INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DA ESTACA NO RAMO E DO TIPO DE SUBSTRATO SOBRE O ENRAIZAMENTO DE Alternanthera brasiliana L. (Kuntze) 1 ROCHA, Bruna N. 3 ; ZULIANI, Alberi J. B. 2 ; LÖBLER, Lisiane 3 ; BERTÊ, Rosiana 3 ; LUCHO, Simone R. 3 ; PARANHOS, Juçara T. 4. 1 Trabalho de Pesquisa PPG Agrobiologia _UFSM 2 Curso de Agronômia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Pós Graduação em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Professora do PPG em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: bruna_nery_rocha@hotmail.com RESUMO A Alternanthera brasiliana L. (Kuntze) é conhecida popularmente como penicilina, sendo considerada uma espécie medicinal. O trabalho objetivou estudar a influência da posição da estaca no ramo e do tipo de substrato sobre o enraizamento de A. brasiliana. Os tratamentos foram constituídos por um trifatorial (3 x 2 x 2) três tipos de estacas: apicais; medianas e basais; duas concentrações de meio MS (0 e 20%) e duas concentrações de ácido indol butírico (AIB) no substrato (0,0 e 2,5 mg. L -1 ), fluxo de 15 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições e oito estacas por repetição. As estacas foram mantidas em sala de crescimento com temperatura de 25 C ± 2 C. Estacas medianas e basais são mais adequadas para a propagação de A. brasiliana, não necessitando do meio nutritivo e do fitorregulador AIB para a indução do enraizamento, tornando-se um método de baixo custo para obtenção de mudas. Palavras-chave: Penicilina; Propagação vegetativa; Estacas de ramos. 1. INTRODUÇÃO A Alternanthera brasiliana L. (Kuntze) conhecida popularmente como peniciliana ou terramicina pertence à família Amaranthaceae, sendo considerada uma espécie medicinal utilizada popularmente como digestiva, depurativa e diurética além de possuir comprovadamente atividade analgésica e antiproliferativa de linfócitos (MACEDO et al., 1999; MORS et al., 2000; BROCHADO et al., 2003; LORENZI & MATOS, 2008). Pesquisas envolvendo sua análise fitoquímica revelaram a presença de seis flavonoides 0-glicosilados, dentre estes metabólitos inéditos no gênero Alternanthera destacando-se Kaempferol 3-0-robinobioside e Kaempferol 3-0-rutinoside (BROCHADO et al., 2003). 1
Com base no extrativismo das plantas medicinais, é necessário buscar alternativas para a produção de mudas, contribuindo para a conservação e proporcionando informações para futuros estudos. A queda das sementes após o amadurecimento dos frutos de A. brasiliana dificulta a coleta e obtenção das mesmas para testes de germinação e consequentemente a produção de mudas através da germinação de sementes. Assim a estaquia é uma opção entre os métodos de propagação vegetativa, tornando-se viável se a espécie apresentar capacidade de formar raízes mantendo a qualidade do seu sistema radicular e desenvolvendo mudas saudáveis após o enraizamento. Alguns fatores podem interferir na propagação por estaquia, como a condição fisiológica do tecido, ao longo do ramo o conteúdo de carboidratos e substâncias que promovem e inibem o crescimento apresentam variação, principalmente quando as estacas são provenientes de diferentes porções do ramo, diferindo quanto ao potencial de enraizamento. Assim é necessário um balanço hormonal entre promotores e inibidores do processo de iniciação radicular, uma forma de promover o equilíbrio é pela aplicação exógena de reguladores de crescimento, como o ácido indolbutírico (AIB), que podem elevar o teor de auxina no tecido (FACHINELLO et al., 1994; PASQUAL et al., 2001). Considerando a importância e a inexistência de estudos abordando a propagação vegetativa por estaquia de A. brasiliana o presente trabalho objetivou observar a influência da posição da estaca no ramo e do tipo de substrato sobre o enraizamento de Alternanthera brasiliana. 2. METODOLOGIA O experimento foi conduzido no Laboratório de Cultura de Tecidos pertencente ao Departamento de Biologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). As estacas foram coletadas de ramos com 70 a 120 cm de comprimento em plantas existentes no Campus da UFSM. Os cortes foram feitos do ápice para a base utilizando-se estacas apicais; medianas e basais de 12 a 15 cm de comprimento. Foi retirado o excesso de folhas presentes nos ramos, permanecendo apenas duas folhas nas apicais e duas cortadas ao meio nas medianas e basais para haver semelhança quanto à área foliar existente. As estacas passaram por lavagem em água corrente e os cortes foram feitos com imersão em água destilada para evitar a cavitação do tecido, para desinfestação as estacas foram imersas em recipiente com solução de água destilada acrescida de 10 gotas de hipoclorito de sódio 11% por litro de água destilada. Os tratamentos foram constituídos por um trifatorial (3 x 2 x 2) três tipos de estacas: apicais; medianas e basais; duas concentrações de meio MS como substrato (Murashige e 2
Skoog, 1962) (0 e 20%) e duas concentrações de AIB (0,0 e 2,5 mg. L -1 ) no substrato em fluxo de 15 dias. Em todas as soluções foi utilizado 2 ml. L -1 de fungicida Bendazol e o ph foi regulado a ± 5,8 utilizando HCl ou NaOH. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições e oito estacas por repetição. As estacas foram mantidas em sala de crescimento com temperatura de 25 C ± 2 C, fotoperíodo de 16 horas e intensidade luminosa de 35 µmol m -2 s -1 fornecida por lâmpadas fluorescentes brancas-frias, em recipientes de vidro com 200 ml de substrato e fixadas com papel alumínio ao topo do recipiente (Figura 1). Para cada tratamento foram avaliados aos 21 dias o número de raízes, número de folhas e comprimento da maior raiz por estaca. A análise estatística foi realizada utilizando o software SOC (EMBRAPA, 1997). Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e a análise complementar foi através do teste de Tukey à 5% de probabilidade de erro. Figura 1: Estacas de Alternanthera brasiliana mantidas em sala de crescimento. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Verificou-se através do resumo da análise de variância (Tabela 1) a interação tripla entre as variáveis, número de raízes, número de folhas e comprimento da maior raiz. Assim, para estas três variáveis foram realizados os desdobramentos que comparam os tipos de estaca em cada um dos substratos e a dose de fitorregulador utilizados. Tabela 1: Resumo da análise de variância das variáveis: Comprimento total do sistema radicular (CTSR), Número de Raízes (NR) e Número de Folhas (NF) de três tipos de estacas (TE) com dois 3
substratos (S) e duas concentrações de fitorregulador (F) em estacas de Alternanthera brasiliana. Santa Maria, RS, 2012. Quadrado Médio Fonte de Variação CTSR NR NF Tipo de Estaca 31.13* 213.50* 140.84* Substrato 0.40 79.13 20.81* Fitorregulador 57.28* 1655.47* 0.07 TE x S 2.31 102.65 3.38 TE x F 1.49 59.97 7.90 S x F 24.44* 387.59* 39.32* TE x S x F 11.95* 485.32* 13.41* Resíduo 1.39 55.49 3.04 CV 21.29 28.824 20.231 *- F Significativo a 5% de probabilidade A suplementação do substrato com MS 20% e AIB 2,5 mg.l -1 em estacas apicais proporcionou o maior número de raízes entre as estacas com média de 44,45 raízes, diferindo significativamente apenas dos tratamentos com estacas apicais sem a adição de AIB e sem o MS 20%, com médias de 7,29 e 14,24 raízes respectivamente (Tabela 2). Tabela 2: Efeito dos três tipos de estacas Apical (1), Mediana (2) e Basal (3), e do substrato MS (Murashige e Skoog, 1962), (0 e 20%) com a aplicação de AIB (0,0 e 2,5 mg.l -1 ) no comprimento total do sistema radicular (CTSR), número de raízes (NR) e número de folhas (NF) de A. brasiliana. Santa Maria, RS, 2012. CTSR (cm) NR NF AIB (mg.l-1) Tipo de estaca + Substrato 0,0 2,5 0,0 2,5 0,0 2,5 Estaca 1 + MS 0% 7.04 a A 1.52 b A 18.08 a A 14.25 a B 5.16 a A 4.62 a B Estaca 1 + MS 20% 2.52 a B 3.64 a A 7.29 b A 44.45 a A 4.87 a B 4.00 a B Estaca 2 + MS 0% 7.66 a A 4.89 a A 26.45 a A 31.29 a AB 9.75 a A 13.12 a A Estaca 2 + MS 20% 8.31 a A 4.41 b A 22.79 a A 34.83 a A 12.58 a A 7.25 b AB Estaca 3 + MS 0% 8.47 a A 4.25 b A 18.04 a A 38.04 a A 9.95 a A 13.66 a A Estaca 3 + MS 20% 6.77 a A 6.91 a A 21.70 a A 32.87 a A 9.12 a AB 9.33 a A Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Este resultado sugere que estacas apicais necessitam de suplementação não apenas de nutrientes ao substrato, mas também da presença de AIB para induzir maior número de raízes em estacas apicais de A. brasiliana, no caso das basais a adição de meio nutritivo e do fitorregulador AIB no substrato não são necessários para um acréscimo no número de raízes, visto que não há diferença entre os tratamentos. 4
Blazich (1988) cita que os nutrientes presentes no meio (substrato) como nitrogênio, fósforo, zinco, potássio, cálcio e boro influenciam a resposta ao enraizamento, estando estes envolvidos nos processos metabólicos, proporcionando a desdiferenciação e formação de meristemas radiculares. No entanto a facilidade de enraizamento das estacas medianas e basais de A. brasiliana pode estar associada à maior concentração de carboidratos presentes nessa porção, não necessitando, portanto, de indução externa (NICOLOSO et al., 1999). A ocorrência de resultados superiores quanto ao número de raízes em estacas apicais também pode ser constatado por Salomão et al. (2002) em estacas de Passiflora alata (Dryand.), onde as da posição apical apresentaram resultados significativamente superiores às estacas medianas e basais. O mesmo pode ser observado para estacas apicais de Lippia sidoides Cham., sendo estas consideradas mais apropriadas para a estaquia da espécie, apresentando maior número de raízes que as estacas da porção mediana do ramo (OLIVEIRA et al. 2008). Em Pfaffia glomerata (Spreng.) a resposta das estacas medianas e basais quanto ao número de raízes e de folhas foi superior às estacas da porção apical (NICOLOSO et al., 1999). Este resultado corrobora com o obtido por estacas medianas e basais de A. brasiliana, onde ambas com o acréscimo de AIB e MS 0% formaram as maiores médias de número de folhas com 13,12 e 13,66 folhas respectivamente, sendo que a mediana com MS 0% diferiu significativamente da mediana com MS 20% (Tabela 3). Tabela 3: Efeito do tipo de estaca Apical (1), Mediana (2) e Basal (3) e concentração de AIB (0,0 e 2,5 mg.l -1 ) em substrato MS (Murashige e Skoog, 1962), (0 e 20%), no comprimento total do sistema radicular (CTSR), número de raízes (NR) e número de folhas (NF) de A. brasiliana. Santa Maria, RS, 2012. CTSR NR NF Substrato MS (%) Tipo de estaca + AIB (mg.l -1 ) 0 20 0 20 0 20 Estaca 1 + AIB 0,0 7.04 a 2.52 b 18.08 a 7.29 a 5.16 a 4.87 a Estaca 1 + AIB 2,5 1.52 a 3.64 a 14.25 b 44.45 a 4.62 a 4.00 a Estaca 2 + AIB 0,0 7.66 a 8.31 a 26.45 a 22.79 a 9.75 a 12.58 a Estaca 2 + AIB 2,5 4.89 a 4.41 a 31.29 a 34.83 a 13.12 a 7.25 b Estaca 3 + AIB 0,0 8.47 a 6.77 a 18.04 a 21.70 a 9.95 a 9.12 a Estaca 3 + AIB 2,5 4.25 a 6.91 a 38.04 a 32.87 a 13.66 a 9.33 a Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A presença de folhas nas estacas possivelmente influenciou no enraizamento facilitando o processo, sendo que estas podem auxiliar na formação de raízes adventícias com a translocação das auxinas produzidas nas folhas e gemas para a parte inferior da 5
estaca, estas se concentram na base do corte juntamente com os açucares, compostos nutricionais e fitohormonais auxiliando no enraizamento das estacas (NANDA et al., 1971; JANICK, 1996; ASSIS & TEIXEIRA, 1998). Conforme a Tabela 2 estacas medianas com substrato MS 20% e basais com MS 0% sem o acréscimo de AIB apresentaram média acima de 8,3 cm no comprimento da maior raiz, resposta significativamente superior às estacas com a adição de AIB 2,5 mg. L -1. As estacas apicais também apresentaram maior média no comprimento da maior raiz utilizando MS 0% sem o acréscimo de AIB. Esta variável influencia diretamente na capacidade de absorção de água e de nutrientes (Salomão et al., 2002), portanto, estacas com sistema radicular bem desenvolvido devem formar mudas mais vigorosas e, possivelmente, em menor tempo. Os resultados deste trabalho comprovam o potencial da estaquia como método de propagação vegetativa para A. brasiliana, considerando os altos índices no número de raízes, comprimento total do sistema radicular e número de folhas emitidas em todos os tratamentos, propõe-se que as estacas medianas e basais sejam as mais adequadas para a estaquia desta espécie, devido ao baixo custo que demanda a técnica, fazendo-se desnecessário o uso de meio nutritivo e reguladores de crescimento. 4. CONCLUSÃO É desnecessário o uso de fitorregulador AIB e meio nutritivo MS para a indução do enraizamento das estacas medianas e basais de Alternanthera brasiliana. A estaquia de ramos é um método adequado para a propagação vegetativa de A. brasiliana, sendo as estacas provenientes da porção mediana e basal as mais apropriadas para a obtenção de mudas de baixo custo. REFERÊNCIAS ASSIS, T.A.; TEIXEIRA, S.L. Enraizamento de plantas lenhosas. In: TORRES, A.C.; CALDAS, L.S.; BUSO, J.A. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: EMBRAPA, v.1, p.261-97, 1998. BLAZICH, F. A. Chemicals and formulations used to promote adventitious rooting. In: DAVIS, T.D.; HAISSIG, B. E.; SANKLHA, N. Adventitious rooting formation in cuttings. Portland: Dioscorides Press, 1988, p. 132-149. BROCHADO, C. O. et al. Flavonol Robinobiosides and Rutinosides from Alternanthera brasiliana (Amaranthaceae) and their effects on lymphocyte proliferation in vitro. Journal of the Brazilian Chemical Society, Campinas, v. 14, n. 3, p. 449-451, 2003. 6
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