AS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO PARANÁ, EM COMPARAÇÃO COM O BRASIL, A PARTIR DOS DADOS DA PNAD/2004. Área: CIÊNCIAS ECONÔMICAS



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Transcrição:

AS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO PARANÁ, EM COMPARAÇÃO COM O BRASIL, A PARTIR DOS DADOS DA PNAD/2004 Área: CIÊNCIAS ECONÔMICAS Categoria: PESQUISA Fernando Nisti Borges Economista pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM) Av. Comendador Norberto Marcondes, 733 Campo Mourão/PR nando_bomdpapo@hotmail.com Rosangela Maria Pontili Professora Assistente pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM) Membro do Grupo de Pesquisa: Estudos Regionais: geo-histórico, sócio-cultural, econômico, educacional e ambiental. Av. Guilherme de Paula Xavier, 295 Ap. 202 Campo Mourão/PR rpontili@yahoo.com.br Janete Leige Lopes Professora Adjunta pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM) Avenida Irmãos Pereira, 2211, centro, 87300-010, Campo Mourão PR Telefones: (44) 3016-3737 e (44) 9102-0405 j_llopes@yahoo.com.br

AS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO PARANÁ, EM COMPARAÇÃO COM O BRASIL, A PARTIR DOS DADOS DA PNAD/2004 Área: CIÊNCIAS ECONÔMICAS Categoria: PESQUISA Resumo O problema da pobreza no Brasil está ligado ao processo de colonização, que foi lento e concentrador de renda e levou à formação de grandes núcleos de pobreza. Para pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, a pobreza e a concentração de renda tem sido os causadores da falta de segurança alimentar pelas famílias brasileiras. Em função disso, nos últimos anos, o tema passou a ter lugar de destaque em políticas sociais, por isso o governo tem investido em programas de transferências de renda, diretas e indiretas, como o Bolsa Família e alguns outros. Em vista o exposto, o objetivo deste trabalho foi o de investigar e divulgar a situação da segurança alimentar no Paraná, comparando-se com o Brasil. A metodologia usada para este fim foi o sistema de análise estatística descritiva, a partir dos dados do suplemento sobre Segurança Alimentar da PNAD de 2004. Os resultados mostraram que as crianças são as que mais sofrem com a insegurança alimentar; além disso, o percentual de pessoas, que se declarou de cor preta ou parda, que sofre com insegurança alimentar, é maior do que o percentual das pessoas que se declararam de cor branca; ainda também, no Brasil, a população situada nos domicílios rurais sofre mais com a falta de segurança alimentar e; por fim, as famílias com os menores níveis de renda per capita, são as que mais sofrem com a insegurança alimentar. Diante disso concluiu-se que os investimentos em programas, não só de distribuição, mas também de geração de renda, devem ser mantidos e melhorados. Palavras-chaves: distribuição de renda, segurança alimentar, políticas sociais. 1. INTRODUÇÃO A questão da alimentação é diretamente ligada, dentre outros fatores, a renda das famílias. Para entender esta relação é necessário fazer uma recapitulação de todo o processo histórico formador dos atuais níveis de distribuição de renda, que tiveram início no período da colonização. O processo de colonização no país foi lento e sem qualquer objetivo de criar uma sociedade desenvolvida e igualitária, arrastou-se por mais de quatro séculos e baseado na exploração dos recursos naturais e seus benefícios. Os ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do ouro, do café, etc., até final do séc. XIX juntamente com outros processos, como o de imigração, foi dividindo o país em diferentes setores populacionais, com características distintas em vários aspectos econômicos e sociais. No séc. XX iniciou-se o processo de industrialização, mas novamente os benefícios não atingiram o país como um todo e apenas uma pequena parcela da população concentrou a renda gerada no processo produtivo. Com isso, apenas uma região teve um grande salto em seu crescimento enquanto outras regiões, desgastadas por um legado de exploração e abandono, formaram grandes núcleos de pobreza [(FURTADO, 1995); (BRUM, 1995)].

Em função do modelo concentrador de renda do Brasil, alguns estudos têm apontado que este é um dos maiores responsáveis pelos elevados índices de pobreza. O Brasil possui uma das piores distribuições de renda do mundo e um grande fomentador desta má distribuição é a disparidade regional, oriunda do processo de formação econômica. Isto porque, as diferentes características regionais brasileiras possuem fatores determinantes para formação dos salários e desempenho econômico das firmas. Exemplificando melhor, pode-se dizer que um trabalhador de Curitiba ganha 25,4% a mais que a média enquanto um trabalhador com as mesmas características de emprego e setor, trabalhando em Belém, ganha 10% a menos que a média. Além disso, a eliminação da desigualdade regional reduziria a desigualdade de renda entre 2% e 5% (ARBACHE, 2003). No Paraná, também existe uma grande disparidade de renda entre a população, só que verificada de acordo a divisão em mesorregiões. Quando verificada entre a população residente em área urbana ou rural os resultados diferem do analisado em nível nacional, pois o percentual de famílias e pessoas pobres na área urbana é maior do que as famílias e pessoas pobres residentes na área rural (IPARDES, 2006). Dada a existência de elevados índices de pobreza os pesquisadores, setores governamentais e diversas instituições passaram a se preocupar com a situação da segurança alimentar no país. Após os avanços sobre o tema chega-se a um conceito que abrange o direito do acesso a alimentação saudável, com suficiência de qualidade e em quantidade ininterrupta, fundada em bases sustentáveis. O tema passou a ocupar lugar de destaque em políticas sociais a partir da década de 90 e vem, com o passar dos anos, ganhando uma importância cada vez maior. Isto em função dos atuais níveis de distribuição de renda e do volume de pessoas que sofrem com o problema da fome, comparados a capacidade e potencialidade produtiva agrícola do nosso país. Ou seja, ao estar em um país com abundância de recursos naturais é complexo lembrar-se do volume de pessoas que passam fome. Por isso, o governo tem feito, nos últimos anos, para que a questão da fome pela insuficiência de renda seja combatida, transferências diretas e indiretas, como por exemplo, o Bolsa Família e o programa de incentivo a agricultura familiar [(LEITE, 2005); (MALUF; MENEZES e VALENTE, 1996);(CUNHA e LEMOS, 1997);(TAKAGI, 2007); (IPEA, 2007)] Em vista do acima exposto, o objetivo deste trabalho, é o de investigar e divulgar a situação da segurança alimentar no Paraná, comparando-a com a realidade do Brasil. Assim, para uma melhor interpretação dos resultados, subdividiu-se a população investigada de acordo com idade, sexo, cor ou raça, situação do domicílio e por rendimento domiciliar per capita. A fim de se chegar aos resultados fizeram-se análises estatísticas descritivas, dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estes dados são oriundos do suplemento sobre Segurança Alimentar da PNAD de 2004, que tem como data de referência 25 de setembro de 2004, na qual o morador identificado como preparado foi indagado com 15 perguntas elaboradas de acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Esta escala, procura identificar qual a real situação da insegurança alimentar, nos adultos e crianças, com referência aos noventa dias anteriores a pesquisa, atribuindo uma pontuação para cada nível. Ao se indagar sobre o tema e questioná-lo quanto a sua devida importância algumas hipóteses foram estabelecidas no início do trabalho, as quais motivaram essa pesquisa: Acredita-se que mesmo com uma grande força e potencialidade produtiva o Brasil possui uma quantidade expressiva de pessoas sofrendo com o problema de insegurança alimentar; supõese que a má distribuição da renda é fator condicionante para que haja insegurança alimentar em uma população; acredita-se que os primeiros estudos sobre o tema foram de grande valia

para as atuais investigações na área de segurança alimentar e, discutir cada vez mais sobre o tema, contribuirá para que novas iniciativas sejam tomadas neste campo. 2. METODOLOGIA E DADOS A presente pesquisa compõe-se de uma análise estatística descritiva das condições da segurança alimentar das famílias paranaenses. Fonseca e Martins (2008) definem a estatística descritiva como o conjunto de técnicas com o objetivo de descrever, analisar e interpretar dados numéricos sobre a população, mostrando o comportamento de variáveis numéricas, levantadas por pesquisas, através de tabelas, mapas, etc. Toda a coleta, forma de organização e também a descrição dos dados está a cargo da estatística descritiva, que tem por objetivo, também, permitir que se obtenham conclusões que estão além dos dados obtidos. Uma fase importante da estatística descritiva está na coleta dos dados. Neste trabalho, serão utilizados os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) tendo como ano de referência 2004. Esta pesquisa é feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), integrando o Programa Nacional de Pesquisas Contínuas por Amostra de Domicílios desde 1967. Tal levantamento é proveniente da necessidade de informações para planejar e acompanhar o desenvolvimento social do País. Antes disso, eram usados os dados decenais oriundos dos censos demográficos, que eram incompletos e muito defasados no tempo. Até 1970, a PNAD era realizada trimestralmente e, atualmente, seus levantamentos são anuais tendo vários propósitos. Sendo assim, investiga características sócio-econômicas em uma amostra de domicílios brasileiros. Pode-se elencar, assim, dois principais objetivos da PNAD: fazer o estudo dos temas não completos ou pouco investigados nos censos demográficos realizados a cada dez anos; obter informações sobre a população do país entre um censo e o próximo. A estrutura da PNAD se divide em pesquisa básica, pesquisas suplementares e pesquisas especiais, a fim de investigar a maior parte dos temas com um intervalo pequeno de tempo, já que não seria possível fazer a pesquisa de todos os temas de interesse de forma contínua. Os temas básicos que integram o questionário são população, educação, trabalho, rendimento e habitação. Os suplementares aprofundam-se na pesquisa dos temas permanentes e assuntos interligados com a pesquisa básica. Já os temas especiais são usados em assuntos de maior complexidade, com um tratamento a parte da pesquisa básica. Através da PNAD de 2004, a situação da segurança alimentar no país, objeto deste trabalho, pode ser observada também através de um questionário dirigido a um morador identificado como preparado para respondê-lo. Desta forma, detectaram-se e dimensionaramse, também, os problemas de insegurança alimentar manifestados de forma mais pesada, ou seja, através da fome. A pesquisa também permitiu classificar os domicílios que estavam em Insegurança Alimentar leve, moderada ou grave. Ao adaptar alguns modelos de questionários usados para avaliar a Segurança Alimentar no Brasil e em outros países como Estados Unidos, Canadá, México foi elaborado e validado a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), para a qual os primeiros estudos foram realizados em São Paulo e em Brasília. Posteriormente, a validade da escala foi confirmada em cinco regiões do Brasil para então ser incorporada na PNAD.

Na referida pesquisa realizada em 2004, foram feitas 15 perguntas, sendo que nove eram relativas aos adultos e residentes e as outras seis às crianças. As perguntas eram referentes aos noventa dias anteriores a realização da pesquisa, que se deu no dia 25 de setembro de 2004. Somente as alternativas sim e não eram dadas. Se a resposta fosse afirmativa, eram indagados quanto à freqüência em que se ocorriam estes eventos, com as alternativas de: em quase todos os dias, em alguns dias e em apenas um ou dois dias. Na seqüencia, a tabela 1 mostra as perguntas realizadas na pesquisa. Tabela 01 Perguntas incluídas no Suplemento de Segurança Alimentar da PNAD 2004 referentes à escala EBIA. Perguntas Moradores tiveram preocupação de que os alimentos acabassem antes de poderem comprar ou receber mais comida Alimentos acabaram antes que os moradores tivessem dinheiro para comprar mais comida Moradores ficaram sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada Moradores comeram apenas alguns alimentos que ainda tinham porque o dinheiro acabou Algum morador de 18 anos ou mais de idade diminuiu alguma vez a quantidade de alimentos nas refeições ou deixou de fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador de 18 anos ou mais de idade alguma vez comeu menos porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador de 18 anos ou mais de idade alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador de 18 anos ou mais de idade perdeu peso porque não comeu quantidade suficiente de comida devido à falta de dinheiro para comprar comida Algum morador de 18 anos ou mais de idade alguma vez fez apenas uma refeição ou ficou um dia inteiro sem comer porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade alguma vez deixou de ter uma alimentação saudável e variada porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade alguma vez não comeu quantidade suficiente de comida porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade diminuiu a quantidade de alimentos nas refeições porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade alguma vez deixou de fazer uma refeição porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não havia dinheiro para comprar comida Algum morador com menos de 18 anos de idade alguma vez ficou um dia inteiro sem comer porque não havia dinheiro para comprar comida Fonte: PNAD/2004 A preocupação com a falta de alimentação em um futuro próximo, provocada por alguma instabilidade socioeconômica, pode ser refletida através do questionário e sua ordem. Caso o problema não se resolva, reduz-se a quantidade consumida de alimentos, primeiramente entre os adultos, em seguida pelas crianças. Esta redução pode ser mais amena no início, mas pode agravar-se, levando até a fome. Esta situação é identificada através de

uma escala, que tem como um dos exemplos o fato de um adulto ou criança passar fome por falta de renda para a compra de comida. De acordo com esta escala, podem-se classificar quatro categorias: Segurança Alimentar, Insegurança Alimentar Leve, Insegurança Alimentar Moderada e Insegurança Alimentar Grave, categorias estas definidas pela validação da EBIA. Para obtenção desta classificação é atribuída uma pontuação a cada domicilio de acordo com o número de respostas positivas às perguntas da escala. Para facilitar o entendimento seguem-se os quadros 1 e 2, com as pontuações dadas pela PNAD 2004. Categorias Pontuação Segurança Alimentar 0 pontos Insegurança Alimentar leve 1 a 5 pontos Insegurança Alimentar moderada 6 a 10 pontos Insegurança Alimentar grave 11 a 15 pontos Quadro 1 Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos um morador de menos de 18 anos de idade nas categorias de segurança alimentar. Categorias Pontuação Segurança Alimentar 0 pontos Insegurança Alimentar leve 1 a 3 pontos Insegurança Alimentar moderada 4 a 6 pontos Insegurança Alimentar grave 7 a 9 pontos Quadro 2 Pontuação para classificação dos domicílios com somente moradores de 18 anos ou mais de idade, nas categorias de segurança alimentar. As condições para poder estimar a prevalência de segurança alimentar nas unidades familiares está na estrutura da escala, com um agrupamento conceitual adequado e cientificamente testado, de maneira que não se recomenda que se utilize de procedimentos de análise a partir de uma ou mais de suas perguntas, isoladamente, ou de outra maneira. Os resultados que poderiam ser obtidos por abordagens inadequadas poderiam fornecer resultados não-consistentes e não-comparáveis com os que foram apresentados. Com base no material divulgado pelo IGBE, apresentam-se, em seguida, os resultados do presente trabalho. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na seqüência, iremos analisar os dados obtidos pela PNAD de 2004 conforme disposto no capítulo anterior quanto à situação da Segurança Alimentar em domicílios particulares do Paraná, em comparação com o Brasil. Estes dados estão dispostos de acordo com a idade, sexo, cor ou raça, domicílios rurais e urbanos e por fim rendimento domiciliar per capita. Do total da população residente no Brasil, observamos que o grupo com maior problema está na faixa etária de 0 a 4 anos de idade, onde mais da metade dessa população teve algum tipo de Insegurança Alimentar (IA), leve, moderada ou grave, no período da pesquisa. O que mais preocupa é que um percentual próximo a 10%, o que equivale a mais de um 1,5 milhões de crianças até cinco anos de idade, passaram fome nos noventa dias

anteriores a pesquisa, como pode ser observado na tabela 1. Outro detalhe importante diz respeito à faixa etária dos 18 a 49 anos, pois apesar do percentual com insegurança alimentar grave ser inferior ao das crianças (6,6%), em termos absolutos tem-se aproximadamente 6 bilhões de pessoas. Tabela 01 População residente do Brasil em termos de segurança e insegurança alimentar, de acordo com os grupos de idade. Situação de segurança alimentar existente no domicílio Grupos de Idades Com Com insegurança alimentar segurança alimentar Leve Moderada Grave BRASIL percentual 182.060.108 109.726.116 32.710.717 25.619.452 13.929.331 0 a 4 anos 14.977.223 7.416.316 3.248.376 2.756.991 1.547.176 % 100 49,52 21,69 18,41 10,33 5 a 17 anos 45.109.118 23.308.158 9.475.281 7.645.362 4.646.725 % 100 51,67 21,01 16,95 10,30 18 a 49 anos 88.731.778 55.929.142 15.499.714 11.419.318 5.857.669 % 100 63,03 17,47 12,87 6,60 50 a 64 anos 21.114.498 14.362.975 2.926.423 2.501.659 1.319.690 % 100 68,02 13,86 11,85 6,25 65 anos ou + 12.116.138 8.705.528 1.558.787 1.291.424 557.549 % 100 71,85 12,87 10,66 4,60 Fonte: PNAD/2004. Com relação ao Paraná (tabela 2) a faixa etária referente as crianças de 0 a 4 anos também é a mais afetada pela Insegurança Alimentar, só que em menor intensidade, pois o percentual com insegurança alimentar grave é de 5,46%. De toda população nesta faixa etária cerca de 35% da sofreu, nos noventa dias anteriores a pesquisa, com algum tipo de IA. Observando-se todos os intervalos de faixas etárias percebe-se o problema da insegurança alimentar no Paraná é menos grave que no Brasil como um todo, pois sempre é maior o percentual de pessoas com segurança alimentar. Entretanto, dizer que uma pessoa teve problemas de insegurança alimentar leve é semelhante a dizer que esta pessoa passou fome, ou teve receio de ficar sem comer, em algum período do mês. No Paraná, mais de 700.000 pessoas, com idade entre 18 e 49 anos vivenciou esta condição. Somando-se toda população, tem-se em torno de um milhão e meio de pessoas que, em função deste receio, dão um indicativo de que vivem condições precárias de vida.

Tabela 02 População residente do Paraná em termos de segurança e insegurança alimentar, de acordo com os grupos de idade. Grupos de Idades Situação de segurança alimentar existente no domicílio Com segurança alimentar Com insegurança alimentar Leve Moderada Grave PARANÁ percentual 10.158.730 7.263.465 1.551.049 953.571 390.645 0 a 4 anos 756.358 479.862 141.843 93.382 41.271 % 100 63,44 18,75 12,35 5,46 5 a 17 anos 2.442.048 1.584.971 461.668 281.919 113.490 % 100 64,90 18,90 11,54 4,65 18 a 49 anos 5.016.937 3.726.632 714.033 411.006 165.266 % 100 74,28 14,23 8,19 3,29 50 a 64 anos 1.297.620 971.987 154.389 123.526 47.718 % 100 74,91 11,90 9,52 3,68 65 anos ou + 645.767 500.013 79.116 43.738 22.900 % 100 77,43 12,25 6,77 3,55 Fonte: PNAD/2004. A tabela 03 mostra a realidade de segurança alimentar, no Brasil e no Paraná, segundo o sexo. De acordo com o que pode ser visualizado não existe diferença de gênero quando se trata tanto da segurança, quanto da insegurança alimentar. No Brasil, cerca de 40% da população de homens e mulheres sofrem com algum tipo de insegurança alimentar e, no Paraná, cerca de 30%. Na tabela 04 pode ser vista a situação de segurança alimentar, segundo a raça ou cor, da população brasileira, em comparação aos paranaenses. Como se pode observar, no Brasil cerca de 30% da população que se auto-declarou de cor ou raça branca, passou por algum tipo de insegurança alimentar no período da pesquisa. Já, mais da metade da população do país, considerada de cor preta ou parda sofreu com a insegurança alimentar no período, o que é equivalente a 45 milhões de pessoas. Neste quociente, mais de dez milhões estavam incluídos na parcela com Insegurança Alimentar grave, representando 11,54% da referida população. No Paraná, mais de 40% da população de cor preta ou parda passou por algum tipo de insegurança alimentar no período já mencionado, em comparação à população branca que, não atinge os 25%. Ressalta-se, ainda, que entre os descendentes da raça negra, 14,72% sofreu com a insegurança alimentar moderada e 6,96% com a grave.

Tabela 03 População residente no Brasil e Paraná em termos de segurança e insegurança alimentar, de acordo com o sexo. Homens e Mulheres Situação de segurança alimentar existente no domicílio Com segurança alimentar BRASIL Com insegurança alimentar Leve Moderada Grave Homens 88.673.733 53.300.297 15.809.110 12.609.203 6.913.294 % 100 60,11 17,83 14,22 07,80 Mulheres 93.386.375 56.425.819 16.901.607 13.010.249 7.016.037 % 100 60,42 18,10 13,93 07,51 Homens e Mulheres Situação de segurança alimentar existente no domicílio Com segurança alimentar PARANÁ Com insegurança alimentar Leve Moderada Grave Homens 4.993.563 3.574.097 768.474 461.237 189.755 % 100 71,57 15,39 09,24 03,80 Mulheres 5.165.167 3.689.368 782.575 492.334 200.890 % 100 71,43 15,15 09,53 03,89 Fonte: PNAD 2004 Comparando-se os descendentes de brancos e de negros, no Paraná, o percentual de pessoas pretas ou pardas que sofreram com insegurança alimentar grave é 2,45 vezes maior que o percentual de brancos. No Brasil, este percentual é 2,84 vezes maior. Ou seja, o estado reproduz o mesmo problema social percebido no país, de que o percentual de pobres está mais concentrado entre os descendentes de negros, os quais têm sofrido mais com a miséria e a fome. Esta análise permite ir de encontro ao que já foi demonstrado por Furtado, (1995, p. 10), para o qual, uma grande massa de escravos recém libertada, após o processo de abolição, era simplesmente lançada a sua própria sorte, sem que houvesse a mínima distribuição de renda. Os negros e pardos brasileiros são descendentes de um processo de crescimento econômico injusto e desumano, que não foi capaz de distribuir uma parte do rico quinhão a esta parcela da população trabalhadora.

Tabela 04 População residente no Brasil e Paraná em termos de segurança e insegurança alimentar, de acordo com a cor ou raça. Cor ou Raça Situação de segurança alimentar existente no domicílio Com Com insegurança alimentar segurança alimentar Leve Moderada Grave BRASIL Branca 93.604.435 67.267.194 13.977.011 8.535.638 3.792.887 % 100 71,86 14,93 9,12 4,05 Preta e Parda 87.374.950 41.668.398 18.585.339 16.992.054 10.086.372 % 100 47,69 21,27 19,45 11,54 Outras 1.068.367 781.494 147.109 90.549 49.215 % 100 73,15 13,77 8,48 4,61 PARANÁ Branca 7.586.314 5.722.668 1.062.494 586.053 215.099 % 100 75,43 14,01 7,73 2,84 Preta e Parda 2.490.122 1.468.202 482.018 366.535 173.367 % 100 58,96 19,36 14,72 6,96 Outras 82.294 72.595 6.537 983 2.179 % 100 88,21 7,94 1,19 2,65 Fonte: PNAD 2004 As condições de segurança alimentar, da população residente do Brasil, em comparação ao Paraná, classificados de acordo com a situação do domicilio, podem ser vistas na tabela 05. Os dados obtidos do total da população residente brasileira revelam que a metade dos domicílios rurais passou por problemas de insegurança alimentar, enquanto o percentual dos municípios urbanos que enfrentaram problemas de insegurança alimentar é inferior a 40%. Estes dados reafirmam a idéia de que a insegurança alimentar é diretamente ligada com a pobreza, pois de acordo com Arbache (2003), a pobreza, no Brasil, está mais concentrada em áreas rurais, principalmente do nordeste do país. Já no Paraná, existe uma proporção menor de domicílios que sofreram com a insegurança alimentar na área rural e maior na área urbana, apesar desta diferença ser muito pequena. Ou seja, cerca de 30% dos domicílios rurais e urbanos do Paraná tiveram, no período da pesquisa, algum tipo de insegurança alimentar. Neste caso, uma maior diferença entre as áreas urbana e rural é percebida no caso da insegurança alimentar grave, pois 4,19% dos domicílios urbanos sofrem com este problema, em comparação a 2,09% dos domicílios rurais. Esta seria uma questão para ser investigada de maneira mais detalhada, pois pessoas pobres e passando necessidade comprometem o desenvolvimento econômico de um estado ou região, uma vez que não estão aptas a produzir. Se a insegurança alimentar é tão grave nas áreas urbanas quanto nas rurais, há um indicativo de que a pobreza está se concentrando nas periferias dos grandes centros, o que geraria problemas de saneamento básico, aumento da

violência e do tráfico de entorpecentes, os quais são menos perceptíveis quando se observa a pobreza das áreas rurais. Tabela 05 População residente no Brasil e Paraná em termos de segurança e insegurança alimentar, de acordo com a situação do domicílio. Situação do Domicílio Situação de segurança alimentar existente no domicílio Com Com insegurança alimentar segurança alimentar Leve Moderada Grave BRASIL Urbana 151.124.470 94.230.666 26.756.345 19.582.059 10.485.086 % 100 62,35 17,70 12,96 6,94 Rural 30.935.638 15.495.450 5.954.372 6.037.393 3.444.245 % 100 50,09 19,25 19,52 11,13 PARANÁ Urbana 8.488.701 6.040.463 1.294.138 798.388 355.712 % 100 71,16 15,25 9,41 4,19 Rural 1.670.029 1.223.002 256.911 155.183 34.933 % 100 73,23 15,38 9,29 2,09 Fonte: PNAD/2004 Na tabela 06, vemos os níveis e segurança e insegurança alimentar na população residente do Brasil, classificados de acordo com sete níveis de rendimentos per capita, sendo eles: até ¼ do salário mínimo; mais de ¼ a ½ salário mínimo; mais de 1 a 2 salários mínimos; mais de 2 a 3 salários mínimos; mais de 3 salários mínimos e sem rendimento. Observamos que o maior percentual com algum tipo de insegurança alimentar está entre a população com renda per capita até ¼ do salário mínimo. Vemos que o total de pessoas que passaram por alguma situação de IA no período da pesquisa, no nível de renda per capita acima comentado, chega a mais de 80%. Deste percentual, aproximadamente 30% passou fome, ou seja, declararam ser vítimas da IA grave. A parcela da população residente no país, com renda de mais de 3 salários mínimos, apresenta o menor percentual de pessoas com insegurança alimentar, sendo pouco mais de 4%. Além disso, a insegurança alimentar grave não atinge 0,5%. Mas o que estes percentuais de insegurança alimentar significam em termos de volume populacional? A população com até ¼ do salário mínimo, na qual mais de 80% do total sofre com algum tipo de insegurança alimentar, corresponde a mais de 16 milhões de pessoas. Com a situação de IA grave, chega-se a quase 6 milhões de pessoas. Já a população com renda de mais de 3 salários mínimos por pessoa, na qual aproximadamente 4% teve insegurança alimentar, equivale a 750 mil pessoas e, com IA grave, tem-se pouco mais de 30 mil pessoas.

Tabela 06 População residente do Brasil de acordo com a renda domiciliar per capita. População residente do Brasil Situação de segurança alimentar existente no domicílio Rendimento domiciliar Per Capita Com Com insegurança alimentar segurança alimentar Leve Moderada Grave BRASIL domiciliar per capita (1) (2) 181.501.101 109.254.364 32.652.843 25.597.701 13.921.701 Até 1/4 do salário mínimo (2) 20.391.184 3.375.137 4.284.852 6.878.793 5.835.064 % 100 16,55 21,01 33,73 28,62 Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo (2) 34.780.577 12.169.798 9.368.656 8.874.142 4.351.711 % 100 34,99 26,94 25,51 12,51 Mais de 1/2 a 1 salário mínimo (2) 48.380.112 28.702.403 10.769.140 6.581.857 2.300.926 % 100 59,33 22,26 13,6 4,76 Mais de 1 a 2 salários mínimos (2) 38.961.308 30.771.001 5.551.493 2.017.154 616.457 % 100 78,98 14,25 5,18 1,58 Mais de 2 a 3 salários mínimos (2) 13.800.811 12.468.209 992.000 252.776 86.089 % 100 90,34 7,19 1,83 0,62 Mais de 3 salários mínimos (2) 19.140.530 18.365.265 623.906 113.857 31.069 % 100 95,95 3,26 0,59 0,16 Sem rendimento (2) (3) 1.627.427 468.013 304.476 404.076 449.137 % 100 28,76 18,71 24,83 27,6 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004. (1) Exclusive os rendimentos das pessoas de menos de 10 anos de idade e das pessoas cuja condição no domicílio era pensionista, empregado domesticam ou parente do empregado doméstico. (2) Exclusive as pessoas cuja condição no domicílio era pensionista, empregado doméstico ou parente do empregado doméstico. (3) Inclusive os domicílios cujos componentes recebiam somente em benefícios. Por estes dados, podemos provar o que já havíamos dito: que a escassez de rendimentos é uma das principais causas da insegurança alimentar nas famílias do Brasil. É preciso levar em conta também, os números expressivos de pessoas que sofrem com a insegurança alimentar, mostrando que a má distribuição de renda do país leva milhões de pessoas a sofrerem com a fome. Além disso, é negado a estas pessoas um direito no qual está fundado o conceito da Segurança Alimentar exposto no capítulo II deste trabalho: a realização do direito de todos a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em

quantidade suficiente e de modo permanente..., e também no artigo 2º da Lei sobre a segurança alimentar: A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal.... Na tabela 07, analisa-se a situação dos domicílios no Paraná, classificados de acordo com a renda domiciliar per capita. Como se pode observar, o Paraná demonstra os mesmos padrões de insegurança alimentar do país. Novamente, vê-se o quanto os domicílios com os menores níveis de renda per capita são diretamente afetados com a insegurança alimentar. Quase 80% dos domicílios com até ¼ do salário mínimo de renda per capita passou por algum tipo de insegurança alimentar, sendo que quase 20% desde total sofreu com a insegurança alimentar grave, ou seja, passaram fome. Tabela 07 População residente do Paraná de acordo com a renda domiciliar per capita. Situação de segurança alimentar existente no domicílio Rendimento domiciliar Per Capita Com Com insegurança alimentar segurança alimentar Leve Moderada Grave PARANÁ domiciliar per capita (1) (2) 10.127.570 7.236.236 1.548.659 952.030 390.645 Até 1/4 do salário mínimo (2) 564.351 117.359 169.894 170.938 106.160 % 100 20,8 30,1 30,29 18,81 Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo (2) 1.411.123 608.113 364.112 301.073 137.825 % 100 43,09 25,8 21,34 9,77 Mais de 1/2 a 1 salário mínimo (2) 2.904.915 1.910.176 572.069 332.043 90.627 % 100 65,76 19,69 11,43 3,12 Mais de 1 a 2 salários mínimos (2) 2.754.610 2.271.764 341.594 111.388 29.864 % 100 82,47 12,4 4,04 1,08 Mais de 2 a 3 salários mínimos (2) 1.004.998 925.249 53.155 15.304 11.290 % 100 92,06 5,29 1,52 1,12 Mais de 3 salários mínimos (2) 1.377.920 1.335.075 35.444 7.015 386 % 100 96,89 2,57 0,51 0,03 Sem rendimento (2) (3) 58.397 20.232 10.598 13.074 14.493 % 100 34,65 18,15 22,39 24,82 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa (1) Exclusive os rendimentos das pessoas de menos de 10 anos de idade e das pessoas cuja condição no domicílio era pensionista, empregado domesticam ou parente do empregado doméstico. (2) Exclusive as pessoas cuja condição no domicílio era pensionista, empregado doméstico ou parente do empregado doméstico. (3) Inclusive os domicílios cujos componentes recebiam somente em benefícios. Nos domicílios com renda per capita de até 1 salário mínimo, vê-se uma redução parcial destes índices. Mas, ainda assim, mais da metade da população com este nível de renda passa pela I.A, havendo um percentual de, aproximadamente, 10% na condição de I.A grave. Ao longo da evolução dos percentuais de renda per capita verificamos a redução dos

níveis de I.A e a situação de segurança alimentar passa a prevalecer no domicilio. Em domicílios onde a renda per capita é de mais de três salários mínimos, o percentual de insegurança alimentar nos três é baixíssimo, chegando a pouco mais de 40 mil pessoas. É possível comparar as pessoas com mais de 3 salários mínimos, de renda domiciliar per capita, com aquelas que chegam a ¼ do salário mínimo. No segundo caso, chegou-se a um total de quase 500 mil pessoas, o que seria equivalente a uma cidade do tamanho de Londrina-PR, enquanto os indivíduos com mais de três salários equivalem a uma cidade do tamanho de Medianeira-PR. Finalmente, reforçamos o fato de existir uma ligação entre a segurança alimentar e o nível de renda, pois, de acordo com os dados que analisados os maiores níveis de segurança alimentar são vistos entre as pessoas que possuem uma renda domiciliar per capita relativamente elevada. Com a queda deste nível de renda, os indivíduos com S.A vão diminuindo gradativamente, conseqüentemente o nível de I.A passa a ser maior. Isso pode ser observado tanto no âmbito Estadual como no Federal, de acordo com a tabela anterior, ou seja, a renda se mostra como o fator principal da Segurança Alimentar. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho teve-se por objetivo analisar, investigar e divulgar a situação da segurança alimentar no estado do Paraná e também no Brasil através da estatística descritiva, com dados obtidos pela PNAD de 2004. Para poder melhor interpretar os resultados e ter um dimensionamento maior das condições de segurança alimentar no Brasil e Paraná, os dados acima citados foram subdivididos em categorias distintas. Os resultados aqui apresentados mostraram que as crianças são as que mais sofrem com a insegurança alimentar, chegando a 50% daqueles com idade até 4, anos no Brasil. No Paraná, por sua vez, este percentual corresponde a quase 37%. Além disso, percebeu-se que o percentual de pessoas que tem segurança alimentar aumenta com a idade. Concluímos, assim, que é de fundamental importância desenvolver políticas públicas que acompanhem as condições de saúde das crianças, garantindo-lhes a oportunidade de crescer e desenvolver-se, independentemente de sua classe ou renda. Temos conhecimento de projetos desenvolvidos por diversas instituições, como a Pastoral da Criança, que ficou mundialmente famosa por criar uma farinha que, adicionada aos alimentos, reduz a desnutrição infantil. Este e outros projetos merecem acompanhamento e incentivo, tanto moral quanto financeiro. Mas, como mostram os números, ainda são muitos os casos de crianças passando fome em todo país. Podemos tomar como exemplo uma matéria veiculada na TV Globo, no Jornal Hoje, de 10 de outubro de 2008, que mostra a dura realidade de uma criança que vive com quatro irmãos e seus pais na região semi-árida do Nordeste do país. Segundo a própria reportagem, o número de crianças desnutridas, nesta região, é quatro vezes maior que no resto do país. Maria Luiza é uma menina com 8 anos de idade, com aparência franzina, devido ao problema da fome que enfrenta desde o seu nascimento. Ela relata que chega até a comer barro para matar a fome: Não tem comida todo dia na minha casa. Eu fico chateada, choro, vou em todo canto, mas não tem Essas são as palavras da própria Maria Luiza para a repórter. Sua mãe, Claudenice da Silva, também dá uma declaração triste sobre a realidade que enfrentam: É duro a gente ouvir um filho dizer que quer comer e não ter o que dar. Quando eu vejo que não tem, eu já saio à noite para conseguir comida para a manhã.

A matéria traz a declaração de uma pediatra, segundo a qual os efeitos da fome na infância são drásticos, pois dependendo da intensidade da desnutrição, a criança irá sofrer com as seqüelas no resto de sua vida. Poderão ocorrer problemas como o comprometimento metabólico, distúrbios metabólicos, redução da imunidade e infecções por conseqüência disso. Afirma, ainda, que a criança poderá tornar-se um adulto com retardo no desenvolvimento psíquico, com sua saúde comprometida por toda a sua vida. São declarações como essas que mostram o quanto é importante que se adote políticas públicas visando o combate a fome. Além de a saciedade ser um direito estabelecido pela constituição, uma pessoa que tem sua infância marcada pela fome irá, com certeza, onerar os cofres públicos futuramente com tratamento de doenças que irão se desenvolver, por existirem problemas em seu desenvolvimento. Este trabalho mostrou, ainda, que mais da metade da população do país, de cor preta ou parda sofre com algum tipo de insegurança alimentar, chegando a mais de 45 milhões de pessoas. No Brasil, após o período de escravidão, grandes bolsões de pobreza foram se formando em algumas regiões, principalmente no nordeste. Como a questão da segurança alimentar também esta diretamente ligada à pobreza, essa parcela da população, pobre e marginalizada, propaga ainda mais a pobreza e a situação da fome no país. Por isso, concluise que é importante investir em políticas sociais, no país, que possam visar o auxílio a esta população que sofre com a marginalização e pobreza. Pode-se citar como exemplo de políticas de redução das diferenças sociais as cotas, em concursos e universidades do país. Estas são iniciativas do poder público que podem melhorar a questão da segregação racial no país, para uma melhor qualidade de vida para todos. Vê-se também, que no Brasil, mais da metade dos domicílios rurais sofrem com a insegurança alimentar. No Paraná, a situação se inverte, pois o número de domicílios com problemas de insegurança alimentar é maior na área urbana. Isso nos faz pensar sobre as políticas de agricultura familiar adotadas no país. Levando-se em conta que os problemas de segurança alimentar são enfrentados, principalmente, por pequenos agricultores, concluímos que os programas de incentivo a agricultura familiar tem importante papel no combate a fome. Temos, ainda, programas como o citado no capítulo II: o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, além do programa de construção de cisternas, para famílias de agricultores nordestinos que sofrem com os problemas da seca, etc. É complexo pensar que em um país com tanta produção agrícola, os próprios produtores rurais sofram com a insegurança alimentar. Novamente, volta-se para a questão da concentração de renda, que, claramente é o que nos faz entender o porque da referida população rural sofrer com os problemas de insegurança alimentar. Vê-se que a concentração de renda, no país, dá-se não somente no meio urbano, mas o mesmo acontece com a população rural. Isto é, para se ter tanta produção e, ao mesmo tempo, tanta gente passando fome neste meio, só pode ser porque a produção está concentrada nas mãos de poucas pessoas. É sobre a população mais pobre da área rural que os programas governamentais já comentados e também outros, como o Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF), por exemplo, devem assistir. É claro que a produção atual é importante, não só para a Segurança Alimentar do país como um todo, mas para o superávit primário também. Mas, não se deve esquecer de que alimentar-se é um direito de todos e já que o país é beneficiado com riqueza de recursos naturais, não faz sentido deixar que milhões de pessoas passem fome, ou se alimentem de maneira insuficiente. A constatação de que a concentração de renda é um dos principais causadores da insegurança alimentar no país, foi mais uma vez comprovada, quando se analisou a situação da insegurança alimentar por faixas de renda. Percebeu-se, então, que, na população com até

¼ do salário mínimo, mais de 16 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar e mais de 5 milhões sofriam de insegurança alimentar grave. É como se disséssemos que, aproximadamente, toda a população dos estados do Paraná e Santa Catarina tivesse problemas de insegurança alimentar e, aproximadamente, a população do estado de Goiás passasse fome. No Paraná, a falta de recursos financeiros para comprar comida leva mais de meio milhão de pessoas a passarem fome. Concluí-se, assim, que devem ser mantidos e ampliados os programas de distribuição de renda no Brasil, como o Bolsa-Família, por exemplo. Além disso, é de fundamental importância melhorar a gestão e distribuição dos recursos destes programas. Além deste, programas como o dos restaurantes populares também são importantes para a redução dos níveis de insegurança alimentar no Brasil e Paraná. Mas, também é importante criar condições para que o indivíduo possa ter fontes sustentáveis de rendimento. Ou seja, criar políticas sociais de redução do desemprego, como também programas de capacitação para o trabalho. Os investimentos de curto prazo, para a melhoria na segurança alimentar da população, são importantíssimos, mas relembrando o próprio conceito de sustentabilidade da segurança alimentar, é preciso investir em políticas que desenvolvam um melhor nível de distribuição de renda. Para que isso aconteça, um dos passos é investir na educação, assim como na qualidade educacional do país, a fim de se obter retornos de longo prazo. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARBACHE, J. S. Pobreza e mercados no Brasil: uma análise de iniciativa de políticas públicas. Brasília: CEPAL, 2003. BARROS, R. P.; FOGUEL, M. N. ; ULYSSEA, G. Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: IPEA, 2006. BRASIL. Casa Civil. Lei n. 11.346, de 15 de setembro de 2006. Dispõe sobre a criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/consea/static/eventos/losan.htm> Acesso em 3 jun. 2008. BRUM, A. J. Desenvolvimento econômico brasileiro. 15. ed. São Paulo: Vozes, 1995. Crianças sofrem os efeitos mais perversos da fome no Brasil. Jornal Hoje, São Paulo, 10 out. 2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,mul793941-16022,00- CRIANCAS+SOFREM+OS+EFEITOS+MAIS+PERVERSOS+DA+FOME+NO+BRASIL.h tml>. Acesso em: 29 out. 2008 CUNHA, A. R. A. A.; LEMOS, M. B. Segurança alimentar sob o prisma das políticas urbanas de abastecimento. Belo Horizonte: UFMG, 1997. FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A. Curso de Estatística. 6ª. ed. São Paulo: Atlas, 2008. FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 25. ed. Petrópolis: Companhia Editora Nacional, 1995.

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