PROGRAMA INFORMATIVO SOBRE A ATUAÇÃO DA DOULA DURANTE A GESTAÇÃO, PARTO E PÓS-PARTO: INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL FIRMINO, L. A.¹ SOUZA, M. M. G. S.² ¹ Graduanda em Terapia Ocupacional, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq (PIBIC), Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, UNESP Marília. ² Doutoranda em Educação, linha de Educação Especial do Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual Paulista, UNESP Marília. Introdução. A terapia ocupacional trata e recupera a saúde dos indivíduos e considera-os de maneira global, em sua totalidade do ser e fazer, ao mesmo tempo reduzindo limitações, dificuldades e barreiras, descobrindo e estimulando talentos, habilidades e aptidões (ALMEIDA; TREVISAN, 2011). Esta profissão auxilia o indivíduo a iniciar, retornar, construir e reconstruir seus papeis ocupacionais, de maneira humanizada, eficaz e saudável, utilizando a atividade como ferramenta (MARTINS; CAMARGO, 2014). Neste sentido, a atuação da terapia ocupacional na Saúde da Mulher é de extrema importância, considerando que, atualmente, o cuidado ao público feminino está restringindo-se ao caráter biológico de aspectos como saúde sexual e reprodutiva. Desta forma, o terapeuta ocupacional pode garantir às mulheres a integralidade no cuidado, escuta qualificada e sensível de suas necessidades, sem desconsiderar questões de gênero, raça/cor, classe e geração (COELHO et al., 2009). As gestantes, em especial, passam por importantes mudanças em seus papeis ocupacionais quando passam ao papel de mães, o que pode ter várias implicações neste período. Logo, conforme a fundamentação da terapia ocupacional, o envolvimento em ocupações é fundamental para a estruturação do cotidiano destas mulheres, contribuindo para melhora na saúde e para o bem-estar, envolvendo aspectos emocionais, psicológicos, sociais e físicos (CRUZ; GUARANY, 2015). Neste processo, a terapia ocupacional utiliza-se de atividades criativas, lúdicas, expressivas e produtivas, proporciona qualidade de vida e auxilia a tornar as experiências da gestação prazerosas, trazendo benefícios físicos, mentais e psicológicos e melhora no desempenho ocupacional (CRUZ; GUARANY, 2015). Conforme estes aspectos, a humanização do parto, tema recorrente atualmente, envolve conhecimentos, práticas e atitudes que promovam partos e nascimentos mais saudáveis possível, desde o pré-natal, até o momento do parto em si. No parto humanizado, procura-se evitar que a mulher submeta-se a intervenções desnecessárias, garantindo que todos os procedimentos realizados sejam benéficos tanto para a mãe quanto para o bebê (BRASIL, 2001). A humanização do parto e da gestação deve configurar o nascimento como uma experiência positiva, satisfatória e transformadora tanto para a gestante, quanto para sua família. Assim, a mulher tem de estar no centro de todo o processo, com autonomia para tomar as decisões do momento, auxiliada por profissionais capacitados que garantam que todas as práticas sejam baseadas em evidências científicas (REBELLO; NETO, 2012). Neste contexto encontra-se a doula, palavra de origem grega cujo significado mulher que serve, remete a uma profissional treinada e capacitada a oferecer suporte informacional, físico e emocional a outras mulheres, na gestação, durante o parto e no pós-parto. A doula informa a mulher sobre todos os pormenores que envolvem a concepção, a gestação, o período do parto e o pós-parto, preparo para o parto, tipos de parto, desenrolar do parto, exercícios e melhores posições para facilitar o trabalho de parto, possíveis complicações e intervenções, analgesia, técnicas alternativas para alívio de dor, participação do pai na gestação e trabalho de parto, amamentação e
cuidados com o bebê (SOUZA; DIAS, 2010). O acompanhamento da gestante pela doula é importante e positivo, proporcionando encorajamento, conforto, empoderamento e benefícios físicos e psicossociais, associando-se a melhores resultados para a saúde do bebê e da futura mãe (BRASIL, 2001). A presença da doula durante a gestação, parto e pós-parto é geradora de apoio, coragem, alívio, amor e paz, pois esta desenvolve escuta ativa, receptiva e qualificada, dando voz a todas as necessidades da mulher. Deste modo, enfatiza-se a importância de uma parceria entre a terapia ocupacional e a doula. Sendo duas profissões capazes de oferecer recursos para atenção integral e humanizada à gestante, permitem a preparação e empoderamento necessários para vivenciar a gravidez, o parto e maternidade da melhor maneira possível, mesmo com todas as mudanças e adaptações requeridas neste novo ciclo. De acordo com todas as considerações realizadas, justifica-se a relevância da presente pesquisa, como forma de orientar as gestantes e mulheres em geral, sobre todos os aspectos concernentes à importância da atuação da doula na gestação, parto e pós-parto. Além disso, também busca-se enfatizar a terapia ocupacional neste processo, a fim de que estas mulheres adquiram os conhecimentos necessários para vivenciar da melhor maneira possível este tão importante período. Objetivo. Elaborar um programa informativo sobre a atuação da doula durante a gestação, parto e pós-parto. Método. O estudo será realizado de forma descritiva, com abordagem qualitativa. Para o desenvolvimento do estudo será elaborado um programa informativo na perspectiva da terapia ocupacional, com objetivo de conscientizar profissionais da área da saúde e da educação, bem como a população em geral sobre a atuação da doula durante todas as fases da gestação. Para tanto, o programa informativo consistirá em informações sobre: doula, terapia ocupacional, parto humanizado, violência obstétrica, lei do acompanhante e plano de parto. Em relação aos procedimentos de coleta de dados e análise de dados, o programa informativo será entregue a três doulas atuantes em uma cidade do interior do Estado de São Paulo, onde elas irão atuar como juízes desse material, para verificar a coerência e relevância das informações a serem disponibilizadas. Com o retorno das avaliações será avaliado o índice de concordância entre os juízes além de realizar a adequação da versão a ser disponibilizada em maternidades e ambientes frequentados por gestantes. Resultados parciais. Foi confeccionado um folheto informativo contendo informações que envolvem a atuação da Doula. O objetivo deste folheto consiste em disponibilizar informações concernentes ao conceito de Doula, descrevendo de forma objetiva como ela atua em suas atividades profissionais, quais procedimentos ela não faz e as vantagens da mulher ter o acompanhamento de uma Doula durante toda a gestação, parto e pós-parto. Posteriormente, serão confeccionados mais dois folhetos, que abordarão os temas: parto humanizado, violência obstétrica, lei do acompanhante e plano de parto. Segundo Rossi et al. (2012), os materiais didáticos, tais como o folheto proposto, são fontes de grande influência na aprendizagem, podendo modificar a maneira de compreensão dos conceitos que envolvem determinado assunto, sendo o caso do universo de atuação da Doula e do parto humanizado. A utilização deste tipo de material auxilia no entendimento e interpretação da informação, colaborando para a construção do conhecimento individual e coletivo, formando indivíduos conscientes de seus direitos e deveres em sociedade. Sobre a confecção do folheto, inicialmente, foi realizada uma busca nas bases de dados científicas: Scielo - Scientific Eletronic Library Online, CAPES - Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior e BVS Biblioteca Virtual em Saúde, a fim de reunir as informações necessárias para a confecção do folheto. Os descritores utilizados foram: doula, assistência e parto. Encontraram-se onze artigos científicos, que foram lidos na íntegra e dos quais foram selecionadas os dados mais relevantes sobre a atuação da Doula. A partir da seleção de tais informações, foi possível agrupá-las em quatro categorias temáticas que foram inseridas no folheto informativo, sendo elas: 1- O que é a Doula?; 2- O que a Doula faz?; 3- O que a Doula não faz?; 4- Vantagens do acompanhamento pela Doula. No primeiro tópico foi informado
sobre o que significa o conceito da Doula, sendo uma palavra de origem grega que significa mulher que serve. A doula é uma mulher treinada e capacitada que oferece à mulher informações, apoio físico e emocional durante a gestação, parto e no período pós-parto, dispondo de meios para que a mulher se empodere e viva seu parto plenamente, conscientemente e beneficamente (COSTA et al., 2013; FLEISCHER, 2006; LEÃO; OLIVEIRA, 2006; ). No tópico sobre o que a Doula faz, foi informado que durante a gestação, a doula orienta a mulher sobre como é o parto, desde o momento em que o trabalho de parto começa até o período do nascimento do bebê, e auxilia na montagem do plano de parto. A profissional orienta a mulher a como preparar-se para parir, o que acontece com o bebê e com o corpo da mulher em cada fase do parto, as melhores posturas e posições para parir, formas alternativas de alívio de dor, técnicas de respiração e relaxamento, intervenções e procedimentos que podem ocorrer durante o parto, além de apoio emocional e psicológico para a mulher. No momento do parto, a doula acompanha a gestante em todos os momentos, auxilia a mulher no posicionamento e nas posturas, utiliza técnicas para alívio de dor e relaxamento, auxilia no contato com a equipe e explica os procedimentos que estão sendo realizados. Além de estimular a participação do pai no momento do parto, e assegurar que o plano de parto, desejos e direitos da mulher sejam respeitados por todos. No pós-parto e puerpério a doula acompanha mãe e o bebê auxiliando no fortalecimento do vínculo mãebebê, nos cuidados com o recém-nascido, na adaptação à nova rotina e principalmente na amamentação (LEÃO; BASTOS, 2001; SILVA et al., 2012; SOUZA; DIAS, 2010). Com relação ao que a Doula não exerce, ela não realiza exames, não faz exame de toque, não avalia, não toma nenhuma decisão a respeito do parto, não cuida ou interfere no nascimento do bebê. Por fim, quando tratado sobre as vantagens do acompanhamento por uma doula, foi informado no folheto que esta auxilia durante a gestação, parto e pós-parto, traz vários benefícios para a mulher e para o bebê, dentre eles, é possível citar: redução do tempo em trabalho de parto; redução do uso de analgésicos; redução do uso de fórceps; redução das cesarianas; estímulo ao aleitamento materno imediato após o nascimento e exclusivo até o 6º mês; redução tempo de trabalho do parto; redução do uso de anestesia e aumento da probabilidade de satisfação da mulher com o parto (PUGIN, E. P. et al, 2008; SANTOS; NUNES, 2009; VALDÉS; MORLANS, 2005). Conclusão. A Doula é uma importante profissional atuante no universo do parto e nascimento, seu apoio pode proporcionar que mulheres passem por este processo de forma saudável, com plenitude e autonomia. Neste contexto, a terapia ocupacional pode auxiliar na divulgação de informações de qualidade, na vivência da transição para o papel ocupacional de mãe e na estimulação do vínculo mãe-paibebê.considerando-se a informação como ponto de partida para que se repensem conceitos, hábitos e condutas, ressalta-se a importância de um programa informativo para que mulheres, gestantes e famílias empoderem-se sobre o que envolve a gestação, parto e pós-parto, inclusive sobre a atuação da Doula e da terapia ocupacional. Desta forma, ao estarem portando informações de qualidade, as mulheres poderão ter maior segurança e autonomia para optar e decidir sobre o processo de nascimento de seus filhos e seu próprio nascimento como mães. REFERÊNCIAS ALMEIDA, D. T.; TREVISAN, E. R. Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em consonância com as transformações da assistência em Saúde Mental no Brasil. Interface: comunicação, saúde e educação, v.15, n.36, p.299-307, jan./mar., 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. COELHO, E. A. C. et al. Integralidade do cuidado à saúde da mulher: limites da prática profissional. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 13, n. 1, p. 154-160, 2009. COSTA, F. G. M. et al. Apoio emocional oferecido às parturientes: opinião das Doulas. REAS - Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 2, n. 3, p. 18-31, 2013. CRUZ, J. A.; GUARANY, N. R. Desempenho ocupacional e estresse: aplicação de manual de orientações e cuidados a gestantes de risco. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 26, n. 2, p. 201-206, maio/ago., 2015. FLEISCHER, S. Quem exotiza quem? Bastidores metodológicos do encontro de Uma antropóloga e um grupo de doulas. Barbarói - Revista do Departamento de Ciências Humanas e do Departamento de Psicologia, n. 25, v. 2, p. 121-134, 2006. LEÃO, M. R. C.; BASTOS, M. A. R. Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de parto: experiência do Hospital Sofia Feldman. Revista Latino-americana de Enfermagem, v. 9, n. 3, p. 90-94, maio, 2001. LEÃO, V. M.; OLIVEIRA, S. M. J. V. O Papel da Doula na assistência à parturiente. REME Revista Mineira de Enfermagem, v. 10, n. 1, p. 24-29, jan./mar., 2006. MARTINS, L. A., CAMARGO, M. J. G. O significado das atividades de Terapia Ocupacional no contexto de internamento de gestantes de alto risco. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 2, p. 361-371, 2014. PUGIN, E. P. et al. Uma experiência de acompañamiento com Doula a adolescentes em trabajo de parto. Revista Chilena de Obstetrícia e Ginecologia, v. 73, n. 4, p. 250-256, 2008. REBELLO, M. T. T. P.; NETO, J. F. R. Humanização da Assistência ao Parto na Percepção de Estudantes de Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 36, n. 2, p. 188 197, 2012. ROSSI, S. Q. et al. Um novo olhar sobre a elaboração de materiais didáticos para educação em saúde. Trabalho e Educação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 10 n. 1, p. 161-176, mar./jun., 2012. SANTOS, D. S.; NUNES, I. M. Doulas na assistência ao parto: concepção de profissionais de enfermagem. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 582-589, jul./set., 2009. SILVA, R. M. et al. Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 10, p. 2783-2794, 2012. SOUZA, K. R. F.; DIAS, M. D. História oral: a experiência das doulas no cuidado à mulher. Acta Paulista de Enfermagem, v. 23, n. 4, p. 493-499, 2010.
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