Características/princípios
Títulos de crédito 2ª AULA Síntese histórica Economia de troca (in natura) * troca de mercadorias. Economia monetária (dinheiro) * troca de mercadoria por moeda. Economia creditória (títulos de crédito) * moeda é substituída pelos títulos de crédito. o título de crédito representa valor contendo implicitamente a obrigação de realizar esse valor (José Maria Whitaker, Letra de Câmbio, 6 ed., 1971- extraído de Amador Paes de Almeida Teoria e Prática dos Crédito. p.2) Títulos de
Doutrina: CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo nele mencionado (Cesare Vivante) O conceito formulado por Cesar Vivante é, sem dúvida, o mais completo, afinal como afirma Fran Martins encerra, em poucas palavras, algumas das principais características desses instrumentos (títulos de crédito). Tal é a razão pela qual, segundo Fábio Ulhoa é aceita pela unanimidade da doutrina comercialista.
Explica Vivante que: o direito contido no título é um direito literal, porque seu conteúdo e os seus limites são determinados nos precisos termos do título; é um direito autônomo, porque todo o possuidor o pode exercer como se fosse um direito originário, nascido nele pela primeira vez, porque sobre esse direito não recaem as exceções, que diminuiriam o seu valor nas mãos dos possuidores precedentes. (VIVANTE, 2003, p. 152).
CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO Legal (CC) Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Os dispositivos do CC não revogam as leis especiais de cada titulo, naquilo que não conflitar a Lei os TC regem-se pelo CC art.903.
A partir da definição legal é possível concluir que: 1º) A expressão "Documento quer dizer que o título de crédito é o conteúdo escrito em algo palpável, portanto, material. (princípio da cartularidade)
2º) A expressão"necessário para exercício do direito nele mencionado" indica que se trata de um Título de Apresentação, ou seja: quando se quiser exercer o direito nele inserido, é indispensável sua apresentação. A mera cópia do título, ainda que autenticada, não serve para cobrança extrajudicial ou judicial.
3º) São formais. Isto quer dizer que deverão obedecer a uma forma prescrita em lei, sob pena de não representarem valor como título de crédito. Se no título faltar, por exemplo, a expressão "Nota Promissória", este documento poderá ser considerado como uma confissão de dívida, mas nunca uma Nota Promissória. É que, nessa hipótese, estará ausente um requisito essencial de ordem legal.
O art. 585, I do CPC dispõe que os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais. O que isso significa?
Possibilidade de execução imediata do valor devido, por configurar obrigação líquida e certa, ou seja, sem necessidade de promover ação de conhecimento,.
Finalidade dos títulos de crédito: 1ª) Garantia do credor Na medida em que o devedor confessa dever uma determinada importância e promete pagar, fazendo-o por escrito, o credor terá o documento (título) como prova de seu crédito.
Finalidade dos títulos de crédito: 2ª) Circulação do crédito Sendo meios de circulação de valores, podem ser transferidos a terceiros, ou seja, é possível transmitir o título recebendo, antecipadamente, o valor nele constante.
PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO cartularidade literalidade Abstração autonomia Inoponibilidade das exceções pessoas a terceiros de boa-fé
Cartularidade: significa a materialização do direito de crédito no documento. O direito pode exercitar-se em virtude do documento (título), ou, em outras palavras, a cártula é essencial à existência do direito nela contido e necessária para sua exigibilidade.
Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem a apresentação do documento. Para cobrar, preciso do documento, do papel, e tem de ser o original. Ex.:Cheque para ação penal e cheque para execução. Atenção: Tudo pode ocorrer eletronicamente, mas na hora do título ser protestado, preciso do papel, do documento.
Exceção: em duplicatas não é necessário o original. Pode-se emitir 2ª via, que é chamada triplicata.
E o que é a desmaterialização dos títulos de crédito?
Código Civil: Art. 889: 3 o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.
CPC: Art. 889: 2 o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
Com a desmaterialização o credor pode executar um determinado título de crédito sem a necessidade de apresentá-lo em juízo. Ex. Duplicatas virtuais (muito utilizada no meio mercantil), pode ser executada mediante apresentação, apenas, do instrumento de protesto por indicações e do comprovante de entrega das mercadorias (art. 15, 5º, Lei 5.474/68).
A Lei 9.492/97 que trata de protesto de títulos dispõe: Art. 8º: Parágrafo único. Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas.
A lei exige do sacador o protesto da duplicata para o ajuizamento da ação cambial e lhe confere autorização para efetuar esse protesto por mera indicação - sem a apresentação da duplicata -, concluindo-se que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução.
Jurisprudência do assunto: Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.024.691-PR (2008 0015183-5) EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO ORIGINAL
Literalidade: o direito contido no título é o direito escrito no documento, ou seja, o título vale pelo que nele se menciona. O credor tem o direito de exigir o que está escrito no título, assim como o devedor tem o direito de só pagar o que está escrito no título.
O que não está no título, não estará no mundo cambiário. Ex.1: endosso, aval tem que ser aposto no título; não posso fazer em documento à parte. Ex.2: quero endossar, mas não tem mais espaço no título deve-se fazer um prolongamento do título, da cártula. Ex.3: quitação do título tem que ser dada no próprio título.
No Mato Grosso do Sul, Valdemir ajuizou uma ação de execução contra Mário, baseada numa Nota Promissória de R$ 14.000,00. Se defendendo, Mário alegou que havia cobrança abusiva de juros, bem como disse que já havia pago a quantia de R$ 5.000,00 e pediu que fossem ouvidas testemunhas. O juiz não aceitou os argumentos de Mário, que acabou levando o processo até Brasília. Lá, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão do Juiz, entendendo que a questão, pela própria característica dos títulos de crédito, deve ser resolvida de acordo com o que estiver escrito no documento.
Autonomia: as obrigações representadas por um mesmo título de crédito são autônomas e independentes entre si. O devedor não poderá opor exceções pessoais a terceiro de boa-fé. causa subjacente é a causa que deu origem à emissão do título (vício na causa: exceção pessoal - sede de embargos).
Para cheques, o sentido é o mesmo, mas se fala em causa debendi.
Ex.: venda de um computador. Vendedor (A) = credor primitivo Comprador (B) = devedor. Realiza o pagamento do computador através de uma nota promissória no valor de R$ 2.000,00, para a data XXX. O objeto apresenta defeito.
Pode ser alegada ao credor primitivo exceção pessoal, em sede de embargos a execução (causa subjacente = que deu origem a emissão da NP).
NP transferida a 3º de boa-fé (outra relação jurídico-cambial). Se na data de vencimento a NP não for paga, o 3º poderá ajuizar ação de execução, não podendo (B), devedor da NP em sede de embargos alegar o não pagamento em face do vício da causa que deu origem (abstração). Só pode ser feito isso para o credor primitivo, para o 3º de boa-fé, não pode ser oposta exceção pessoal, em face do princípio da autonomia.
Pode-se afirmar: a autonomia é uma garantia ao 3º - pouco importa o que aconteceu antes; ele vai receber. quando um credor primitivo faz circular título, este se desprende da causa que deu origem à sua emissão, valendo-se por si mesmo (abstração do crédito). título só gera o crédito; nada tem a ver como negócio original.
Exceção: Contratos em que se emitem títulos vinculados pelo princípio da literalidade, tem que constar do título pode-se opor exceções ao 3º. É uma exceção à regra anterior, que vem consubstanciada na súmula 258 do STJ: Nota Promissória vinculada ao contrato não goza de autonomia.
A Companhia de Saneamento de São Paulo (Sabesp) entrou com uma ação para executar um cheque da Trucofer Comércio de Metais Ltda., pois o cheque entrou sem fundos na conta. A Trucofer alegou que a Sabesp não entregou a sucata que tinha sido arrematada num leilão, paga com o bendito cheque. Quando chegou em Brasília, o STJ decidiu que, pela característica do título de crédito, não cabe discutir o negócio que o originou, a não ser que a obrigação tenha sido constituída em flagrante desrespeito à ordem jurídica.
Roque Koch Transporte Ltda ajuizou uma ação contra o Banco América do Sul S.A. para anular uma duplicata emitida por Schneider & Badi Ltda. O banco, que tinha recebido o título numa operação, exigia o pagamento. Roque alegou que pagou diretamente a Schneider, mediante recibo, e juntou o recibo no processo. O Tribunal rejeitou a alegação de Roque, entendendo que ele deveria ter pago ao banco, que era o detentor do título, ou seja, Schneider não era mais credora da dívida quando Roque lhe pagou. Quem paga mal, paga duas vezes, alegou o julgador.
Esse princípio consta expressamente da Lei Uniforme relativa às Letras de Câmbio e Notas Promissórias (Convenção de Genebra, recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto no. 57.663, de 24/01/1966), conforme seu artigo 17: As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.