O perfil do regente-arranjador e a presença de arranjos no repertório coral brasileiro

Documentos relacionados
O pianista colaborador de coro e o ensino de suas competências. Pôster

ARRANJOS VOCAIS POLIFÔNICOS E HOMOFÔNICOS: DESAFIOS NO REPERTÓRIO DO CORO EM CORES.

Biografia: Nasceu em 05/05/1935 (82 anos) em São Paulo.

TENEBRAE FACTAE SUNT, PASTORINHAS e ABC DO SERTÃO *

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

REGULAMENTO I FESTIVAL DE CORAIS DE JARAGUÁ DO SUL

Coordenadora da Ação: Ana Lúcia Iara Gaborim Moreira 1 Autoras: Vanessa Araújo da Silva, Ana Lúcia Iara Gaborim Moreira 2

O segundo workshop trata das questões da duração: pulso, métrica, andamento, agógica, sistemas rítmicos.

Declaro, para fins de Prova de Títulos, que o presente caderno está organizado da seguinte forma:

2ª ACADEMIA CANTO EM TRANCOSO

36ª Reunião Nacional da ANPEd 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia-GO

Processos de composição colaborativa: um relato de experiência no grupo musical Confraria de La Yerba. Poster. Introdução

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES CAROLINA ANDRADE OLIVEIRA

ATIVIDADES Oficina de técnica vocal; Concerto didático; Apreciação e contextualização do repertório coral.

Ensino, pesquisa e extensão: Uma análise das atividades desenvolvidas no GPAM e suas contribuições para a formação acadêmica

TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS DOS EGRESSOS DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO E PEDAGOGIA DA FIBRA ( )

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Campus São Paulo. Manual para Elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso 2017 (TCC 2017)

PRÁTICA CORAL: UM PANORAMA DAS PUBLICAÇÕES DE ANAIS DE ENCONTROS E CONGRESSOS DA ABEM E ANPPOM DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS ( )

Canto Coral em Currais Novos: uma experiência em grupo

FORMULÁRIO DE PONTUAÇÃO DA PROVA DE TÍTULOS PARA O CARGO DE PROFESSOR SUBSTITUTO E PARA O CARGO DE PROFESSOR TEMPORÁRIO

Ficha técnica. Músicos. Produção. Coordenação Artística

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CORO DE CÂMARA COMUNICANTUS

1- APRESENTAÇÃO e JUSTIFICATIVA:

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CORO DE CÂMARA COMUNICANTUS

A TRAJETÓRIA DO CANTO LÍRICO EM GOIÂNIA: ENSINO E PERFORMANCE

Canto Coral no Ensino Médio: Um mapeamento das produções de 2013 e 2015 da ABEM. Pôster

CMU5571 Biografia e autobiografia na pesquisa em Música. Tema da aula: Biografia e autobiografia na pesquisa em Música (apresentação do curso)

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CORO DE CÂMARA COMUNICANTUS

Apresentação. Regência. Orquestras e Coro. Proposta de Formação. Proposta Comercial. Patrocínio Contrapartida. Contatos

ARRANJADORES BRASILEIROS E PROCESSOS DE HIBRIDAÇÃO EM CANTO CORAL

SÚMULA CURRICULAR PROCESSO SELETIVO DE PROFESSORES DA ESCOLA DE MÚSICA DO ESTADO DE SÃO PAULO TOM JOBIM

Data Horário Atividade. 27/06/2016 A partir das 14h Homologação das inscrições (Site do IFRS Campus Porto Alegre).

PRODUTO TÉCNICO DO MESTRADO PROFISSIONAL INTRODUÇÃO

1ª Série. 2MUT041 CANTO CORAL I Montagem e Apresentação de Repertório coral de estilos e gêneros variados.


A FORMAÇÃO INICIAL DO ALFABETIZADOR: UMA ANÁLISE NOS CURSOS DE PEDAGOGIA

LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES

O ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NAS ESCOLSA ESTADUAIS DE DOURADOS/MS RESUMO INTRODUÇÃO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE MÚSICA

1ª Série. 2MUT041 CANTO CORAL I Montagem e Apresentação de Repertório coral de estilos e gêneros variados.

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. EDITAL SEPLAG/UEMG Nº. 08 /2014, de 28 de novembro de 2014

A PROFISSIONALIDADE DO BACHAREL DOCENTE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Fazem parte do processo de seleção as seguintes etapas:

Camerata Nova de Música Contemporânea da UFRN apresenta música armorial nordestina. Apresentação Artística

TEMAS DAS AULAS TESTES Edital 014/2018

Estágio I - Introdução

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CORO DE CÂMARA COMUNICANTUS

Escola de Música da UFMG

INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ESCOLA

ANYELLE CAROLINE CORDEIRO

PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CURSO: MÚSICA LICENCIATURA EMENTAS º PERÍODO

Uma Análise da História da Matemática presente nos Livros Paradidáticos de Matemática

Regulamento da XX Maratona Cultural ACESC Mostra ACESC de Coral

BANDAS DE MÚSICA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A TRAJETÓRIA DOS MAESTROS DO VALE DO JAGUARIBE

Você quer se formar em Música?

O ACESSO E PERMANÊNCIA DE JOVENS DE ORIGEM POPULAR NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA BAHIA RESUMO

EDITORIAL 6 REVISTA NUPEART VOLUME

A PESQUISA SOBRE O PROFESSOR INICIANTE E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS MARIANO

OFICINA PERMANENTE DE TEATRO (OPT)

O ESTADO DO CONHECIMENTO DAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE A FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFESSORES DE EJA

CONCEPÇÕES DOS DISCENTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (CFP/UFCG) SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

REGULAMENTO FIC CAMBORIÚ

DIVISÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

ENSINO MÉDIO INTEGRADO/ TÉCNICO EM INSTRUMENTO MUSICAL. DO COLÉGIO Pedro II. Pôster

Currículo Versão 2018/ HORÁRIO (2019/1) - 1º PERÍODO / Currículo Versão 2018 HORÁRIO 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira

Ensino em arquitetura e urbanismo: meios digitais e processos de projeto

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC) Departamento de Música (DEMUS)

DOCÊNCIA E PROFISSIONALIDADE: PERFIL BIOGRÁFICO E PROFISSIONAL DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS INICIANTES

15 Congresso de Iniciação Científica A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: PERÍODO

A Violência Simbólica presente em testes de seleção para corais infantis. Pedro Henrique Brinck Camargo

REGULAMENTO XVI Festival Paraibano de Coros FEPAC 2018

Venâncio Bonfim-Silva 1 Edinaldo Medeiros Carmo 2 INTRODUÇÃO

Agenda Cultural. SUCESSO E REALIZAÇÕES EM 30 ANOS DE CARREIRA Maestro Ricardo Rocha. Ed. 18 Novembro de 2012

Extension course in music - ecm: group guitar lessons

A prática do professor que ensina matemática nos anos iniciais

Palavras-chave: Formação e Profissionalização docente; Estado da arte; ANPEd

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Campus de São Paulo. Manual para Elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso

REPERTÓRIO BRASILEIRO PARA PIANO SOLO - LEVANTAMENTO DE OBRAS MUSICAIS, ORGANIZAÇÃO E ESTUDO PARA COMPOSIÇÃO

Cia. Mundu Rodá de Teatro Físico e Dança

[T] SOUZA, E. C. de; MIGNOT, A. C. V. (Org.). História de vida e formação de professores. Rio de Janeiro: Quartet; FAPERJ, 2008.

CURSO: MÚSICA EMENTAS º PERÍODO

CONCURSO JOVENS SOLISTAS DA OSESP. A Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo anuncia a realização do CONCURSO JOVENS SOLISTAS DA OSESP.

A AÇÃO DO ESTADO E DO MERCADO IMOBILIÁRIO NO PROCESSO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM ILHA COMPRIDA - SP

DANÇA, EDUCAÇÃO FÍSICA E EDUCAÇÃO INFANTIL

Música e inclusão: O ensino da musicografia braile para alunos com deficiência visual

PANORAMA DAS TESES E DISSERTAÇÕES BRASILEIRAS E PORTUGUESAS SOBRE EDUCAÇÃO CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE

Na seção 3 é usada uma análise de agrupamentos em termos dos indicadores para melhor entendimento da associação com o nível de desempenho.

GÊNERO E SINDICALISMO DOCENTE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PRODUÇÃO PUBLICADA NA CAPES

EDITAL N 01/2017. Projeto Direito à Arte

CURSO: MÚSICA LICENCIATURA EMENTAS º PERÍODO

ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA): PROPOSTA INTERDISCIPLINAR A PARTIR DA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO RESUMO

EDITAL 008/2016 REGULAMENTO DO I ENCONTRO DE VOZES DE PONTA GROSSA

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Centro de Artes e Comunicação Departamento de Música

III Festival de Canto Coral em Gramado-RS Dias 07, 08 e 09 de junho de REGULAMENTO

Edital : EDITAL PAEX Coordenadora: Viviane Beineke. Contato : Homologação : 26/10/2016. Data de Inicio : 01/03/2017

Regulamento da XIX Maratona Cultural ACESC Mostra ACESC de Coral

A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM/LIBRAS E O ALUNO SURDO: UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA

CORAL VOZES DA PERIFERIA

TENDÊNCIAS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA NO BRASIL DE 2000 A 2013: EVENTOS CIENTÍFICOS

Transcrição:

E CAROLINA ANDRADE OLIVEIRA ECA/USP - carol_spm@yahoo.com.br SUSANA CECILIA IGAYARA-SOUZA ECA/USP - susanaiga@gmail.com m nossa pesquisa de mestrado, buscamos investigar, identificar e analisar as práticas do regente-arranjador no ensaio e na performance de seus próprios arranjos de música brasileira, bem como discutir a circulação desse repertório no ambiente coral. Através de um levantamento bibliográfico, foram localizados trabalhos que versam sobre arranjadores (SILVA; BORÉM 2005; TEIXEIRA, 2013; SOARES, 2013), sobre a técnica dos arranjos (SOBOLL, 2007; CARVALHO, 2009, 2013; PEREIRA, 2013), sobre a discussão do arranjo na cultura brasileira (CAMARGO, 2010; MÜLLER, 2013) e sobre arranjo e educação musical (SOUZA, 2003). Para este artigo, focamos em dois aspectos. O primeiro é o perfil do regente-arranjador, a partir da investigação das trajetórias acadêmicas e profissionais de um grupo de pessoas atuantes no ambiente coral brasileiro a partir dos anos 70 até hoje, como regentes e arranjadores de coros ou grupos vocais. Nesta fase da pesquisa, recorremos ao uso da prosopografia 61, recolhendo dados biográficos de regentes-arranjadores e formando um mapa analítico das categorias consideradas fundamentais para entender como se forma um profissional com esse perfil. O segundo aspecto é a presença de arranjos no repertório coral. Através de uma análise quantitativa utilizando programas de concertos de encontro corais, identificamos a porcentagem de arranjos em relação à de composições. 61 A prosopografia é a investigação das características comuns de um grupo de atores na história por meio de um estudo coletivo de suas vidas. (STONE, 2011, p. 115).

152 Metodologia Evitando correr o risco de generalizar alguns resultados, optamos por fazer um recorte geográfico e temporal, para trabalharmos com um número menor de dados. Para a aplicação do método prosopográfico, definimos listar regentes-arranjadores do Sudeste do Brasil (nascidos e/ou que atuaram nele) e atuantes partir dos anos 1970, com algum arranjo de música brasileira em sua produção. Para a coleta de dados biográficos, escolhemos utilizar apenas fontes provenientes da internet. Apesar de essa escolha eliminar não usuários de internet, acreditamos que abrange a maior parte da comunidade coral, visto que se usa cada vez mais esta tecnologia para facilitar a reunião de pessoas, o que é uma característica inerente a grupos corais. Através da internet, fizemos uso de diversas fontes: currículos artísticos; currículos lattes; Artigos, teses ou dissertações; redes sociais e sites de compartilhamento de áudios ou vídeos; sites diversos da área coral. Para formar um mapa analítico, foram escolhidas e categorizadas as seguintes variáveis: Gênero; Local de nascimento; Ano de nascimento; Local de atuação como regente-arranjador; Formação musical; Outras formações; Instrumentos que domina/canto; Profissão principal; Gênero musical; Atividade coral desde quando; Coros em que trabalha (trabalhou) [tipo]; Repertório. Para investigar a presença de arranjos no repertório coral, analisamos programas de concerto, comparando a quantidade de arranjos em relação à de composições, também separando músicas brasileiras e internacionais. A pesquisa analisará algumas séries de encontros corais, para este trabalho será analisada a Mostra Vocal em suas primeiras quatro edições (1991 a 1994). Esta série foi coordenada pelo regente-arranjador Marcelo Recski e promovida pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Análise dos dados: perfil do regente-arranjador Nossa pesquisa coletou dados de 32 regentesarranjadores (Sudeste, desde 1970). Algumas das informações inicialmente escolhidas para serem coletadas nesta pesquisa simplesmente não são encontradas na grande maioria dos currículos artísticos e demais fontes analisadas. Outras formações, que talvez viesse a confirmar uma suspeita nossa de que regentes-arranjadores vêm de outras áreas que não a música, não foram informadas em 81% dos currículos. Mas não há como saber se esta falta de informação é por inexistência ou omissão. O fato é que nossa suspeita não se confirmou, visto que apenas 12% não têm ou não informam sua formação (musical ou não). Os outros 88% têm formação musical (inclusive os que declaram outras formações). Os níveis de formação musical vão de técnico a doutorado. Ainda relacionado à formação do regente-arranjador, atividade coral desde quando é um dado quase sempre desprezado nos currículos, talvez por não considerá-lo importante em sua descrição profissional, os pesquisados não o fornecem, assim como ano e local de nascimento os poucos dados encontrados foram obtidos em redes sociais. Localizar quando o indivíduo adentrou no ambiente coral normalmente iniciando como coralista torna-se quase impossível, visto que currículos artísticos tendem a não narrar inícios de carreira e ambientes de aprendizagem. Paz (2014) relata o silêncio dos dados de sua pesquisa, analisando a ausência de informações sobre as primeiras e últimas aprendizagens de músicos da elite musical portuguesa: 153 Muitos artistas foram formados em contexto profissional e, nos vários momentos em que as suas biografias foram escritas e rescritas, nem sempre fez sentido nomear determinado ambiente como local de aprendizagem. [...] incapazes de designar muitas aprendizagens como tal, as narrativas de vida fazem frequentemente surgir do passado figuras que, com algum tipo de educação ou contacto com a prática musical, rapidamente passaram a um estádio de excelência musical que as tornou dignas de memória. Ou

será, no limite, impossível designar este primeiro e este último ambiente de formação? (PAZ, 2014, p.13-14). 154 Os gêneros musicais e o repertório são informações também desconsideradas nos currículos. Isso nos sugere uma possível característica: a diversidade de gêneros e repertórios trabalhados, considerando que estes indivíduos atuem em mais de um grupo com perfis diferentes, ou diversifiquem o repertório num mesmo coro. Posteriormente, isto será verificado através de análise dos programas e das entrevistas. Como as fontes indicam apenas o nome dos coros, sem preocupações com descrições, coros que trabalha (trabalhou) [tipo] também necessitará uma investigação secundária. Seguindo a metodologia da prosopografia, ou seja, buscando uma biografia coletiva do regente-arranjador coral a partir de 1970 no sudeste brasileiro, vemos: 75% masculino, nascido e/ou atuante principalmente em São Paulo (28% e 40%), 53% dos que declaram sua formação musical possui pósgraduação, 25% pianista, 62% tem como profissão principal ser regente coral e 75% exerce atividade de docência. Trabalham fora do Sudeste somente dois dos regentesarranjadores nascidos nele. A discussão sobre migração foge do âmbito deste trabalho, mas este dado reforça a opinião geral de um mercado de trabalho bastante ativo no Sudeste. Gráficos 1 e 2: Local de nascimento e Local de atuação. Apenas 12% dos pesquisados é formado em Regência, apontando uma forte característica do regentes-arranjador que é a multidisciplinaridade, com bacharéis em instrumento ou licenciadas. As formações também apontam para carreiras acadêmicas, visto que mais da metade possui pós-graduação.

Gráficos 3 e 4: Formação musical e Outras formações. Entre os regentes-arranjadores há um predomínio de pianistas (25%), violonistas (18%) e cantores (18%), porém vale ressaltar que 46% não declarou que instrumento domina ou se é cantor em nenhuma das fontes pesquisadas. Gráfico 5: Instrumento que domina / Canto. Grande parte dos regentes-arranjadores (62%) tem como profissão principal ser regente coral, seguido por ser professor universitário (18%). Porém a maioria (75%) é ou atuou também como professor, seja em conservatórios, escolas regulares, universidades, festivais etc. O que reafirma a estreita relação do ambiente coral com a educação musical. 155 Gráficos 6 e 7: Profissão principal e Se é professor. Análise dos dados: presença de arranjos Nossa pesquisa analisou os programas de concerto das quatro primeiras edições da Mostra Vocal, listando e categorizando as músicas executadas pelos coros adultos

156 participantes 62. Definimos quatro categorias: Composições internacionais; Arranjos de músicas internacionais; Composições brasileiras; e Arranjos de músicas brasileiras, sendo esta última o principal foco de nossa investigação. No decorrer das edições, a quantidade de coros participantes variou de 8 grupos na primeira edição, para 23 na quarta o que, consequentemente, fez variar bastante a quantidade de músicas executadas de 50 para 125, porém podemos perceber algumas tendências e predominâncias de repertório ao longo de todas as edições 63. Observando os gráficos separados das edições, vemos que há um predomínio de arranjos em relação a composições (1ª 76%, 2ª 82%, 3ª 55% e 4ª 66%). Se considerarmos somente os arranjos de música brasileira, ainda teremos maioria, com exceção da 2ª edição, em que a quantidade de arranjos internacionais é maior. Essa alteração pode ser explicada por uma forte tendência da época de spirituals afroamericanos no repertório, tendo, por exemplo, um dos coros, feito um programa inteiro com esse gênero. Vários grupos têm seus programas inteiros só com arranjos, e alguns deles executam somente arranjos de músicas brasileiras, como o Coralusp grupo tarde (2ª edição) e o Coral Una Voz (4ª). Gráfico 8: Presença de arranjos x composições nas edições 1, 2, 3 e 4, respectivamente, da Mostra Vocal. 62 Os coros infantis e infantojuvenis não foram considerados na pesquisa por se dedicarem a um repertório específico para essas formações vocais, fugindo do âmbito desta pesquisa que se dedica a coros adultos. 63 Ressaltamos que alguns coros não informaram seus repertórios até o fechamento dos programas para serem impressos. Também é sabido que algumas vezes os grupos não executam exatamente o que foi informado nos programas.

Dos 36 grupos, listamos 282 músicas executadas, das quais 187 são arranjos, sendo 119 de música brasileira, que foram subcategorizados, dividindo-os em: Arranjos do próprio regente; Arranjos de outro regente; e Arranjos de outros 64. Muitos grupos executam arranjos de seu próprio regente (22%), como o Madrigal Meia Boca A. Zilahi (4ª edição) e o Grupo Canto Porque Gosto Julio G. Maluf (3ª). Porém boa parte dos arranjos executados foi feita por regentes de outros grupos (47%), o que diz muito sobre a circulação massiva desse tipo de repertório entre os coros. Unindo estas duas parcelas, temos 69% dos arranjos sendo criações de regentes-arranjadores. Gráficos 9 e 10: Acumulado das edições da Mostra Vocal e Arranjos de música brasileira feitos por regentes-arranjadores. 157 Considerações finais e próximos passos da análise Como resultados parciais, temos um perfil preliminar do regente-arranjador e uma confirmação do seu papel na transformação das práticas corais a partir dos anos 70. Confirmamos também o potencial do método prosopográfico e dos programas de concerto na análise da circulação do repertório coral no Brasil no período estudado (1991 a 1994). A prosopografia é um método que não se esgota em si mesmo, ele serve para explorar e apontar as características comuns de um determinado grupo de pessoas. Este estudo coletivo nos deu base para projetar o perfil do regentearranjador brasileiro. Para aprofundar a análise e elucidar alguns pontos que ficaram vagos, tomamos como próximos passos da análise a particularização de alguns indivíduos, usando entrevistas semiestruturadas. 64 Arranjos de outros considera arranjos de músicos não-regentes e também arranjos em que o arranjador não foi informado.

158 Referências bibliográficas CAMARGO, Cristina Moura Emboaba da Costa Julião. Criação e arranjo: modelos para o repertório de canto coral no Brasil. Dissertação (Mestrado em Música). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010. CARVALHO, Rogerio Lacerda. O arranjo vocal de canção popular brasileira: Villa-Lobos, Os Cariocas e Marcos Leite. Dissertação (Mestrado em Música). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. CARVALHO, Rogério. A Textura no Arranjo Vocal de Música Popular Brasileira. XXIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Música Natal, 2013. MÜLLER, Cristiane. O cantor emancipado: Coro Cênico como transformador do movimento coral no Sul do Brasil. Dissertação de mestrado. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina, 2013. PAZ, Ana Luísa (2014, no prelo). A elite musical portuguesa: Sua prospeção e prosopografia. Atas do II Congresso Anual de História Contemporânea. Évora, 16 a 18 de Maio de 2013 (18 págs.). Évora: Universidade de Évora. PEREIRA, André Protásio. Arranjo vocal de Música Popular Brasileira para coro a cappella: estudos de caso e proposta metodológica. Dissertação de mestrado UNIRIO Rio de Janeiro, 2006. SILVA, Flávio Mateus da; BORÉM, Fausto. Marcos Leite e seus arranjos vocais para o grupo vocal Garganta Profunda: aspectos históricos e estilísticos. XV Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Música Rio de Janeiro, 2005. SOARES, Lineu Formighieri. A escrita coral para a Música Popular Brasileira na visão de Marcos Leite. Dissertação de mestrado Universidade Estadual de Campinas Campinas, 2013. SOBOLL, Renate Stephanes. Arranjos de música regional do sertão caipira e sua inserção no repertório de coros amadores. Dissertação de mestrado Universidade Federal de Goiás Goiânia, 2007. SOUZA, Sandra Mendes Sampaio de. O arranjo coral de música popular brasileira e sua utilização como elemento de educação musical. Dissertação (Mestrado em Música). São José do Rio Preto: Universidade Est. Paulista Júlio Mesquita Filho, 2003. STONE, L. Prosopografia. Revista de Sociologia e Política, v. 19, n. 39, p. 115-137. Curitiba, 2011. TEIXEIRA, Paulo Frederico de Andrade. Samuel Kerr: um recorte analítico para performance de seus arranjos. Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013.