ESTUDO DA ANSIEDADE E AS DIFERENÇAS ENTRE OS GÊNEROS EM UM ESPORTE DE AVENTURA COMPETITIVO

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Transcrição:

74 ESTUDO DA ANSIEDADE E AS DIFERENÇAS ENTRE OS GÊNEROS EM UM ESPORTE DE AVENTURA COMPETITIVO STUDY OF THE ANXIETY AND THE DIFFERENCES BETWEEN GENDERS IN A COMPETITIVE ADVENTURE SPORT Tiago Nicola Lavoura Henrique Moura Leite Botura Afonso Antonio Machado LEPESPE Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte Universidade Estadual Paulista Campus Rio Claro - UNESP nicolalavoura@uol.com.br (Brasil) Resumo A ansiedade interfere no rendimento dos atletas conforme o nível em que é manifestada. Na canoagem slalom, esporte de aventura praticado em rios com fortes corredeiras, tendo como finalidade transpor obstáculos naturais pedras, desníveis, refluxos - dificultado por um percurso artificial composto por balizas transpostas no rio, não é diferente. Assim, este estudo teve por objetivo analisar, através do instrumento CSAI-2 (Competitive State Anxiety Invetory 2) (MARTENS et al., 1990) aplicado em 19 atletas participantes da IV etapa da Copa Brasil de Canoagem realizada na cidade de Anicuns - GO, as diferenças existentes entre os gêneros masculino e feminino quando atrelada ansiedade e performance de atletas de alto nível. Obtivemos como resultado: o gênero feminino apresenta maior nível de ansiedade somática e cognitiva, refletindo dessa forma uma pior performance atlética. As mulheres reagem de maneira diferente dos homens em momentos que antecedem uma competição de canoagem, portanto, cabe aos treinadores e psicólogos do esporte formularem e desenvolverem modelos de treinamento específicos para cada gênero na busca de uma otimização deste processo com a conseqüente melhora no desempenho atlético. Palavras Chaves: Estados emocionais; ansiedade; canoagem; gêneros. Abstract Anxiety interferes in athlete s performance according to its level. In the slalom canoeing, an adventure sport practiced in rivers with strong rapids, where the aim is to transpose natural obstacles - rocks, unevenness, eddies - made it difficult by an artificial course of gates in the river, it s not different. Thus, this study s objective was to analyze, using the instrument CSAI-2 (Competitive State Anxiety Invetory - 2) (MARTENS et al., 1990) in 19 athletes of the IV stage of the Brazilian Canoeing Cup, which took place in the city of Anicuns - GO, the differences between the masculine and feminine gender when anxiety is present in the performance of high level athletes. The results were: the feminine gender shows greater level of somatic and cognitive anxiety, this way resulting in a worse athletical performance. Women react differently from men at moments that precede a canoeing competition, therefore, it is up to coaches and sport psychologists to develop specific models of training for each gender with the goal of optimizing this process, with the consequent improvement in the athletical performance. Keywords: Emotional states; anxiety; canoeing; genders. Recebido em: Aceito em:

75 Introdução A ansiedade é um dos estados emocionais mais presentes no contexto esportivo e como conseqüência, é merecedor de uma grande atenção por parte dos psicólogos do esporte. Diversas definições já lhe foram atribuídas, no entanto a mais comum é de um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como o vazio (ou frio) no estômago, opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça ou falta de ar. Um sentimento de insegurança, causado por uma expectativa de algum perigo, ameaça ou desafio existente. Por vários anos foi concebida como um traço generalizado de um indivíduo. A canoagem é uma modalidade esportiva regida internacionalmente pela I.C.F (Internacional Canoe Federation) e nacionalmente pela C.B.Ca (Confederação Brasileira de Canoagem). Atualmente é constituída por dez modalidades, diferenciadas pelo meio em que são praticadas, podendo ser em mares, rios, lagos e piscinas, e pelos regulamentos que regem cada uma. A canoagem slalom é uma das modalidades, praticada em rios movidos por corredeiras, fazendo com que o canoísta tenha que superar os obstáculos naturais que o próprio rio impõe, como pedras e desníveis. Além disso, um percurso artificial é montado num trecho que varia de 250 a 500 metros, constituído por portas (duas balizas compõem uma porta) suspensas por cabos, que devem ser transpostas em dois sentidos opostos: nas balizas verdes e brancas a passagem deve ser executada a favor da correnteza, e nas balizas vermelhas e brancas no sentido contra a correnteza. As características inerentes ao esporte em questão, neste caso a canoagem slalom, acarretam algumas diferenciações que devem ser consideradas. Primeiramente, este esporte chegou ao Brasil aproximadamente há vinte anos, e o tempo de prática do gênero feminino é muito recente. Sendo assim, os homens acumulam uma experiência muito maior que as mulheres em nosso país, atribuindo a estes uma técnica mais apurada. Vale também salientar que o número de praticantes do gênero masculino é muito superior ao gênero feminino, supostamente pelas capacidades físicas que a modalidade requer e pelos hábitos culturais que marcam nossa sociedade. Assim, estudar e analisar a ansiedade em atletas de ambos os gêneros desta categoria seria uma forma de ampliar, revisar e possibilitar novas visões sobre este estado emocional, no âmbito da Psicologia do Esporte, além de contribuir para o desenvolvimento e aumento do rendimento esportivo dos atletas na modalidade em nível nacional e até internacional, respeitando a especificidade de cada indivíduo. A canoagem Como esporte de aventura, esta modalidade vem se destacando cada vez mais, ganhando significativa notoriedade nacional e internacional e incorporando cada vez mais adeptos em busca de emoção, lazer, competitividade e atividade profissional. Dividida em dez diferentes modalidades: rafting (que são descidas de rios em botes infláveis), velocidade (praticada em águas calmas com raias demarcadas), slalom (praticado em rios com corredeiras), etc., a canoagem pode ser, de acordo com Terezani (2001), classificada atualmente em três vertentes principais: a competitiva que engloba a iniciação da modalidade esportiva, enfatizando atividades lúdicas, aprendizado e massificação, seguido do aperfeiçoamento e do desenvolvimento da alta performance; o lazer o crescimento das atividades eco-turísticas, que atraem centenas de turistas em busca de

76 emoção e lazer; a acadêmica atualmente a Federação Paulista de Canoagem (F.P.Ca.) vem tentando a promoção de cursos específicos de canoagem, no entanto a modalidade encontra-se somente ainda como um conteúdo das disciplinas de Esportes Radicais. A canoagem slalom A canoagem slalom iniciou seu desenvolvimento no Brasil em 1987, sendo, portanto, uma modalidade extremamente nova, mas que já ingressou no mundo esportivo de alta performance, contando com atletas medalhistas em provas internacionais. A canoagem, considerada modalidade olímpica, tem como seu maior objetivo a superação dos obstáculos impostos pela própria natureza, como as ondas e os desníveis dos rios, além do percurso desenhado pelo ser humano, que são as portas (cada porta contém duas balizas) que devem ser transpostas na ordem e no sentido correto, indicado oficialmente de acordo com as regras da modalidade. Este percurso varia de 250 a 500 metros com um total de 18 a 24 portas. O atleta realiza duas descidas que são cronometradas para a obtenção do tempo final, no qual são somadas também as penalizações que porventura ocorram durante o trajeto. Essas penalizações são dadas em valores de tempo, no caso, segundos. Cada toque na baliza, seja do atleta, remo ou embarcação, resulta em um acréscimo de dois segundos para cada toque, e no caso do atleta não passar por dentro da baliza ou no sentido contrário (balizas verdes a favor da correnteza; balizas vermelhas contra a correnteza), soma-se 50 segundos no seu tempo final. A mesma forma de penalização se repete para a segunda descida oficial. A somatória do tempo das duas descidas e penalizações (caso ocorram) resultam no tempo que dará a classificação final do atleta. As categorias do slalom são as seguintes: caiaque (masculino K1M e feminino K1W), e canoa (somente masculina). A canoa subdivide-se em canoa individual (C1) e canoa dupla (C2). No caiaque, o atleta posiciona-se sentado com as pernas estendidas e utiliza um remo de duas pás, enquanto que, na canoa, o atleta posiciona-se ajoelhado e utiliza um remo de apenas uma pá. Os estudos sobre ansiedade A ansiedade é um estado emocional de apreensão e tensão no qual o indivíduo responde a uma situação, não perigosa, mas de ameaça, com um grau de intensidade e magnitude desproporcionais ao objeto em questão (COZZANI et al., 1997). Viscott (1982) afirma que a ansiedade é o medo de perder algo, seja este real ou imaginário, e seu grau dependerá da severidade da ameaça e da importância da perda para o indivíduo, ou seja, se o nível do valor atribuído à vitória for muito alto, poderá elevar demasiadamente o nível de ansiedade. De acordo com Spielberger (1966) a ansiedade pode ser classificada como estado de ansiedade e traço de ansiedade. Enquanto o estado de ansiedade é caracterizado por sentimentos de apreensão e tensão numa determinada situação na qual o indivíduo se encontra, acompanhados por ou associados à ativação do sistema nervoso autônomo, o traço de ansiedade é a predisposição do indivíduo a ter ansiedade. Por sua vez, segundo Liebert & Morris (apud MORAES, 1998), a ansiedade dividi-se em cognitiva e somática. Ambos entendem que a cognitiva relaciona-se com pensamentos duvidosos a respeito de atingir o objetivo de uma vitória ou conquista, ou seja, expectativas e auto-avaliação negativas que levam o indivíduo ao fracasso, já a somática refere-se a auto-percepção dos elementos fisiológicos provenientes da ansiedade como diarréias,

77 aumento da pressão arterial e de batimentos cardíacos, tensão muscular, perda do controle motor, tremedeira, suor na mão e palidez facial. Cada vez mais a comunidade científica vem estudando este estado emocional, a fim de tentar controlá-lo em seus atletas (MANOEL, 1994). Isto ocorre devido às pressões sofridas pelo atleta por parte dos patrocinadores, técnicos, família e principalmente pelo modelo de vencedor imposto pela sociedade. Dentro da canoagem não é diferente. Para Machado (1997), uma das conseqüências de um elevado nível de ansiedade é uma diminuição no nível de concentração, prejudicando o desempenho do indivíduo, principalmente em tarefas complexas, conforme Magill (1984) coloca em sua avaliação da relação entre ansiedade e desempenho. Diferença dos gêneros no contexto esportivo As relações interpessoais fazem com que as mulheres desenvolvam alguns conhecimentos e algumas práticas de abordagens que atuam positiva ou negativamente, diante das tomadas de decisão. Esse approach deve ser considerado diante do universo esportivo, verificando as relações desenvolvidas entre atletas-técnicos ou alunasprofessores, que irão sedimentar seus desenvolvimentos afetivo-cognitivo, no decorrer da vida. Machado (2006) analisa estas fases de desenvolvimento e aponta para algumas zonas de instabilidades/estabilidades: manejo de ansiedade, focos de agressão, comportamentos desviantes, alterações humorais e fisiológicas. Estas considerações se tornam presentes naquelas atletas que não conseguiram fortalecer seus eixos relacionais de maneira convincente ou satisfatória, causando um espaço de atrito psicológico, que virá a alterar o mapeamento da performance de rendimento esportivo. Martens (1990), após os estudos sobre a diferença de ansiedade entre os gêneros verificou que as mulheres apresentavam um maior nível de ansiedade-traço que os homens. Daí sua hipótese de que as mulheres não têm tido tanta experiência quanto os homens no esporte e, sendo assim, têm maior nível de ansiedade cognitiva e somática, e menor de autoconfiança. Metodologia Foram aplicados dois questionários em dezenove atletas, considerados de alto nível, praticantes da modalidade canoagem no dia que antecedeu a participação na IV Copa Brasil de Canoagem Slalom que se realizou na cidade de Anicuns GO no mês de Junho no ano de 2006. Dentre os dois questionários utilizados estão um de identificação geral do atleta e outro específico de ansiedade pré-competitiva. O primeiro é composto de 7 (sete) perguntas visando a caracterização do sujeito (sexo e idade), vinculação com o esporte e auto-avaliação do desempenho esportivo atual. O segundo, CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory - 2) (MARTENS et al., 1990), utilizado para medir o nível de ansiedade (somática e cognitiva), é composto por 27 questões nas quais o sujeito opta por 1 = nada, 2 = alguma coisa, 3 = moderado e 4 = muito, de acordo com a pergunta. As questões pertinentes à avaliação da autoconfiança dos atletas não serão analisadas por não ser de interesse deste estudo avaliar tal característica dos atletas. Assim, analisaremos apenas as questões pertinentes ao objetivo traçado, ou seja, avaliar a ansiedade somática e cognitiva dos atletas momentos antes de uma competição.

78 A pontuação do CSAI-2 é feita pela soma separada de três sub-escalas (foi desconsiderada, para este estudo, a sub-escala de autoconfiança), com pontuação variando de 9 a 36. A sub-escala de ansiedade cognitiva é pontuada pela somatória das respostas das questões 1, 4, 7, 10, 13, 16, 19, 22 e 25. A sub-escala de estado de ansiedade somática é pontuada pela somatória das respostas das questões 2, 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 e 26. A pontuação da questão 14 necessita ser invertida, calculando-se os pontos como indicado: 1= 4; 2= 3; 3= 2; 4=1. Para melhor compreensão e interpretação dos resultados, os níveis de ansiedade foram categorizados em baixo (entre 9 e 18 pontos), médio (entre 18 e 27 pontos), e alta (entre 27 e 36 pontos), de acordo com a somatória obtida através da análise dos questionários. O critério adotado para análise da performance dos atletas foi estabelecido a partir da classificação obtida no resultado geral da competição. A partir de então, a performance foi categorizada em bom, regular e ruim. No gênero feminino, adotamos o seguinte critério: 1 o colocado ao 20 o = bom; 21 o colocado ao 30 o = regular; 31 o colocado ao 45 o = ruim Para o gênero masculino, o critério adotado foi: 1 o colocado ao 10 o = bom; 11 o colocado ao 20 o = regular; 21 o colocado ao 45 o = ruim Resultados Proporção dos gêneros masculino e feminino 26% 74% feminino masculino Gráfico 1: referente à porcentagem do número de atletas masculinos e femininos na competição. A partir da análise do gráfico 1, compreendemos que o número de praticantes do sexo masculino é significativamente superior ao feminino, demonstrando a realidade vigente da canoagem no Brasil, mas não distante da realidade da amostragem geral esportiva brasileira. Supomos que, neste caso específico, esse fato se deve as características da

79 modalidade, talvez pela menor divulgação midiática ou mesmo pelas dificuldades inerentes ao esporte. Comparação dos níveis de ansiedade somática entre os gêneros 100% 80% frequência 60% 40% 20% 0% feminino masculino baixa média alta nível Gráfico 2: referente aos níveis de ansiedade somática dos gêneros masculino e feminino. É relevante ressaltar, a partir da análise deste gráfico 2, que o gênero masculino apresentou em sua totalidade, (100%) um nível de ansiedade somática baixa, enquanto que, o feminino, apresentou um nível de ansiedade somática baixa (60%) e média (40%). Então, este resultado sugere que o gênero feminino, em situações pré-competitivas, tende a manifestar um nervosismo, confortabilidade e repreensão maior do que o gênero masculino, o que é constatado na literatura nacional e internacional. Vale salientar que nenhum dos gêneros apresentou um nível de ansiedade somática em nível alto, levando a entender que desarranjos de ordem gástrica e distúrbios de sono, sudorese excessiva e tremor não são freqüentes nesse grupo de atletas. Comparação dos níveis de ansiedade cognitiva entre os gêneros frequência 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% feminino masculino baixa média alta nível Gráfico 3: referente aos níveis de ansiedade cognitiva entre os gêneros.

80 Conforme verificamos no gráfico 3, os três níveis de ansiedade cognitiva foram apresentados em ambos os gêneros. No entanto, o gênero feminino apresentou a ansiedade cognitiva alta (20%) e média (60%), em maiores níveis que o gênero masculino, enquanto que o grupo de atletas do sexo masculino apresentou, em sua maioria, maiores níveis de ansiedade cognitiva baixa (78,5%). Portanto, o gênero feminino tem, em situações pré-competitivas, uma maior preocupação com a derrota e com a pressão, temendo não ter um bom desempenho e nem apresentar tanta confiança nas suas potencialidades. Em modalidades desta natureza, tal conjunto de dados acompanha os índices encontrados na literatura, evidenciando necessidade de treinamentos diferenciados para cada grupo de atletas, possibilitando o gerenciamento e controle desta situação. Comparação dos níveis de ansiedade cognitiva entre os gêneros frequência 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% feminino masculino baixa média alta nível Gráfico 4: referente à performance dos atletas do gênero masculino e feminino. Considerando que o nível técnico masculino é superior ao feminino nesta modalidade, e levando-se em conta também o aspecto físico, observamos, através dos resultados do gráfico 4, que o grupo feminino obteve uma performance sensivelmente inferior ao grupo masculino. Além das condições consideradas acima, supomos que os níveis de ansiedade somática e cognitiva interferiram no resultado obtido pelos atletas. Devido ao fato do gênero feminino apresentar um nível mais elevado de ansiedade somática e cognitiva, os resultados sugerem que isto tenha influenciado diretamente na performance destas atletas, fato este não observado no grupo masculino. Conclusão Ao término deste estudo, podemos concluir, considerando este contexto estudado, que o gênero feminino apresenta um nível de ansiedade somática, assim como cognitiva, maior que o gênero masculino, exercendo assim uma significativa influência na performance das atletas, ou seja, os homens, ao manifestarem um menor índice de ansiedade somática e cognitiva, atingiram um desempenho mais satisfatório do que as mulheres no conjunto de atividades propostas pela prova esportiva. Isso esclarece que as mulheres reagem de maneira diferente dos homens em momentos que antecedem a uma competição de canoagem. Portanto, cabe aos treinadores e psicólogos do esporte formularem e desenvolverem modelos de treinamento específicos para cada gênero na busca de uma otimização deste processo com a conseqüente melhora no desempenho atlético, de modo geral e específico, uma vez que as equipes pontuam individualmente.

81 Referências Bibliográficas COZZANI, M. et al. Ansiedade: interferências no contexto esportivo. In: MACHADO, A. A. (org) Psicologia do Esporte: temas emergentes. Jundiaí: Fontoura, 1997. MACHADO, A.A. Psicologia do esporte: da educação física ao treinamento esportivo de alto rendimento. São Paulo: Guanabara Koogan, 2006. MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte, temas emergentes I. Jundiaí: Ápice, 1997. MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 1984. MANOEL, C. L. L. Ansiedade competitiva entre sexos: uma analise de suas dimensões e seus antecedentes. Revista Paulista de Educação Física, v. 8, p. 36-53, 1994. MARTENS, R. et al. Competitive Anxiety in Sport. Champaign: Human Kinetics Publishers Books, 1990. MORAES, L. C. Ansiedade e desempenho no esporte. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 4, nº 2, p.51-56, 1998. SPIELBERG, C. D. Anxiety and behavior. New York: Academic Press, 1966. TEREZANI, D. R, Tendências do Esporte de Aventura Canoagem, relacionada ao profissional de Educação Física para o século XXI. In ANAIS: II Congresso Internacional de Motricidade Humana. Muzambinho MG Brasil. 2001. VISCOTT. D. S. A Linguagem dos Sentimentos. São Paulo: Summus, 1982. http://www.cbca.org.br. Página acessada em 15 de maio de 2006. http://www.fpca.esp.br. Página acessada em 15 de maio de 2006. Currículo Tiago Nicola Lavoura Graduado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (2004). Mestrando em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Paulista Julio de Mesquita Rio Claro. Professor da Associação Cerquilense de Canoagem Slalom, Professor da Escola Cooperativa de Piracicaba. Henrique Moura Leite Botura Graduado em Medicina pela Universidade de Taubaté (2002). Mestrando em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Paulista Julio de Mesquita Rio Claro Afonso Antonio Machado Graduado em Licenciatura em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1976), Graduado em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (1980), Graduado em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ciências e Letras Plínio Augusto do Amaral Amparo (1985), especialização em Voleibol pela Faculdade de Educação Física de Santo André (1977), especialização em Handebol pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1981), Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1985) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1994), Livre- Docência em Educação Física pela Universidade Paulista Julio de Mesquita Rio Claro (1998). Endereço: Tiago Nicola Lavoura R. Dr. Paulo Simões, 61 Castelinho Piracicaba SP Brasil - CEP 13403-051 nicolalavoura@uol.com.br