PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO SEGUNDA REGIÃO 80º VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO PROCESSO:

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Luana Wagner de Miranda
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SENTENÇA Autor: SINDICATO PATRONAL DOS BARBEIROS, PENTEADORES, CABELEIREIROS E CONGENERES DE SÃO PAULO Réu: SINDICATO DOS INSTITUTOS DE BELEZA E CABELEIREIROS DE SENHORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO Data

1 SENTENÇA Autor: SINDICATO PATRONAL DOS BARBEIROS, PENTEADORES, CABELEIREIROS E CONGENERES DE SÃO PAULO Réu: SINDICATO DOS INSTITUTOS DE BELEZA E CABELEIREIROS DE SENHORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO Data de Ajuizamento: I. RELATÓRIO SINDICATO PATRONAL DOS BARBEIROS, PENTEADORES, CABELEIREIROS E CONGENERES DE SÃO PAULO qualificado(a), ajuizou Ação Civil Pública em face de SINDICATO DOS INSTITUTOS DE BELEZA E CABELEIREIROS DE SENHORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, alegando, em síntese, que o réu confunde sua representação e contraria o princípio da unicidade sindical, ao apresentar-se como representante dos empregados em estabelecimento de beleza destinado o público unissex/misto. Após exposição fática e jurídica, postulou, fl.(s) 14/15, que o juízo determine o cancelamento do registro sindical do réu ou, alternativamente, confirme que a representação do réu se restringe aos estabelecimentos e agentes autônomos empregadores denominados institutos de beleza e cabeleireiro de senhoras. Por fim, requer expedição de ofícios e devolução de contribuições sindicais e assistenciais cobradas de forma indevida pelo réu. Juntou procuração e documentos diversos.

2 Tratando-se de pedidos relacionados apenas a interesses individuais, por força do princípio da fungibilidade, admitiu-se, decisão de fl.(s) 180, a presente demanda como ação trabalhista ordinária, e não mais como Ação Civil Pública. Citado, o sindicato réu apresentou defesa escrita, fl.(s) 226/239, alegando as razões pelas quais entende improcedentes os pedidos. A parte autora impugnou a contestação e documentos, fl.(s) 255/261. Sendo a matérias exclusivas de direito, e não havendo necessidade de se ouvir as partes, encerrou-se a instrução processual. As partes arrazoaram posteriormente, por razões finais e memoriais. Propostas conciliatórias prejudicadas. É o breve relatório. II. FUNDAMENTAÇÃO Inépcia. Rejeito a preliminar arguida pelo réu, em sede de contestação, uma vez que a petição inicial não apresenta vícios capazes de prejudicar o contraditório e a ampla defesa, além de preencher os requisitos do art. 840, 1º, da CLT. Não prospera a alegação de generalidade de nomenclaturas utilizadas pelo autor torne seu pedido inepto, vez que todos as denominações descritas encontram-se grafadas em documentos oficiais apresentados em conjunto com a exordial. Destaque-se que, no Processo do Trabalho, vigora o princípio da simplicidade, de modo que são desnecessárias as formalidades exigidas no Código de Processo Civil, desde que a parte contrária não seja prejudicada em sua defesa. No caso, não houve nenhum prejuízo à defesa dos réus. Rejeito.

3 Compromisso Arbitral O réu alega, porém não prova que o autor tenha firmado compromisso arbitral capaz de impedir a apreciação da presente demanda em juízo. Rejeito Representação sindical. Conforme depreende-se da extensa documentação juntada por ambas as partes, o sindicato-autor foi fundado em 03 de novembro de 1932, recebendo carta sindical em 1941, representando a categoria dos "salões de barbeiros e de cabeleireiros, institutos de beleza e similares". Em momento posterior, como fruto de especialização das atividades, foi fundado o sindicato réu, com objetivo de representar os institutos de beleza e cabeleireiros de senhoras. A questão que se coloca é saber se o desmembramento em questão é legítimo e autoriza a atuação de ambos os sindicatos, bem como qual o limite de atuação de cada um deles. Pois bem. Após análise dos estatutos juntados aos autos e de todo histórico de atuação das partes, não há dúvida de que o sindicato autor está vocacionado às atividades dos barbeiros de São Paulo e cabeleireiros para homens, enquanto que o sindicato réu deve dirigir sua atuação aos institutos de beleza e cabeleireiros de senhoras. Já os estabelecimentos que fazem atendimento unissex nas atividades mencionadas estão unicamente representados pelo sindicato-autor. Isso porque, considerados o princípio da anterioridade sindical (art. 8º, II, CF), bem como fato de que o sindicato réu foi criado posteriormente para atendimento de setor empresarial especializado (atendimento de senhoras), há de se reconhecer que o atendimento unissex enquadra-se dentro do rol de atividades representadas pelo sindicato-autor.

4 Note-se que a criação de nova entidade representativa de determinada categoria geralmente ocorre em razão do aumento da sua relevância. O critério definidor do enquadramento sindical é o da especificidade, previsto no art. 570 da CLT, de modo que o critério da agregação tem caráter subsidiário, aplicando-se apenas quando não for possível aos exercentes de quaisquer atividades ou profissões se sindicalizarem eficientemente com base na especificidade. Nesse contexto, reconheço que o sindicato réu foi fruto de uma dissociação em categoria específica, uma especialização da representação da atividade econômica em questão, devidamente registrada através da portaria GM- 142, fl.(s) 253. Por isso a dissociação perpetrada observou os limites constitucionais e legais e, portanto, deve ser respeitada e mantida, notadamente porque consolidado há diversas décadas. Assim, considerando o critério da especialização, não resta dúvida que a entidade ré está validamente restrita a representar estabelecimentos que atendam o público feminino, exclusivamente. Quanto ao público masculino e unissex, tenho que estes sempre estiveram no alcance exclusivo da representação do sindicato-autor. E da análise dos autos, observo que o réu não tem respeitado os limites de sua representação sindical. Isso porque, em sua própria contestação, fl.(s) 234, intitula-se como único representante da categoria dos Institutos de Beleza, quer sejam masculinos, femininos ou unissex. Ora, nesses termos, fica claro que assume postura irregular. Dito de outro modo, ocorreu a invasão ilegítima de representação sindical que sempre esteve com o sindicato-autor. Por tudo isso, reconheço a legitimidade, ainda que restrita, de representação da entidade ré e julgo improcedente o pedido de anulação do registro sindical do réu. Por outro lado, acolho o pleito subsidiário para declarar que a representação do Sindicato-autor se restringe aos estabelecimentos masculinos e

5 unissex, enquanto que o Sindicato-autor deve dirigir sua atuação aos institutos de beleza e cabeleireiros de senhoras. Por consequência, deverá o réu, independentemente do trânsito em julgado, se abster de atuar como representante sindical de classe que não seja aquela estritamente ora declarada. Dito de outro modo, deve o réu abster-se de cobranças de contribuições assistenciais ou sindicais a estabelecimentos que não prestem serviços estritamente ao público feminino, uma vez que sua representação está restrita aos estabelecimentos e agentes autônomos empregadores denominados institutos de beleza e cabeleireiro de senhoras. Por fim, comino multa de R$ 1.000,00 (mil reais) em favor da parte autora para cada ato do réu que desrespeite a regra de delimitação de sua representação. Para aplicação da referida multa, deve o autor comprovar nos autos, através exclusivamente de documentos, no prazo de 05 (cinco) dias, a abordagem irregular do réu, que ultrapasse os limites de sua representação sindical. Devolução dos valores. Não comprovou o Sindicato-autor a efetiva percepção, por parte do Sindicato-réu, de valores de contribuições sindicais e demais contribuições que caberia a si, motivo pelo qual julgo improcedente o pedido nesse ponto. Expedição de Ofício. Oficie-se ao Ministério do Trabalho e Emprego sobre o conteúdo da presente sentença, para que tome as providências cabíveis em seus atos de fiscalização. No mais, não vejo, no caso, irregularidades que justifiquem a medida, devendo a parte valer-se de seu direito de petição (CF, art. 5º, XXIV). Indefiro.

6 III. DISPOSITIVO Do exposto, rejeito as preliminares arguidas, e, no mais, julgo PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados por SINDICATO PATRONAL DOS BARBEIROS, PENTEADORES, CABELEIREIROS E CONGÊNERES DE SÃO PAULO contra SINDICATO DOS INSTITUTOS DE BELEZA E CABELEIREIROS DE SENHORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO para declarar que a representação do Sindicato-réu se restringe aos institutos de beleza e cabeleireiros de senhoras, enquanto o Sindicato-autor deve dirigir sua atuação aos estabelecimentos masculinos e unissex. Por consequência, deverá o réu, independentemente do trânsito em julgado, se abster de atuar como representante sindical de categoria econômica que não seja aquela estritamente ora declarada. Dito de outro modo, deve o réu abster-se de cobranças de contribuições assistenciais ou sindicais a estabelecimentos que não prestem serviços estritamente ao público feminino, uma vez que sua representação está restrita aos estabelecimentos e agentes autônomos empregadores denominados institutos de beleza e cabeleireiro de senhoras. Por fim, comino multa de R$ 1.000,00 (mil reais) em favor da parte autora para cada ato do réu que desrespeite a regra de delimitação de sua representação. Para aplicação da referida multa, deve o autor comprovar nos autos, através exclusivamente de documentos, no prazo de 05 (cinco) dias, a abordagem irregular do réu, que ultrapasse os limites de sua representação sindical. Tudo nos termos da fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Oficie-se ao Ministério do Trabalho e Emprego sobre o conteúdo da presente sentença, para que tome as providências cabíveis em seus atos de fiscalização.

7 Custas devidas pelo réu, no importe de R$ 20,00 calculadas sobre R$1.000,00, valor arbitrado à condenação. Intimem-se. Nada mais. Tânia Bedê Barbosa Juíza do Trabalho Substituta

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