MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado da Bahia RECOMENDAÇÃO Nº 01/2006

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Transcrição:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado da Bahia RECOMENDAÇÃO Nº 01/2006 CONSIDERANDO que cabe ao Ministério Público Federal a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da CF); CONSIDERANDO que constitui função institucional do Ministério Público Federal a promoção de inquérito civil e de ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social e de outros interesses difusos e coletivos, conforme disposto no art. 129, III, da CF/88; CONSIDERANDO que o art. 5º da Lei Complementar nº. 75/93, em seu inciso II, alínea d, estabelece como função do Ministério Público Federal zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos à cultura, incluindo, ainda, no seu inciso III, alínea c, como função institucional do Ministério Público, a promoção da defesa dos interesses relacionados ao patrimônio cultural brasileiro; CONSIDERANDO competir ao Ministério Público Federal, conforme art. 6º, XX e XIV, da Lei Complementar 75/93, expedir recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis, além de promover outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais em defesa da probidade administrativa;

CONSIDERANDO o disposto no art. 216, inciso IV e 1º e 4º, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, dentre eles as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, cabendo ao Poder Público, com a colaboração da comunidade, promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação, devendo ser punidos os danos e ameaças ao patrimônio cultural, na forma da lei; CONSIDERANDO que o Forte de São Marcelo constitui monumento tombado pelo Governo Federal, conforme processo n. 101-T-38, cujo ato foi inscrito em 24.05.1938, à fl. 10, sob o n. 49, no Livro Histórico (vol. 1) e à fl. 16, sob o n. 89, no Livro das Belas Artes (vol. 1); CONSIDERANDO a existência dos Procedimentos Administrativos nº 08104.000657/97-16 e nº 1.14.000.000126/2006-37, no âmbito da Procuradoria da República na Bahia, tendo por objeto, respectivamente, a apuração de denúncias noticiando o mal estado de conservação do Forte de São Marcelo, situado na Baía de Todos os Santos, no Estado da Bahia, bem como a utilização indevida do referido monumento para realização de eventos cujas características seriam incompatíveis com a estrutura e capacidade do Forte; CONSIDERANDO que o Forte de São Marcelo é, atualmente, objeto de Contrato de Cessão de Uso, celebrado em 13 de julho de 2000, entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos (ABRAF), com prazo de vigência de 10 (dez) anos (Cláusula Segunda) (Anexo I); CONSIDERANDO que o uso, gozo e administração do Forte de São Marcelo foi transferido ao IPHAN pela UNIÃO após a extinção da Fundação Nacional Pró- Memória, sucedida pela referida autarquia federal, conforme Termo de Transferência, de 21 de agosto de 1985, decorrente do processo n. 0579-022944/35, do Ministério da Fazenda, 2

consoante Cláusula Primeira do Contrato de Cessão de Uso firmado pelo IPHAN e ABRAF em 13 de julho de 2000 (Anexo I); CONSIDERANDO que o IPHAN manifestou, perante o Ministério Público Federal, o interesse de promover alterações nas disposições que vêm disciplinando o uso e conservação do Forte de São Marcelo por parte da ABRAF; CONSIDERANDO que, de acordo com a Cláusula Oitava, 3, do Contrato de Cessão de Uso, firmado em 13 de julho de 2000, antes mencionado, pode ser alterado, exceto quanto ao respectivo objeto, mediante termo aditivo próprio; Resolve o Ministério Público Federal RECOMENDAR ao IPHAN e à ABRAF que eventuais alterações das disposições que atualmente disciplinam o uso e conservação do Forte de São Marcelo por parte da ABRAF, ou por parte de qualquer outro ente que venha a suceder a referida Associação, observem os seguintes preceitos necessários à tutela do patrimônio público federal e à preservação do patrimônio histórico-cultural: I. Todos os projetos de restauração, estabilização, recuperação estrutural, segurança, programação visual e criação de espaço cultural relacionados ao Forte de São Marcelo deverão ser previamente submetidos à avaliação e aprovação do IPHAN, a quem incumbirá, com exclusividade, acompanhar e fiscalizar as respectivas obras e serviços, podendo inclusive determinar a imediata paralisação de atividades que contrariem sua orientação técnica; II. Deverão ser firmados contratos escritos para a realização de quaisquer eventos relacionados ao Forte de São Marcelo, os quais serão encaminhados para análise do IPHAN, com antecedência mínima de 10 (dez) dias da data prevista para realização do evento, cabendo aquela autarquia determinar a imediata suspensão de quaisquer atividades incompatíveis com a proteção do patrimônio 3

histórico-cultural; III. Enquanto a ABRAF não promover os estudos estruturais e atendido às recomendações que vierem a ser formuladas pelos técnicos responsáveis pela avaliação estrutural do Forte de São Marcelo (incluindo-se aí os técnicos do IPHAN), somente poderão ser realizados eventos que atendam a todas as condições estabelecidas no laudo técnico elaborado pelos Professores Moacyr Schwab de Souza Menezes e Minos Trocolli de Azevedo, em 28 de março de 2006 (Anexo II), dentre elas a que estabelece a limitação máxima de 500 (quinhentas) pessoas simultaneamente; a proibição de realização de eventos musicais e atividades que provoquem vibração nas estruturas do monumento e a formação de equipe de especialistas, em prazo razoável, para avaliação estrutural do Forte de São Marcelo, a ser submetida à apreciação técnica do IPHAN, visando à definição exata do número de pessoas que podem ter acesso simultâneo ao monumento e indicação das áreas em que poderiam circular sem prejuízos para sua própria segurança e para preservação do bem público federal; IV. A partir do recebimento da presente Recomendação, a administradora do Forte de São Marcelo deverá, a cada trimestre, prestar contas ao IPHAN e à Secretaria do Patrimônio da União (SPU), dos valores recebidos com a administração do monumento, bem como da respectiva destinação dos recursos eventualmente auferidos; V. A receita proveniente das atividades e eventos desenvolvidos no Forte de São Marcelo, inclusive nos respectivos museus, deverá ser destinada, exclusivamente, a cobrir custos das despesas e investimentos referentes à preservação e conservação do referido 4

monumento, sendo facultada, no entanto, a aplicação do saldo financeiro, se remanescer, na conservação e manutenção de outros fortes, cuja importância histórico-cultural seja reconhecida, desde que mediante prévia e expressa autorização do IPHAN; VI. Deverá ser estabelecido pelo IPHAN, com a participação da SPU, mecanismo destinado ao controle efetivo da arrecadação dos recursos decorrentes de atividades e eventos relacionados ao Forte de São Marcelo, no prazo de 60 (sessenta) dias a iniciar do recebimento pelos interessados desta Recomendação; VII. Poderá ser fixada eventual remuneração pela administração do Forte de São Marcelo, a ser percebida do Poder Público Federal, vedada a aferição de qualquer espécie de lucro ou benefício financeiro em proveito da administradora, ou do seu gestor, perante à iniciativa privada ou o Poder Público Estadual e Municipal. Assinala-se o prazo de 10 (dez) dias, a contar do recebimento da presente Recomendação, para que o Ministério Público Federal seja informado das providências adotadas, objetivando a estrita observância das disposições antes descritas ou, alternativamente, para que sejam apresentadas justificativas plausíveis para o seu não atendimento. Salvador/BA, 17 de julho de 2006. ANDREA CARDOSO LEÃO SIDNEY PESSOA MADRUGA Procuradora da República Procurador da República 5