PARECER Nº É o relatório.

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Transcrição:

PARECER Nº 11661 Estudo de Impacto Ambiental - EIA/RIMA. Equipe multidisciplinar. Licitação. Serviços de assessoramento e consultoria. Resolução CONAMA 01/86. Comunicado CAGE Nº 03/97 O Secretário dos Transportes solicita a manifestação desta Procuradoria-Geral sobre divergência que se estabeleceu entre a Seccional da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado e aquela Pasta acerca do enquadramento dos serviços a serem contratados para a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório - RIA/RIMA com vistas ao licenciamento do Complexo Porto dos Casais. Enquanto a CAGE entende tratar-se de serviços de assessoramento e consultoria, a Secretaria dos Transportes defende tratar-se de serviços de engenharia, já que a equipe técnica necessária para a realização do estudo é formada por profissionais vinculados ao CREA, o que definiria a natureza do trabalho. A conseqüência da distinção está em que, nos termos do Comunicado CAGE nº 03/97, tendo em vista o valor orçado de R$148.000,00, para a contratação do EIA/RIMA, a modalidade de licitação, na primeira hipótese, seria a tomada de preços e, na segunda, a cartaconvite. É o relatório. A avaliação de impactos ambientais é contemplada no direito brasileiro desde 1981, como um dos instrumentos da Política

Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.838, de 31 de agosto daquele ano. O Decreto nº 88.351, de 1/6/1983 - hoje substituído pelo Decreto nº 99.274, de 06/6/90 - ao regulamentar a lei citada, em seu art. 18, optou por caracterizar o estudo de impacto ambiental como um instrumento do licenciamento ambiental e não de planejamento, como inicialmente concebido em seu país de origem, os Estados Unidos da América. Com base na autorização constante do art. 18, 1º do Decreto nº 88.351/83, o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, através da Resolução nº 01/86, baixou detalhada disciplina normativa do estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatório, sendo o que em 1988, o tema mereceu status constitucional, nestes termos: Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:... IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.

Preceito semelhante é reproduzido pela Constituição do Estado, em seu art. 251, 1º, V. Para se ter uma idéia da complexidade e abrangência do EIA/RIMA, vale a pena transcrever a conceituação de impacto ambiental contida no art. 1º da Resolução CONAMA 01/86: Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; VI - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. Convém registrar que esse conceito está em estrita consonância com a definição do meio ambiente adotada pela antes referida Lei nº 6938/81. Após enumerar os empreendimentos cujo licenciamento depende da EA/RIMA, a Resolução 01/86 indica as diretrizes gerais que devem nortear sua elaboração (art. 5º) e as atividades técnicas que há de desenvolver. Conforme prescrito no art. 6º, essas atividades técnicas compreendem, resumidamente:

1) diagnóstico ambiental da área de influência do projeto e análise dos recursos ambientais, considerando o meio físico - subsolo, solo, ar e clima; o meio biológico e os ecossistemas naturais - fauna e flora; o meio sócio-econômico - uso e ocupação do solo, usos da água, a sócioeconomia; alternativas; negativos; 2) análise dos impactos ambientais do projeto e suas 3) definição das medidas mitigadoras dos impactos 4) elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos. Note-se que todas as atividades técnicas previstas na Resolução encontram-se reproduzidas no Termo de Referência do EIA/RIMA do Complexo Porto dos Casais, constante do presente processo. A complexidade e enorme abrangência do EIA/RIMA é conseqüência do seu próprio objetivo, qual seja, preparar um retrato da situação ambiental existente a fim de poder-se avaliar as modificações, positivas e negativas, que o empreendimento irá ocasionar, e definir as medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos negativos, com vistas a minimizar eventuais danos ao meio ambiente. Para a realização de trabalho dessa natureza faz-se necessária a participação de profissionais das mais diferentes áreas de conhecimento, tanto das ciências naturais, como das ciências sociais, uma vez que o meio sócio-econômico também deve ser considerado. É exatamente por isso que a Resolução 01/86, em seu art. 7º, determina que o estudo de impacto ambiental seja realizado por equipe multidisciplinar habilitada, independente do proponente, a fim de asseguarlhe a necessária imparcialidade. Com efeito, dependendo das características da área de influência e da natureza do projeto, uma equipe que não conte com biólogos, economistas, sociólogos, hidrólogos, geólogos e outros, ao lado dos

engenheiros, arquitetos e engenheiros agrônomos, que estão vinculados ao CREA, não estará habilitada a elaborar o EIA/RIMA. Na verdade, a multidisciplinariedade implícita em toda a problemática ambiental representa um autêntico desafio à sempre crescente especialização do conhecimento. Nessas condições, devendo o EIA/RIMA, em razão de sua própria natureza, necessariamente, ser elaborado por equipe multidisciplinar, que não se circunscreve aos profissionais vinculados ao CREA, entendemos que, para efeitos de licitação, tais serviços não cabem no conceito de serviços de engenharia, devendo ser enquadrados na categoria de assessoramento e consultoria. É o Parecer. Porto Alegre, 27 de maio de 1997. Verena Nygaard Procuradora do Estado

Processo nº 001550-18.00/96.2 Acolho as conclusões do PARECER nº 11661, da Procuradoria do Domínio Público Estadual, de autoria da Procuradora do Estado Doutora VERENA NYGAARD. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estados dos Transporte. Em 11 de junho de 1997. EUNICE NEQUETE MACHADO, PROCURADORA-GERAL DO ESTADO.