Impugnação ao Pedido de Registro de Candidatura Impugante: Jaime José de Oliveira Impugnante: Coligação Unidos para o Progresso PROCESSO Nº 1540/2008 ZONA ELEITORAL 290ª ZE, de Miradouro JUIZ PROLATOR Dr. Antonio Augusto Pavel Toledo DATA DA SENTENÇA 28/07/2008 DATA DA PUBLICAÇÃO 28/07/2008 HOUVE RECURSO? Não Vistos etc. Nos autos do pedido de registro de candidatura de Jaime José de Oliveira, a Coligação Unidos para o Progresso apresentou impugnação, consoante f. 21/24. Argumentou, o impugnante em síntese, que, segundo declaração acostada, o impugnado é analfabeto, mal conseguindo redigir um texto, devendo, portanto, ter indeferido o seu pedido de registro de candidatura, nos termos do artigo 1º, I, a, da Lei Complementar 64/90. Aduziu que o exercício da democracia demanda, imprescindivelmente, um nível mínimo de educação, formação cultural e social, sendo que o Legislativo exerce um papel fundamental de controle e delimitação na criação do Direito, esperando-se de seus integrantes um vasto conhecimento. Discorreu sobre a conceituação de alfabetização, asseverando
que, na atualidade, não basta saber ler e escrever para que o indivíduo seja considerado alfabetizado, pois deve ele compreender o que leu e saber redigir um texto autônomo. Foram juntados os documentos de f. 25/48. O impugnado, em contestação, f. 53/56, argumentou, também em resumo, que a declaração acostada aos autos prova que é alfabetizado, sendo maldosas as afirmativas do impugnante, tendo o único objetivo de constranger, humilhar, tripudiar, chegando a sugerir a submissão ateste de alfabetização. Ponderou que há muitas eleições o TSE tem reiteradamente decidido que, tendo sido apresentada declaração de próprio punho, qualquer outra exigência é desnecessária, sendo pacífica a matéria na jurisprudência. Ponderou que é servidor público municipal, ocupante do cargo efetivo de trabalhador braçal, tendo sido regularmente aprovado em concurso público. 57/59. Foram acostados os documentos de f. O Ministério Público, em parecer de f. 61/63, opinou pelo não acolhimento da impugnação, argumentando, em estreita síntese, que, devidamente examinada, a declaração firmada de próprio punho pelo précandidato Jaime José de Oliveira, embora demonstre que o mesmo não tenha caligrafia, não autoriza a conclusão de que seja analfabeto. Ponderou, por outro lado, que o pré-
candidato é servidor público municipal, tendo ascendido ao cargo por meio de concurso público de provas e títulos, testando o exame a sua condição de alfabetização, caso contrário não reuniria condições suficientes para aprovação. Asseverou, por fim, que a impugnação funda-se em apreciação subjetiva da Coligação impugnante, acometida, certamente, pela paixão própria do momento eleitoral. É o breve relato. Decido. complexidade. A questão não se reveste de qualquer A declaração acostada à f. 14, firmada pelo pré-candidato, efetivamente indica que o mesmo tem péssima caligrafia, o que demonstra uma extrema dificuldade de escrever, sugerindo não ser Jaime uma pessoa alfabetizada. A alfabetização é fundamental requisito constitucional para elegibilidade, e a Constituição da República, ao referir-se ao termo analfabeto, não explicou o seu significado, o que poderia sugerir uma análise da questão sob um enfoque voltado, no caso, concretamente, para o fim a que se destina a comprovação de alfabetização. Neste contexto mais amplo, não seria absurdo dizer que o exercício da atividade parlamentar exige algo além do simples conhecimento da escrita e da leitura.
Permite-se, porém, a comprovação da alfabetização para fins de candidatura por simples documento de escolaridade, qualquer que seja, mínima que se apresente. E na falta deste, até mesmo uma simples declaração firmada de próprio punho é aceita. Não há qualquer exigência para que o candidato demonstre ter conhecimento ou capacidade especial para que postule a candidatura. Em matéria de inelegibilidade, a interpretação é restritiva e não extensiva. Quem tem tímidas noções de escrita e/ou leitura, quem lê, embora com dificuldade, mas consegue apreender o sentido de um texto simples, quem escreve mal, com muitos erros de grafia, conseguindo, entretanto, expressar um pensamento lógico, não é analfabeto e, portanto, tem direitos políticos plenos 1. A péssima caligrafia, por si só, não é prova do analfabetismo do pré-candidato. Analfabetos são os que não sabem se expressar por escrito (escrever), razoavelmente, através da Língua Portuguesa, que é o idioma oficial do Brasil, ou os que não conseguem 1 Pedro Henrique Pávora Niess, Direitos Politicos,, Edipro, 2ª ed., 2000, p. 110
compreender (pela leitura), também razoavelmente, o sentido de um texto escrito na mesma língua. Pouco importa que entendam ou falem bem o idioma, oralmente considerado; o que se exige é a mínima capacidade de escrever e de ler um texto simples e comum. Comprovada a capacidade do candidato de ler e escrever, não há que falar em inelegibilidade. (Res. n.º 17.902, TSE, Consulta n.º 12.475, Classe 10ª, Brasília, DF, 10.03.92, in JTSE 4(1) 329-330). Se for apenas razoável (embora sofrível) a capacidade de expressão ou compreensão, desses eleitores, analfabetos não serão. Serão, no mínimo, os semi-alfabetizados de que nos fala o jurista Pedro Henrique Távora Niess (in Direitos Políticos Condições de Elegibilidade e Inelegibilidades, pág. 47) 2. (g.n.) Não é irrelevante, no caso, o fato de ter o pré-candidato assinado seu RRC, f. 02/03. Não se mostra fundamentada a alegação de fundo posta na impugnação, mostra-se evidente, como bem frisado pelo Ministério Público, uma apreciação mais 2 Joel J. Cândido, Inelegibilidades no Direito Brasileiro, Edipro, 1ª ed., 1999, p.47.
subjetiva, fundada, basicamente, na paixão própria do momento eleitoral. A par da péssima caligrafia lançada na declaração, efetivamente não se pode desconsiderar, como ressaltado pelo Ministério Público, que o pré-candidato é funcionário público, condição a que chegou após submeter-se a concurso público de provas de títulos. Não se pode dizer, portanto, que o mesmo é analfabeto. Ante o exposto, e por tudo o mais que dos autos consta, NÃO ACOLHO A IMPUGNAÇÃO apresentada contra a candidatura de Jaime José de Oliveira, qualificado nos autos, a qual, portanto, em conseqüência, resta deferida de modo a possibilitar a sua plena participação no pleito eleitoral municipal de 2008. Dê-se ciência desta decisão ao Ministério Público, inclusive sobre a alegada incidência do artigo 25 da Lei Complementar 64/90. P.R.I. Miradouro, 28 de julho de 2008. Antonio Augusto Pavel Toledo Juiz Eleitoral