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Transcrição:

Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowiski Presidente do Supremo Tribunal Federal Brasília-DF Ementa: Direito Administrativo e outras Matérias de Direito Público Servidor Público Civil Aposentadoria Especial Assunto: Mandado de injunção coletivo. Servidores públicos portadores de deficiência. Exercício do direito constitucional à aposentadoria especial obstado pela mora legislativa na edição de lei complementar. Artigo 40, 4º, inciso I da Constituição da República. Provimento mandamental para suprir a lacuna legislativa. Precedentes do STF. MI 1885. Analogia. Lei Complementar 142/2013. Possibilidade de decisão monocrática. SINDICATO NACIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO (SINASEMPU), entidade de classe de âmbito nacional (estatuto anexo), inscrita no CNPJ sob o nº 01.206.941/0001-49, sediada em Brasília DF, no Setor de Rádio e TV Sul, quadra 701, Edifício Assis Chateaubriand, Torre II, salas 120, 122, 128, 130 e 132, Asa Sul, CEP 70340-906, por seu procurador que recebe intimações e notificações no SHS, Quadra 6, Conjunto A, Bloco E, Salas 408/410, Edifício Business Center Park, Complexo Brasil 21, CEP 70.322-915, na qualidade de SUBSTITUTO PROCESSUAL dos seus associados, com suporte no artigo 5º, LXXI e 1º, c/c o artigo 5º, LXX, da Constituição da República, impetra MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO em face da omissão do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, do PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS e do PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL, conforme segue: 1. FATOS Os substituídos neste requerimento são servidores públicos substituídos ao Impetrante [estatuto em anexo], diagnosticados como pessoas com deficiência, em exercício nos órgãos do Ministério Público da União. Tais servidores, por serem portadores de deficiência, encontram-se albergados pela exceção constante do artigo 40, 4º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, que lhes permite a aposentadoria especial, mediante lei complementar, coletando-se precedentes favoráveis em mandados de injunção que 1 de 11

tramitaram no Supremo Tribunal Federal. Ocorre que há omissão legislativa na edição da lei complementar exigida, o que inviabiliza o exercício do direito assegurado na Constituição da República. Além disso, o Sindicato protocolou requerimento administrativo junto ao Ministério Público da União, requerendo a regulamentação e a aplicação análoga da Lei Complementar nº 142/2013 aos servidores portadores de deficiência. O requerimento gerou o Processo Administrativo PGR/MPF nº 1.00.000.002336/2014-65 [em anexo], o qual resultou da seguinte forma: Não se vislumbra, contudo, a possibilidade de ser criada norma capaz de dar eficácia plena ao preceito constitucional ora em comento. A delimitação dos critérios diferenciados para a aposentadoria foi atribuída, pelo poder constituinte, como sujeita exclusivamente ao tratamento por lei complementar. Assim, não pode a autoridade administrativa legislar sobre o tema, sob risco de inconstitucionalidade, por violação, não apenas da forma imposta à norma, como da separação dos poderes. [...] Diante do exposto, conclui-se, s.m.j., pelo indeferimento do pleito do interessado sobre a regulamentação, uma vez que a concessão do direito, visto a inexistência de lei complementar, apenas pode ser deferida por ordem judicial em Mandado de Injunção [...] Eis os fatos que suscitam este mandado de injunção, destinado à obtenção de provimento mandamental que assegure a obtenção da aposentadoria especial aos Substituídos, outorgando-se o direito reclamado 1. 2. CABIMENTO, LEGITIMIDADE ATIVA E LEGITIMIDADE PASSIVA O mandado de injunção proposto encontra previsão no inciso LXXI e 1º do artigo 5º da Constituição: Art. 5º ( ) LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; (...) 1º As normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. A competência para o conhecimento e julgamento da impetração é do Supremo Tribunal Federal, vez que a omissão deriva de autoridades ou órgãos submetidos à jurisdição dessa Corte, conforme artigo 102, I, q, da Constituição da 1 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27ª edição. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 451. 2 de 11

República: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: ( ) q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; A legitimidade ativa do SINASEMPU se sustenta pela pretensão de obter o suprimento da lacuna normativa que impede a manifestação do direito à aposentadoria especial de seus filiados, portadores de deficiência, processualmente substituídos. Para tanto, o artigo 5º, inciso LXXI, deve ser lido em conjunto com as disposições do mandado de segurança coletivo previsto no artigo 5º, inciso LXX, da Constituição, aplicável por analogia aos mandados de injunção 2 : Art. 5º (...) LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: (...) b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; A determinação da analogia que permite este mandado de injunção coletivo, titularizado pelo SINASEMPU, encontra-se no parágrafo único do artigo 24 da Lei nº 8.038/90: Art. 24. (...) Parágrafo único. No mandado de injunção e no habeas corpus, serão observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança, enquanto não editada legislação específica. Ao tratar da matéria, por reiteradas vezes o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL reconheceu a legitimidade ativa para o mandado de injunção coletivo de sindicatos, entidades de classe e associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, como demonstram os trechos dos precedentes abaixo: 2 A respeito da aplicação analógica do artigo 5º, LXX, ao mandado de injunção, vide julgamento proferido pelo STF no MI 361/RJ, do qual se retira o trecho seguinte: I - MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO: ADMISSIBILIDADE, POR APLICAÇÃO ANALOGICA DO ART. 5, LXX, DA CONSTITUIÇÃO; (STF, MI 361/RJ, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, j. 08/04/1994, DJ 17/06/1994, p. 15707). 3 de 11

1. O acesso de entidades de classe à via do mandado de injunção coletivo é processualmente admissível, desde que legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano. ( ) (STF, MI 689/PB, Rel. Min. EROS GRAU, j. 07/06/2006, DJ 18/08/2006, p. 19). MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO: A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de admitir a utilização, pelos organismos sindicais e pelas entidades de classe, do mandado de injunção coletivo, com a finalidade de viabilizar, em favor dos membros ou associados dessas instituições, o exercício de direitos assegurados pela Constituição. Precedentes e doutrina. (STF, MI 20/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, j. 19/05/1994, DJ 22/11/1996, p. 45690) Fixada a legitimidade ativa da Impetrante, a legitimidade passiva dos Impetrados é demonstrada sob dois aspectos, face à natureza complexa dos atos que compreendem a produção legislativa exigida. A legitimidade passiva do Presidente da República é manifesta, pois na forma do artigo 61, 1º, inciso II, letra c, da Constituição da República 3, é a autoridade responsável pela iniciativa privativa para a deflagração de processo legislativo que trate sobre aposentadoria dos servidores públicos da União. Também os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal devem figurar no pólo passivo, pois são a autoridades máximas das casas legislativas responsáveis pela discussão e votação das leis de iniciativa do Presidente da República, de acordo com os artigos 64 e 65 da Constituição 4. Dessa forma, resta evidente a legitimidade passiva conjunta do Presidente da República e dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS A adequada compreensão da matéria requer o desdobramento dos fundamentos jurídicos em dois grupos, quais sejam: 3 Constituição Federal: Art. 61 A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: ( ) II - disponham sobre: ( ) c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; ( ). 4 Constituição Federal: Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados (...) Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar. 4 de 11

(1) Sobre a aposentadoria especial dos servidores com deficiência; (2) Sobre a aplicação analógica da aposentadoria especial da Lei Complementar nº 142/2013 [documento anexo] e precedente do STF MI 1.885 [documento anexo] ; Tais abordagens constam dos próximos tópicos. 3.1. Sobre a aposentadoria especial dos servidores com deficiência A aposentadoria especial dos Substituídos, servidores públicos portadores de deficiência, está prevista no artigo 40, 4º, inciso I, da Constituição da República de 1988, na redação dada pela Emenda Constitucional 47/2005: Art. 40 ( ) 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (...) I portadores de deficiência; Na redação anterior, dada a esse dispositivo pela Emenda Constitucional 20/1998, a questão sequer era disciplinada, sendo incluída no rol das situações que ensejam aposentadoria especial pela Emenda Constitucional 47/2005. Assim, pode-se afirmar que as pessoas com deficiências (PCD, nomenclatura adotada contemporaneamente) integram exceção (modalidade de aposentadoria especial) às regras constitucionais que vedam a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria. Esse direito à aposentadoria especial configura direito fundamental, cuja eficácia deve ser assegurada, na lição de GILMAR MENDES: Verifica-se marcado zelo nos sistemas jurídicos democráticos em evitar que as posições afirmadas como essenciais da pessoa quedem como letra morta ou que só ganhem eficácia a partir da atuação do legislador. Essa preocupação liga-se à necessidade de superar, em definitivo, a concepção do Estado de Direito formal, em que os direitos fundamentais somente ganham expressão quando regulados por lei, com o que se expõem ao esvaziamento de conteúdo pela atuação ou inação do legislador. No entanto, a matéria carece de regulamentação, impedindo que os servidores públicos portadores de deficiência possam exercer o direito à aposentadoria especial. 5 de 11

Ao se analisar devidamente a questão, percebe-se que, apesar da previsão constitucional, não há legislação que regulamente a contagem especial do tempo de serviço para fins de aposentadoria dos servidores públicos, em nenhuma das hipóteses constitucionais, quais sejam: (a) pessoas com deficiência ou portadores de deficiência (40, 4º, I), (b) servidores que exerçam atividades de risco (40, 4º, II) e (c) servidores cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física (40, 4º, III). Ademais, a Lei 7.853/1989 que dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua integração social estabeleceu em seu Artigo 1º e parágrafos seguintes: Art. 1º Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei. 1º Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito. 2º As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de deficiência as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das demais disposições constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as discriminações e os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação nacional a cargo do Poder Público e da sociedade. Ainda em seu Artigo 2º o diploma supracitado: Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. No mesmo sentido, o Decreto 3.298/1999 que regulamentou a Lei 7.853/1989, ao dispor acerca a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolidou normas de proteção ao portador de deficiência, e no inciso III do Artigo 6º: Art. 6 o São diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência: I - estabelecer mecanismos que acelerem e favoreçam a inclusão social da pessoa portadora de deficiência; II - adotar estratégias de articulação com órgãos e entidades públicos e privados, bem assim com organismos internacionais e estrangeiros para a implantação desta Política; III - incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, 6 de 11

à saúde, ao trabalho, à edificação pública, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à habitação, à cultura, ao esporte e ao lazer; Da mesma forma, o inciso II do Artigo 4º do Decreto 914, de 6 de setembro de 1993, que instituiu a Política Nacional para a Integração da Pessoa portadora de Deficiência, dispôs: Art. 4º A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência nortear-se-á pelos seguintes princípios: I - desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a assegurar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto sócio-econômico e cultural; II - estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais, que assegurem às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico; Por isso a impetração do mandado de injunção, que busca o suprimento da lacuna normativa pela ordem judicial de regramento in concreto, permitindo aos servidores portadores de deficiência substituídos a aposentadoria especial, independente de idade mínima e com integralidade e paridade plenas. 3.2. Sobre a aplicação analógica da Lei Complementar nº 142/2013 para aposentadoria especial dos servidores portadores de deficiência A Lei Complementar nº 142/2013, regulamenta a concessão de aposentadoria especial aos portadores de deficiência do Regime Geral de Previdência Complementar, escalonando o tempo de contribuição necessários para aposentação conforme a gravidade da deficiência, nos termos infra: Art. 1 o Esta Lei Complementar regulamenta a concessão de aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social - RGPS de que trata o 1 o do art. 201 da Constituição Federal. Art. 2 o Para o reconhecimento do direito à aposentadoria de que trata esta Lei Complementar, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Art. 3 o É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao segurado com deficiência, observadas as seguintes condições: I - aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave; II - aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 (vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada; 7 de 11

III - aos 33 (trinta e três) anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 (vinte e oito) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve; ou IV - aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 (quinze) anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período. Essa lei é invocada para suprimento da lacuna normativa por analogia, sem prejuízo de outra que o Supremo Tribunal Federal entender mais adequada. Exemplo contundente dessa posição, aplicação análoga à Lei Complementar em comento, está no julgamento do Mandado de Injunção nº 1885, relatora a Ministra Cármen Lúcia, em decisão disponibilizada no Diário de Justiça da União de 30/09/2013, página 64, extraída diretamente da página do Supremo 5, assim recortada: DECISÃO MANDADO DE INJUNÇÃO. ALEGADA AUSÊNCIA DA NORMA REGULAMENTADORA DO ART. 40, 4º, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. APLICAÇÃO DAS REGRAS DA LEI COMPLEMENTAR N. 142/2013 PARA INTEGRAÇÃO NORMATIVA. PRECEDENTES. MANDADO DE INJUNÇÃO PARCIALMENTE CONCEDIDO. Relatório [...] DECIDO. [...] Antes do advento da Lei Complementar n. 142/2013, não existia no ordenamento jurídico brasileiro norma que dispunha sobre aposentadoria de pessoas com deficiência. No entanto, em 8.5.2013, foi publicada a Lei Complementar n. 142/2013, que regulamenta a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social - RGPS ( 1o do art. 201 da Constituição Federal): Art. 1º Esta Lei Complementar regulamenta a concessão de aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social - RGPS de que trata o 1º do art. 201 da Constituição Federal. Art. 2º Para o reconhecimento do direito à aposentadoria de que trata esta Lei Complementar, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Art. 3º É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao 5 Atalho para o andamento com a decisão do MI 1885 no Supremo Tribunal Federal: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verprocessoandamento.asp?incidente=3758404 8 de 11

segurado com deficiência, observadas as seguintes condições: I - aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave; II - aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 (vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada; III - aos 33 (trinta e três) anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 (vinte e oito) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve; ou IV - aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta ecinco) anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 (quinze) anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período (grifos nossos). [...] A autoridade administrativa responsável pelo exame do pedido de aposentadoria e competente para aferir, no caso concreto, o preenchimento de todos os requisitos para a aposentação previstos no ordenamento jurídico vigente, ate mesmo o grau de deficiência do servidor e o cumprimento do tempo mínimo de efetivo exercício no serviço publico e no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria. As questões funcionais e especificas dos servidores públicos substituídos pelo Impetrante postas nesta ação devem ser solucionadas pela autoridade administrativa, que o fara podendo aplicar por analogia a Lei Complementar n. 142/2013, no que couber. 11. Pelo exposto, reconheço caracterizada a mora legislativa quanto ao art. 40, 4º, inc. I, da Constituição da República e concedo parcialmente a ordem pleiteada para, integrando-se o direito discutido pelo Impetrante, determinar a aplicação, por analogia, da Lei Complementar n. 142/2013 à situação descrita pelo Impetrante de forma que a autoridade administrativa competente possa analisar pedido de aposentadoria de servidores públicos com deficiência, substituídos nesta ação. Publique-se. Brasilia, 23 de setembro de 2013. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora A decisão colacionada torna incontroversa a possibilidade de ser aplicada a analogia com a Lei Complementar 142/2013 para a hipótese dos substituídos, cabendo à autoridade administrativa a verificação dos requisitos concretos. Sobre isso, várias decisões recentes do Supremo autorizaram os órgãos públicos a analisarem os pedidos administrativos usando a analogia determinada em mandados de injunção coletivos que versam sobre o tema. No caso em análise, conforme já enunciado, houve a negativa 9 de 11

expressa ao requerimento administrativo (anexo), não havendo óbice para a impetração do presente Mandado de Injunção. Bem por isso, vêm à corte suprema, requer que a omissão legislativa que impera prolongadamente seja suprida, e, traz como elemento de analogia a Lei Complementar nº 142/2013, sem prejuízo de normatividades outras que julgar pertinente. 3.3. Da garantia de integralidade e paridade plenas e das aposentadorias proporcionais ao tempo de contribuição A Emenda Constitucional 41/2003 trouxe prejuízos graves ao cálculo dos proventos dos servidores que se aposentarem nas modalidades constitucionais regulares, sem observar as regras de transição. Porém, há exceções que permitem o cálculo dos proventos, obedecido o tempo especial exigido, independente de idade mínima e com preservação da integralidade e paridade plenas. Tratam-se de hipóteses que admitem a adoção de requisitos e critérios diferenciados para melhorar o resultado previdenciário, assim autorizados pelo artigo 40, 4º, da Constituição. É o caso dos portadores de necessidades especiais ou, conforme denominação contemporânea, pessoas com deficiência (PCD), amparados pelo artigo 40, 4º, inciso I, da Constituição da República. Assim, para evitar conflito no momento da aplicação da decisão a ser proferida por Vossa Excelência, o Impetrante pede que, para os Substituídos que se insiram na condição de pessoas com deficiência, seja garantida a análise independente de idade mínima, com paridade plena e integralidade sem média remuneratória. Sucessivamente, que se garanta paridade e integralidade, no mínimo, aos que ingressaram até a EC 41/2003, pois para estes foram estabelecidas regras de transição. Por outro lado, há possibilidade dos Substituídos serem atingidos por modalidade de aposentadoria proporcional ao tempo de contribuição, caso da compulsória aos 70 anos de idade e da aposentadoria por invalidez por doença que se situe fora dos casos que suscitam integralidade. Aqui, é essencial a manifestação desse e. Juízo, para que a proporcionalidade seja feita sobre o tempo especial dos Substituídos fixado na analogia e não sobre o tempo total de 35 (homem) ou 30 (mulher) anos de contribuição. 10 de 11

4. DOS PEDIDOS Ante o exposto, pede: (a) a notificação das autoridades impetradas, para que prestem as informações que entenderem necessárias; opine; (b) a intimação do representante do Ministério Público, para que (c) a concessão da injunção para reconhecer a inadimplência legislativa dos Impetrados na regulamentação do direito à aposentadoria especial dos Substituídos, pessoas com deficiência (ou portadores de deficiência, em outra nomenclatura), prevista no artigo 40, 4º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, suprindo a lacuna normativa pela determinação aos Impetrados da aplicação analógica da aposentadoria especial de acordo com a Lei Complementar nº 142/2013, a viabilizar o exercício do direito à aposentadoria especial em questão com proventos alcançados pela integralidade sem média remuneratória e com paridade plena, independente de idade mínima ou, sucessivamente, pelo prazo e analogia que Vossa Excelência entender cabíveis. Atribui-se à causa do valor de R$ 1000,00 (mil reais). Brasília, DF, 2 de outubro de 2014 [assinado eletronicamente] Rudi Meira Cassel OAB/DF 22.256 11 de 11