A relação entre ciência e política em Portugal

Documentos relacionados
PLANO DE ACÇÃO EFICÁCIA DA AJUDA

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO PLANO DE ACTIVIDADES

PLANO NACIONAL DA ÁGUA

Estrutura institucional de gestão dos recursos hídricos portugueses Modelo em estudo

CUSTOS DE CONTEXTO NO SETOR DA SAÚDE E RECOMENDAÇÕES PARA A SUA SUPERAÇÃO

Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

Uma Agemda para o Interior. Teresa Pinto Correia ICAAM / University of Évora - PORTUGAL

O caso de São Tomé e Príncipe. Direção de Serviços de Apoio Parlamentar e Documentação Assembleia Nacional

ESTUDO DE BENCHMARKING DE REGULAÇÃO MODELOS DE GOVERNAÇÃO I PARTE

PORTAL DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL COM INTERVENÇÃO NA SAÚDE

Aula teórica DC II B A Assembleia da República

Apresentação da Ficha Setorial Responsabilidade Social nas Entidades Públicas. 11 de Janeiro de 2018 Secretaria-Geral do Ministério do Ambiente

6. II Congresso Internacional de Mediação Justiça Restaurativa, Lisboa: de Outubro de 2011

PROCESSO DE DINAMIZAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE JUVENTUDE. Relatório da 1ª SESSÃO (3 MAIO DE 2014)

O Financiamento da Ciência

Roteiro da UE para um compromisso com a sociedade civil na Guiné-Bissau

Subsídios Estratégicos à uma Agenda de Cooperação Científica na América Latina

Sistemas de Avaliação e sua utilização: uma ferramenta de trabalho para a sua apreciação e para os Exames pelos Pares

Um projecto para o futuro... inspirado no passado

TICO ANE & AL EM MOÇAMBIQUE

Conferência Internacional Inovação em Turismo 7 de Outubro de 2011 Escola de Hotelaria e Turismo de Faro

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS, DESENVOLVIMENTO LOCAL E PARCERIAS

EXPOSIÇAO BIOFUND - Quelimane 17 de Outubro de 2017 Criar sinergias entre os actores promovendo o desenvolvimento sustentável em Zambézia

A Rede INOVAR na promoção e dinamização da PEI-AGRI

Da preparação à avaliação das propostas: questões a considerar Ricardo Miguéis Daniela Guerra Marisa Borges

A regulação comportamental


ACEF/1112/02302 Relatório preliminar da CAE

Formação de recursos humanos

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS PARA O ANO JUDICIAL 2018

A PERSPETIVA DO SETOR DA JUVENTUDE E DO DESPORTO PARA AGENDA Ministério da Educação Instituto Português da Juventude e Desporto

PROGRAMA PARLAMENTO DOS JOVENS

Avaliação Externa das Escolas

O Futuro da Política Científica

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Capítulo I INTRODUÇÃO

II Conferência do Turismo e Hotelaria O Turismo em Portugal após 2009 [Oportunidades e Desafios]

PERÍODO DE PROGRAMAÇÃO

Anexo A Descrição dos Organismos Governamentais para a Política de IC&DT

Projecto de Plano de Actividades do CNE para Em 2008, a actividade do CNE centrar-se-á em quatro grandes áreas de intervenção:

REDES PARA O DESENVOLVIMENTO: DA GEMINAÇÃO A UMA COOPERAÇÃO MAIS EFICIENTE

BASES JURÍDICAS PARA O PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO. económico geral. das instituições

Resultados do inquérito dirigido aos Associados

Grupos Parlamentares de Amizade

REGULAMENTO GERAL SOBRE A PROTEÇÃO DE DADOS EPDSI CATÁLOGO DE CURSOS E MANUAIS

1. Competências do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros

CNCS. Cibersegurança, capacitação nacional. José Carlos Martins. Cybersecurity Forum - Desafios 3ª Plataforma Tecnológica Lisboa

Relatório de Actividades 2010/2011. Adelina Sá Carvalho Secretária-Geral Assembleia da República de Portugal

PROGRAMA DIREITO DA ECONOMIA 3.º Ano

Desenvolvimento Local de Base Comunitária Cascais DesEnvolve Alcabideche e S. Domingos de Rana. 3ª Reunião do GAL

Sub-Comissão da Plataforma Nacional para a Redução do Risco de Catástrofes 31.MAR.2014

Relatório de Atividades de 2014

QUADRO DE REFERÊNCIA ESTRATÉGICO NACIONAL

Estratégias para a Saúde

REGULAMENTO DO GABINETE DE ESTUDOS E PLANEAMENTO. Artigo 1.º. Definição e Finalidade

As ONGD e as empresas na promoção do desenvolvimento sustentável

CARTA DE RECOMENDAÇÕES Elaborada pelos participantes do 2º Encontro da Rede Participação Juvenil de Sintra

Versão consolidada provisória do Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa

ACTIVIDADES (expressas nas fontes)

Os Parlamentos nacionais e a integração europeia. Braga 24 de março de 2017

1 - Percurso após finalizada a Faculdade

VOTO DE AGRADECIMENTO

O Canal Faial-Pico: Gestão Participativa (actores chave) da Área Marinha Protegida

Agenda Digital para a CPLP Que Estratégias? Sara Fernandes

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Subcomissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Capítulo I INTRODUÇÃO

"ANEXO II (Anexo II ao Decreto n o 7.493, de 2011)

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores

V Curso de Formação Interparlamentar (ASG-PLP) 21 a 30 de maio de 2018 Funcionário Parlamentar: Saber, Competência e Ética PROGRAMA

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Subcomissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Capítulo I INTRODUÇÃO

Comissão de Educação, Ciência e Cultura

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular COOPERAÇÃO POLÍCIAL Ano Lectivo 2015/2016

MUNICÍPIO DE RIBEIRA GRANDE REGULAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE JUVENTUDE DA RIBEIRA GRANDE

GOVERNAÇÃO PÚBLICA EM REDE

Portugal 2010 O desafio Sociedade do Conhecimento

IV CONFERÊNCIA DE MINISTROS DO AMBIENTE DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (CPLP) DECLARAÇÃO DE LUANDA

Jovens na Sociedade do Conhecimento Sociedade da Informação Portugal em Mudança

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Capítulo I INTRODUÇÃO

Conselho Científico PLANO DE ACTIVIDADES. Conselho Científico

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Miguel Seabra Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Subcomissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Capítulo I INTRODUÇÃO

PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º 194/IX SOBRE A CONSTITUIÇÃO EUROPEIA

O Funcionamento do Triângulo Institucional

INFORMAÇÃO PESSOAL Nome NEUZA LOPES EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL. CURRICULUM VITAE. Telefone - Morada - Correio electrónico

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores COMISSÃO DE ASSUNTOS PARLAMENTARES, AMBIENTE E TRABALHO RELATÓRIO E PARECER

PT Unida na diversidade PT A8-0411/11. Alteração. Peter Jahr em nome do Grupo PPE

Reunião Plenária

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores COMISSÃO DE ASSUNTOS PARLAMENTARES, AMBIENTE E TRABALHO RELATÓRIO E PARECER

A utilização da avaliação nas agências de cooperação para o desenvolvimento

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

ESTRATÉGIAS REGIONAIS PARA POLÍTICAS ENERGÉTICAS SUSTENTÁVEIS 23.JANEIRO.2013

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS PARA O ANO JUDICIAL

Avaliação e Promoção da Qualidade ISCE

PARCERIA PORTUGUESA PARA A ÁGUA Um Projecto de Internacionalização do Sector

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA DISCURSO DE TOMADA DE POSSE DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA XI LEGISLATURA

Empresas Familiares: Desafios no Processo de Sucessão

1. COMPOSIÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Workshop de Investigação: Contributos para a definição de uma estratégia nacional

Corporate Governance. IX FÓRUM APCER 15 de Março de 2006

Transcrição:

A relação entre ciência e política em Portugal Conferência Ciência e Decisão Política Associação Viver a Ciência Instituto de Medicina Molecular Lisboa, 22 de Novembro de 2005 Tiago Santos Pereira (CES/UC) Maria Eduarda Gonçalves (Dinâmia/ISCTE) tsp@ces.uc.pt mebg@iscte.pt

A relação entre ciência e política A experiência portuguesa Investigação em curso

A relação entre ciência e política

Divisão entre ciência e política? De uma divisão clara entre ciência e política Hierárquica Knowledge is power (Bacon) Normativa protegendo a ciência (Merton) A um modelo de co-produção entre ciência e política Science is politics by other means (Latour)

De governo a governação Instituições formais Legislativas Executivas Judiciais Mecanismos de regulação informal Cooperação e coordenação entre Instituições públicas Empresas ONGs Indivíduos

Responsabilidade social the context of implication must be addressed, as well as the context of application scientific knowledge must be not only reliable but also socially robust (Nowotny et al.)

Emergência de organizações de fronteira Participação de actores dos dois lados da fronteira Estabelecem-se na fronteira entre os mundos sociais da ciência e da política Profissionais em posição mediadora Têm modelos distintos de prestação de contas

Múltiplos modelos institucionais Os gabinetes parlamentares POST, OPESCT, STOA, (OTA...) A avaliação construtiva de tecnologias (CTA) Modelos de participação dos cidadãos (exemplos) Países nórdicos, em particular Dinamarca Reino Unido - a conferência de cidadãos sobre os OGMs França a Commission du Débat Public EUA painel de cidadãos Chile conferências de consenso (ex. fichas de saúde) Prospectiva tecnológica Médio/longo-prazo Alinhamento de diferentes actores

Ciência e política em Portugal

Contexto Do isolamento social e político Reduzido investimento em I&D Fraco envolvimento do sector privado Distanciamento social à aproximação entre a ciência e a sociedade iniciativas do Ciência Viva exposições interactivas informação sobre ciência nos media controvérsias públicas de base científica E a relação com a decisão política?

Visão institucional Faltam estruturas permanentes de articulação entre a ciência e os órgãos de soberania Têm sido quase sempre procuradas soluções ad hoc para problemas específicos

Parlamento Inquérito realizado em 1993 revelava reconhecimento da importância da C&T pelos deputados, em contraste, porém, com a sua prática Não existe na AR um gabinete parlamentar de ciência e tecnologia Parte do debate sobre a ciência desenrola-se nas comissões parlamentares Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura ou a comissão específica sectorial p. ex. ambiente ou agricultura

Gestão política BSE Acompanhamento científico negligenciado Discussão parlamentar (três audições parlamentares) - principal fórum de discussão política A forma como foi gerido politicamente este caso foi questionada pela comunidade científica Co-incineração Nomeação de Comissão Científica Independente Diferente definição do problema por Governo e Parlamento analisar soluções específicas ou o problema genérico Governo PS aceitou as conclusões da CCI delegação científica; Governo PSD/CDS não validou conclusões e alterou a orientação política Reprogenética Propostas de iniciativa parlamentar (PMA) Predominância da perspectiva da ética na discussão (CNECV)

Síntese Ciência e política em Portugal: entre a modernidade e a pós-modernidade? Reconhecida a importância de maior investimento em C&T criação do Ministério da Ciência e Tecnologia em 1995; tendência de aumento do investimento público em I&D. Os cientistas são mais solicitados pelo poder político para a fundamentação das suas decisões. A valorização da ciência no plano político surge no contexto de uma sociedade cada vez mais sensível aos riscos associados ao desenvolvimento científico e tecnológico e às incertezas e controvérsias na ciência, e que exige participar nas decisões políticas de base científica. Como resolver este dilema?

Investigação em curso

A ciência no Parlamento: Um estudo da fronteira entre ciência e política Projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) (POCI/ESC/59332/2004) Duração 30 meses (Ago 2005 Fev 2008) Equipa: Ana Correia Moutinho (GAI/UL) António Farinhas Rodrigues (CES/UC) João Arriscado Nunes (CES/UC) Maria Eduarda Gonçalves (Dinâmia/ISCTE) Tiago Santos Pereira (CES/UC)

A ciência no Parlamento: Um estudo da fronteira entre ciência e política Estudo sobre 30 anos de debates parlamentares (1976-2005) Objectivos Mapeamento das interacções entre ciência e política em diversas políticas sectoriais (construção de base de dados) Análise dos processos de recurso a conhecimentos científicos e especializados (casos de estudo) Reflexão sobre a co-produção da ciência e política em Portugal, à luz da experiência internacional Divulgação dos resultados Recomendações

Dimensões Análise de Ciência na Política Política de Ciência Metodologia Extensiva (base de dados) Intensiva (casos de estudo)

Disseminação Trabalho académico Interacção com stakeholders cientistas, deputados, decisores públicos, experiências internacionais Iniciativa com escolas