EMANUELLE LAIS DOS SANTOS

Documentos relacionados
BRIÓFITAS DA REGIÃO SUDESTE DO MUNICÍPIO DE TERESINA, PIAUÍ, BRASIL

MALPIGHIACEAE EM UMA ÁREA DE CAATINGA NA MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO

TÍTULO: LEVANTAMENTO DE BRIÓFITAS NA VEGETAÇÃO DO MUNICÍPIO DE BAURU-SP

DIVERSIDADE DE MUSGOS (BRYOPHYTA) DE UM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA NO MUNICÍPIO DE BARRA DO CHOÇA, BAHIA.

Universidade Federal de Juiz de Fora Pós-Graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais. Tatiana Silva Siviero

CACTACEAE JUSS. DE UMA MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO, NORDESTE DO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ EMANUELLE LAIS DOS SANTOS

RELATO DE EXPERIÊNCIA: Aulas práticas com briófitas como mecanismo pedagógico no Ensino da Biologia.

Ampliação do conhecimento sobre a distribuição geográfica de

Iheringia Série Botânica

MUSGOS URBANOS DO RECANTO DAS EMAS, DISTRITO FEDERAL, BRASIL

Projetos Intervales. Modificado de:

Pteridófitas no Câmpus Barbacena do IF Sudeste MG

Anais do Conic-Semesp. Volume 1, Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL

Grandes Ecossistemas do Brasil

CITOGENÉTICA APLICADA AO ESTUDO DE BRYOPHYTAS

Hepáticas Talosas (Marchantiophyta) de um fragmento de Mata Atlântica no Parque Estadual Pedra A zul (PEPAZ), Domingos Martins, Espírito Santo, Brasil

Projetos Intervales. Modificado de:

BIOMAS. Os biomas brasileiros caracterizam-se, no geral, por uma grande diversidade de animais e vegetais (biodiversidade).

Biomas do Brasil. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Professor Alexson Costa Geografia

Repositório Institucional da Universidade de Brasília repositorio.unb.br

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

Escola Estadual Senador Filinto Müller. Tipos De Clima

Biomas / Ecossistemas brasileiros

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DAS ESPÉCIES DE MYRTACEAE, ONAGRACEAE E LYTHRACEAE DA PEDRA DA MACELA, PARQUE NACIONAL SERRA DA BOCAINA, PARATY/RJ.

Projetos Intervales. Modificado de:

Edson Vidal Prof. Manejo de Florestas Tropicais ESALQ/USP

Área: ,00 km², Constituído de 3 distritos: Teresópolis (1º), Vale do Paquequer (2 ) e Vale do Bonsucesso (3º).

Marchantiophyta da Reserva do Poço Escuro, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.

A NATUREZA DO BRASIL: CLIMA E VEGETAÇÃO

RELEVO - Picos. Pico da Neblina 2994 metros Pico 31 de março 2972,66 metros

Cada musgo no seu quadrado? DISTRIBUIÇÃO E COBERTURA RELATIVA DE MUSGOS (BRYOPHYTA) DE SOLO EM DIFERENTES MICROAMBIENTES

Briófitas. Introdução. Características Gerais

ESTRUTURA DO HÁBITAT E A DIVERSIDADE DE INVERTEBRADOS

Definição. Unidade Territorial com características naturais bem. Por essa razão, muitas vezes o termo é usado

Briófitas.

Biomas brasileiros: Florestas

PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES DE CAESALPINIOIDEAE (FABACEAE) DE UM AFLORAMENTO GRANÍTICO NO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

As massas de ar, aquecidas e saturadas de umidade, atingem as serras e são empurradas para cima graças ao fluxo constante de vento.

Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: Universidade Estadual da Paraíba Brasil

REINO PLANTAE BIOLOGIA DAS BRIÓFITAS E PTERIDÓFITAS. Profa. Ms. Lilian Orvatti

Implantação de um herbário no IFMG campus Bambuí

MUSGOS (BRYOPHYTA) DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS/ GO ASPECTOS FLORÍSTICOS E TAXONÔMICOS RESUMO

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

Implantação de um herbário no IFMG campus Bambuí

Atividade do 3º trimestre - Disciplina: Geografia MARATONA DE EXERCÍCIOS REVISÃO DE N1 GABARITO

Anhanguera Educacional Centro Universitário Plínio Leite Faculdade de Ciências da Saúde Curso de Farmácia. Sistemas de Classificação

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

Atividades. As respostas devem estar relacionadas com o material da aula ou da disciplina e apresentar palavras

MANILKARA HUBERI STANDLEY (MAÇARANDUBA), EM UMA FLORESTA NATURAL NA REGIÃO DE PARAGOMINAS, PA 1.

Martin Molz (biólogo, Doutor em Botânica) Martin Grings (biólogo, Mestre em Botânica)

Região Nordestina. Cap. 9

VII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ

Conjunto de ecossistemas caracterizados por tipos fisionômicos vegetais comuns.

ESPÉCIES ARBÓREAS DA BACIA DO RIO MAUÉS-MIRI, MAUÉS AMAZONAS

Padrões espaciais em riachosde. cabeceira. Raphael Ligeiro

Com base nos pontos foram determinadas direções intermediárias, conhecidas como. pontos : nordeste (NE), (NO), sudeste (SE) e (SO).

Geografia. Prof. Franco.

ECA_2ª etapa. 2. Observe os gráficos a seguir: Página 1 de 6

Aula Bioma e Vegetação. Prof. Diogo Máximo

CONSULTA PÚBLICA SOBRE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DE UM TRECHO FLORESTAL NA PORÇÃO SUL AMAZÔNICA, QUERÊNCIA MT

Briófitas de uma área de Cerrado no município de Alagoinhas, Bahia, Brasil.


Introdução As briófitas do Brasil

A FAMÍLIA BIGNONIACEAE JUSS. EM UMA ÁREA DE CAATINGA DE ALTA IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA NO SERTÃO PARAIBANO

Novos registros de briófitas para Pernambuco, Brasil 1

BIOLOGIA» UNIDADE 10» CAPÍTULO 1. Biomas

Revisão de Geografia. 1ª prova do 4º Bimestre PROFESSOR DANILO. d) Polar e marítima CONTEÚDO AS MASSAS DE AR. a) Conceito. c) Massas de ar no Brasil

Briófitas de um fragmento de floresta ombrófila aberta no município de Porto Velho e novas ocorrências para Rondônia, Brasil

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA VIDA

O uso do SIG para análise do padrão de distribuição geográfica de plantas na Chapada Diamantina (Bahia)

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 69

Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Centros de Endemismos da Mata Atlântica: um estudo de caso com Bromeliaceae dos campos de altitude

Geografia. Os Biomas Brasileiros. Professor Thomás Teixeira.

TIPOS DE VEGETAÇÃO E OS BIOMAS BRASILEIROS. Profº Gustavo Silva de Souza

COMPORTAMENTO POPULACIONAL DE CUPIÚBA (GOUPIA GLABRA AUBL.) EM 84 HA DE FLORESTA DE TERRA FIRME NA FAZENDA RIO CAPIM, PARAGOMINAS, PA.

Tempo & Clima. é o estado físico das condições. atmosféricas em um determinado momento e local, podendo variar durante o mesmo dia.

Domínios Florestais do Mundo e do Brasil

BIOMAS DO BRASIL E DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS. Prof ª Gustavo Silva de Souza

Briophyta (Musgos) do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, MG.

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Disciplina: CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS NÍVEL SUPERIOR Estudos Sociais (Geografia)

INSTITUTO DE BOTÂNICA - IBt PÓS-GRADUAÇÃO EM BIODIVERSIDADE VEGETAL E MEIO AMBIENTE TRABALHO DE ESTÁGIO DE DOCÊNCIA BRIÓFITAS

Política Nacional de Meio Ambiente: unidades de conservação. Biogeografia - aula 4 Prof. Raul

ANTÓCEROS (ANTHOCEROTOPHYTA) E HEPÁTICAS TALOSAS (MARCHANTIOPHYTA) DA CHAPADA DA IBIAPABA, CEARÁ, BRASIL 1

Briófitas de uma área de Terra Firme no município de Mirinzal e novas ocorrências para o estado do Maranhão, Brasil

Palavras chave: Elaeocarpaceae; Sloanea; Parque Ecológico Jatobá Centenário.

. 01Questão: (UFRJ-RJ) O texto a seguir se refere aos grandes conjuntos climatobotânicos.

ECO GEOGRAFIA. Prof. Felipe Tahan BIOMAS

Questão 03) O porte geralmente reduzido das algas e das briófitas pode ser atribuído:

Projeto - Os saberes dos quintais: plantas que curam

FORMAÇÕES VEGETACIONAIS AULA 7

Classificação. da Vegetação. Disciplina: CESIEFL098/60 horas. Iane Barroncas Gomes Professora Assistente Engenharia Florestal

BIODIVERSIDADE DE MONTANHAS BRASIL

Herbário HUSC Biodiversidade e Educação Ambiental

E feito da cobertura de palmeiras e da distância da floresta

Transcrição:

EMANUELLE LAIS DOS SANTOS BRIÓFITAS EM MATA NEBULAR NO PARQUE ESTADUAL PICO DO MARUMBI, PARANÁ, BRASIL Projeto de Dissertação, Curso de Pós- Graduação em Botânica, Setor de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Dr. Denilson Fernandes Peralta. CURITIBA 2014

2 RESUMO No mundo são registradas 20.000 espécies de Briófitas, sendo para o Brasil 1.535, e cerca de 480 no Estado do Paraná. A maioria das briófitas em Mata Nebular é epífita e sua abundância varia consideravelmente com a altitude. A compreensão da diversidade de briófitas em florestas tropicais ainda é fragmentada, pois normalmente se analisa a parte baixa da floresta, enquanto as porções superiores dos troncos e os galhos do dossel são negligenciados devido à sua inacessibilidade. Este trabalho visa conhecer a composição das espécies em ambiente de Floresta Nebular dentro da Mata Atlântica do Parque Estadual Pico do Marumbi, entre 1.000 e 1.500 metros de altitude, desta forma, mostra-se relevante e necessário para o aumento do conhecimento das briófitas do Estado do Paraná e do Brasil, além de não descartarmos a possível ocorrência de novas espécies. Para os procedimentos de coleta, tratamento das amostras e identificação será utilizado métodos e bibliografia usual para o grupo. Palavras chave: Floresta nebular, Floresta Alto Montana.

3 1 INTRODUÇÃO As briófitas são plantas terrestres avasculares, com reprodução sexuada dependente de água, pois apresentam anterozoides flagelados, e com geração gametofítica (haploide) predominante sobre a esporofítica (diploide). Constituem o segundo maior grupo de plantas terrestres (FRAHM, 2003) e são constituídas, atualmente por três divisões: Anthocerothophyta (antóceros), Marchantiophyta (hepáticas) e Bryophyta (musgos) (SHAW; GOFFINET, 2000). Estima-se que a maior parte da diversidade briológica esteja nas regiões tropicais porém, esse grupo de plantas costumava ser negligenciado em inventários florísticos, floras, etc (GRADSTEIN et al., 2001). No mundo, são registradas 20.000 espécies de briófitas (THE PLANTLIST, 2014) e segundo Gradstein et al., (2001) há cerca de 15.100 espécies, das quais 10.000 são musgos, 5.000 são hepáticas e 100 são antóceros. Para o Brasil são reconhecidos 1.492 espécies por Gradstein e Costa (2003) e Costa et al. (2011). A lista de espécies da Flora do Brasil cita 1.535 espécies, sendo 483 espécies para o estado do Paraná (COSTA, 2014), 865 espécies para o estado de São Paulo, e 515 para o estado de Santa Catarina. Estes números refletem os estudos realizados nestes estados, porém as publicações ainda são relativamente pequenas comparadas a outros grupos. No entanto, nos últimos cinco anos, a briologia no Brasil tem realizado avanços substantivos, tais como a publicação do Guia de Hepáticas para o Brasil (GRADSTEIN; COSTA, 2003), da Lista de Espécies da Flora do Brasil (COSTA, 2014), da "Synopsis of the Brazilian moss flora: checklist, distribution and conservation" (COSTA et al. 2011) e mais recente a finalização do Guia de Musgos para o Brasil (DADOS NÃO PUBLICADOS). Ainda, existem os trabalhos que apresentam contribuições pontuais e incluem amostras provenientes do estado, como os trabalhos de Sehnem (1969, 1970, 1972, 1976, 1978, 1979, 1980) com muitos espécimes do Paraná, as compilações apresentadas por Yano (1981, 1989; 1995; 2006a; 2006b; 2010) e revisões taxonômicas. Em relação aos trabalhos de briófitas no estado do Paraná, é importante destacar que existem apenas seis trabalhos sobre briófitas: Angely (1961), Angely

4 (1965, 1968), Kummrow e Prevedello (1982), Hirai et al. (1998) e, Yano e Colletes (2000). Destes, apenas os dois últimos são levantamentos florísticos, e os trabalhos de Angely (1961, 1965, 1968) são extremamente controversos, pois apresentam uma listagem de táxons sem apresentar a origem destes nomes e sem apresentar voucher. Kummrow e Prevedello (1982) apresentam uma listagem das amostras depositadas no herbário MBM (Museu Botânico Municipal Curitiba/PR), porém sem atualizar sinonímia, checar nomenclatura ou conferir a identificação. Recentemente Yano (2013) listou 629 táxons para o estado do Paraná, a maioria baseada em citação de literatura, porém sem a citação da obra original e presença de voucher. Baseado nas informações apresentadas é possível considerar a flora de briófitas do estado do Paraná como rica, sendo localidade tipo de seis taxa válidos: Campylopus occultus Mitt., Frullania paranensis Steph., Sphagnum atroligneum H.A. Crum, Sphagnum crumii Schäf.-Verw., Sphagnum paranaense H.A. Crum, Syrrhopodon stenophyllus Sehnem (este é o único nome não revisto recentemente e provavelmente a única endêmica do Estado do Paraná) e localidade do parátipo de Cheilolejeunea caducifolia (Gradstein; Schäfer-Verwimp) W. Ye & R.L. Zhu. O Parque Estadual Pico do Marumbi, local de realização desta pesquisa, pertence a uma região de endemismo estimado em 48% (DELGADILLO, 1994) e localiza-se na região sul-sudeste do Brasil, um dos dez centros de alta diversidade e endemismo da América Tropical (TAN; PÓCS, 2000), o que a torna um excelente ambiente para estudos de biodiversidade de briófitas. E está totalmente inserido no Bioma Floresta Atlântica (IAP, 2013). Possui a área de Floresta Ombrófila Densa Alto Montana (alvo deste estudo), sendo que a floresta diminui em tamanho com o aumento da altitude, sendo substituída por afloramentos rochosos próximos a linha dos 1400-1500 m alt., e nesta altitude a vegetação possui características próprias sendo denominada de Floresta ou Mata Nebular (TAI, 2012). A Mata Nebular conforme Tai (2012) ocorre em locais onde há condensação da água evaporada, formando neblina, a qual se precipita nas áreas elevadas, possui formação arbórea (mesofanerofítica) com aproximadamente 20 m de altura, localizada no cume das altas montanhas sobre solos associados a relevos com maior declive (Neossolos Litólicos) e acumulações de matéria orgânica nas depressões. A florística é representada por famílias de dispersão universal, embora apresente espécies endêmicas, revelando um isolamento antigo de refúgio cosmopolita.

5 Não existem estudos sobre briófitas em Mata Nebular no Brasil, e a faixa altidudinal entre 1000 e 2000 metros é sempre indicada como a mais rica e diversa para ocorrência das briófitas (ENROTH, 1990; FRAHM, 1990, FRAHM; GRADSTEIN 1991, KESSLER, 2000, SANTOS; COSTA, 2010). Santos e Costa (2010) avaliando levantamentos realizados em diferentes faixas altitudinais verificaram que entre 1000 a 1500 metros ocorre a transição da flora de briófitas entre a Floresta Montana e Floresta Alto Montana, esta faixa possui 66% de todas as espécies de hepáticas citadas para o Rio de Janeiro e 21 espécies endêmicas. Churchill (1994) enfatiza a importância de floras e levantamentos locais, argumentando que mesmo alguns briologistas criticando floras em regiões tropicais como prematuras e introdutórias de erros, essas contribuições são válidas. Estes inventários, quando bem conduzidos, introduzem boa quantidade de amostras em herbários para servir de testemunho e futuramente embasar estudos de taxonomia e distribuição geográfica. A análise destes materiais depositados em herbário é a base para inúmeras tomadas de decisões socioambientais e políticas. E quando localizada uma área rica no grupo estudado, um "hot spot" pode ser eleito e indicado para maiores estudos ou preservação. A necessidade do conhecimento da biodiversidade em território brasileiro é tema relevante e frequentemente apontado como fundamental no desenvolvimento científico nacional (KURY, 2006). O objetivo principal desse trabalho vai ao encontro dessa diretiva e deve contribuir significativamente para o conhecimento das briófitas do estado do Paraná e do Brasil.

6 2 OBJETIVOS - Conhecer a composição florística das briófitas em Mata Nebular no Parque Estadual Pico do Marumbi; - Avaliar qual a contribuição dos ambientes de Mata Nebular para a Flora do Estado do Paraná; - Avaliar a distribuição geográfica das espécies encontradas.

7 3 MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O Parque Estadual Pico do Marumbi é administrado pelo Governo do Estado do Paraná através do IAP - Instituto Ambiental do Paraná, e está localizado entre os municípios de Morretes, Quatro Barras e Piraquara. O Conjunto Marumbi ou Serra Marumbi é formado pelos morros: Olimpo (1.539 m.), Boa Vista (1.491 m.); Gigante (1.487 m.); Ponta do Tigre (1.400 m.); Esfinge (1.378 m.); Torre dos Sinos (1.280 m.); Abrolhos (1.200 m.); Facãozinho (1.100 m.) e pelo Morro Rochedinho (625 m). Segundo a classificação de Köeppen, o clima da região do Parque pode ser definido como tipo Cfb (Subtropical Umido Mesotérmico) de verões frescos com possibilidades de ocorrência de geadas e sem ocorrência de estação seca, com a média de temperatura do mês mais quente inferior a 22 C e do mês mais frio inferior a 18 C sem deficiência hídrica (IAP, 1996). A vegetação que cobre o Parque é a mesma da Serra do Mar, ocorre Floresta Ombrofila Densa Submontana (50-600 m alt.); Floresta Ombrofila Densa Montana (600-1200 m alt.) e Floresta Ombrofila Densa Alto Montana (acima de 1000-1200 m alt.) (IAP 1996). Amostragem - As amostras serão coletadas seguindo as recomendações de Frahm (2003) a partir de caminhadas livres, visando percorrer uma área amostral que estabilize a curva de coletor e inclua diferentes ambientes e microambientes disponíveis em áreas de Floresta Nebular, na região entre 1.000 e 1.500 metros de altitude. As coletas serão realizadas visando abranger os períodos seco e chuvoso, para obtenção das plantas em diferentes estágios vegetativos, muitas vezes imprescindível na identificação, e mesmo para o registro da ocorrência de eventuais espécies com ciclo de vida curto e restrito a uma única estação do ano. Tratamento das amostras e análises - Para a identificação das amostras, serão utilizados os métodos e a bibliografia especializada de acordo com cada família, com a preparação de lâminas e observação em estereomicroscópio e microscópio óptico, bem como, a comparação com amostras já identificadas depositadas em herbário. As literaturas comumente utilizadas para a identificação são: Frahm (1991), Sharp et

8 al. (1994), Yano e Carvalho (1995), Buck (1998), Gradstein et al. (2001), Gradstein e Costa (2003), Yano e Peralta (2009) e Yano e Peralta (2011). O sistema de classificação utilizado será: Renzaglia et al. (2009) para Anthocerotophyta, Crandall-Stotler et al. (2009) para Marchantiophyta, e Goffinet et al. (2009) para Bryophyta. A confecção de exsicatas será baseada em Frahm (2003) e a abreviação dos nomes dos autores na listagem florística em Brummitt & Powell (1992). Os herbários onde serão depositadas as amostras são: IBT (Instituto de Botânica SP) e MBM (Museu Botânico Municipal PR). Resultados esperados: 1. Espera-se encontrar cerca de 200 espécies, tendo em vista os levantamentos realizados em áreas de floresta atlântica: 245 em Peralta e Yano (2008), 137 Santos e Costa (2008), 216 em Peralta e Yano (2012). Este número corresponde a 41% das 483 espécies citadas para o estado do Paraná por Costa (2014).

REFERÊNCIAS ANGELY, J. Musgos paranaenses: Contribuição para o estudo e conhecimento da flora briológica do Paraná. Instituto Paranaense de Botânica, v. 20, p. 1-7, 1961. ANGELY, J. Bryophytos Paranaeses, in Flora Analítica do Paraná. Coleção Saint- Hilaire, v. 7, p. 55 91, 1965. ANGELY, J. Bryophytos paranaenses. In Flora Analítica do Paraná, Curitiba. Phyton, v. 7, p. 1-728, 1968. BUCK, W.R. Pleurocarpous mosses of the West Indies. Memoirs of the New York Botanical Garden, v.1, p. 1-401, 1998. CHURCHILL, S.P. Catalog of Amazonian Mosses. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory, v. 85, p. 191-238, 1994. COSTA, D.P.; IMBASSAHY, C.A.A. & SILVA, V.P.A.V. Diversidade e importância das espécies de briófitas na conservação dos ecossistemas do Estado do Rio de Janeiro. Rodriguésia, v.56, n.87, p. 13-49, 2005. COSTA, D.P., PÔRTO, K.C., LUIZI-PONZO, A.P., ILKIU-BORGES, A.L., BASTOS, C.J.P., CÂMARA, P.E.A.S., PERALTA, D.F., BÔAS-BASTOS, S.B.V., IMBASSAHY, C.A.A., HENRIQUES, D.K., GOMES, H.C.S., ROCHA, L.M., SANTOS, N.D., SIVIERO, T. S., VAZ-IMBASSAHY, T.F. & CHURCHILL, S.P. Synopsis of the Brazilian moss flora: checklist, distribution and conservation. Nova Hedwigia, v.93, p. 277 334, 2011. COSTA, D.P. Briófitas. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/fb128472>. Acesso em: 07 Abr. 2014. CRANDALL-STOTLER, B., STOTLER, R.E. & LONG, D.G. Morphology and classification of the Marchantiophyta. In: B. Goffinet & A.J. Shaw. Bryophyte Biology. Cambdrige University Press, Cambridge, v.2, p.1-54, 2009. DELGADILLO, C.M. Endemism in the neotropical moss flora. Biotropica, v. 26, p. 12-16, 1994.

2 ENROTH.J. Altitudinal zonation of Bryophytes on the Huon Peninsula, Papua New Guinea. A floristic approach, with phytogeographic considerations.tropical Bryology, v.2, p. 61-90, 1990. FRAHM. J.P. &, GRADSTEIN, B. An altitudinal zonation of tropical rain forests using bryophytes, Journal of Biogeography, v. 18, n. 6, p. 669-678, 1991. FRAHM, J.P. Dicranaceae: Campylopodioideae, Paraleucobryoideae. Flora Neotropica Monograph, v. 54, p. 1-237, 1991. FRAHM, J.P. Manual of tropical Bryology. Tropical Bryology, v. 23, p. 1-196, 2003 FRAHM, J.P. The altidudinal zonation of bryophytes on Mt. Kinabalu, 1990. GOFFINET, B., BUCK, W.R. & SHAW, A.J. Morphology, anatomy and classification of the Bryophyta. In: B. Goffinet & A.J. Shaw Bryophyte Biology. Second Edition. Cambdrige University Press, Cambridge, p. 56-138, 2009. GRADSTEIN, S.R. & COSTA, D.P. The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden, v.87, p. 1-318, 2003. GRADSTEIN, S.R., CHURCHILL, S.P. & SALAZAR-ALLEN, N. Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of The New York Botanical Garden, v. 86, p. 1-577, 2001. HIRAI, R.Y., YANO, O. & RIBAS, M.E.G. Musgos da mata residual do Centro Politécnico (Capão da Educação Física), Curitiba, Paraná, Brasil. Boletim do Instituto de Botânica, v.11, p. 81 118, 1998. IAP. Plano de manejo Parque Estadual Pico do Marumbi, 1996. Disponível em:<http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/file/plano_de_manejo/parque_estadual_pico _do_marumbi/pm_pe_marumbi.pdf>. Acesso: 7 abr 2014 KESSLER.M. Altitudinal zonation of Andean cryptogam communities. Journal of Biogeography, v. 27, p.275-282, 2000. KUMMROW, R. P.& PREVEDELLO, S.M. Lista de musgos paranaenses do MBM. Boletim do Museu Botânico Municipal, v. 54, p. 1-36, 1982.

3 KURY, A.B. Diretrizes e estratégias para a modernização de coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informação sobre biodiversidade. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Ministério da Ciência e Tecnologia, 2006. PERALTA, D.F.; YANO. O. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo. Iheringia, série Botânica, v. 63, n. 1, p. 101-127, 2008. PERALTA, D.F. ; YANO, O. Briófitas Da Serra Do Itapeti. In: Morini, M.S.C.; Miranda, V.F.O.. (Org.). Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalisticos. Santa Cruz Do Rio Pardo: Viena Grafica E Editora, 2012, V. 1, P. 75-86. RENZAGLIA, K.S., VILLARREAL, J.C. & DUFF, R.J. New insights into morphology, anatomy and systematics of hornworts. In: B. Goffinet & A.J. Shaw. Bryophyte Biology. Second Edition. Cambdrige University Press, p. 139-171, 2009. SANTOS. N.D.; COSTA, D.P. A importância de Reservas Particulares do Patrimônio Natural para a conservação da brioflora da Mata Atlântica: um estudo em El Nagual, Magé, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 22, 2008. SANTOS, N.D. & COSTA, D.P. Altitudinal zonation of liverworts in the Atlantic Forest, Southeastern, Brazil. The Bryologist, v.113, p.631-645, 2010. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros. Pesquisas, série Botânica, v. 27, p. 1-36, 1969. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 2. Pesquisas, série Botânica, v. 28, p. 1-96, 1970. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 3. Pesquisas, série Botânica, v. 29, p.1-70, 1972. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 4. Pesquisas, série Botânica, v. 30, p. 1-79, 1976. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 5. Pesquisas, série Botânica, v. 32, p. 1-170, 1978. SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 6. Pesquisas, série Botânica, v. 33, p. 1-149, 1979.

4 SEHNEM, A. Musgos sul brasileiros 7. Pesquisas, série Botânica, v. 34, p. 1-121, 1980. SHARP, A. J.; CRUM, H.; ECKEL, P.. The Mosses flora of Mexico. Memories of the New York Botanical Garden, v. 69, n. 1-2, p. 1 1113, 1994. SHAW, A.J. & GOFFINET, B. Bryophyte Biology. Cambridge University Press, Cambridge, 2000. TAI, D.W. Manual Técnico da Vegetação Brasileira, 2 edição, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2012. TAN, B.C. & PÓCS, T. Bryogeography and conservation of bryophytes. In: A.J. Shaw & B. Goffinet (eds.). Bryophyte Biology. Cambridge University Press, pp. 403-448, 2000. THE PLANT LIST. Briófitas. In: The Plant List. Disponível em: <http://www.theplantlist.org> Acesso em: 17 abr. 2014. YANO, O. & CARVALHO, A.B. Briófitas da Serra da Piedade, Minas Gerais, Brasil. In: M.R.P. Noronha (ed.). Anais 9º Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo, Sociedade Botânica de São Paulo, São Paulo, p.15-25, 1995. YANO, O. & COLLETES, A.G. Briófitas do Parque Nacional de Sete Quedas, Guaira, PR, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v.14, p. 215-242, 2000. YANO, O. & PERALTA, D.F. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Briófitas (Anthocerotophyta, Bryophyta e Marchantiophyta). Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo, v. 29, p. 135-211, 2011. YANO, O. & PERALTA, D.F. Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais. Briófitas (Bryophyta e Marchantiophyta). Boletim da Universidade de São Paulo, Botânica, v. 27, p. 1-26, 2009. YANO, O. A Checklist of Brazilian mosses. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory, v.50, p. 279-456, 1981. YANO, O. An additional checklist of Brazilian bryophytes. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory, v. 66, p. 371-434, 1989.

5 YANO, O. Novas localidades de musgos nos estados do Brasil. Acta Amazonica, v. 22, p. 197-218, 1992. YANO, O. A new additional annotated checklist of Brazilian bryophytes. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory, v. 78, p. 137 182, 1995. YANO, O. Novas adições ao catálogo de briófitas brasileiras. Boletim do Instituto de Botânica, v.17, p. 1-142, 2006a. YANO, O. Novas adições ao catálogo de briófitas brasileiras. Boletim do Instituto de Botânica, v.17, p. 11 142, 2006b. YANO, O. Catálago das Briófitas (Antóceros, Hepáticas e Musgos) do Estado do Paraná, Brasil. Pesquisas, série Botânica, v. 64, p. 347-420, 2013. YANO, O. Levantamento de novas ocorrências de briófitas brasileiras. Publicação on line do Instituto de Botânica. CDU582.32/WWW.ibot.sp.gov.br/Briófitas Brasileiras/Briófitas, 2010.