MICROBIOLIZAÇÃO COM Trichoderma sp. NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE SOJA 1 JUNGES, Emanuele 4 ; MENEZES, Josiane Pacheco²; MANZONI, Clarice Gindri³; FLORES, Rejane 4, GARLET, Tânea Maria Bisognin 5 ; MENEZES, Nilson Lemos de 6 ; MUNIZ, Marlove Fátima Brião 7 ; BLUME, Elena 7 ; 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Colégio Técnico Industrial, Universidade Federal de Santa Maria, Campus Universitário, Camobi, 97105-900, Santa Maria, RS. 3 Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/nº, Caixa Postal 354, CEP 96010-900, Pelotas, RS. 4 Programa de Pós-Graduação em Agronomia, UFSM, Santa Maria, RS. 5 Universidade de Cruz Alta, Rua Andrade Neves, 308, 98025-810, Cruz Alta, RS. 6 Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. 7 Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. E-mail: manujunges@yahoo.com.br; josiflor@yahoo.com.br; claricegm@hotmail.com; rejane.flores@terra.com.br; taneagarlet@yahoo.com.br; nlmenezes@smail.ufsm.br; marlove@smail.ufsm.br; eblume@smail.ufsm.br. RESUMO Este estudo teve como objetivo verificar a influência de concentrações de biopreparado à base de Trichoderma sp. (Agrotrich ) (0; 0,1; 0,25 e 0,4 g) na germinação e no vigor de dois lotes de sementes de soja cv Coodetec 205. As variáveis analisadas foram: germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação e biomassa. Os resultados demonstraram que as concentrações de Agrotrich utilizadas não favoreceram a germinação das sementes, contudo não afetaram o desenvolvimento das plântulas. Palavras-chave: Bioprotetor; Glycine Max; Tratamento de sementes. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado desempenho crescente em termos de produtividade e produção de soja. Todavia, alguns estudos mostram que a falta de controle da qualidade física, fisiológica e sanitária tem comprometido a germinação e o vigor de parte significativa de sementes de diferentes genótipos (COSTA et al. 2003). Neste sentido, buscam-se estratégias de manejo que não causem danos ao meio ambiente e que não sejam tóxicas aos seres humanos e animais. Nos dias atuais, a microbiolização de sementes é o método de controle biológico mais atrativo e de maior sucesso no mundo (FRIGHETTO 2000). A microbiolização de sementes é definida como a aplicação de 1
microrganismos vivos às sementes para o controle de doenças e/ou para promover o crescimento de plantas, sendo um método muito utilizado em trigo, milho, milho doce, ervilha, tomate, pêssego, cenoura e beterraba açucareira (LUZ 1993). O revestimento de sementes com microrganismos pode apresentar vários objetivos, como maximizar a absorção de nutrientes e/ou a fixação de nitrogênio, controlar patógenos, melhorar a taxa de germinação e vigor das sementes, além de promover o crescimento das plantas (HUANG 1992). Em termos mundiais, os bioprotetores mais utilizados englobam as espécies Agrobacterium radiobacter, Bacillus subtilis, Pseudominas fluorescens, Trichoderma harzianum e Gliocladium roseum (LUZ 1993, LAZZARETTI; BETTIOL 1997). No Rio Grande do Sul, em especial na região de Santa Cruz e Santa Maria, tem-se destacado o uso de bioprotetores à base de fungos do gênero Trichoderma, onde um dos produtos mais utilizados é o biopreparado Biotrich. Estes produtos são, geralmente, incorporados ao solo e/ou substrato no cultivo de fumo e hortaliças em geral. Por se tratar de produtos e formulações novas, pouco se conhece sobre o efeito da microbiolização com estes produtos na germinação de sementes (MENEZES 2003). Tendo em vista à carência de informações sobre os efeitos de um bioprotetor em sementes de soja, este trabalho teve por objetivo verificar a influência da microbiolização, através da aplicação de biopreparado à base de Trichoderma sp. (Agrotrich ), na germinação e no vigor de sementes de soja. 2. METODOLOGIA O experimento foi realizado no Laboratório Didático e de Pesquisas em Sementes (LDPS) do Departamento de Fitotecnia e no Laboratório de Fitopatologia do Departamento de Defesa Fitossanitária do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Avaliou-se o efeito de Agrotrich, produto biológico a base de Trichoderma spp. (10 6 UFC/g de produto), nas concentrações 0-0,1-0,25-0,4g para cada 100g de sementes, na germinação de dois lotes (A e B) de sementes de soja cv Coodetec 205. O limite superior do volume microbiolizado corresponde ao máximo possível de partículas aderidas às sementes. Inicialmente, as sementes de soja passaram pelo processo de microbiolização, onde os lotes A e B foram colocados, separadamente, em caixas gerbox contendo o bioproduto Agrotrich juntamente com 10mL de água destilada por três minutos. Posteriormente, retirou-se o excesso de água e deixaram-se as sementes secar a temperatura ambiente por 2
24 horas. As sementes controle (não tratadas com o bioprotetor) foram embebidas somente em água destilada por três minutos e deixadas secar da mesma maneira que as sementes tratadas com o bioprotetor. Os parâmetros empregados para avaliar a qualidade das sementes foram: primeira contagem (%) e germinação (%), segundo RAS (2009), índice de velocidade de germinação (IVG) calculado conforme fórmula proposta por Maguire (1962), em que, G1 Gn IVG : +..., sendo, G o número plantas germinadas e D o número e dias após a D1 Dn semeadura, e biomassa seca, determinada pela secagem do material vegetal em estufa a 70ºC até atingir peso constante. Para a realização dos testes, todas as amostras foram submetidas ao processo de homogeneização. O teste de germinação foi realizado com 200 sementes (quatro sub-amostras de 50 sementes) para cada lote. As sementes foram semeadas em rolos de papel germitest, com quantidade de água equivalente a 2,5 vezes o seu peso e colocadas em germinador regulado a 25ºC, fotoperíodo 12h sob fonte de luz artificial, por sete dias. A contagem das plântulas foi do terceiro ao sétimo dia após a semeadura, segundo critérios adotados por Brasil (1992). Para a biomassa seca, foram utilizadas quatro repetições de 10 sementes. No quarto dia após a instalação do ensaio, as plântulas foram secas em estufa a 60 o C, durante 48 horas. As pesagens foram feitas em balança analítica. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com oito tratamentos (dois lotes x quatro concentrações de bioprotetor). Os resultados representaram a média de quatro repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e analisados através de regressão, em nível de 1% de probabilidade de erro. Utilizou-se o Sistema de Análise Estatística para microcomputadores SANEST (ZONTA et al, 1986). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Observou-se que tratamento das sementes de soja com o Agrotrich afetou negativamente a germinação em ambos os lotes, os quais não diferiram estatisticamente entre si, em todos os parâmetros estudados. Stolf; Guerra (2006), verificaram que mudas micropropagadas de bananeira cv. Williams que receberam inoculação de Trichoderma spp., tiveram peso total, radicular e foliar inferior à testemunha e a redução foi mais expressiva quanto mais reinoculações foram realizadas. 3
Já na primeira contagem, verificou-se uma drástica redução na percentagem de germinação nas sementes em contato com o bioprotetor (Figura 1). Da mesma forma, houve um decréscimo na percentagem de germinação de ambos os lotes com o aumento da concentração do Agrotrich até 0,27g seguido por um leve incremento na germinação em concentrações superiores (Figura 2). O bioprotetor reduziu a velocidade de germinação, sendo melhores resultados obtidos nas sementes não tratadas com o Agrotrich seguido por uma redução no IVG até a concentração 0,25g e aumentando em concentrações superiores (Figura 3). Resultados semelhantes foram encontrados para a cultura do milho por Resende (2003), em que a inoculação com Trichoderma harzianum reduziu o índice de velocidade de emergência. 100 Primeira contagem (%) 80 60 40 20 y = 54,847-175,85x R 2 = 0,5343 0 0-20 0,1 0,2 0,3 0,4-40 Concentrações de Agrotrich A Figura 1 Efeito de concentrações de Agrotrich na primeira contagem (%) de dois lotes de sementes de soja cv. CD 205. 100 Germinação (%) 80 60 40 y = 73,043-182,1x + 327,35x 2 R 2 = 0,8428 20 B 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 Concentrações de Agrotrich Figura 2 Efeito de concentrações de Agrotrich na percentagem de germinação (de dois lotes de sementes de soja cv. CD 205. 4
Índice Velocidade Germinação 16 15,5 15 14,5 14 13,5 y = 15,529-13,114x + 26,325x 2 R 2 = 0,8338 0 0,1 0,2 0,3 0,4 Concentrações de Agrotrich C Figura 3 Efeito de concentrações de Agrotrich no Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de dois lotes de sementes de soja cv. CD 205. Os resultados obtidos no presente estudo contrariam os apresentados por Melo (1996) e Harman (2006) que relatam vários trabalhos em que fungos do gênero Trichoderma têm-se destacado como agentes promotores da germinação de sementes e do crescimento das plantas. Lazzaretti; Bettiol (1997) verificaram que o tratamento de sementes de soja microbiolozadas com Bacillus subtilis não afetou a emergência das plantas aos 15 dias em teste realizado à campo. Apesar do efeito negativo do Agrotrich na germinação das sementes, a análise dos dados não evidenciou diferença estatística significativa entre os tratamentos no que diz respeito à massa seca das plântulas, onde independente do tratamento aplicado, as plântulas apresentaram em média 100mg. Contudo, em outras culturas, as respostas à aplicação de Trichoderma spp. são caracterizadas por aumentos significativos na percentagem de germinação, no peso seco e na altura de plantas (MELO 1998). De acordo com Harman (2000), a colonização de raízes por Trichoderma spp. pode promover o crescimento vegetal e, conseqüentemente, aumentar a produtividade em várias culturas. Segundo Altomare et al. (1999), a promoção de crescimento em plantas promovida por T. harzianum (T-22) está na sua habilidade de solubilizar nutrientes importantes para a planta. A adição de Trichoderma spp. a solos autoclavados aumentou a taxa de emergência de plântulas de tomate e fumo e também apresentou aumento no peso seco de raiz e da parte aérea dessas culturas da ordem de 213-275% e 259-318%, respectivamente (WINDHAM et al. 1986). Sabe-se que a microbiolização de sementes é um sistema ideal de introdução de bioprotetores para o controle de fitopatógenos das sementes, de tombamento, 5
de morte de plântulas e de podridões radiculares (LUZ 1993). Desta forma, neste estudo, os efeitos negativos do bioprotetor na germinação de sementes de soja podem ser devido à falta de interação entre o Trichoderma e demais microrganismos e nutrientes presentes no solo, ou ainda à falta de interação com o genótipo de soja utilizado, como acontece com milho em que há um componente genético do milho responsável pelo sucesso da interação (HARMAN, 2006). 5. CONCLUSÃO Os resultados permitiram concluir que as concentrações de Agrotrich utilizadas não favoreceram a germinação das sementes, porém não afetaram o desenvolvimento das plântulas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. 1992. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DND/CLAV. 365p. COSTA, N. P. et al. 2003. Qualidade fisiológica, física e sanitária de sementes de soja produzidas no Brasil. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas, v. 25, n.1, 2003. ALTOMARE, C. et al. 1999. Solubilization of phosphates and micronutrients by the plant-growthpromoting and biocontrol fungus Trichoderma harzianum Rifai 1295-22. Applied and Environmental Microbiology, Washington, v. 65, n. 7, p. 2926-2933. FRIGHETTO, R. T. S. 2000. Influência do manejo de agrotóxicos no meio ambiente. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.25 (suplemento), p. 271-274. HARMAN, G. E. 2000. Myths and dogmas of biocontrol changes in perceptions derived from research on Trichoderma harzianum T-22. Plant Disease, Cornell, p. 377-393. HARMAN, G. E. 2006. Overview of Mechanisms and Uses of Trichoderma spp. Phytopathology, v. 96, n 2, p. 190-194. HUANG, H. C. 1992. Ecological basis of biological control of soilborne plant pathogens. Canadian Journal of Plant Pathology, Morden, v. 14, n. 1, p. 86-91. 6
LAZZARETTI, E.; BETTIOL, W. 1997. Tratamento de sementes de arroz, trigo, feijão e soja com um produto formulado à base de células e de metabólitos de Bacillus subtilis. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 54, n. 1-2. LUZ, W. C. 1993. Microbiolização de sementes para o controle de doenças de plantas. Revista Anual de Patologia de Plantas, Passo Fundo, v. 1, p. 33-70. MAGUIRRE, J. D. 1962. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling and vigour. Crop Science, v. 2, p. 176-177. MELO, I. S. 1996. Trichoderma e Gliocladium como bioprotetores de plantas. Revista Anual de Patologia de Plantas, Passo Fundo, v. 4, p. 261-295. MELO, I. S. 1998. Agentes microbianos de controle de fungos fitopatogênicos. Cap. 1. In: MELO, I. S. de., AZEVEDO, J.L.de. Controle biológico. Jaguariúna : EMBRAPA. MENEZES, J. P. 2003. Trichoderma spp como bioprotetor de crisântemo e reação de cultivares de crisântemo a Fusarium oxysporum f. sp. chrysanthemi. Dissertação de Mestrado (Mestrado em agronomia). Santa Maria. 76 p. RESENDE, M.L. 2003. Inoculação de sementes com Trichoderma harzianum, tratamento fungicida e adubação nitrogenada na cultura do milho. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Fitotecnia). Lavras, 95 p. STOLF, E. C.; GUERRA, M. P. 2006. Efeito de re-inoculações de fungos endofíticos sobre o controle do nematóide cavernícola da bananeira (Radopholus similis). Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Agronomia, Turrialba, 50 p. WINDHAM, M. T.; ELAD, Y.; BAKER, R. 1986. A mechanism for increased plant growth induced by Trichoderma spp. Phytopathology, Cornell, v.76, p. 518-521. ZONTA, E.P.; MACHADO, A.A. 1987. Sistema de Análise Estatística Para Microcomputadores SANEST. Pelotas, UFPel. 7