VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: ESTUDO DE CASO EM SANTA ISABEL DO PARÁ

Documentos relacionados
NITRATO EM AQÜÍFERO FREÁTICO NA AMAZÔNIA ORIENTAL CIDADE DE SANTA IZABEL DO PARÁ BRASIL

AQÜÍFERO ALUVIONAR COMO ALTERNATIVA PARA O ABASTECIMENTO PÚBLICO, EM SANTANA DO ARAGUAIA, SUDESTE DO ESTADO DO PARÁ

VULNERABILIDADE NATURAL DE AQÜÍFEROS, BACIA DO RIO PARNAÍBA, ESCALA 1 :

MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO

VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO LIVRE NA ÀREA DOS VALOS DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA ALBRAS- BARCARENA(PA)

VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS

VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS

Divisão Ambiental Prazer em servir melhor!

CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA E MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE NATURAL DO AQÜÍFERO LIVRE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ CUMARU, IGARAPÉ-AÇU-PA.

ASPECTOS HIDRODINÂMICOS DO AQÜÍFERO LIVRE DA MICROBACIA DO CUMARU, IGARAPÉ-AÇÚ/PA

AQUÍFERO BARREIRAS: ALTO POTENCIAL HÍDRICO SUBTERRÂNEO NA PORÇÃO DO BAIXO RIO DOCE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

ANÁLISE DO FLUXO HÍDRICO E A VULNERABILIDADE DOS SISTEMAS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE CURUÇÁ-PA

ANÁLISE GEOMÉTRICA E SUSCEPTIBILIDADE À CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS AQUÍFEROS DA REGIÃO DE BARCARENA/PA

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE E RISCO DE CONTAMINAÇÃO COMO INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO UTINGA / BELÉM(PA)

VULNERABILIDADE DOS AQUÍFEROS DO MUNICÍPIO DE IRITUIA-PA: UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO GOD.

José Cláudio Viégas Campos 1 ; Paulo Roberto Callegaro Morais 1 & Jaime Estevão Scandolara 1

ZONEAMENTO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO DO SISTEMA AQUÍFERO GUARANI EM SUA ÁREA DE AFLORAMENTO NO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

DETERMINAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ATRAVÉS DE SIG

Uso das Técnicas de Geoprocessamento na Elaboração de Mapa Preliminar de Vulnerabilidade dos Aqüíferos do Município de Campos de Goytacazes - RJ

VULNERABILIDADE NATURAL E SAZONALIDADE DO AQUÍFERO LIVRE NO LOTEAMENTO MARABAIXO III - MACAPÁ - AP

ÁGUA SUBTERRÂNEA: USO E PROTEÇÃO

HIDROGEOLOGIA DA FAZENDA N. S. DE FÁTIMA - CURUÇÁ (PA)

EVOLUÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE NITRATO EM POÇOS LOCALIZADOS SOB DUNAS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO POTENCIAL HIDROGEOLÓGICO DA CIDADE DE PORTO VELHO (RO). José Cláudio Viégas Campos 1

Indústria Comércio Resíduo Acidentes Desconhecida. Figura Distribuição das áreas contaminadas em relação à atividade (CETESB, 2006).

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E HIDRÁULICAS DOS POÇOS TUBULARES DA APA CARSTE LAGOA SANTA E ENTORNO, MG

PROPOSTA ALTERNATIVA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA UTILIZANDO MANANCIAIS SUBTERRÂNEOS EXISTENTES NA BACIA HÍDROGRÁFICA DO TUCUNDUBA, BELÉM-PA

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO GOD PARA MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE LAGOA DA CONFUSÃO, TOCANTINS, BRASIL

UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO MUNICÍPIO DE PARAÍSO DO TOCANTINS

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL HIDROGEOLÓGICO NA ILHA DE ITAPARICA BAHIA

MONITORAMENTO DE NÍVEL DO AQÜÍFERO BAURU NA CIDADE DE ARAGUARI COM VISTAS AO ESTUDO DA VULNERABILIDADE À POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

PHD Hidrologia Aplicada. Águas Subterrâneas (2) Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. Renato Carlos Zambon

Água subterrânea... ou... Água no subsolo

OS AQUÍFEROS BOTUCATU E PIRAMBÓIA NO ESTADO DE SÃO PAULO: NOVOS MAPAS DE ISÓBATAS DO TOPO, ESPESSURA E NÍVEL D'ÁGUA.

INTERACÇÃO ÁGUA-ROCHA O caso das rochas ígneas, sedimentares e metamórficas

) NAS ÁGUAS DO AQÜÍFERO BARREIRAS NOS BAIRROS DO REDUTO, NAZARÉ E UMARIZAL BELÉM/PA

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DOS FATORES QUE CONTROLAM A QUALIDADE DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO IGARAPÉ MATA FOME/BELÉM (PA)

7 Hidrologia de Água Subterrânea

ASPECTOS SOBRE A HIDROGEOLOGIA E VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO BARREIRAS SEMI-CONFINADO, A OESTE DA LAGOA DO BONFIM NÍSIA FLORESTA/RN

DIAGNÓSTICO DOS POÇOS TUBULARES E A QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO MUNICIPIO DE JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO GRUPO CUIABÁ

RECURSOS HÍDRICOS VULNERABILIDADE DOS AQUÍFEROS DO MUNICÍPIO DE CACOAL-RO: UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO GOD

XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS HIDROGEOLOGIA DO SASG NO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN (RS)

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

Figura 07: Arenito Fluvial na baixa vertente formando lajeado Fonte: Corrêa, L. da S. L. trabalho de campo dia

ANÁLISE DE POSSÍVEL VULNERABILIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA DA ÁREA URBANA DO MUNICÍPIO DE BENEVIDES NO ESTADO DO PARÁ.

ESTUDO DA RECARGA DO AQÜÍFERO FURNAS NA CIDADE DE RONDONÓPOLIS-MT

Riscos para os aquíferos decorrentes da não selagem/isolamento de captações

DIAGNÓSTICO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE VILA NOVA DO SUL / RS AUTORES: Autor: Diego Silveira Co-autor: Carlos Alberto Löbler Orientador:

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS LOCALIZADOS NA REGIÃO CENTRAL DE CANOAS RS

CAPTAÇÃO SUBTERRÂNEA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (RMB) Josafá Ribeiro de Oliveira 1, Iara Weissberg 2 e Paulo S. Navegantes 3

MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA ÁREA URBANA DE MANAUS

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE CONTAMINAÇÃO DO AQUÍFERO BEBERIBE: OFICINAS MECÂNICAS NA ÁREA DE RECARGA

Mini - curso Monitoramento de Águas Subterrâneas

Ciclo hidrológico e água subterrânea. Água como recurso natural Água como agente geológico Clima Reservatórios Aquíferos

ESPACIALIZAÇÃO DO REBAIXAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TRAMANDAÍ, RS 1

LEVANTAMENTO DA VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO NO MUNICÍPIO DE GOIANIRA NO ESTADO DE GOIÁS.

CAPÍTULO 4 HIDROGEOLOGIA. 4.1 Aspectos Gerais. 4.2 Unidades Hidrogeológicas

BIOSFERA. Comprometimento e conflitos das águas subterrâneas

244 - ESTUDO E AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE NÃO-ME-TOQUE-RS

Investigação de Áreas Contaminadas por Métodos Geofísicos

ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO TUCUNDUBA, REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM/PA

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Infiltração e água no solo. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBSUPERFICIAIS EM ÁREAS URBANAS COMO FERRAMENTA DE GESTÃO

Rodrigo de Paula Hamzi Aluno de Mestrado EHR/UFMG Eber José de Andrade Pinto Prof. Adjunto EHR/UFMG

Ocorrência de nitrato no sistema aquífero Bauru e sua relação com a ocupação urbana no município de Marília.

16º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental. 3º Simpósio de Recursos Hídricos

CAPÍTULO VIII DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

VULNERABILIDADE DO AQUIFERO LIVRE NO PERÍMETRO URBANO DE RIO VERDE/GO: ANÁLISE PRELIMINAR UTILIZANDO-SE DADOS DE ESPESSURA DA ZONA VADOSA 1

PROPOSTA TÉCNICA PARA AVALIAÇÃO DE TESTES DE AQUÍFEROS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM E ARREDORES

MODELAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA ÁREA DO CAMPUS DA UFMG PROHBEN; AVALIAÇÃO PRELIMINAR.

ÁGUA. Notas sobre a crise e sobre a situação do saneamento no Brasil

ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS E HIDRODINÂMICOS PARA IMPLANTAÇÃO DA ETE JUNDIAI-GUARAPES/ZONA SUL DE NATAL-RN

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE QUISSAMÃ/RJ.

RISCOS DE CONTAMINAÇÃO DO AQUÍFERO FREÁTICO NOS POVOADOS MOSQUEIRO, AREIA BRANCA E ROBALO, ARACAJU, SERGIPE

CONCEPÇÃO E PROPOSTA DE DIMENSIONAMENTO PARA CONSTRUÇÃO DE UM POÇO TUBULAR NO BAIRRO DE FÁTIMA - BELÉM-PA

(Adaptado de Revista Galileu, n.119, jun. de 2001, p.47).

SISTEMA AQUÍFERO: MONTE GORDO (M17)

DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO SOLO ATERROS DE RESÍDUOS

Diagnóstico dos Recursos Hídricos e Organização dos Agentes da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar. Volume 5. Análise Quantitativa

16º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

COMPORTAMENTO DO NITRATO EM POÇOS TUBULARES NO ENTORNO DA LAGOA DO BONFIM NÍSIA FLORESTA/RN

BLOCO V ÁGUA COMO RECURSO NO MOMENTO ATUAL. Temas: Escassez. Perda de qualidade do recurso (água) Impacto ambiental

DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO BÁSICO RURAL NO MUNICÍPIO DE PORTO DO MANGUE/RN, SEMIÁRIDO BRASILEIRO

ESTUDO HIDROGEOLÓGICO PARA A IMPLANTAÇÃO DO CEMITÉRIO MAX DOMINI CASTANHAL

VULNERABILIDADE NATURAL À CONTAMINAÇÃO DOS AQÜÍFEROS DA REGIÃO DE ROCHAS SEDIMENTARES DA BACIA DO RIO MUNDAÚ / CEARÁ.

ÁREAS CONTAMINADAS NO CONCELHO DO SEIXAL

Análise da Susceptibilidade a Processos Erosivos, de Inundação e Assoreamento em Itajobi-SP a Partir do Mapeamento Geológico- Geotécnico

Capítulo 4 Caracterização da Área de Estudos. Capítulo 4

V AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO MUNICÍPIO DE CAIÇARA DO NORTE - RN

COMPORTAMENTO DO NITRATO EM POÇOS TUBULARES NO ENTORNO DA LAGOA DO BONFIM NÍSIA FLORESTA/RN

Difratometria por raios X

CAPÍTULO 2 ÁREA DE ESTUDOS A proposta do Sítio Controlado de Geofísica Rasa - SCGR

ESGOTAMENTO SANITÁRIO MAPA DE VULNERABILIDADE COMO FERRAMENTA DE AUXÍLIO NA TOMADA DE DECISÃO EM PROJETOS DE REDES DE

ESTUDO HIDROGEOLÓGICO PARA A IMPLANTAÇÃO DO CEMITÉRIO MAX DOMINI II REGIÃO DE BELÉM - PARÁ

Mananciais de Abastecimento. João Karlos Locastro contato:

Análise de vulnerabilidade à contaminação de aqüífero no Distrito Industrial de Cuiabá MT, através do método GOD.

Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016)

DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE NATURAL À CONTAMINAÇÃO DO AQUÍFERO SERRA GERAL EM FREDERICO WESTPHALEN-RS

Transcrição:

VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: ESTUDO DE CASO EM SANTA ISABEL DO PARÁ Paulo Pontes Araújo 1 ; Eliene Lopes de Souza 2 ; Antonio Carlos F. N. S. Tancredi 3 & Homero Reis de Melo Junior 4 Resumo - O presente trabalho foi desenvolvido na cidade de Santa Isabel do Pará, com cerca de 45.000 habitantes, abastecidos principalmente por poços tubulares e escavados rasos, situados em áreas sem rede de esgoto, onde os dejetos domésticos são lançados sobre o solo ou em sistemas de fossas do tipo seca e/ou negras. Esses sistemas constituem fontes potenciais de contaminação das águas subterrâneas por nitratos, sais, microrganismos patogênicos e outros. Na área ocorrem aqüíferos confinados da Formação Pirabas e, aqüíferos livres do Pós - Barreiras e Sedimentos Recentes. Os índices de vulnerabilidade do aqüífero livre variam de moderado, alto a extremo. Nas zonas onde esses índices são altos ou extremos as águas são vulneráveis à maioria dos contaminantes, podendo ser atingidas de forma relativamente rápida por bactérias e vírus. Abstract - This work was delineated in the town of Santa Isabel do Pará, which comprises around 45.000 habitants, feed mainly by tubular wells and shallow wells made manually, with sites close to areas with no urban reject disposal treatment, where domestic waste is disposed directly over the ground or in septic dry fosses. These systems constitute potential sources of contamination for groundwater by nitrates, salts, pathogenic microorganisms and others. On the area occur confined aquifers from Pirabas Formation and unconfined aquifers from Pós Barreiras and recent sediments. The vulnerability indexes of unconfined aquifer are moderated, high and extremes. On the high or extremes indexes areas, the water is vulnerable to the most part of contaminants and can be reached relatively fast by bacteria and viruses. Palavras-chave: vulnerabilidade água subterrânea 1 CPRM - Serviço Geológico do Brasil; DIGEAM; Av. Dr. Freitas, 3645; Belém; Pará; Brasil; (0XX91) 2768577; ppontes@amazon.com.br 2 LUPA; Laboratório Unificado de Pesquisa e Assessoria; Belém; Pará; Brasil; (0XX91) 2220983 3 UFPA; Universidade Federal do Pará; CPGG; Belém; Pará; Brasil; (0XX91) 2111478; eliene@interconect.com.br 4 Projeto SHIFT; Embrapa Amazônia Oriental; Belém; Pará; Brasil; (0XX91) 276.6539; homero@cpatu.embrapa.br XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 1

INTRODUÇÃO O estudo da vulnerabilidade natural da água subterrânea à contaminação baseia-se na suposição de que o meio físico pode fornecer algum grau de proteção à penetração de contaminantes, considerando-se que o material geológico pode constituir-se em filtros naturais (Margat, 1968). No entanto, esta proteção natural varia em diferentes locais. A descrição do grau de vulnerabilidade da água subterrânea aos contaminantes é função também das características hidrogeológicas (Albinet & Margat, 1970). A camada não saturada, situada na parte superior do sistema hidrogeológico, e a capacidade de filtração do próprio material poroso que constitui o aqüífero, exercem importante proteção à qualidade da água subterrânea, agindo como um sistema natural de tratamento de dejetos, constituindo-se na função filtro dos aqüíferos (Hordon, 1977). O movimento da água na zona não saturada é geralmente lento e em ambiente aeróbico, propiciando a biodegradação da matéria orgânica, assim como a eliminação de microorganismos e a atenuação de substâncias químicas (Hirata, 1993). Os resultados deste trabalho representam parte dos conhecimentos obtidos em um estudo mais abrangente, de dissertação de mestrado em Hidrogeologia Ambiental, realizado junto ao Centro de Geociências da Universidade Federal do Pará. O estudo foi desenvolvido na cidade de Santa Isabel do Pará, situada no nordeste do Estado do Pará, a 35 km de Belém. A cidade possui uma população estimada em 45.000 habitantes e apresenta um quadro ambiental composto por precipitações pluviométricas elevadas, solos com expressivas taxas de infiltração, grande número de fossas e poços (tubulares e escavados). É comum observar-se o lançamento de dejetos domésticos diretamente sobre o solo ou em sistemas de fossas do tipo seca e/ou negras. Os aqüíferos livres constituem a principal fonte de abastecimento de água da população de baixa renda. De um modo geral, as águas subterrâneas da área estudada apresentam indicadores de más condições sanitárias, Esse quadro foi caracterizado através da análise das águas freáticas, coletadas em poços que abastecem moradores da área, no âmbito do trabalho de mestrado acima mencionado. Nessas águas foi detectada a presença de coliformes totais e fecais, bem como a presença de amônio e nitrato em teores que atingem de 1,52 a 60,3 mg / L, respectivamente, superiores aos padrões de potabilidade para essas substâncias (Araújo, 2001). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (UNICEF, OPS / OMS, ANESAPA, 1988), a interação fossa / poço é uma das causas mais comuns da má qualidade das águas de poços utilizadas para abastecimento humano. XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 2

LOCALIZAÇÃO E ACESSO À ÁREA DE ESTUDO A cidade de Santa Isabel do Pará está situada no nordeste do Estado do Pará, a 35 Km de Belém. Localiza-se entre os paralelos 01 0 17 15 e 01 0 18 40 e entre os meridianos 48 0 09 54 e 48 0 10 33 (Figura 1). O município homônimo faz limites com outros cinco, sendo Santo Antônio do Tauá ao norte, Castanhal a leste, Bujaru e Inhangapi ao sul, e Benevides a oeste. O principal acesso à área é feito através de vias rodoviárias como a BR-316 e rodovias estaduais, integrando as diversas localidades existentes na região. Figura 1 Localização da cidade de Santa Isabel do Pará, onde se situa a área de estudo GEOLOGIA Na cidade de Santa Isabel do Pará, de acordo com o perfil litológico de um poço tubular perfurado pela Fundação Nacional de Saúde para a captação de água subterrânea, foram identificadas quatro unidades geológicas: Formação Pirabas, Grupo Barreiras, Sedimentos Pós- Barreiras e os Sedimentos Recentes. Em superfície foram identificadas apenas as duas últimas unidades, ambas do Quaternário. Os sedimentos da Formação Pirabas são subaflorantes na área objeto deste estudo, com o topo desta unidade ocorrendo a uma profundidade de 70 m. Os sedimentos do Grupo Barreiras não afloram na área estudada e o topo desse pacote sedimentar ocorre a uma profundidade de 12 m. Os sedimentos Pós-Barreiras, com cerca de 12 metros de espessura afloram em cerca de 85 % da área de trabalho, recobrindo os sedimentos do Grupo Barreiras. A parte inferior do perfil, entre 6 e 12 metros de profundidade, exibe sedimentos mais arenosos, de granulação fina, com XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 3

intercalações argilosas e presença de concreções ferruginosas. Esses sedimentos são predominantemente claros (creme a amarelo). A parte superior é formada por sedimentos mais argilosos até a profundidade de 6 metros. Os Sedimentos Recentes são constituídos tanto por sedimentos inconsolidados arenosos como lamosos. Estes depósitos são encontrados, principalmente, ao longo do igarapé Santa Isabel e afluentes menores, estando em maior proporção nas proximidades de barragens artificiais, onde se formam planícies de inundação. Estima-se que na zona urbana estudada, esses sedimentos possam apresentar espessuras da ordem de, no máximo, 10 m. HIDROGEOLOGIA LOCAL Os aqüíferos constituídos pelos Sedimentos Recentes e Sedimentos Pós-Barreiras podem ser divididos em livres e/ou livres com cobertura. São constituídos por areias aluvionares, bem como por areias finas a médias e materiais argilo-arenoso, por vezes contendo níveis de concreções ferruginosas. O aqüífero livre e / ou livre com cobertura é o principal foco do presente trabalho, sendo analisados especificamente os fatores controladores da ocorrência de compostos nitrogenados nas águas dos aqüíferos Pós-Barreiras. Os aqüíferos constituídos pelos Sedimentos Recentes localizam-se em planícies do igarapé Santa Isabel e de seus tributários. Estima-se que suas espessuras atinjam em torno de 10 m. No restante da área, encontram-se os aqüíferos do Pós-Barreiras, com espessura em torno de 12 m. As feições geomorfológicas da área de estudo exercem grande influência nas condições hidrogeológicas dos aqüíferos acima referidos. Tanto na parte leste como oeste situam-se as zonas mais elevadas da área, com altitudes que atingem 50 m, estando o nível hidrostático da água subterrânea situado a partir de 3,40 m. Estas áreas da cidade, com cotas topográficas mais elevadas, constituem-se em zonas de recarga da água subterrânea. Na parte central, situada geomorfologicamente na superfície de aplainamento, onde a erosão foi mais intensa e removeu parte dos estratos superiores, a litologia é constituída essencialmente por areias. A topografia, nestas zonas, é mais irregular, com altitudes decrescentes até a planície aluvionar do igarapé Santa Isabel, esta última com altitude em torno de 10 m. Nesta área, restrita à planície aluvionar, situamse as zonas de descarga, com fluxos da água subterrânea para o igarapé Santa Isabel e seus tributários menores. Localmente, os aqüíferos do Grupo Barreiras são do tipo confinados, porém, considerando-se a área total estudada, podem ser considerados livres. Estes aqüíferos são constituídos por camadas arenosas, com espessuras variando em torno de 15 m intercaladas com aqüítardes de pequena espessura. XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 4

O topo dos aqüíferos da Formação Pirabas está situado, em média, a uma profundidade a partir de 90 metros. Este fato restringe o acesso a esse aqüífero a algumas indústrias, devido ao custo relativamente alto da perfuração de poços tubulares com essa profundidade. Esses aqüíferos são compostos por areias de granulação fina a grossa e níveis com seixos arredondados a subarredondados, quartzosos. As areias intercalam-se com calcários fossilíferos, margas e folhelhos. Os aqüíferos têm grandes extensões laterais e boas espessuras, o que os caracteriza como excelentes armazenadores de água, possuindo transmissividade significativas e vazões em torno de 300 m 3 / h. Com essa vazão cada poço poderia abastecer até 6.400 domicílios (admitindo-se um consumo médio diário de 150 litros de água para 5 pessoas / residência). METODOLOGIA Para a avaliação dos índices de vulnerabilidade à contaminação, utilizou-se o modelo GOD, proposto por Foster e Hirata (1988), o qual fundamenta-se em três parâmetros: G Groundwater occurrence que representa o tipo de ocorrência da água subterrânea, com índices variando de 0,2 ou mesmo nulo (aqüíferos confinados) até 1,0 (para os aqüíferos livres não cobertos). O Overall of litology of aquiperm que expressa as características litológicas da zona não saturada, encontrando-se numa escala de 0,3 a 1,0. A determinação desse fator foi feita através de mapeamento geológico e no perfil litológico de um poço tubular profundo. Contudo, a delimitação e caracterização mais detalhada dessa zona foi obtida a partir das análises granulométricas dos sedimentos coletados em 3 perfurações (F1, F2 e F3) a trado manual de 4. D Deph refere-se à profundidade do nível estático. Considerou-se a profundidade referente ao período chuvoso, época em que o lençol freático se encontra mais próximo à superfície. Esse parâmetro, cujos valores podem variar de 0,3 a 0,9, foi obtido através de medidas diretas efetuadas em poços escavados.. O produto dos três parâmetros acima referidos, numa escala de 0 a > 0.6, permitiu definir os índices relativos de vulnerabilidade do aqüífero, os quais expressam o seu grau de resistência natural à penetração de contaminantes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto ao tipo de ocorrência da água subterrânea ou modelo de circulação da água no aqüífero freático, em toda a área estudada, há predominância de aqüíferos livres e livres com cobertura, segundo a metodologia utilizada por Foster & Hirata (1988). Essa caracterização do tipo de ocorrência da água subterrânea forneceu para valores entre 0,6 e 1,0 para o parâmetro G. XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 5

Em termos de litologia, na zona saturada predominam sedimentos inconsolidados, cuja classificação granulométrica foi obtida através de análises, realizadas em amostras coletadas em três furos a trado. Os histogramas representativos dessas amostras são apresentados na Figura 2. Conforme os resultados expressos no histograma apresentado, constata-se que a zona não saturada é composta predominantemente por sedimentos classificados como areia média à grossa (faixa dos grãos entre 0,25 e 1 mm), fornecendo índices de 0,5 e 0,7, respectivamente, para o parâmetro O. Essas características indicam um material com pouca capacidade de retenção de poluentes que possam estar presentes nas águas de infiltração. Histograma comparativo das análises granulométricas 25 20 % 15 10 5 F1 F2 F3 0 2,00 1,19 1,00 0,71 0,59 0,42 0,35 0,25 0,21 0,18 0,15 0,10 0,75 0,06 Granulação (mm) Figura 2 Histograma das amostras de sedimentos pela freqüência simples (%) No que se refere à profundidade da água subterrânea, os dados foram obtidos com base em medidas do nível estático coletadas durante o período chuvoso. Esses dados produziram, para profundidades da água entre 15 e 25 m, 5 e 15 m e < 5 m, índices de 0,7, 0,8 e 0,9, respectivamente, para o parâmetro D. A partir dos dados apresentados nos parágrafos precedentes, determinou-se os índices de vulnerabilidade do aqüífero, conforme a metodologia descrita no item 4 e visualizados em mapa na Figura 3. Os valores obtidos mostram que os aqüíferos dos sedimentos do Pós-Barreiras e dos Sedimentos Recentes, possuem áreas com índices de vulnerabilidade à contaminação moderado (0,33-0,49) a alto (0,49-0,56), assim como áreas com índice de vulnerabilidade extremo (> 0,6). Estes valores sinalizam as zonas desses aqüíferos que podem ser adversamente afetadas por uma carga qualquer de contaminantes (Foster, 1987). Em zonas onde o índice de vulnerabilidade é moderado, as águas dos aqüíferos podem, em longo prazo, sofrer modificações por contaminantes moderadamente móveis, mais persistentes como hidrocarbonetos halogenados ou não halogenados e alguns metais pesados. Sais menos solúveis são também incluídos nesse grupo. Nas zonas onde o índice de vulnerabilidade é alto, as águas dos aqüíferos são suscetíveis a muitos contaminantes exceto aqueles que são muito XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 6

absorvíveis e / ou facilmente transformáveis. Nas zonas onde o índice de vulnerabilidade é extremo, as águas dos aqüíferos podem ser atingidas de forma relativamente rápida por contaminantes degradáveis, como bactérias e vírus, sendo vulneráveis à maioria dos contaminantes (Costa, 1997). 9857400 9857200 9857000 9856800 224 228 233 9856600 168 199 200 9856400 9856200 9856000 9855800 51 57 9855600 61 64 814800 815200 815600 816000 816400 816800 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE NATURAL DO AQÜÍFERO LIVRE Poço escavado 0,32 Isolinhas de índices de vulnerabilidade Ruas e vias Figura 3 Vulnerabilidade do aqüífero Pós-Barreiras em Santa Isabel do Pará XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 7

CONCLUSÕES Na cidade de Santa Isabel do Pará afloram Sedimentos Recentes, arenosos, com siltes intercalados de idade quaternária, distribuídos nos leitos dos igarapés, e sedimentos areno-argilosos a argilo-arenosos atribuídos aos Sedimentos Pós-Barreiras, também do Quaternário. A hidrogeologia apresenta uma zona não saturada com espessura variando de 0,26 a 12 metros, composta por areia média a grossa, com condutividade hidráulica entre 10-3 a 10-4 cm /s. Esse material apresenta porosidade total entre 18 e 21%. Os aqüíferos livres do Pós-Barreiras apresentam espessura em torno de 10 a 12 metros. Os índices de vulnerabilidade à contaminação, que nos aqüíferos dos Sedimentos Pós- Barreiras e Recentes variam de moderado, alto e extremo, favorecem a contaminação das águas freáticas. A profundidade do lençol freático, que no período chuvoso atinge 0,26 cm, assim como a proximidade entre as fossas e os poços e a inadequada construção destes últimos, são outros fatores que contribuem para a degradação da qualidade das águas. Nas zonas onde o índice de vulnerabilidade é alto ou extremo as águas são vulneráveis à maioria dos contaminantes, podendo ser atingidas de forma relativamente rápida por bactérias e vírus. Este estudo aponta a necessidade de ações governamentais visando a proteção da água subterrânea e, conseqüentemente, da saúde pública, destacando-se a melhoria no sistema de abastecimento de água potável e saneamento in situ, bem como na disposição de resíduos domésticos. É igualmente importante o estudo da dinâmica das águas subterrâneas dos aqüíferos da Formação Pirabas, na cidade de Santa Isabel do Pará. Esses aqüíferos ocorrem a partir de 70 m de profundidade e, segundo dados obtidos em Belém e em municípios próximos, possuem água de boa qualidade para consumo humano além de elevada transmissividade, fatores que apontam essa unidade como a melhor alternativa para abastecimento doméstico na área de estudo. XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBINET, M. & MARGAT, J. 1970. Cartographie de la vulnérabilitéá la pollution des nappes d eua souterraine. Bull. BRGM, Orléans, 2 ème, 3 (4):12-22. ARAÚJO, P. P. 2001. Variações sazonais dos compostos nitrogenados, em aqüífero livre na zona urbana de Santa Isabel do Pará, nordeste do estado do Pará. Belém, Universidade Federal do Pará. Centro de Geociências. Tese (Mestrado em Hidrogeologia) curso de Pós- Graduação em Geologia e Geoquímica. 113 p. COSTA, W. D. 1997. Contaminação e programas de monitoramento de águas subterrâneas. Impactos Ambientais e Águas Subterrâneas no Brasil Rio de Janeiro. FOSTER, S. S. D. & HIRATA, R. 1988. Groundwater pollution risk evaluation: the methodology using available data. CEPIS-PAHO / WHO. Lima. 78 p. HIRATA, R. (1993). Recursos hídricos subterrâneos e as novas exigências ambientais. Rev. do Instituto Geológico. HORDON, R. M. 1977. Water Supply as a Limiting Factor in Developing Comunities. Endogenous us Exogenous. Water Res. Bull (13) 433-939. MARGAT, J. 1968. Vulnérabilité des nappes d eau souterraines à la pollution. Baes de la cartographie. Orléans BRGM, 68 SGL, 198 HYD, 1968. UNICEF, OPS / OMS, ANESAPA (1988). Manual de pozos. Série: La Paz. Bolívia. (Manuales Didáticos). XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 9