FACELI FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DE LINHARES DAÍSE DE OLIVEIRA MOURA DIEGO DEMUNER MIELKE JANE DOS SANTOS PARIS JURISDIÇÃO, PROCESSO E AÇÃO LINHARES ES OUTUBRO / 2011
DAÍSE DE OLIVEIRA MOURA DIEGO DEMUNER MIELKE JANE DOS SANTOS PARIS JURISDIÇÃO, PROCESSO E AÇÃO Trabalho acadêmico apresentado pelos alunos da FACELI Faculdade de Ensino Superior de Linhares como requisito parcial para aprovação na disciplina de Prática Jurídica II (Cível) aplicada no Curso de Direito 8º período - sob a orientação da Profª. Ms. Rosinete Cavalcante Costa. LINHARES ES OUTUBRO / 2011
INTRODUÇÃO O presente trabalho, intitulado Jurisdição, Processo e Ação, tem por objetivo traçar alguns parâmetros e comparações, por meio da utilização de doutrinas diversas da sugerida. Nesse contexto, no decorrer da explanação do tema, podemos perceber que a Jurisdição é entendida apenas como função, por um doutrinador, e como poder, função e atividade por outros. Quanto ao conceito de processo, ambos os doutrinadores tem posicionamentos convergentes ao afirmarem, entre outras palavras, que o processo é o instrumento, ou seja, o meio a ser utilizado e percorrido para que o Estado possa prestar a tutela jurisdicional. Por derradeiro, comprova-se, com a presente comparação, a pacificação do conceito de ação pelos Ilustres doutrinadores, que reconhecem a sua abstração e autonomia.
JURISDIÇÃO COMO FUNÇÃO, PODER E ATIVIDADE Em sua obra, Curso de Direito Processual Civil, volume I, Humberto Theodoro Júnior, prescreve que o desempenho da jurisdição estabeleceu-se como poder que compete ao Estado de fazer prevalecer a ordem jurídica vigente. Entretanto, dispõe que é função jurisdicional, pois somente poderá atuar perante casos concretos de conflitos de interesses e sempre dependendo da provocação dos interessados. Porém, não são todos os conflitos de interesse que embarcam na Jurisdição Voluntária, apenas os que configuram a lide ou litígio. Ou seja, é a função do Estado de declarar e desempenhar, de forma prática, a vontade da lei perante uma situação jurídica controvertida. Assim, Humberto Theodoro Júnior, prescreve que é preferível conceituar jurisdição como função e não como um poder. Dispondo da seguinte maneira (2010, p. 43, grifo do autor): [...], em vez de conceituar a jurisdição como poder, é preferível considerá-la como função estatal, e sua definição poderia ser dada nos seguintes termos: jurisdição é a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida. Contudo este não é o pensamento de Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco, que ao dispor em seu livro Teoria Geral do Processo, que jurisdição é, ao mesmo tempo, função, poder e atividade. Assim estabelecem (2008, p.147): [...] Como poder, é manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões. Como função, expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo. E como atividade ela é o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe comete. [...] Pode-se perceber que a conceituação de jurisdição como poder, função e atividade é melhor elaborada e se enquadra com mais adequação à garantia constitucional do devido processo legal.
CONCEITO DE PROCESSO Em sua obra Curso Processual Civil, volume I, Humberto Theodoro Júnior, ao tratar do conceito de processo, prescreve que este nada mais é do que um conteúdo sistematizado que busca o exercício da jurisdição, onde o Estado, para exercer sua função jurisdicional, deve atuar de forma discricionária, obedecendo a esse sistema para sua atuação (2010, p. 54). Esse sistema importa em uma relação jurídica de direto público que gera direitos e obrigações entre o juiz e as partes. Entre o pedido da parte e o provimento jurisdicional existem vários atos que devem ser praticados, formando assim o procedimento judicial. O objeto do processo estará ligado ao pedido que foi feito pela parte, que é a relação de direito material travada ou disputada entre as partes e que se tornou controvertida em virtude do conflito de interesses, qualificada pela pretensão de um e pela resistência de outro. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 54). Comparando com o doutrinador Marcus Orione Gonçalves Correia, em seu livro Teoria Geral do Processo, este estabelece que o objeto do direito material é o bem disputado pelas partes, diversificando do objeto da relação processual que nada mais é do que tutela jurisdicional que será prestada pelo Estado (2009, p. 123). CONCEITO DE DIREITO DE AÇÃO Humberto Theodoro Júnior, no primeiro volume de sua obra Curso de Direito Processual Civil, ao falar do direito de ação estabelece que até o século passado,
tinha-se tal direito diretamente ligado ao direito material, sendo assim, apenas um aspecto deste. Neste sentido não poderia existir a ação sem a presença do próprio direito material. Já no século XIX, os doutrinadores começaram a entender a autonomia da ação, ou seja, a relação de independência com o direito material lesado ou ameaçado de lesão. O direito de ação, aqui, passou a ser compreendido como o direito de receber do Estado a tutela jurisdicional, visando, é claro, a extirpação da lesão ou ameaça de lesão ao direito material do autor em face da parte que lhe causa (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 65). Apesar de se ter admitido a autonomia da ação, entendia-se ainda a ação como um direito concreto. Assim, só haveria direito de ação, quando houvesse o direito material tutelado. Hodiernamente classifica-se o direito de ação como um direito autônomo e abstrato. A abstração do direito de ação configura-se na inexistência de interdependência do direito de ação e do direito material. Assim, existe direito de ação independentemente da presença do direito material tutelado. Compreende-se, portanto, o direito de ação como o direito do indivíduo, que diz ter seu direito lesado ou ameaçado de lesão, de receber do Estado a efetiva tutela jurisdicional sem sujeição de ter sido reconhecido pelo Estado o seu direito material. Grande foi o avanço na conceituação do direito de ação (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 65). No mesmo sentido é o pensamento de Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, expressado através de sua obra Teoria Geral do Processo. Além de traçarem a evolução do conceito do direito de ação, discorrem sobre sua autonomia e abstração fundada nas doutrinas de Degenkolb (2008, p. 269/270): Antes mesmo que Chiovenda lançasse sua doutrina, Degenkolb já criara na Alemanha, em 1877, a teoria da ação como direito abstrato de agir. [...] Segundo esta linha de pensamento, o direito de ação independe da existência afetiva do direito material invocado: não deixa de haver ação quando uma sentença justa nega a pretensão do autor, ou quando uma sentença injusta a acolhe sem que exista na realidade o direito subjetivo material. A demanda ajuizada pode ser até mesmo temerária, sendo
suficiente, para caracterizar o direito de ação, que o autor mencione um interesse seu, protegido em abstrato pelo direito. É com referência a esse direito que o Estado está Obrigado a exercer a função jurisdicional, proferindo uma decisão, que tanto poderá ser favorável como desfavorável. Sendo a ação dirigida ao Estado, é este o sujeito passivo de tal direito. Traçando parâmetros com a doutrina de Liebman, trazem que este doutrinador italiano defendia que a função jurisdicional somente era exercida quando o juiz prolatasse uma sentença de mérito, favorável ou desfavorável, ou seja, somente quando o Estado prestasse a tutela jurisdicional através do mérito da demanda, quando realmente julgasse a pretensão de direito material que o autor dizia ter (GRINOVER, 2008, p. 271).
CONCLUSÃO Diante do exposto, é perceptível que a matéria tratada no decorrer deste trabalho é bastante sedimentada na doutrina, com exceção ao tocante à Jurisdição, em que nos deparamos com uma divergência. Percebe-se, entretanto, que tal divergência vem apenas para melhor conceituar o referido instituto jurídico de maneira a adequá-lo às novas visões processuais do ordenamento jurídico brasileiro, que sofreu grandes alterações na sua linha de pensamento, principalmente com o advento da nova Carta Magna de 1988.
REFERÊNCIAS CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Teoria Geral do Processo. 05. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Teoria Geral do Processo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 51. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.