Questão 1. Questão 2. Resposta. Resposta



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Transcrição:

Questão 1 Em matéria recentemente publicada no Caderno Sinapse da Folha de S. Paulo, é apresentada uma definição de media training: ensinar profissionais a lidarem com a imprensa e se saírem bem nas entrevistas. Na parte final da reportagem, o jornalista faz a seguinte ressalva: O media training não se restringe a corporações. A Universidade X distribui para seus profissionais uma cartilha com dicas para que professores e médicos possam ter um bom relacionamento com a imprensa. Ironicamente intitulado de Corra que a Imprensa vem aí, o manual aponta gafes cometidas e dá dicas sobre a melhor forma de atender um repórter. (Adaptado de Vinícius Queiroz Galvão, Treinamento antigafe, Caderno Sinapse, 30/09/2003, p. 32). a) No trecho acima, as aspas são utilizadas em dois momentos diferentes. Transcreva as passagens entre aspas e explique seu uso em cada uma delas. b) Podemos relacionar o título da cartilha com o título em português da conhecida comédia norte-americana Corra que a polícia vem aí, que trata de um inspetor de polícia atrapalhado. Explicite os sentidos da palavra correr nos títulos do filme e do manual. a) "media training": as aspas são usadas pois trata-se de um estrangeirismo; "Corra que a Imprensa vem aí": trata-se do título da cartilha distribuída pela Universidade X. b) Em "Corra que a polícia vem aí" o verbo correr assume o sentido de fugir, escapar, retirar-se. Já em "Corra que a Imprensa vem aí", correr corresponde a preparar-se, cuidar-se. Questão 2 Em sua coluna na Folha Ilustrada, Mônica Bergamo comenta sobre o curta-metragem previsto para ser lançado em novembro de 2003 Um Caffé com o Miécio. Transcrevemos parte da coluna a seguir: (...) Quando ouvia a trilha sonora do curta Um Caffé com o Miécio, que Carlos Adriano finaliza sobre o caricaturista, colecionador de discos e estudioso Miécio Caffé (1920-2003), Caetano Veloso se encantou por uma música específica. Era a desconhecida marchinha A Voz do Povo, de Malfitano e Frazão, que Orlando Silva gravou em 1940, cuja letra diz que raiva danada que eu tenho do povo, que não me deixa ser original. É um manifesto, como sua obra, disse o músico baiano ao cineasta paulistano. (Adaptado de Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 11/10/2003, p. E2). a) Explique o título do curta-metragem. b) Identifique pelo menos duas possibilidades de leitura de sua obra e justifique cada uma delas. c) As três ocorrências da partícula que destacadas em negrito estabelecem relações de natureza lingüística diversa. Explicite-as. d) Os dois trechos sublinhados retomam elementos anteriormente apresentados no texto de maneira diferente dos recursos analisados nos itens b e c. Como funciona esse processo de retomada? a) O título do curta-metragem é um trocadilho com o nome próprio Caffé e o substantivo comum café, sugerindo o encontro e um bate-papo com o artista. b) O trecho "sua obra" gera ambigüidade: pode referir-se tanto à obra de Malfitano e Frazão autores da marchinha gravada por Caetano quanto à obra do cineasta paulista Carlos Adriano. c) "que raiva danada": que é pronome indefinido adjetivo, dando entonação exclamativa à frase. "que eu tenho do povo": que é termo expletivo (de realce), usado apenas para dar ênfase ao enunciado. "que não me deixa ser original": que é pronome relativo, referindo-se ao termo antecedente "povo". d) Os dois trechos retomam elementos anteriores por meio da citação da profissão, ao mesmo tempo em que identificam a origem de cada um: músico baiano, para Caetano Veloso, e cineasta paulistano, para Carlos Adriano.

português 2 Questão 3 Questão 4 Em setembro de 2003, uma universidade brasileira veiculou um convite-propaganda para a palestra Desenvolvimento da saúde e seus principais problemas, que seria proferida por José Serra, ex-ministro da saúde. Do convite-propaganda fazia parte uma foto de José Serra sobre a qual foi colocada uma tarja branca com o seguinte enunciado: A Universidade X ADVERTE: ESSA PALESTRA FAZ BEM À SAÚDE a) Esse enunciado faz alusão a um outro. Qual? b) Compare os dois enunciados. c) O convite-propaganda situa a Universidade X em um lugar de autoridade. Explique como isso acontece. Folha de S. Paulo, 8/10/2003, p. F8. Jogos de imagens e palavras são característicos da linguagem de história em quadrinhos. Alguns desses jogos podem remeter a domínios específicos da linguagem a que temos acesso em nosso cotidiano, tais como a linguagem dos médicos, a linguagem dos economistas, a linguagem dos locutores de futebol, a linguagem dos surfistas, dentre outras. É o que ocorre na tira de Laerte, acima apresentada. a) Transcreva as passagens da tira que remetem a domínios específicos e explicite que domínios são esses. b) Levando em consideração as relações entre imagens e palavras, identifique um momento de humor na tira e explique como é produzido. a) As passagens da tira e os respectivos domínios específicos são: "sofrido perda total" linguagem das seguradoras de automóvel; "reconstruíram meu corpo a partir do DNA" da engenharia genética; e "um molar cariado" da odontologia. b) O corpo da personagem Hugo apresenta-se escavado, esburacado, semelhante à forma como poderia estar um molar cariado. a) "O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde." b) Há uma relação de intertextualidade entre o textodadoeotextosubentendido; o texto da universidade parodia o slogan do Ministério da Saúde, criando uma relação de oposição: o fumo é prejudicial, ao passo que a palestra faz bem. c) No enunciado, é a "Universidade X" que adverte, portanto ela se reveste de autoridade. Questão 5 Em 28/11/2003, quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam.. Considerando as relações entre as palavras que compõem o título da matéria, justifique o uso do verbo ficar no presente do indicativo. O verbo "ficar", no presente do indicativo, pode indicar uma constatação: Lula já tem opinião definida, que já se constitui um fato real, embora ainda não revelado publicamente. Não se trata de uma sugestão do presidente, de uma hipótese ou possibilidade, o que levaria o verbo para o presente do subjuntivo (fiquem).

português 3 Questão 6 Por ocasião da comemoração do dia dos professores, no mês de outubro de 2003, foi veiculada a seguinte propaganda, assinada por uma grande corporação de ensino: Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felicitações, congratulações. 2. Oxítona terminada em ens, sempre acentuada. Acentuam-se também as terminadas em a, as, e, es, o, os, e em. Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente precisava ensinar alguma coisa. a) Observe os itens 1 e 2 do verbete Parabéns no interior do quadro. Há diferenças entre eles. Aponte-as. b) Levando em conta o enunciado que está abaixo do quadro, a quem se dirige essa propaganda? c) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa propaganda. Indique pelo menos duas dessas imagens. a) A primeira definição é de caráter semântico, ou seja, explicita o significado da palavra. Já a segunda definição é gramatical e apresenta regras de acentuação. b) Aos professores. c) A propaganda relaciona a atividade docente a algo prazeroso (definição 1) e, ao mesmo tempo, à transmissão do conhecimento (definição 2). Questão 7 LeiaaseguintepassagemdapeçaO demônio familiar (ato II, cena IV), que estreou em 1857. EDUARDO E que lucras tu com isto! Sou tão pobre que te falte aquilo de que precisas? Não te trato mais como amigo do que como escravo? PEDRO Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria que senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro bem bonito para... EDUARDO Para... Dize! PEDRO Para Pedro ser cocheiro de senhor! EDUARDO Então a razão única de tudo isto é o desejo que tens de ser cocheiro? PEDRO Sim, senhor. (José de Alencar, Obras Completas. v. IV, Rio de Janeiro: Aguilar, 1960, p. 100). a) A que acontecimentos se refere Eduardo com a expressão tudo isto? b) Qual a relação entre esses acontecimentos e o título da peça? c) Na passagem citada acima, Eduardo pergunta a Pedro: Não te trato mais como amigo do que como escravo? No final da peça lhe diz: Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante (...). Que contradições as falas de Eduardo revelam a respeito da abolição? a) O moleque Pedro inferniza a vida de uma pacata e tradicional família carioca do século XIX: troca cartas de amor, causando confusões entre casais, porque separa os pares realmente enamorados (Eduardo/Henriqueta; Alfredo/Carlotinha), movido por interesses escusos, ou seja, juntar o ricaço e afetado Azevedo com Henriqueta e uma viúva rica com seu senhor. Tudo isso para se tornar cocheiro, realizando assim seu grande sonho de ascensão. b) Alencar explica que as casas eram habitadas por uma espécie de "demônio familiar", alguém que convive no seio da família, mas que, por ignorância ou malícia, perturba a paz doméstica. Faz do amor, da amizade, da boa reputação e de tudo o mais que a família preza um jogo de interesses. No caso da peça, Pedro, o moleque escravo, desestrutura a ordem de uma família em função de suas aspirações. c) Para Eduardo, representante da elite escravocrata da época, a escravidão de Pedro era abençoada, porque ele desfrutava das regalias de "amigo", vivendo no seio de uma família digna. A carta de alforria que o moleque recebe no final vem como um castigo por seus atos. Assim, a liberdade não é um direito que cabe ao escravo, mas uma concessão e um castigo de seu senhor. Questão 8 Considereaseguintepassagem,queseencontra em um dos últimos capítulos do romance A Brasileira de Prazins:

português 4 São impenetráveis os segredos revelados no tribunal da penitência por Marta ao seu diretor espiritual. O padre Osório, não obstante, suspeitava que a penitente revelasse, com escrupulosa consciência, solicitada por miúdas averiguações do missionário, saudades, reminiscências sensualistas, carnalidades que se lhe formalizavam no espírito dementado, enfim, visões e sonhos com José Dias. (Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995). a) Por que Marta fica conhecida como a senhora Brasileira de Prazins? b) Qual a relação entre Marta e José Dias quando ela se confessa ao missionário? c) Padre Osório e Frei João, o missionário confessor, tinham explicações diferentes para o fato de Marta ter um espírito dementado. Quais são elas e o que indicam sobre o pensamento da época? a) Por ter casado com Feliciano, o Brasileiro de Prazins. Em Portugal, eram conhecidos como "brasileiros" os portugueses que enriqueceram no Brasil e voltavam a Portugal para desfrutar dessa riqueza, como é o caso de Feliciano. b) José Dias fora o seu grande amor, despertado na juventude e que continuou ao longo de sua vida. José Dias morreu tuberculoso e Marta foi impelida a casar-se com seu tio Feliciano, em virtude da riqueza deste. Mas continuou, em espírito, "fiel" ao seu amor. Quando Marta enlouqueceu, tinha visões de José; achava que a alma do seu "Josezinho" vinha vê-la, e ela "conversava" com ele... Guardou para sempre as lembranças daquele amor e, aos 53 anos, quando o romance se encerra, ela ainda se lembra de José Dias e ainda chora por ele. Desse modo, quando ela se confessa com o Frei João e revela essas "aparições" da alma de José Dias, a sua relação com este é a de um amor que sobrevive apesar da morte de Dias, das pressões familiares contrárias ao relacionamento e união dos jovens amantes, do casamento ao qual foi impelida e até mesmo da demência que dela se apossou. É o tema do amor impossível e eterno do romântico Camilo Castelo Branco. c) Para Frei João, a loucura de Marta era uma prova de que o demônio se apossara de sua alma e, para curá-la, submetia-a a terríveis sessões de exorcismo, ignorando sistemática e absurdamente as alegações médicas. Para Padre Osório, a demência de Marta era devida à hereditariedade: ela tinha um "cérebro lesionado" tal como o de sua mãe, que também fora louca. Portanto, tratava-se de uma doença que devia ser tratada com métodos naturais e não com água-benta e rezas. Desse modo, estão em cena duas concepções: uma ligada à religião, obscurantista em seu descaso pelos avanços da ciência; outra, reveladora do cientificismo que impregnava, de um modo geral, as pessoas mais esclarecidas da época. Questão 9 O poema abaixo pertence ao Cancioneiro de Fernando Pessoa. 1 Ah, quanta vez, na hora suave 2 Em que me esqueço, 3 Vejo passar um vôo de ave 4 E me entristeço! 5 Por que é ligeiro, leve, certo 6 No ar de amavio? 7 Por que vai sob o céu aberto 8 um desvio? 9 Por que ter asas simboliza 10 A liberdade 11 Que a vida nega e a alma precisa? 12 Sei que me invade 13 Um horror de me ter que cobre 14 Como uma cheia 15 Meu coração, e entorna sobre 16 Minh alma alheia 17 Um desejo, não de ser ave, 18 Mas de poder 19 Ter não sei quê do vôo suave 20 Dentro em meu ser. Amavio: feitiço, encanto (Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p.138). a) Identifique o recurso lingüístico que representa a ave tanto no plano sonoro quanto no imagético. b) Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e a liberdade? c) Interprete o fato de que as três interrogações (do verso 5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma única e longa frase.

a) Pilar, o narrador-protagonista, consegue a pratinha numa transação com o colega de classe Raimundo. Este, filho do professor Policarpo, tenta se livrar do castigo do pai, por não conseguir fazer a lição, comprando, assim, o serviço de Pilar, que aceita a proposta para ganhar a moedinha. b) Um colega denuncia a transação entre Raimundo e Pilar para o professor que, furioso, castiga os dois alunos, atirando longe a moeda, que cai em um lugar de impossível acesso. c) O "Conto de Escola" se caracteriza por um conjunto de oposições e contradições. A oposição que sustenta o conto se dá entre o espaço da escola, que simboliza a educação através da ordem e da autoridade, e o espaço da rua, que representa a liberdade própria da infância. Mas, ao mesmo tempo, cada um desses espaços apresenta sua contradição. Na escola, Pilar aprende, diante da distração do professor e do olhar atento do colega mais velho Curvelo, sua primeira lição sobre corportuguês 5 a) Trata-se do recurso da musicalidade assonâncias e aliterações, sobretudo do v: como fonema, pode sugerir o canto ou o ruflar das asas; como letra, sugere a forma das asas. b) Pode-se interpretar a relação como contraste/ conflito entre realidade e sonho: a alma anseia pela liberdade, mas esta é negada pela vida real. Ver o vôo da ave faz ressurgir no eu-lírico a tristeza pelos anseios não cumpridos. c) A estrutura sintática pode sugerir a extensão e a densidade do seu anseio e do horror que o invade: "... que cobre / Como uma cheia / Meu coração, e entorna sobre / Minh alma alheia...". Questão 10 Considera-se a estréia da peça Vestido de noiva (1943), de Nelson Rodrigues, um marco na renovação do teatro brasileiro. a) Cite a principal novidade estrutural da peça e comente. b) Por que no encerramento da peça uma rubrica indica que a Marcha Nupcial e a Marcha Fúnebre devem ser executadas simultaneamente? a) A peça tem o palco dividido em três planos, abarcando o plano da realidade, emqueaprotagonista Alaíde sofre um acidente, é hospitalizada, sofre uma intervenção cirúrgica e vem a falecer; o plano da memória, em que a mulher rememora os conflitos de um passado recente, que vai do namoro ao casamento; e o plano da alucinação, em que Alaíde se projeta como "prostituta" no seu alter-ego Mme. Clessi. Os planos confundem-se e há um jogo cênico ora iluminando um plano, ora outros, conforme requer o texto. b) A finalização da peça faz coincidirem as duas marchas. Mesmo após a morte de Alaíde, que teoricamente deveria encerrar o drama, a peça continua como uma espécie de projeção do subconsciente e do inconsciente da protagonista, que anuncia o casamento da irmã (Lúcia) com o marido (Pedro) (a marcha nupcial), e as mortes de Alaíde/Clessi (marcha fúnebre). Questão 11 Leia a seguinte passagem do Conto de escola, de Machado de Assis. (...) E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tacto a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la. (Machado de Assis, Várias histórias. Obra completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 552-553). a) Como o narrador personagem conseguiu a pratinha que estava em seu bolso? b) Qual o destino final da pratinha? c) Nessa passagem, há uma oposição entre o espaço da rua ( Lá fora, no céu azul ) e o espaço em que acontece a ação, oposição que também comparece no início e no final do conto. Em que medida tal oposição contribui para caracterizar a personagem que narra?

português 6 rupção e sedução pelo dinheiro. No final do conto, na rua, Pilar se divide entre pensar na "pratinha" e o som concreto do "tambor", ambos símbolos de mecanismos de obtenção de poder: o dinheiro e a força militar, respectivamente. Questão 12 Considere o seguinte poema de Hilda Hilst: Passará Tem passado Passa com a sua fina faca. Tem nome de ninguém. Não faz ruído. Não fala. Mas passa com a sua fina faca. Fecha feridas, é ungüento. Mas pode abrir a tua mágoa Com a sua fina faca. Estanca ventura e voz Silêncio e desventura. Imóvel Garrote Algoz No corpo da tua água passará Tem passado Passa com a sua fina faca. (Hilda Hilst, Da morte. Odes mínimas. São Paulo: Globo, 2003, p. 72). a) Tendo em vista que esse poema faz parte de uma série intitulada Tempo-morte, indique de que maneira a primeira estrofe exprime certo sentido de absoluto associado ao título. b) Nesse poema há pronomes de segunda e terceira pessoas. Transcreva uma estrofe em que constem ambas as pessoas pronominais e diga a que se referem. a) O tempo e a morte são absolutos: deles não se consegue escapar. Não se detém o tempo ("Passará / Tem passado"), o qual conduz inexoravelmente para o fim, a tudo destruindo ("Passa com a sua fina faca."). b) Em "Mas pode abrir a tua mágoa / Com a sua fina faca (...) No corpo da tua água passará (...)", tua (2ª p.) refere-se ao leitor e sua (3ª p.), ao tempo.