ACIDENTES COM PRÉDIOS EM ALVENARIA RESISTENTE NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE



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Transcrição:

ACIDENTES COM PRÉDIOS EM ALVENARIA RESISTENTE NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE Romilde Almeida de OLIVEIRA Departamento Engenharia Civil, UNICAP Rua Caio Pereira, 226, CEP: 52041-010, Rosarinho, Recife-PE romilde@elogica.com.br Carlos Welligton de Azevedo PIRES SOBRINHO Departamento Engenharia Civil, POLI-UPE Departamento Engenharia Civil, ITEP Rua Ministro Nelson Hugria, 159, CEP: 51020-100, Boa Viagem, Recife-PE carlos@itep.br ABSTRACT No estado de Pernambuco tem-se usado, em larga escala, alvenaria de vedação com função estrutural para edifícios residenciais de até quatro pavimentos. Esta é uma prática difundida em várias regiões do país. Verificaram-se diversos tipos de patologias e acidentes, alguns deles com vítimas fatais. Na Região Metropolitana do Recife são estimados em 6 000 prédios desta natureza, Nos últimos 15 anos foram registrados onze acidentes, o que corresponde a uma incidência de aproximadamente 1:550 resultando em uma faixa de risco inaceitável para utilização deste sistema construtivo. Dois destes edifícios empregaram blocos de concreto, sendo os demais construídos com blocos cerâmicos vazados assentados com os furos na horizontal. Dos onze prédios sinistrados, os autores desse trabalho participaram da elaboração de sete laudos técnicos oficiais, destinados a identificar as causas que motivaram os acidentes. As razões foram diversas: falhas de projeto, degradação dos blocos cerâmicos ou de concreto, erros construtivos e mau uso de materiais. O presente trabalho faz uma síntese destes acidentes, analisa suas causas e, por fim, são efetuados comentários críticos acerca do sistema construtivo, ações desenvolvidas pela comunidade técnica e mudanças decorrentes da experiência obtida com estes insucessos. Key-words: masonry, structural masonry, collapse of buildings. 1. INTRODUÇÃO O sistema construtivo comumente empregado na construção de edifícios de até quatro pavimentos, conhecido regionalmente como "edifícios caixão", é estruturado com elementos de alvenaria de blocos de vedação em concreto ou cerâmicos. Este tipo de construção, teve grande impulso a partir da década de 70 quando cooperativas habitacionais dos estados e cooperativas particulares, foram incentivadas pelas políticas de aplicação de recursos oriundos do FGTS e das cadernetas de poupança para a execução de

projetos habitacionais. Estimam-se que hoje existam cerca de 6.000 prédios com essas características construídos na Região Metropolitana do Recife. Os dois Laudos Técnicos sobre as causas a ruína do Edifício Érica e do Bloco B do Conjunto Enseada do Serrambi, ambos localizados em Olinda-PE, concluíram que a forma brusca de ruptura, a baixa qualidade dos materiais e a constatação de falhas construtivas, muitos destes inerentes ao processo construtivo, são características agravantes nesse tipo de construção. Tal sistema é equivocadamente chamado de alvenaria estrutural, vez que a norma NBR 10837/89 que trata do cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto define como alvenaria estrutural aquela construída com blocos vazados de concreto, assentados com argamassa, e que contém armaduras com a finalidade construtiva de amarração, não sendo esta última considerada na absorção dos esforços calculados. 2. HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS SINISTRADOS Em março de 1994, um dos blocos do Conjunto Residencial Bosque das Madeiras, localizado no bairro de Engenho do Meio, Recife, ainda na fase de construção, utilizando alvenaria singela em blocos cerâmicos de oito furos (19x19xc9cm) com fundação em caixão vazio, ruiu sem deixar vítimas. Fig. 3 - Ruínas do bloco do conjunto bosque das madeiras O laudo de avaliação foi conduzido pelo CREA-PE, que apontou como causa principal de colapso a execução de rasgo horizontal para inserção de eletroduto ao longo de toda a extensão de uma parede divisória central. Este acidente não provocou vítimas fatais por ter ocorrido no período noturno. O Edifício Aquarela, localizado no bairro de Piedade, no município de Jaboatão dos Guararapes, desabou em 1997. Este edifício foi construído em 1986 em alvenaria singela de blocos cerâmicos vazados, assentados à galga na superestrutura com os furos na horizontal. As lajes de eram pré-moldadas do tipo Volterrana apoiadas sobre cintas de concreto armado, corridas ao logo de todas as paredes. A fundação deste edifício, caracterizado como caixão vazio, foi construído em alvenaria de blocos cerâmicos de seis furos (19x11x9cm) assentados ao chato, constituindo uma malha de paredes. Os embasamentos então formados não eram aterrados em seu interior, apresentando

em alguns pontos vazios de até 1,60m do solo à laje de piso. A laje de piso do pavimento térreo era também do tipo Volterrana. O desabamento não deixou vítimas devido à existência de cintas de amarração na sua estrutura. Fig. 1 Ed. Aquarela - Vista geral Fig. 2 Ed. Aquarela - Apartamentos térreos O laudo de avaliação conduzido pelo CREA-PE concluiu que a causa principal da ruptura foi a perda de resistência dos blocos de fundação decorrente da expansão por umidade ao longo de sua vida útil. Além disso, a alvenaria dos embasamentos foi executada com blocos de 11 cm de largura, sem revestimento, enquanto que o projeto estrutural previa 20 cm. Em novembro de 1999, o Edifício Érika ruiu bruscamente deixando 5 vítimas fatais. Situado no bairro de Jardim Fragoso, Olinda, era construído em alvenaria singela mista envolvendo blocos cerâmicos de oito furos e blocos de vedação em concreto (39x19x9cm),. A fundação desta edificação foi executada em caixão vazio e as paredes em alvenaria singela mista. Apresentava em alguns pontos vazio de até 1,70m entre o solo natural e a laje de piso do pavimento térreo. Fig. 4 Ed. Érica - Trecho frontal Fig. 5 Ed. Érica - Trecho Posterior

O laudo de avaliação conduzido pela CODECIPE Coordenação de Defesa Civil de Pernambuco, apontou como causa principal de ruína a perda de resistência dos blocos de concreto utilizados na fundação em decorrência da degradação produzida pela ação continuada de íons de sulfatos sobre os componentes do cimento (CODECIPE, 2000) Em dezembro de 1999, o Bloco B do Conjunto Enseada do Serrambi, localizado no bairro de Jardim Fragoso, Olinda, construído em alvenaria singela de blocos de vedação cerâmicos, também apresentando fundação em caixão vazio, ruiu bruscamente deixando 7 vítimas fatais. Fig. 6 Conj. Enseada de Serrambí Fig. 7 Bl. B - Escombros O laudo técnico que determinou as causas que motivaram o acidente foi conduzido pela CODECIPE, apontou como causa principal de ruptura a perda da estabilidade das paredes devido à redução de resistência dos blocos decorrente da expansão por umidade, associado a vícios construtivos observados na fundação (CODECIPE, 2001). Em maio de 2001, o Edifício Ijuí, localizado em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, também construído em alvenaria resistente de blocos de concreto e fundação em caixão vazio, ruiu sem deixar vítimas. Apresentou horas antes do acidente indicativos de danos em sua estrutura, o que permitiu a retirada dos moradores. O laudo foi conduzido pela Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes contando com a participação do ITEP, CREA e CODECIPE.

Fig. 8 Edifício Ijuí Desabamento do bloco posterior 3. CONTRIBUIÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DOS LAUDOS REALIZADOS A elaboração desses laudos, principalmente o do edifício Aquarela que revelou a influência da perda de resistência dos blocos de cerâmicos decorrente do fenômeno de EPU e a do edifício Érika que revelou a influência da perda de resistência de blocos de concreto decorrente do ataque de íons de sulfatos é considerada bastante significativa para o setor da construção civil. Os íons de sulfatos estavam presentes na água do lençol freático e que foram constatados em outras investigações. Embora possa reconhecer a existência de trabalhos científicos sobre os fenômenos de EPU ( Merit & Petres 1926, Palmer 1931, Burney 1986) até a elaboração do laudo não foi encontrado qualquer publicação técnica sobre a perda de resistência de blocos cerâmicos devido ao fenômeno de EPU. Foi o primeiro caso de colapso atribuído à EPU no caso brasileiro, embora se tenha registro de ocorrência na Austrália (Bowman, 19nn). A partir da divulgação das conclusões do Laudo Técnico, a EPU passou a ser considerada nos projetos de edificações em alvenaria na RMR, pelos projetistas de estruturas. Com relação ao fenômeno da perda de resistência do concreto decorrente do ataques por águas agressivas, publicações técnicas e científicas já eram conhecidas no país e no exterior( Neville 1981, Sobral 1984, Malhotra 1991, Metha & Monteiro 1994). Porém, a transferência deste conhecimento à degradação de blocos de concreto não foi observada nas publicações até então. Em ambos os casos, não existe hoje qualquer informação ou recomendações prescritas nas normas técnicas nacionais vigentes. A NBR 7171- Blocos cerâmicos para alvenaria não faz qualquer consideração sobre o fenômeno de EPU na análise dos blocos. Similarmente a NBR 10837- Projeto e cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto não faz qualquer recomendação sobre a importância da análise das águas agressivas presentes no solo de fundação e a possibilidade destas degradarem os blocos de concreto utilizados na fundação dos edifícios.

Após a divulgação dos laudos, o CREA-PE promoveu o I Seminário de Alvenaria Estrutural em Pernambuco. Neste, os autores deste trabalho e outros técnicos convidados puderam apresentar estudos e considerações importantes que marcaram profundamente toda comunidade técnica do setor de construção civil local. Hoje a comunidade técnica, projetistas e construtores, não mais desconhecem os efeitos da consideração da forma de ruptura nos cálculos, da limitação, da importância do controle dos materiais e componentes e da ausência controle do processo de construção. Considerações idênticas sobre as possibilidade da ocorrência dos fenômenos de degradação dos componentes (EPU para o caso cerâmico e degradação dos blocos de concreto) nas edificações. Como resultado destas investigações e da repercussão no meio técnico algumas Prefeituras da RMR alteraram seus Códigos de Obras limitando e/ou exigindo maiores estudos e análises dos materiais e solos para aprovação deste tipo de sistema construtivo, quando das expedições de licenças de construção. Colocar dados sobre: 1. Disciplinas de Alvenaria Estrutural 2. Cursos diversos pelo CREA 3. Teses, Dissertações (UNICAP, UFPE), PIBIC s (UNICAP) e Projetos de Final de Curso (UNICAP, POLI) 4. Maior ênfase em disciplinas de Construção Civil. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os autores deste trabalho têm a consciência da inviabilidade técnica de se construir edifícios em alvenaria portante utilizando componentes de vedação, quer pela possibilidade da ruptura brusca (alvenaria de blocos cerâmicos assentados com furos na horizontal), quer pela pequena largura que não garanta estabilidade geométrica ( alvenaria que apresente esbeltez superior à 20), além do colapso progressivo a que estas construções estão sujeitas dentro dos procedimentos adotados. Os autores consideram da mais alta relevância o aprofundamento de estudos sobre o assunto e consideram estritamente baixo a quantidade de artigos técnicos existentes sobre ao aspectos levantados neste trabalho. REFERÊNCIAS G.E.Merrit,C.G. Peters- Interferometer Measurements of the Thermal Dilation Glazed Ware, Journal of the American Ceramic Society.,9,327(1926).. L.A Palmer- Volume Changes in Brick Masonry, Materials,Journal of the Research. Nat. Bur. Stand 6,1003(1931). W.McBurney- Masonry Cracking and Damage Caused by Moisture Expansion of Brick, Journal of the Australian.Ceramic.Society, 22,1(1986) Neville, A M -Properties of Concrete, Pitman Publishing, 738pg 1981 Sobral, H.S- Proteção das Estruturas de Concreto Armado e Protendido contra as ações agressivas dos ions CL - e SO 4 -- IBRACON Reunião anual 1984 Malhotra, V.M. - Concrete Durability, ACI SP 126 Vol 1 & 2 1991

Mehta P.K e Monteiro, P.J.M.-Concreto, estrutura, propriedades e materiais. Ed Pini 578 pg 1994 Pires Sobrinho, C.W.A et al.- Degradação de elementos de concretos porosos submetidos a ação de águas agressivas na planície costeira da região metropolitana do Recife. Anais do IV EPUSP, São Paulo, versão em CD ago 2000 Pires Sobrinho, C.W.A e Silva, P.C.A - Laudo sobre as causas de ruina do Bloco "B" do Ed, Bosque das Madeiras, CREA-PE, Agosto 1994 CODECIPE- Causas do Desabamento do Bloco "B" do Conjunto Residencial Enseada do Serrambi, Bultrins, Olinda, maio 2000. CODECIPE- Causas do Desabamento do Edifício Érica, Jardim Fragoso, Olinda, fevereiro 2000.