BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Documentos relacionados
BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Prof. Me. Carlos Eduardo Dipp. Advogado em Curitiba/PR e Professor de Direito de Família.

DIREITO CIVIL IX FAMÍLIA I

DIREITO DAS PESSOAS E DA FAMÍLIA 2014/2015

PATERNIDADE SOCIOAFETIVA: DIREITOS DE GUARDA E DE VISITA CONCEBIDOS AO PAI SOCIOAFETIVO SEM VÍNCULO JURÍDICO

TÍTULO: QUEM É O PAI? OS CRITÉRIOS DETERMINANTES PARA O ESTABELECIMENTO DO VINCULO PATERNO-FILIAL

Tema: Do julgamento do STF sobre parentalidade socioafetiva e suas consequências

DIÁLOGOS COM O DIREITO DE FILIAÇÃO BRASILEIRO

TÍTULO: IRREVOGABILIDADE DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS INSTITUIÇÃO: FACULDADE DIADEMA

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS REGIONAL JATAÍ PLANO DE ENSINO

PATERNIDADE PRESUMIDA

Período Turma (s) Eixo de Formação Eixo de formação Profissional. Docente Prof. Me. Francisco José de Oliveira

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

A SUSTENTABILIDADE DOS AFETOS

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

PLANO DE CURSO. Código: DIR34 Carga Horária: 80 Créditos: 04 Pré-requisito(s): Período: 7º Ano: 2017.

OS DIREITOS CIVIS DO TRANSEXUAL E O DIREITO FUNDAMENTAL À FELICIDADE THE CIVIL RIGHTS OF TRANSEXUAL AND FUNDAMENTAL RIGHT TO HAPPINESS

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

EDITAL Nº 01 DE 16 DE MARÇO DE 2016

PATERNIDADE SÓCIOAFETIVA, ADOÇÃO À BRASILEIRA E PLURIPARENTALIDADE

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Da socioafetividade como vínculo de filiação. Patrícia Angelo Carbonero. Págs: 10 a 16. TÍTULO: DA SOCIOAFETIVIDADE COMO VÍNCULO DE FILIAÇÃO

a) do DNAmt, transmitido ao longo da linhagem materna, pois, em cada célula humana, há várias cópias dessa molécula.

PROGRAMA DE DISCIPLINA. 1. Curso: Direito 2. Código: 14 e Turno(s) Diurno X Noturno X

Curso de. Direito. Núcleo de Prática Jurídica. Direito de Família.

Provas escritas individuais ou provas escritas individuais e trabalho(s)

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

ROTEIRO DIREITO CIVIL DIREITO DE FAMÍLIA PARA ANALISTA DO BACEN NOÇÕES GERAIS

REFLEXOS DO BIODIREITO NO DIREITO DAS FAMÍLIAS

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Programa Analítico de Disciplina DIR317 Direito de família e sucessões

Escrito por Rosana Torrano Dom, 26 de Novembro de :52 - Última atualização Dom, 26 de Novembro de :54

RECONHECIMENTO EXTRAJUDICIAL DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA. PROVIMENTO Nº 63 de 14/11/2017 CNJ SEÇÃO II - Arts. 10 a 15

AFETIVIDADE E FAMÍLIA: Uma análise diante da legislação brasileira

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

ADOÇÃO POLIAFETIVA: MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS E PERSPECTIVAS FUTURAS

RESUMOS XIII MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (DIREITOS HUMANOS, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL CONTEMPORÂNEA)

ADOÇÃO. 1 Introdução: 1 Evolução legislativa: 12/10/2014. Filiação natural vs. Filiação adotiva. Infertilidade: Interesse dos casais

SUMÁRIO Sexualidade, medo e preconceito Expressões, nomes e nomenclaturas Antes O papel das religiões...

Programa Analítico de Disciplina DIR317 Direito de família e sucessões

Introdução Capítulo LXXXII A Família... 21

Nº COMARCA DE SÃO SEPÉ

b) Indique qual(is) o(s) genótipo(s) e fenótipo da amostra de sangue coletada na cena do crime.

PARECERES. Investigação da Paternidade. (Valor do diagnóstico pericial de "possibilidade")

UNIVERSIDADE DE MACAU FACULDADE DE DIREITO

Continuação Direito à Convivência Familiar e Comunitária. Adoção- art.39 a Direito da Infância e da Adolescência

MATERIAL DE LEITURA OBRIGATÓRIA AULA 05

O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: Considerações sobre a Adoção Multiparental

Te ofereço paz Te ofereço amor Te ofereço amizade Ouço tuas necessidades Vejo tua beleza Sinto os teus sentimentos

A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NO BRASIL: uma análise de seus efeitos e limites

Sumário. Proposta da Coleção Leis Especiais para Concursos Apresentação da Segunda Edição Apresentação... 19

Gene tica. O que é genética? É o estudo dos genes e de sua transmissão para as futuras gerações. Genética Clássica -> Mendel(1856)

O Trabalho Social com Famílias de Origem de Crianças e Adolescentes em Contexto Vulnerável

NOTAS SOBRE A FILIAÇÃO

AS MUDANÇAS DOS PARADIGMAS NO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO

RESUMO. Palavras-Chave: Direito. Família. Paternidade Socioafetiva. Dignidade Humana.

Pós-Graduação. Direito das Famílias e das Sucessões

QUESTÕES DE REVISÃO 1ª N2

Visão Geral do Livro IV do Novo Código Civil Maria Luiza Póvoa Cruz

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: UM NOVO CONCEITO PARA A JUSTIÇA

1. Introdução. 2. Parentesco para Fins de Sucessão

UNIÃO POLIAFETIVA: APLICAÇÃO DA TEORIA DO POLIAMOR E SUA POSSIBILIDADE JURÍDICA.

2) Interpretação e Semiótica BIODIREITO E SEUS REFLEXOS NO DIREITO DE FAMÍLIA I- INTERPRETAÇÃO JURÍDICA. 1) Positivismo x Normativismo Concreto

PROPOSTA TEXTUAL: A NOVA CONFIGURAÇÃO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

RESOLUÇÃO DE QUESTÕES DE PROVA FGV TJ/RJ. RAFAEL TREVIZOLI NEVES PSICÓLOGO CRP 06/ COLABORADOR EducaPsico

MULTIPARENTALIDADE: REFORMULAÇÃO DISCURSIVA DA FAMÍLIA E DO SUJEITO-PAI-AFETIVO

A família. contemporânea. à luz do DIREITO

1 Introdução: 1 Introdução: FAMÍLIA, ENTIDADES FAMILIARES E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA 17/08/2014

Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N1: Maio de 2017

Aprendizagem significativa e aquisição da escrita

A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA NO PROCESSO DE ADOÇÃO

DIREITO DE FAMÍLIA ROTEIRO DE AULA Profa. Dra. Maitê Damé Teixeira Lemos

As condicionantes da ação humana

PATERNIDADE BIOLÓGICA E SOCIOAFETIVA:

DA DESCONSTITUIÇÃO DA PATERNIDADE PELA AUSÊNCIA DE SOCIOAFETIVIDADE

Programa Analítico de Disciplina DIR318 Direito Civil IX - Direito das Sucessões

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. Formatos Familiares Contemporâneos.

TRANSFORMAÇÕES NA CONVIVÊNCIA DE ADOLESCENTES JUNTO AO LABORTÓRIO DE INFORMÁTICA EM UMA ESCOLA PÚBLICA

O PLURALISMO FAMILIAR E A LIBERDADE DE CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNHÃO DA VIDA FAMILIAR

ANEXO NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Casamento é o vínculo jurídico entre homem e a mulher que se unem material e espiritualmente para constituírem família.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. RESOLUÇÃO No , DE 15 DE DEZEMBRO DE 2010

GENÉTICA. Prof.César Lima

Afetividade com responsabilidade Aspectos controvertidos da parentalidade socioafetiva

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Núcleo de Pesquisa e Extensão do Curso de Direito NUPEDIR IX MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (MIC-DIR) 9 de novembro de 2016

Instituições de Direito Profª Mestre Ideli Raimundo Di Tizio p 31

Genética Conceitos Básicos. Professor Fláudio

CAPACIDADE À LUZ DO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

ADOÇÃO POLIAFETIVA: a atuação do NEDDIJ sob a ótica de um novo paradigma de família

Nesse sentido, segundo Carvalho (2000 apud Mioto et al., 2007), embora as formas de se construir famílias tenham se alterado, estas não perderam a

A ESCOLA E FILHOS DE GAYS: REFLEXÕES SOBRE CONJUGALIDADE E PARENTALIDADE NO BRASIL.

FICHA DE DISCIPLINA OBJETIVOS

Transcrição:

BuscaLegis.ccj.ufsc.br A importância dos critérios de determinação de paternidade Rodrigo Hage "...É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Por que se você parar Prá pensar Na verdade não há... (Renato Russo) No âmbito do Direito de Família, tradicionalmente, a classificação das relações jurídicas se dá da seguinte forma: relações conjugais, relações de afinidade e relações de parentesco. Importante salientar que afinidade e parentesco não se confundem. Segundo Diogo Leite de Campos, "o parentesco é uma relação de sangue", entretanto o referido conceito de parentesco denuncia-se flagrantemente restrito, pois exclui outros vínculos de parentesco que não são baseados na consangüinidade, como por exemplo a adoção. No âmbito do Senado Federal, foi apresentada a Emenda 222 determinando que "o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou adoção." A afinidade é vínculo estritamente pessoal, vínculo de ordem jurídica, decorrente de lei e, portanto sendo prevista em hipóteses taxativas no ordenamento jurídico brasileiro, produzindo efeitos jurídicos consideravelmente menores se comparados aos efeitos produzidos pelo parentesco.

Todo indivíduo tem direito de conhecer suas raízes, de saber qual o seu parentesco com outras pessoas e é por isso que a identificação da paternidade é fundamental na formação de um indivíduo e propicia ao mesmo a possibilidade de ter um referencial de existência, de saber mais sobre a sua origem, o que é de fundamental importância na formação de sua personalidade. O desconhecimento da paternidade pode deixar o indivíduo desnorteado e até mesmo e trazer efeitos psicológicos, ou até mesmo outras seqüelas irreversíveis. Aquele que não conhece as suas raízes está propenso a uma vida de incertezas e descontentamentos. É por isso que a identificação da paternidade é tão importante o que atrai, indubitavelmente o interesse público. Diante de sua importância, critérios de determinação de paternidade foram criados para auxiliar o indivíduo na busca pela paternidade. Ao longo da história os critérios de evolução da paternidade foram surgindo, conforme as necessidades e anseios da sociedade. Surgiam de acordo com as mudanças, novos paradigmas, novos contextos sociais e, com isso, novas necessidades, novas formas de ver o mundo e inovações no âmbito do direito. A identificação da paternidade baseava-se na comparação do conjunto da fisionomia entre o filho e o "suposto" pai, observando as características fisionômicas, psicológicas e seus traços em comum, demonstrando um critério demasiadamente subjetivo. Era da chamada "semelhança fisionômica" que, até então, prevalecia e carecia totalmente de fundamentos científicos. De fato, para a velha genética, hereditariedade significava "semelhança". A paternidade era determinada pelo critério da presunção legal, critério este que contemplava apenas os filhos havidos do casamento, discriminando os filhos havidos de outras relações não matrimonializadas. Era evidente que tal critério não ia permanecer como sendo o único por muito tempo, pois deixava uma margem de incertezas muito grande e retratava uma visão conservadora e discriminatória das relações familiares.

Aos poucos, foi se percebendo que a identificação da paternidade através de tal método não oferecia segurança suficiente ao indivíduo e que, deveria haver um método mais preciso e rigoroso na busca paternal. Assim, uma nova tendência surgia na identificação de critérios mais objetivos. A genética trazia como novidade a "hereditariedade" de certos caracteres humanos. Contudo as formas de transmissão não estavam bem definidas, não eram dotadas de certeza absoluta. Não afirmavam paternidade, só dando certeza quanto à exclusão. A paternidade, assim, era definida através de uma presunção que se referia única e exclusivamente aos filhos havidos do casamento, em detrimento dos interesses daqueles havidos de relações não matrimonializadas. Era o que supria a ausência de um método mais preciso. Entretanto, a partir de inúmeros testes e tentativas, foram descobertos os chamados "fatores sanguíneos", tornando possível o estabelecimento das regras de transmissão hereditária. Esses fatores não chegavam a dar uma certeza absoluta quanto à afirmação da paternidade, mas restringiam o âmbito de probabilidades, o que já representava um grande avanço. Diante de tantas descobertas e avanços científicos, como o método HLA (sistema de antígenos leucocitários humanos) e o advento da tipagem do DNA, tornou-se possível estabelecer com alto grau de precisão a identificação dos indivíduos, inclusive a sua genealogia. Visível era, portanto, a supremacia do critério biológico, na medida em que, cada vez mais, demonstrava grande eficácia na solução das questões que giravam em torno da investigação de paternidade, das chamadas "provas científicas". A sociedade, até então, satisfazia-se com os fascínios da tecnologia biológica. A busca pela certeza trouxe uma forma muito racional de lidar com as questões de investigação de paternidade. Entretanto, os anseios da sociedade não estavam plenamente atendidos, visto que os seres humanos não conseguiam levar uma vida

privada de emoções, ou seja, em todos os setores da vida humana, valores e sentimentos estavam impregnados. Percebeu-se que não seria mais suficiente restringir os vínculos de parentesco a uma verdade biológica. Assim como surgia a aceitação pela pluralidade das famílias, o parentesco deveria ser visto em sentido amplo, de forma que a afetividade, a vontade e o consentimento passassem a ser levados em consideração; de modo a permitir que, mesmo não tendo um vínculo biológico com a criança, um homem pudesse reconhecê-la como filho, bastando apenas que estivessem presentes afinidade e afeto. Importante papel assumiu a afetividade no desenvolvimento da relação paterno-filial, passando a ser denominada de paternidade sociológica baseada no cultivo do afeto das relações familiares, inclusive na relação de pai para filho. A paternidade sociológica refletia o novo caráter que a família moderna vinha formando direcionado à busca da realização de cada membro. A determinação do "pai biológico" não era mais o fim precípuo da busca pela paternidade, mas o reconhecimento da paternidade baseada no afeto, nas relações de amor e carinho entre pais e filhos, independentemente de qualquer laço consangüíneo. O professor Washington de Barros Monteiro reconhece na utilização da expressão "outra origem", trazida pelo art. 1.593 do Código Civil, o espaço que se tem dado à paternidade desbiologizada ou socioafetiva: embora não estejam presentes os elos de sangue, existem laços de afetividade, que a sociedade vem entendendo como mais importantes do que o vínculo sanguíneo. Destarte, verifica-se uma sincronia na evolução, tanto das relações entre homem e mulher, quanto nas relações com a prole, pois existe uma liberdade maior no tratamento das relações entre ambos os sexos.

O principal objetivo passou a ser a busca pela felicidade na relação amorosa e também nas relações de filiação, em que a criança passou a ser mais valorizada, tendo, finalmente, seus direitos e anseios respeitados pela sociedade. Bibliografia ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto. Aspectos da Paternidade no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 53, 98, 99. DIAS, Maria Berenice. Manual do Direito das Famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 316. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Direito de Família e o Novo Código Civil Texto: Das relações de parentesco. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 120. ODON, Ramos Maranhão. Curso Básico de Medicina Legal, cit., p.220-221. RASKIN, Salmo. Manual Prático de DNA para a investigação da paternidade, cit., p.14. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/5420/1/criterios-de-determinacao-depaternidade/pagina1.html. Acesso em: 01 maio 2008.