1 MOVIMENTO RIOT GRRRL: busca pela igualdade Amanda Sena Soares de Azevêdo - UFPB amandasenasoares@yahoo.com.br Araceli Milma Ferreira da Cunha - UFPB aracelimferreira@gmail.com Camylla de Oliveira Dornelas - UFPB camylla.dornelas@gmail.com RESUMO O movimento Riot Grrrl surgiu em meados de 1990, nos Estados Unidos, quando garotas de bandas punks decidiram se rebelar contra todos que diziam que mulheres não eram feitas para cantar e tocar em uma banda de rock, muito menos de usar a música para informar as mulheres dos seus direitos e incentivá-las a reivindicá-los. Nosso objetivo é investigar o que levaram essas garotas a formarem um movimento de cultura juvenil vinculado a cultura punk para se expressar e o que elas estão buscando com isso. A partir disso, observamos como são suas representações, como as bandas agem, quais são as maiores dificuldades e as conquistas realizadas. Provisioramente encontramos que elas estão buscando se diferenciar do que é considerado um padrão ideológico e comportamental. Observamos que essas bandas passam por muitas dificuldades financeiras e de preconceitos, mas apesar de tudo, elas se fazem ouvir. Conseguiram conquistar espaços e reconhecimento de muitos. Elas decidiram através da música ir contra os dogmas de que garotas não sabem tocar baixo, guitarra e bateria. Com isso, criaram uma revolução musical e feminista, lutando pelo direito das mulheres e a igualdade entre os sexos. Palavras-chave: cultura juvenil, feminismo, movimento punk, igualdade. 1. Introdução Este artigo tem como discussão o movimento feminista na música que teve inicio na década de 90, com o nome de Riot Grrrl. Ele é uma pesquisa recente dividida em 4 (quatro) partes, onde, a primeira investiga o que levaram essas garotas a formarem um movimento de cultura juvenil vinculado a cultura punk para se expressar, a segunda visa explicar o que elas estão buscando com isso, a terceira demonstra quais são suas representações e a quarta mostra a cena Riot Grrrl no Brasil.
2 O movimento visa explicar alguns significados que andaram sendo distorcidos em relação ao movimento de mulheres que queriam mudar a idéia de que elas não seriam capazes de montar uma banda de rock e muito menos de protestar contra os dogmas estabelecidos pela sociedade, onde as mulheres seriam criaturas frágeis, dóceis, ingênuas e que não teriam capacidade nenhuma de exercer qualquer atividade fora de suas residências. Este movimento teve como integrantes mulheres que queriam igualdades entre os sexos dentro da música punk, além de homens que aceitaram a causa do protesto, pois o movimento não é contra os homens, e sim, contra os tabus enfrentados pelas mulheres na sociedade. O movimento visa a liberdade e a igualdade. É um movimento feminista pelos direitos, não uma guerra contra os homens como se os odiassem. Os direitos devem ser iguais para todos independente de cor, sexo, religião, nacionalidade ou opção sexual. Riot Grrrl tem como significado garotas rebeldes, o Grrrl com vários R significa um rugido como se elas estivessem com raiva do que a sociedade as impõe. Esse gênero apareceu em resposta às atitudes machistas e sexistas dos homens que dominavam o mundo do punk rock. O movimento não era apenas contra os pensamentos em relação a uma mulher tocar guitarra, baixo ou baterias e fazer um som pesado, mas em relação a tudo que a mulher sofria e sofre de preconceitos. Estes que tentavam impedir que a mulher lutasse pelos seus direitos e contra os velhos padrões morais e estéticos, que ditavam como ela deve se vestir, falar, andar, agir, trabalhar e viver. 2. O que levaram essas garotas a formarem este movimento? O rock se firmou ao longo de décadas com características machistas, apesar de ele protestar e lutar pela liberdade de expressão. A carreira feminina na música se resumia até então apenas ao vocal, e ou tocando instrumentos em bandas com som leves, e, ainda sim, eram mal vistas pela sociedade. Ate meados da década de 70, garotas e guitarras eram consideradas incompatíveis com o rock perante o publico. Janis Joplin foi a mulher pioneira em quebrar barreiras na música, mas foi Suzi Quatro a
3 primeira roqueira que trouxe atitude e sonoridade, enquanto Joan Jett foi quem começou a preconizar o movimento com a banda The Runaways. Com isso, várias outras bandas com vocalistas e/ou integrantes mulheres foram surgindo, como: L7, 7 Yearh Bitch e Babes in Toyland. Nos anos 80 as bandas femininas se tornaram mais comerciais. Uma que contribuiu com maior divulgação foi Deborah Harry da banda Blondie por representar uma postura mais pop. As primeiras bandas percussoras do movimento Riot Grrrl na década de 90 foram Bikini Kill e Bratmobile, que começaram com a cultura juvenil manifestada através de estilos e modos de vidas diferentes dependendo da localidade e do contexto social. Algumas mulheres ganharam destaques tocando instrumentos em bandas de homens, como a baixista D arcy Wretzky da banda Smashing Pumpkins e outras como vocalistas que é o caso de Shirley Manson da banda Garbage. Sem contar as que se lançaram como carreira solo, ao exemplo de Alanis Morrisette. Quem iniciou o movimento foi Alison Wolfe da banda Bratmobile com um fanzine feminista que levava o nome de Riot Grrrl, e tinha como conteúdo a revolta sobre os dogmas impostos pelos homens em relação a uma mulher, ou um protesto em que uma banda de mulheres não tocaria instrumentos tão bem quanto eles. Algumas mulheres como Kathleen Hanna da banda Bikini Kill, a partir disso começaram a protestar hora se vestindo como homem, raspando a cabeça, escrevendo os protestos no próprio corpo, como frases que os homens as chamavam por suas atitudes e às vezes se envolvendo com outras mulheres só para dizer aos homens que podem tanto quanto eles, pois as bandas têm um lema que carregam para todos os lugares, que é: se eles podem, eu também posso! 3. O que elas estão buscando com esse movimento? Essas garotas que iniciaram esse movimento de cultura ligado ao punk rock tinham como arma de protesto as letras de suas musicas misturadas as batidas pesadas do rock, que os homens julgavam que elas seriam incapazes de conseguir. Com essas letras elas buscam igualdades entre os sexos, e contra antigos preconceitos desde a
4 época da colonização implantada na sociedade, onde as mulheres deveriam apenas ser donas de casa e sua responsabilidade mutua seria cuidar do marido e dos filhos, e quando conseguiram direito para poder trabalhar fora, sua remuneração era abaixo do dito normal. O movimento visa à liberdade e a igualdade. É um movimento feminista pelas minorias, não uma guerra contra os homens como já foi dito. Elas gostam dos homens, amam, namora, casa, apenas exigem que os direitos devem ser iguais para todos independente de cor, sexo, religião, nacionalidade ou opção sexual, pois cada garota deve fazer o que quer e defender seus pensamentos ao invés de apenas obedecer ou ser influenciada. Danny Toste ao escrever um texto sobre o feminismo e o Riot Grrrl no site do geocities mencionou que: Eu vejo muitas pessoas dizendo que o feminismo é o contrário de machismo, e até mesmo muitas meninas que agem como feministas, mas negam que são por terem certo preconceito em relação a esse movimento. Ser feminista não é se superior ao homem, tanto que existem homens feministas, por isso não tem como ser o contrário de machismo. A imagem que muitas pessoas têm de uma feminista é de alguém mal-amada, feia, masculinizada, e essa é a imagem que a mídia quis passar para que menos pessoas se unissem para lutarem pelos seus direitos. 4. Quais as suas representações? As mulheres contribuíram muito no rock, não só pela sua voz, roupa ou maquiagem, mas por enfrentarem a sociedade machista e preconceituosa. No rock a presença da mulher é muito mais significativa do que em outros gêneros musicais, pois além de quebrarem preconceitos lutam por igualdade e respeito, apesar de vários adeptos do rock não aceitarem por muitas delas não demonstrarem sua feminilidade. Nos shows integrantes da banda Bikini Kill, por exemplo, escreviam nos seus braços, abdômen ou costas, slogans como RAPE (estrupo) ou SLUT (vagabunda), como forma de protestar sobre o conceito de que mulheres que tocavam rock eram vagabundas, ou só estavam em busca de garotos para se divertirem, pois elas não teriam talento suficiente para tocar pelo menos parecido com os homens, ou seja, julgando
5 sempre que a mulher seria um ser incapaz de viver sem ter um homem para guiá-la, por isso em seus shows mandavam os homens irem para trás dando os melhores lugares para as mulheres, e entregando a elas as letras de suas músicas, para que pudessem acompanhar o que elas cantavam. Suas letras eram carregadas de protestos contra tudo que a sociedade poderia fazer contra a mulher, e estas terem o direito de apenas calar-se. Apesar de as bandas passarem por vários problemas financeiros e de estrutura em shows, elas conseguem se fazer ouvir pelas suas representações e pela sua luta por um mundo mais justo e igualitário. 5. O Riot Grrrl no Brasil No Brasil existem várias bandas femininas que abordam assuntos feministas e do cotidiano, a banda percussora e de maior destaque no movimento Riot Grrrl se chama Dominatrix, ela foi formada no fim da década de 90, sendo mais reconhecida fora do pais, onde já fez várias turnês internacionais. A banda Dominatrix promove o Festival LadyFest Brasil, onde incentiva a participação de bandas formadas por mulheres que não tem espaço para divulgação, além de nos seus shows realizar vários debates sobre causas femininas e das minorias. 6. Considerações finais Por mais que os anos se passem, continua sendo difícil para as mulheres se inserirem na sociedade em todos os aspectos, principalmente na música por isso, nós continuamos dizendo que a luta não acabou. A mulher conseguiu muito espaço sim, ao longo de muitas décadas, mas preconceitos ainda existem e estão aí estampados em capas de revistas, em musicas machistas, em leis imperfeitas quando deixam brechas para aqueles que cometam injustiças consigam sair impunes. Não tem como não reconhecer o quanto as mulheres são importantes, independente de estilo e época. Elas estão buscando se diferenciar do que é considerado um padrão ideológico e comportamental.
6 Temos-nos que agir para que a nossa sociedade aceite as pessoas como elas são, e todos nós temos a obrigação de fazer a nossa parte para que possa haver um mundo melhor, mais justo e igualitário. 7. Referências RODRIGUES, Fernando Gomes. O Grito das Garotas. Brasília: Universidade de Brasília, 2006. 76 p. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.unb.br/ics/dan/dissertacao211.pdf>. Acessado em: 25 jul 2009. CAMARGO, Michelle Alcântara. In: FAZENDO GÊNERO, 8, 2008, Florianópolis. Riot Grrrls em São Paulo: Estética Corporal Na Construção Identidária. Florianópolis: 2008. 7 p. Disponível em: <http://www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/st43/michelle_alcantara_camargo_43.pdf>. Acesso em: 25 jul 2009. MELO, Érica Isabel de. In: SEMINÁRIO FAZENDO GÊNERO, VII, 2006, São Paulo. Riot Grrrl: Feminismo Na Cultura Juvenil Punk. São Paulo: Unicamp. 2006. 7 p. Disponível em: <http://www.fazendogenero7.ufsc.br/artigos/e/erica_melo_riot_01.pdf>. Acesso em: 25 jul 2009. WELLER, Wivian. Presença Feminina Nas (Sub) Culturas Juvenis: A Arte De Se Tornar Visível. Estudos Feministas, Florianópolis, 13(1): 107-126, janeiro-abril/2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v13n1/a08v13n1.pdf>. Acesso em: 18 jul 2009. GOMES, Rodrigo Cantos Savelli; MELLO, Maria Ignez Cruz. Relações de Gênero e a Música Popular Brasileira: Um estudo sobre as Bandas Femininas.
7 Disponível em: <http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume2/numero2/musica/jornada2007( RodrigoCantos).pdf>. Acesso em: 18 jul 2009. CHAVES, Adriana. Mulheres no Rock. Disponível em: <http://whiplash.net/materias/especial/000109-janisjoplin.html>. Acesso em: 11 jul 2009. SARTORI, Rafael. As mulheres e o Rock n Roll. Disponível em: <http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/materias/materia.asp?codarea=3&mate riaid=95>. Acesso em: 11 jul 2009. SALLES, Silvana; STAWSKI, Flavia. O rock feminino no mundo. Disponível em: <http://www.facasper.com.br/cultura/site/ensaio.php?tabela=&id=125>. Acesso em: 11 jul 2009. S/A. Riot Grrrl. Disponivel em: <http://br.share.geocities.com/riotgrrrlsoul/>. Acesso em: 04 jul 2009. S/A. Riot Grrrl. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/riot_grrrl>. Acesso em: 04 jul 2009. S/A. Dominatrix (banda). Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/dominatrix_(banda)>. Aceso em: 04 jul 2009.