HABEAS CORPUS 126.227 SÃO PAULO RELATORA PACTE.(S) IMPTE.(S) COATOR(A/S)(ES) : MIN. ROSA WEBER :ALAN CARLOS TONUCCI :LEANDRO LOURENÇO DE CAMARGO :RELATOR DO HC Nº 311.211 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por Leandro Lourenço de Camargo em favor de Alan Carlos Tonucci contra decisão monocrática da lavra do Ministro Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu liminarmente o HC 311.211/SP. Em 22.8.2014, o paciente foi preso em flagrante pela suposta prática dos crimes de associação criminosa e de receptação, tipificados nos arts. 288, e 180, 6º, c/c art. 69, todos do Código Penal. Ato contínuo, o Juízo de Direito da Vara Única da Comarca de Cordeirópolis/SP converteu o flagrante em prisão preventiva. Inconformada com a custódia cautelar, a Defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que indeferiu o pleito emergencial. Submetida a questão à apreciação do Superior Tribunal de Justiça, que, via decisão monocrática da lavra do Ministro Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), indeferiu liminarmente o HC 311.211/SP. No presente writ, o Impetrante reputa inidôneos os fundamentos da prisão preventiva. Requer, em medida liminar e no mérito, a concessão de liberdade provisória. É o relatório. Decido. O ato apontado como coator, que indeferiu liminarmente o HC 311.211/SP, foi exarado aos seguintes fundamentos: (...). 01. Conforme "orientação pacífica neste Superior Tribunal, é incabível habeas corpus contra indeferimento de medida liminar, salvo
em casos de flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão impugnada, sob pena de incidir-se em indevida supressão de instância (Enunciado n. 691 da Súmula do STF)" (AgRg no HC 285.647 CE, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 25 08 2014; HC 284.999 SP Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 09 10 2014). Os precedentes se aplicam ao caso em exame. Não há, nos autos, elementos a indicar a existência de flagrante ilegalidade no ato impugnado, de modo a justificar o processamento do habeas corpus. Para rejeitar a pretensão do impetrante, valho-me de fundamentos da decisão indeferitória da liminar: "Com efeito, o que se extrai de fls. 14 18 é que a denúncia, ao menos em uma primeira análise, foi detalhadamente elaborada e relata o envolvimento do paciente na formação de quadrilha para a prática do furto em caixas eletrônicos e que tal proceder contaria, ainda, com gravíssimo envolvimento de policiais. No mais, em relação aos respeitáveis decisórios atacados (fls. 89 91 e 119 121), o que se verifica, também em superficial análise, é que estão adequadamente fundamentados, tendo o subscritor explicitado a necessidade da decretação da custódia do réu para conveniência da instrução criminal e para garantia da ordem pública. Em ambas as oportunidades, fez o magistrado menção não só à gravidade do delito em apuração, mas também, com base em elementos concretos dos autos, à existência de indícios de autoria e materialidade. Acrescentou, por fim, o julgador considerações sobre as condições pessoais do paciente, tais como a reincidência. Nesse quadro, não se verificam, de plano, a inépcia da inicial ou a carência de fundamentação tal alegadas, sendo que não se fazem presentes, portanto, os elementos que justificariam a concessão da medida urgente pretendida." (fls. 129 130). 02. À vista do exposto, nos termos do art. 210 do Regimento 2
Interno do Superior Tribunal de Justiça, indefiro liminarmente o habeas corpus. De início, registro a existência de óbice ao conhecimento do presente habeas corpus, uma vez não esgotada a jurisdição do Superior Tribunal de Justiça. O ato impugnado é mera decisão monocrática e não o resultado de julgamento colegiado. Deveria a Defesa, pretendendo a reforma da decisão monocrática, ter manejado agravo regimental para que a questão fosse apreciada pelo órgão colegiado. Não o fazendo, resulta inadmissível o presente writ. Nesse sentido, colho precedente: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO QUE NEGOU PROVIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. FUNDAMENTAÇÃO AUTÔNOMA E SUFICIENTE DA DECISÃO AGRAVADA. ANÁLISE DAS QUESTÕES DE FUNDO DO RECURSO ESPECIAL: NÃO CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. (...) 6. A jurisprudência predominante neste Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que a decisão possibilitadora do habeas corpus não seria aquela que indeferiu monocraticamente o recurso sem analisar a questão de direito, mas sim aquela proferida pelo colegiado do Superior Tribunal de Justiça no julgamento de eventual e consecutivo agravo regimental - exigência que visa ao esgotamento da jurisdição e à esquiva da indevida supressão de instância. (HC 95.978-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe 28.5.2010). HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. RECEPTAÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA. INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL. 1. O entendimento majoritário da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o habeas 3
corpus é incabível quando endereçado em face de decisão monocrática que nega seguimento ao writ, sem a interposição de agravo regimental (HC 113.186, Rel. Min. Luiz Fux). 2. Inexistência de ilegalidade flagrante ou de abuso de poder na prisão preventiva. 3. Habeas Corpus não conhecido, cassada a medida liminar deferida. (HC 116.567/MG, Relator para acórdão Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, DJe 03.02.2014). Da leitura da decisão impugnada, não detecto a presença de alguma excepcionalidade, de flagrante ilegalidade ou teratologia a justificar a concessão do habeas corpus de ofício. O flagrante foi convertido em prisão preventiva ao fundamento da garantia da ordem pública e da conveniência da instrução criminal, conforme decisão exarada pelo magistrado singular, verbis: (...). Os requisitos da prisão preventiva também estão presentes em relação ao autuado Alan Carlos Tonucci que, aparentemente, é reincidente (circunstância que será melhor analisada após a vinda aos autos das certidões dos feitos existentes em sua F.A.), já que sua folha de antecedentes traz notícias de condenações transitadas em julgado por crimes dolosos e patrimoniais, sendo outras de suas vítimas, igualmente, instituições bancárias. Assim sendo, a custódia cautelar tem por finalidade resguardar a ordem pública, impedindo novos crimes. (...). No mais, a instrução da causa ainda não teve início e a prisão deve ser mantida também por conveniência da instrução criminal, a fim de se resguardar o reconhecimento e porque ainda não houve a citação pessoal e, caso o ato não se realize, o processo deverá ficar suspenso, nos termos do disposto no artigo 366 do Código de Processo Penal. Por fim, os fatos em análise são graves, sendo, portanto, precoce projetar o cabimento de substitutivos penais ou benesses correlatas, bem como o regime inicial de cumprimento de pena imposto em caso de sentença condenatória, havendo, em decorrência das circunstâncias 4
do crime, da conduta social, e de outras circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal, a possibilidade de ser fixado regime mais gravoso, autorizando, por ora, a manutenção da prisão cautelar. (...). Assim sendo, mostra-se prematura a concessão do benefício da liberdade provisória ou a substituição da prisão provisória por outra medida cautelar em favor de Alan Carlos Tonucci (...), devendo ser cassada a fiança arbitrada em favor do primeiro. Instado a se manifestar, o Tribunal de Justiça, ao indeferir a liminar pleiteada, referendou a prisão cautelar, diante da gravidade do delito ante o envolvimento do paciente na formação de quadrilha para a prática do furto em caixas eletrônicos e que tal proceder contraria, ainda, com gravíssimo envolvimento de policiais, além das condições pessoais do paciente, tais como a reincidência. Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça, ao indeferir liminarmente o writ, compreendeu grave o delito em questão e rejeitou a pretensão do Impetrante. Na avaliação dos pressupostos da constrição cautelar, foram demonstrados indícios suficientes de autoria e materialidade delitivas. O caso envolve furto em caixas eletrônicos com participação de policial militar (de quem se espera comportamento voltado à defesa da população) e do paciente (reincidente), a denotar a possibilidade de reiteração delitiva. As circunstâncias concretas do crime em especial a reincidência do paciente indicam o risco de reiteração delitiva, por conseguinte, à ordem pública, fundamento suficiente para afastar da prisão, à luz do art. 312 do CPP. Nesse contexto, há diversos precedentes desta Suprema Corte (v.g.: HC 109.436, Rel. Min. Ayres Britto, 2ª Turma, DJe 17.02.2012; HC 104.332/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJe 12.9.2011; HC 98.754/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJe 10.12.2009), dentre os quais destaco o seguinte: 5
"Este Supremo Tribunal assentou que a periculosidade do agente evidenciada pelo modus operandi e o risco concreto de reiteração criminosa são motivos idôneos para a manutenção da custódia cautelar. (HC 110.313/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe 13.02.2012). Agregue-se, ainda, que, diante da validade e da necessidade da prisão preventiva do paciente, perde relevo a eventual imposição de medida alternativa prevista no art. 319 do Código de Processo Penal. Ante o exposto, nego seguimento ao presente habeas corpus (art. 21, 1º, do RISTF). Publique-se. Brasília, 27 de fevereiro de 2015. Ministra Rosa Weber Relatora 6