LIVRO DE DONA MARIA MARQUES ORFÃ TAMBÉM VENCE O Sr. FEU ROSA (PP-ES) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é com muito prazer e emoção que venho a esta tribuna, para compartilhar com meus pares a rica experiência que me foi proporcionada pela leitura da obra Órfã também vence, da autoria de minha conterrânea Maria Marques, que chegou às minhas mãos, recentemente. A autora, que hoje conta 90 anos, realizou esta autobiografia por incentivo da família, interessada em perpetuar por seu depoimento de vida um alto exemplo de alegria e perseverança. A leitura da obra fez-me compreender tal atitude: o que ali se revela é, de fato, uma história de esperança e superação, em que a vontade de viver e de vencer não sucumbe a qualquer adversidade.
2 Tudo começou em Morrinho, pequeno município do Espírito Santo. Órfã de mãe aos 3 anos, e de pai aos 13, Maria Menininha, como era chamada, não encontrou na madrasta o apoio que esperava e merecia. Maltratada e vilipendiada, impedida de estudar e privada de todos os seus bens, Maria terminou por deixar os três meios-irmãos, procurando auxílio junto à família de sua mãe, mais exatamente junto à saudosa tia Dona Toquinha Feu Rosa, que a acolheu como filha. Logo Maria se casou com Helvídio Batista, de quem teria sete filhos. A família de Helvídio conseguiu ingressar na justiça e recuperar as terras a que Maria tinha direito por herança materna, até então indevidamente ocupadas pelo marido da madrasta e seus jagunços. Depois de serem ameaçados de morte e de verem assassinados seus caseiros, Maria e Helvídio finalmente assistiram ao triunfo da
3 justiça e passaram a deter a posse das terras que lhes pertenciam. A permanência de Maria e sua família em Itaiobaia, sua fazenda, durou dezoito anos. Mas ela sempre insistia junto ao marido para que se mudassem para Vitória, para que os filhos pudessem estudar. A família sobrevivia revendendo os produtos da roça, que chegavam à cidade de canoa, e vendendo os doces feitos por Maria. Foi então que Maria se aproximou definitivamente da família Feu Rosa, especialmente de Dona Leonor e Dr. Pedro, de quem obteve todo apoio para encaminhar os filhos nos estudos e na vida profissional. Foi com muito orgulho que eu, pessoalmente, constatei a generosidade e disposição de meus pais em ajudar a família de Maria, contribuindo, de forma definitiva, com o sucesso de seu estabelecimento na capital.
4 Maria trabalhou como servente em um colégio por dezesseis anos. Viúva aos 70 anos, Maria mudou-se para Goiabeiras, onde conseguiu comprar duas casas. Ali, criou seis filhos adotivos e passou pela mais importante experiência de sua vida. Um sonho profético fez com que ela, mesmo depois de quarenta anos fora da escola, retomasse os estudos, em obediência ao que sabia ser o mais caro desejo de seu pai. De acordo com o sonho, Maria deveria matricular-se no segundo ano primário, não obstante já pudesse ingressar no curso ginasial, e esperar por uma grande recompensa ao fim de dez anos. Foi assim que Maria completou seus estudos, formando-se como normalista aos 63 anos. A antiga servente tornou-se professora, lecionou em dois municípios e chegou a dirigir em Vitória o colégio Regina Maria Silva, em que realizou um grande trabalho de educação, conseguindo
5 reunir uma excelente equipe de professores e funcionários. Sua experiência de vida era sua grande ferramenta: acreditando, trabalhando, empenhando-se pessoalmente em todos os aspectos da vida da escola, Maria notabilizava-se pela competência e dedicação. Finalmente aposentada, depois de trinta anos no serviço público, Maria realizou o sonho de conhecer Jerusalém, onde pôde vivenciar novas dimensões de sua fé. Toda sua história, segundo suas próprias palavras, são o testemunho dessa fé inabalável, que a fez perseguir o caminho da concórdia e da justiça, do trabalho e da amizade, da responsabilidade e do amor ao próximo. O depoimento de Maria Menininha emociona pela simplicidade e grandeza de sua lição. Hoje, essa brasileira, aos 90 anos, tem 17 netos e 8 bisnetos. Vive com saúde, orgulho e alegria, depois de ter superado todas as dificuldades com dignidade e esperança.
6 Construiu uma bela família, uma carreira, tornou-se exemplo de vida para todos os que a conhecem. Quando falo dela nesta tribuna, faço-o porque me convenço de que o Brasil é um grande país, que oferece possibilidades a quem trabalha com honestidade e determinação. Também pautada pelos valores morais e pela fé, Maria Menininha mostra a todos nós que o verdadeiro sucesso é o trabalho bem realizado, com alegria e sentimento de responsabilidade, voltado para os ideais da fraternidade e do bem comum. Somos profundamente gratos, Maria Menininha, pelo seu exemplo. Possamos nós, e depois de nós, as futuras gerações, nele buscar inspiração e confiança. Muito obrigado. 2006_1605_Feu Rosa_128