dessa forma, interfere na entrada de água ou então no poder de penetração desta na superfície do solo. Este estudo teve como objetivo, quantificar as águas pluviométricas por meio do processo de mensuração de precipitação efetiva, escoamento pelo tronco e interceptação de uma Floresta Estacional Decidual no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, no município de Vitória da Conquista. Para a coleta dos dados foram utilizados 25 pluviômetros instaladas a 1,5 m do solo e 25 coletores fixados no tronco das árvores. A amostragem ocorreu em uma área de 400 m². O levantamento dos dados foi realizado entre outubro de 2012 e agosto de 2013. Como resultado apurou-se que 47% do total de precipitação foi interceptada pela floresta. A alta intercepção encontrada na fisionomia estudada está relacionada às baixas intensidades da maioria das precipitações que ocorreram no período estudado. O escoamento pelo tronco não apresentou valores significativos na fisionomia, também pelas baixas intensidades das precipitações do período. Palavras-chave: hidrologia florestal, precipitação efetiva, escoamento pelo tronco. INTRODUÇÃO O ciclo hidrológico é um fenômeno cíclico entre a superfície e a atmosfera, impulsionado pela radiação solar associado pela gravidade e movimento de rotação da Terra. O ciclo possui dois sentidos: um sentido superfície-atmosfera, onde a água possui a forma de vapor (evapotranspiração) e um no sentido atmosfera-superfície, onde a água se encontra em qualquer estado físico. Esse ciclo só é fechado em nível global, o que significa que os volumes evaporados em determinado local do planeta não precipitam, necessariamente, em uma mesma região, devido a movimentos contínuos na atmosfera e na superfície da Terra (TEIXEIRA, 2009). A cobertura vegetal tem estreita relação com o ciclo hidrológico e interfere na dinâmica da água - Resumo Expandido - [52] ISSN: 2318-6631
em vários compartimentos do sistema, seja nas saídas para a atmosfera ou pelo seu poder de alterar a entrada da água pela superfície do solo (ARCOVA et al., 2003; MOURA et al., 2009). Nesse sentido, a vegetação tem influência na redistribuição da água da chuva, onde as copas das árvores amortecem e direcionam as gotas que chegam ao solo, atuando no escoamento superficial e o processo de infiltração (OLIVEIRA JUNIOR, 2006). Existe uma grande relação entre os recursos naturais água e vegetação, pois a primeira pode ser alterada pela segunda, por meio da quantidade, qualidade e do seu fluxo. Por outro lado, a diversidade e a densidade de espécies florestais dependem de um efetivo funcionamento hidrológico, onde o balanço hídrico está relacionado a fatores como a precipitação, interceptação de água pelo dossel, escoamento lateral e em profundidade e da evapotranspiração (SANTOS, 2007). A chuva, também denominada precipitação pluvial ou precipitação, é a principal forma de retorno da água da atmosfera para as diversas culturas e solos. Quando ocorre essa precipitação, uma parte fica retida na planta (interceptação vegetal) e outra parte atinge o solo (chuva efetiva). Dependendo da intensidade da chuva, declividade do terreno e a morfologia do solo, parte dessa chuva, não é absorvida pelo solo e escorre pela superfície, que constitui uma enxurrada, o run-off ou escoamento superficial. Por isso, avaliar a quantidade e a distribuição de chuva que cai anualmente em certa área, é de fundamental valor, pois, determina o tipo de vegetação encontrada, que pode ser hidrófita, mesófila ou xerófita, além de classificar as regiões climáticas (REICHARDT, 1990). No Brasil, ainda são poucos os trabalhos relacionados a precipitação efetiva de diferentes coberturas vegetais (OLIVEIRA JUNIOR, 2006), o que demonstra a importância da realização do presente estudo. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar e avaliar a partição da precipitação em um fragmento de Floresta Estacional Decidual. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo foi realizado no Planalto da Conquista, em um fragmento de Floresta Estacional Decidual Montana (regionalmente conhecida como Mata de Cipó) localizada no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O solo da área é do tipo Latossolo Amarelo Distrófico Álico. A topografia é plana, com declividade abaixo de 3% e com altitude de 876 m. A área está localizada nas coordenadas -14 52 Sul e -40 47 Oeste. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é AW difere do tipo sub-úmido ao semiárido, caracterizado por clima quente com estação seca bem salientada. Segundo Soares Filho (2000), a mata de cipó é uma floresta de estrutura baixa, onde a altura das árvores varia de 10 a 15 metros (altura média), com folhagem esclerófila, onde a vegetação desenvolveu adaptações para a aridez, características do semiárido. Metodologia A área amostral foi de 400m² e instalada à 150 m das bordas. Foram instalados 25 coletores, com área de captação individual de 50,24 cm², em intervalos de cinco metros cada. A altura dos coletores em relação ao solo foi de 1,5 metros. O estudo foi realizado entre outubro de 2012 e agosto de 2013, no interior da Floresta Estacional Decidual, no campus da UESB. Para mensurar a precipitação em espaço aberto, foi utilizado um pluviômetro (Ville de Paris) com área de captação de 400 cm², instalado à 1,5 metros acima do solo a uma distância de 160 metros da parcela amostrada. Na avaliação do escoamento pelo tronco foram utilizados 25 indivíduos. As árvores foram - Resumo Expandido - [53] ISSN: 2318-6631
selecionadas tendo como parâmetros a distribuição diamétrica, posição na parcela, tipo de casca e qualidade do fuste, conforme Santos et al. (2012). O sistema utilizado para avaliar o escoamento do tronco foi a montagem de um sistema coletor de massa epox, que unido a uma garrafa de politereftalato de etileno (PET), formam um sistema escoador que direciona água da chuva através de um tubo para um balde com tampa com capacidade de armazenamento de 21 litros (LIKENS & EATON, 1970). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas 40 coletas com valores de precipitação no aberto variando entre 0,6 e 122,6 mm. É importante salientar que foram registradas chuvas em todos os meses. O total precipitado no período foi 645,97 mm (Tabela 1), valor abaixo da precipitação média anual da região que é de 733,9 mm. A precipitação interna média, registrada para o período foi 52,89% do total precipitado no aberto, variando entre 51,01 e 68,23 % (Tabela 1). Tabela 1 - Valores mensais de precipitação, escoamento pelo tronco e interceptação em um fragmento de Floresta Estacional Decidual no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Mês mm /1 % em relação a Precipitação Total P Pi Et Pe I Pi Et Pe I Out/12 40,40 27,57 0,030 27,60 12,80 68,23 0,075 68,31 31,69 Nov/12 292,16 167,86 0,158 168,02 124,14 57,45 0,054 57,51 42,49 Dez/12 3,20 1,79 0,007 1,80 1,40 55,88 0,231 56,11 43,89 Jan/13 115,00 70,00 0,037 70,04 44,96 60,87 0,032 60,90 39,10 Fev/13 69,40 35,40 0,030 35,43 33,97 51,01 0,043 51,06 48,94 Mar/13 4,00 2,10 0,006 2,11 1,89 52,50 0,147 52,65 47,35 Abr/13 56,00 37,08 0,011 37,09 18,91 66,22 0,021 66,24 33,76 Mai/13 8,00 3,83 0,008 3,84 4,16 47,87 0,101 47,97 52,03 Jun/13 18,00 11,4 0,003 11,40 6,60 63,33 0,016 63,35 36,65 Jul/13 22,01 5,14 0,001 5,14 16,87 23,35 0,005 23,36 76,64 Ago/13 17,80 6,24 0,002 6,24 11,56 35,06 0,013 35,07 64,93 Total 645,97 368,41 0,29 368,70 277,27 52,89 0,067 52,96 47,04 /1 Dados, onde: P = Precipitação Total; Pi= Precipitação Interna; Et= Escoamento pelo tronco, Pe= Precipitação efetiva; I= Interceptação A precipitação interna foi considerada baixa. Este resultado tem relação com a baixa intensidade de boa parte das precipitações. Nestes casos ocorre um aumento do percentual da precipitação interceptada pela vegetação. Ocorreu uma grande relação entre a precipitação interna e a precipitação no aberto, como pode ser observado na Figura 1. - Resumo Expandido - [54] ISSN: 2318-6631
Figura 1 - Relação entre precipitação total (P) e precipitação interna (Pi) em um fragmento de Floresta Estacional Decidual Montana no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Já em relação ao escoamento pelo tronco, foram observados valores abaixo do obtido por Oliveira Junior & Dias (2005) e Santos et al. (2012), 1,7 e 0,89, respectivamente. Este resultado pode ser classificado como pouco representativo (Et = 0,29), já que não ultrapassou 0,1% em relação a precipitação total (Figura 2). A precipitação de baixa intensidade em determinados pontos, serviu apenas para umidificar os troncos e galhos, salvo raras exceções. Figura 2 - Relação entre escoamento pelo tronco (Et) e a precipitação no aberto (P) em um fragmento de Floresta Estacional Decidual no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Quanto às perdas por interceptação em relação à precipitação no aberto, foi perceptível uma acentuação durante eventos com menores índices. Os meses de dezembro, março, maio e junho demonstraram uma redução nas perdas por interceptação, devido às condições climáticas daquele período, baixo índice de chuvas ou pela queda da estrutura foliar da planta. O percentual interceptado variou entre 31,69 a 76,64%, sendo retornado à atmosfera 47,04% (277,27 mm) da precipitação ocorrida. Já os percentuais encontrados foram superiores aos observados por Santos et al. (2012) que encontraram valores de interceptação entre 13,86 e 51,39%, com média de 38,49%. Ainda segundo Santos et al. (2012), a região de estudo é caracterizada por chuvas de baixa intensidade. Este fato desfavorece a entrada de água no sistema, uma vez que a evaporação ocorre durante toda a chuva e a gota da chuva não possui energia cinética suficiente para impulsionar as folhas e ramos. Isto facilita a retenção de água pela copa onde os valores mais baixos indicam uma interceptação maior, ilustrando uma forte relação com a precipitação no ambiente (Figura 3). - Resumo Expandido - [55] ISSN: 2318-6631
Figura 3 - Comparação entre a interceptação (I) e a precipitação no aberto (P) em um fragmento de Floresta Estacional Decidual no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Os percentuais de precipitação apresentaram divergências acerca dos períodos e de acordo com a mesma altura pluviométrica, o que pode ser explicado, segundo Santos (2012) pelas variações climáticas entre as épocas e variações no estado da vegetação. CONCLUSÕES A alta intercepção encontrada na fisionomia estudada está relacionada às baixas intensidades da maioria das precipitações que ocorreram no período estudado. O escoamento pelo tronco não apresentou valores significativos na fisionomia, também pelas baixas intensidades das precipitações do período. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARCOVA, F. C. S.; CICCO, V.; ROCHA, P. A. B. Precipitação efetiva e interceptação das chuvas por floresta de Mata Atlântica em uma micro bacia experimental em Cunha - SP. Revista Árvore, 27(2):257-262, 2003. LIKENS, G. E.; EATON, J. S. A polyurethane stemflow collector for trees and shrubs. Ecology, 51(5):938-939, 1970. MOURA, A. E. S. S.; CORREIA, M. M.; SILVA, E. R.; FERREIRA, R. L. C.; FIGUEIREIDO, A. C.; POSSAS, J. M. C. Interceptação das chuvas em um fragmento de floresta da Mata Atlântica na Bacia do Prata, Recife, PE. Revista Árvore, 33(3):461-469, 2009. OLIVEIRA JUNIOR, J. C. Precipitação efetiva em Florestal Estacional Semidecidual na reserva Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais. Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, 2006. (Dissertação de Mestrado). OLIVEIRA JÚNIOR, J. C.; DIAS, H. C. T. Precipitação efetiva em fragmento secundário da Mata Atlântica. Revista Árvore, 29(1):9-15, 2005. REICHARDT, K. A água em sistemas agrícolas. Editora Manole Ltda, 1990. - Resumo Expandido - [56] ISSN: 2318-6631
SANTOS, A; TAGLIAFERRE, C.; PAULA, A. Precipitação efetiva e interceptação das chuvas em Floresta Estacional Decidual, Vitória da Conquista - BA. Vitória da Conquista, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2012. 11 p. (Trabalho de Conclusão de Curso). SANTOS, E. S. Caracterização da interceptação da precipitação do escoamento superficial em diferentes tipologias vegetais na bacia hidrográfica do rio Salomé - BA. Ilhéus, Universidade Estadual de Santa Cruz, 2007. (Dissertação de Mestrado). SOARES FILHO, A. O. Estudo fitossociológico de duas florestas em região ecotonal no Planalto de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. São Paulo, Instituto de Biociências - Universidade de São Paulo, 2000. (Dissertação de Mestrado). TEXEIRA, C. A. Apostila de Hidrologia Aplicada. Curitiba, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2010. - Resumo Expandido - [57] ISSN: 2318-6631