Autos n 186-80.2016.6.24.0003 Assunto: Representação Representante: COLIGAÇÃO PACTO POR BLUMENAU (PSDB / PSB / PRP / PT do B / PMDB / PV / PP / DEM / PTC / SD / PMB / PTB) Representada: COLIGAÇÃO CORAGEM PARA MUDAR BLUMENAU (PDT / PPL) e IVAN NATZ. Vistos para sentença. COLIGAÇÃO PACTO POR BLUMENAU (PSDB / PSB / PRP / PT do B / PMDB / PV / PP / DEM / PTC / SD / PMB / PTB) apresentou Representação Eleitoral por Propaganda Eleitoral Ilegal contra COLIGAÇÃO CORAGEM PARA MUDAR BLUMENAU (PDT / PPL) e IVAN NATZ, objetivando a edição da tutela jurisdicional, inclusive liminarmente, no sentido de determinar que os representados se abstenham de re(apresentar) a propaganda eleitoral em foco, veiculada no dia 21 de setembro de 2016, no bloco nas 13h00min, ou outra de maneira similar, que busque recriar efeitos parecidos ou análogos, ridicularizando o candidato NAPOLEÃO BERNARDES por meio de trucagens e efeitos especiais, com a consequente perda do dobro do tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita. Para tanto, argumentou que na referida propaganda eleitoral o representado IVAN NATZ ofende e ridiculariza gratuitamente os candidatos JEAN KUHLMANN e NAPOLEÃO BERNARDES NETO por meio de montagens, animação gráfica e efeitos especiais computadorizados. Formulou os requerimentos de estilo e juntou documentos. Por meio do interlocutório de fls. 13-15 foi deferido o pedido liminar formulado. Regularmente notificados, os representados não se manifestaram a respeito (fl. 24).
Instada, a representante do Ministério Público manifestou-se pela procedência do pedido. Vieram os autos conclusos. É o relatório, em síntese. Considerando que a presente representação comporta imediata decisão, porquanto desnecessárias quaisquer outras provas, passo a decidir. Inicialmente, importa reconhecer a condição de revel dos representados, eis que, regularmente notificados, não apresentaram qualquer defesa, consoante certidão de fl. 24, recaindo sobre os fatos afirmados a presunção de veracidade, nos termos do art. 334 do Código de Processo Civil. Não obstante isso, procedida detida análise dos autos, observo que os elementos probatórios anexados e a respectiva legislação invocada, convergem para a procedência do pedido. Vejamos. A matéria em análise está regulada pelos artigos 53 e 54 da Resolução TSE nº. 23.457/2015, que assim dispõem: Art. 53. Nos programas e inserções de rádio e de televisão destinados à propaganda eleitoral gratuita de cada partido ou coligação só poderão aparecer, em gravações internas e externas, observado o disposto no 2º, candidatos, caracteres com propostas, fotos, jingles, clipes com música ou vinhetas, inclusive de passagem, com indicação do número do candidato ou do partido, bem como de seus apoiadores, inclusive os candidatos de que trata o 1º do art. 52, que poderão dispor de até vinte e cinco por cento do tempo de cada programa ou inserção, sendo vedadas montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais (Lei nº 9.504/1997, art. 54). [...] Art. 54. Na propaganda eleitoral gratuita, é vedado ao partido político, à coligação ou ao candidato, transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta
popular de natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados, assim como usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou de vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito (Lei nº 9.504/1997, art. 55, caput, c.c. o art. 45, caput e incisos I e II). Como se vê a legislação eleitoral veda a utilização, na propaganda eleitoral gratuita, de montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais outro recurso de áudio ou de vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzam ou veiculem programa com esse efeito. A esse respeito, há que se levar em conta que, em proporções moderadas, até se tem admitido o emprego de recursos de computação gráfica, desde que preservem a licitude do teor do material de propaganda eleitoral então veiculado. Contudo, o emprego de tais recursos há de ser razoável e compatível ao fim a que se destina a propaganda eleitoral, não podendo se prestar a criar falsa sensação de realidade, tampouco provocar efeitos mentais hábeis a ferir imagem de candidato ou coligação alheia. Este é o propósito da proibição de que tratam os artigos 53 e 54 da Resolução nº 23.457/2015, cujos comandos alcançam justamente os conteúdos que extrapolam o razoável a ponto de afetar a noção da realidade, criar sensações fantasiosas e prejudiciais a oposições partidárias. No caso, conforme se extrai da mídia anexada à fl. 08, na propaganda eleitoral gratuita em questão, o representado IVAN NATZ fez uso de desenhos animados, efeitos e computação gráfica, reproduzindo, com isso, uma espécie de caricatura pejorativa dos candidatos JEAN KUHLMANN e NAPOLEÃO BERNARDES (com estilo corporal idêntico, em forma figurada,
associada à montagem feita com a imagem/fotografia do rosto respectivo e cada qual com um pássaro no ombro, um reportando ao partido e outro à pessoa do vice respectivo, ambos com movimentos repetidos identicamente), denotando inquestionável tom de escárnio em prejuízo da imagem dos candidatos atingidos. Enquanto reproduzia tal conteúdo gráfico, o aludido candidato ora representado passou aos telespectadores a seguinte mensagem: Você sabe a diferença entre o Jean e o Napoleão? Eu também não sei. Seus partidos governaram juntos a cidade desde 2005. Os dois foram contra a instalação da CPI do transporte coletivo. Deixaram a Foz arrebentar as ruas, aumentaram o IPTU, a água e o lixo. O Jean e o Napoleão têm um jogo combinado. Quem vencer traz quem perde. Deste modo, analisando o conteúdo gráfico utilizado, associado ao teor da transcrição supra, observa-se que tais meios foram empregados com o nítido propósito de ridicularizar os candidatos em foco, o que se agrava considerando o conteúdo da informação transmitida, que visa imbuir nos eleitores, mediante apelo emocional (também vedado pelo art. 6º, da Resolução TSE n. 23.457/15) a percepção de que os candidatos JEAN KUHLMANN e NAPOLEÃO BERNARDES guardam similitudes e interesses afins. Referida premissa foi intencionalmente vinculada à identidade das aves ali dispostas (com o emprego de fotomontagem), tendo sido este o ponto em comum a partir do qual o representado IVAN NAATZ desenvolveu seus questionamentos e afirmações. Igualmente, não há dúvida de que referida conduta traduziu potencial risco de repercutir prejuízo à imagem dos candidatos JEAN KUHLMANN e NAPOLEÃO BERNARDES NETO, opositores políticos. Nesse sentido: RECURSO ELEITORAL. PROPAGANDA GRATUITA NA TELEVISÃO. VEICULAÇÃO SOB A FORMA DE INSERÇÕES
NA PROGRAMAÇÃO NORMAL DAS EMISSORAS. UTILIZAÇÃO DE FOTOGRAFIAS DESTACADAS POR MEIO DE COMPUTAÇÃO GRÁFICA. EMPREGO DE EFEITOS ESPECIAIS. IMPOSSIBILIDADE. VEDAÇÃO EXPLÍCITA (LEI Nº 9.504/97, art. 51, IV e art. 38, III, Resolução TSE 23.404/2014). 1. Na veiculação de inserções, a utilização de gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais, e a veiculação de mensagens que possam degradar ou ridicularizar candidato, partido ou coligação, independentemente de seu conteúdo e forma como foram produzidas, caracteriza vedação prevista no art. 51 da Lei 9.404/97 e art. 38, III, da Resolução n 23.404/2014 do TSE. 2. Constatada a veiculação de inserções produzidas com o uso de computação gráfica e efeitos especiais, resta caracterizada infringência à legislação eleitoral acima mencionada. 3. Nega-se provimento ao recurso. (TRE-DF. RECURSO EM REPRESENTAÇÃO nº 159375, Acórdão nº 6087 de 09/09/2014, Relator(a) CÉSAR LABOISSIERE LOYOLA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Volume 19:50, Data 09/09/2014, sem grifo no original). E mais: DIREITO DE RESPOSTA. PROPAGANDA ELEITORAL. VEICULAÇÃO DE CHARGES. RIDICULARIZAÇÃO DE CANDIDATO. I - Tendo a propaganda por objetivo ridicularizar candidato e suas propostas, transbordando os limites naturais do embate eleitoral, é de se reconhecer o direito de resposta ao atingido. II - Direito de resposta que se julga procedente. (TRE-DF. DIREITO DE RESPOSTA nº 1288, Acórdão nº 2374 de 30/08/2006, Relator(a) CÂNDIDO ARTUR MEDEIROS RIBEIRO FILHO, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 30/08/2006, sem grifo no original). Logo, considerada a evidente ilegalidade da propaganda eleitoral gratuita veiculada pelos representados, deve ser-lhes aplicada a penalidade prevista no parágrafo único do art. 54, com a perda do dobro do tempo utilizado
para tal prática. Veja-se: [...] Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o partido político ou a coligação à perda de tempo equivalente ao dobro do usado na prática do ilícito, no período do horário gratuito subsequente, dobrada a cada reincidência, devendo, o tempo correspondente ser veiculado após o programa dos demais candidatos com a informação de que a não veiculação do programa resulta de infração da lei eleitoral (Lei nº 9.504/1997, art. 55, parágrafo único). Sobre tal aspecto, observo que a mídia acostada à fl. 08, transmitida na propaganda eleitoral do bloco das 13h00min contém um total de 32 segundos, do qual o representado IVAN NATZ utilizou 24 (vinte e quatro) para a realização da trucagem supra transcrita (de 03 a 23 ). Assim, a perda do tempo utilizado para a prática do ilícito, nos termos parágrafo único do art. 54 deve corresponder ao total de 48 (quarenta e oito) segundos. DECISÃO DIANTE DO EXPOSTO, julgo procedente o pedido formulado para o fim de determinar que os representados COLIGAÇÃO CORAGEM PARA MUDAR BLUMENAU (PDT / PPL) e IVAN NATZ se abstenham de (re)apresentar a propaganda eleitoral gratuita em foco (transmitida no dia 21 de setembro de 2016, no bloco das 13h00min), assim como outra de formato similar, que busque recriar efeitos parecidos ou análogos, ridicularizando o candidato adversário por meio de trucagens e efeitos especiais. Em consequência, aplico aos representados a penalidade de perda de 48 (quarenta e oito) segundos da propaganda eleitoral gratuita, a serem descontados da propaganda eleitoral em rede/bloco subsequente à intimação e também na próxima inserção a ser veiculada (após a
transmissão da propaganda eleitoral em rede), de modo a alcançar o total de 48 segundos. Assinalo que o tempo correspondente à penalidade ora aplicada deverá ser veiculado após a transmissão do programa dos demais candidatos com a informação de que a não veiculação do programa resulta de infração da lei eleitoral (Lei nº 9.504/1997, art. 55, parágrafo único). Tratando-se de processo eleitoral, não há que se falar em custas processuais, tampouco em condenação em honorários advocatícios em razão de sucumbência (Respe n. 1832191SP, ReI. Min. Henrique Neves da Silva, DJe de 20.8.2014). Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Blumenau (SC), 26 de setembro de 2016 Quitéria Tamanini Vieira Péres Juíza Eleitoral da 3ª Zona Eleitoral