Revista Agrotecnologia, Anápolis, GO, PrP/UEG INFLUENCIA DO TIPO DE PREPRARO DO SOLO E VELOCIDADE DE SEMEADURA EM CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DA CULTURA DO MILHO Edney Leandro da Vitória 1, Flávio Coutinho Longui 2 *, Haroldo Carlos Fernandes 3, Cesar Conte Guimarães Filho 4 Resumo: O solo é um importante recurso que precisa ser preservado e deve ser utilizado um correto preparo, pois melhora a sua estrutura física, porosidade e rugosidade superficial facilitando a infiltração da água no solo e, conseqüentemente, a perda de matéria orgânica e de outros componentes de sua fertilidade. Uma das variáveis diretamente ligadas ao processo de preparo de solo é a velocidade da semeadura. Diante deste contexto este trabalho teve como objetivo avaliar a influencia do sistema de preparo do solo e velocidade de semeadura sobre alguns parâmetros agronômicos da cultura do milho. O experimento foi montado no delineamento em blocos casualizados no esquema fatorial (2x2), com quatro repetições. Os tratamentos constituíram uma aração com arado de discos, duas gradagens e uma escarificação combinadas com duas velocidades da semeadura. O tipo de preparo do solo proporcionou diferenças na porcentagem de cobertura da superfície do solo e na massa da espiga. A velocidade de semeadura não causou interferência significativa nos parâmetros estudados. O tipo de preparo do solo proporcionou diferenças na porcentagem de cobertura da superfície do solo e na massa da espiga. Palavras-chaves: Solo, máquinas de plantio, máquinas de preparo de solo. INFLUENCE OF SPEED OF SOWING AND PREPARATION OF SOIL IN THE CULTURE OF MAIZE 1 Engenheiro Agrícola, Professor adjunto DS, DCAB/CEUNES, Universidade Federal do Espírito Santo, Rod. BR 101 km 60 Campus Litorâneo, CEP: 29932-540, São Mateus, ES, Brasil. edney.vitoria@ceunes.ufes.br. 2 Zootecnista, Doutorando Engenharia Agrícola/UFV, Viçosa, MG. Email: flavio.clongui@hotmail. 3 Engenheiro Agrícola, Professor Associado DS, DEA/UFV, Viçosa, MG. Email: haroldo@ufv.br. 4 Zootecnista, Professor adjunto DS, CCA/UFES, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES. Email: cesar.guimaraes@ufv.br. *Autor para correspondência.
Abstract: Soil is an important resource that must be preserved and should be used a correct preparation, because it improves their physical structure, porosity and surface roughness facilitating water infiltration into the soil and consequently, the loss of organic matter and other components their fertility. One of the variables directly related to the process of soil preparation is the speed of sowing. Given this context, this work aimed to evaluate the influence of soil tillage and sowing speed on some agronomic parameters of corn. The experiment was arranged in randomized blocks in factorial scheme (2x2) with four replications. The results showed that tillage did not suffer influence the speed of sowing. The type of tillage yielded differences in the percentage of coverage of the soil surface and the mass. O tillage did not influence the speed of sowing. The seeding rate did not cause significant interference in the studied parameters. The type of tillage yielded differences in the percentage of coverage of the soil surface and the mass of the spike. keyword: Soil, planting machines, machines for soil preparation. INTRODUÇÃO refletindo-se negativamente na resistência O solo é um importante recurso que dos agregados do solo. Este sistema de precisa ser preservado, utilizando correto preparo aumenta o volume de poros dentro preparo do solo. Quando esse preparo é da camada preparada, à permeabilidade e o bem conduzido, observa-se melhoria na armazenamento de ar e facilitam o sua estrutura física, porosidade e crescimento das raízes das plantas nessa rugosidade superficial estas características camada, em relação à semeadura direta e facilitam a penetração da água no solo ao campo nativo. reduzindo a possibilidade de ocorrer e, Os aspectos positivos do preparo conseqüentemente, a perda de matéria convencional são perdidos, quando o solo, orgânica e de outros componentes de sua descoberto pelo efeito do preparo, é fertilidade (SILVA et al. 2006). submetido às chuvas erosivas, as quais o Segundo Bertol et al. (2004) o desagregam na superfície pelo impacto das preparo convencional rompe os agregados gotas, diminuem a taxa de infiltração de na camada preparada e acelera a água de acordo com Bertol et al. (2004) e decomposição da matéria orgânica, aumentam o escoamento superficial e a 45
erosão hídrica, em relação aos outros sistemas de manejo do solo. O escarificador é um implemento agrícola que apresenta-se como uma opção dentro do manejo conservacionista trazendo vantagens, como o fato de que mobilizar o solo sem revolvê-lo, promovendo a incorporação de menos de 1/3 do material existente na superfície, danifica pouco a estrutura do solo, porque produz torrões grandes. Segundo Mello et al. (2007) uma das variáveis diretamente ligadas ao processo de preparo de solo é a velocidade da semeadura. Vários trabalhos citam que a velocidade contribui de maneira decisiva para a distribuição longitudinal das sementes no momento da semeadura, comprovados por Mantovani et al. (1992), Pacheco et al. (1996) e Justino et al. (1998). Consegue romper camadas compactadas do solo atingindo profundidades de trabalho maiores, quando comparado com outros implementos de preparo primário (BIANCHINI et al., 1999). No presente trabalho procurou-se avaliar a influencia do sistema de preparo do solo e velocidade de semeadura sobre alguns parâmetros agronômicos na cultura do milho MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na fazenda Modelo do Centro Universitário Vila Velha, localizado no município de Cariacica, ES. A localização geográfica esta definida pelas coordenadas 20 o 16`58`` latitude sul e 40 o 25 34 longitude oeste sendo a altitude média de 32m, apresentando clima Aw Tropical, com inverno seco, de acordo com classificação de Köeppen. O solo da área experimental foi classificado como solo aluvial, A moderado, textura argilosa, relevo plano. Nessa área, a cultura anteriormente implantada foi brachiaria (brachiaria decumbes sp.) O referido experimento foi instalado num esquema fatorial 2X2 em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e quatro repetições, totalizando 16 parcelas, cujas dimensões foram de 20 por 4 m (80m 2 ). Entre as parcelas deixou-se um espaço de 10 m de comprimento com objetivo de facilitar as manobras e estabilização dos conjuntos mecanizados. Os tratamentos foram: convencional (uma aração com arado de disco e duas gradagens); e reduzido (uma escarificação combinada com o rolo destorroador). Em todas as condições de preparo de solo foram utilizadas duas velocidades de deslocamento de semeadora 46
(3 e 5 km h -1 ). Foi utilizada a variedade de milho BR106 da EMBRAPA com espaçamento de 0,9m entre linhas. Os equipamentos utilizados foram: trator Massey Ferguson 275, arado reversível Tatu com 3 discos de 26 de diâmetro, grade niveladora de arrasto Piccin com 32 discos de 46 cm de diâmetro e escarificador Tatu com 7 hastes, conjugado com discos de cortes mais rolo destorroador e uma semeadora convencional JUMIL, modelo JM 2040, com três linhas de plantio. A profundidade de semeadura foi determinada da seguinte forma: dez plantas por parcela, sete dias após a emergência, medindo-se com uma régua graduada em milímetros a distância entre a semente e a superfície do solo. A porcentagem de emergência de plântulas foi obtida contando-se o número de plantas emergidas em dois metros, sendo realizadas em três leituras por parcela, obtendo-se o valor extrapolado em número de plantas emergidas por hectare. A porcentagem de cobertura vegetal foi determinada segundo metodologia descrita por Laflen et al. (1981). A massa vegetal na superfície do solo foi avaliado em 0,25 m 2, utilizando-se um quadrado de madeira, seguindo a mesma metodologia usada por Lopes et.al. (2001). O material foi seco em estufa por 48 horas 105 o C e posteriormente verificada a massa vegetal seca em kg ha -1. Para obter a porcentagem de grãos, palhas e sabugo das espigas, coletaram-se duas linhas úteis de cada parcela, totalizando 25m 2. Usou-se uma trilhadora estacionária para o processamento das espigas, sendo a massa de grãos verificada por meio de balança digital. RESULTADOS E DISCUSSÃO O teor médio de água do solo no dia dos preparos e semeadura foi de 10,9% na profundidade de 0 a 0,15 m e de 11,6% na profundidade de 0,15 a 0,30 m. Na Tabela 1 esta apresentado o resultado da análise de variância da cobertura vegetal incorporada (CVI), massa vegetal seca (MVS), emergência de plântulas (EP), profundidade de semeadura (PS), massa de espiga (ME), palha (P), sabugo (S) e grãos (G). Não houve diferença significativa em nenhum parâmetro estudado para o fator velocidade de semeadura, assim como para a interação do tipo de preparo de solo e velocidade de semeadura, sendo assim só realizou-se o teste Tukey para o fator tipo de preparo de solo. 47
Tabela 1 Quadro de análise de variância para a porcentagem de cobertura vegetal incorporada (%CVI), massa vegetal seca (MVS), emergência de plântulas (EP), profundidade de semeadura (PS), porcentagem de palha (%P), sabugo (%S) e grãos (%G). Fator Preparo do Solo (p) CVI (%) MVS (kg ha -1 ) EP (plant. ha -1 ) PS (cm) ME (kg ha -1) ) P (%) S (%) G (%) 198,50* 16,20* 1,40 ns 1,60 ns 12,5* 1,0 ns 1,40 ns 15,0 ns Vel. (V) 0,10 ns 0,60 ns 0,40 ns 0,01 ns 1,5 ns 0,9 ns 1,1 ns 1,0 ns Interação (P x V) 0,10 ns 2,00 ns 2,40 ns 0,09 ns 0,8 ns 0,5 ns 0,9 ns 1,0 ns C.V. 12,50 39,80 17,00 25,20 25,0 18,8 17,00 22,6 ns: não significativo (p>0,05) *: significativa (p<0,05) A porcentagem de cobertura vegetal antes do preparo do solo apresentou-se homogênea quantificando 100% para todos os tratamentos, devido ao manejo adotado na área. Na Tabela 2 está apresentado o resultado do teste Tukey da cobertura vegetal, a 5% de probabilidade para o tipo de preparo de solo. Tabela 2 - Valores médios de porcentagem de cobertura vegetal incorporada no solo. Cobertura vegetal incorporada (%) Preparo Reduzido 60,1 b Preparo Convencional 72,5 a Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Observa-se na Tabela 2 que a cobertura vegetal incorporada após as operações de preparo do solo e semeadura mostrou diferença estatística significativa para o fator preparo do solo. Os resultados encontrados equivalem aos encontrados por Lopes et.al. (2001). Na Tabela 1 observa-se que a variável plântula emergida por hectare não foi influenciada estatisticamente para os dois tipos de preparo do solo e velocidade de semeadura. Freitas et al. (2005) trabalhando com milho em plantio convencional encontrou valores semelhantes. 48
A massa vegetal seca também apresentou diferença significativa para os dois tipos de preparo do solo estudados, conforme visto na Tabela 1. Na Tabela 3 está apresentado o resultado do teste Tukey a 5% de probabilidade. Tabela 3 - Valores médios para a massa vegetal seca da cultura do milho. Fator Massa vegetal seca (kg ha -1 ) Preparo Reduzido 3.662 a Preparo Convencional 1.402 b Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Observando a Tabela 3, a massa vegetal seca do preparo reduzido foi 261% maior que no preparo convencional. Bayer et al. (1998) trabalhando com os mesmos preparo de solo em diferentes valores de adubação de nitrogênio encontrou valores maiores para a massa vegetal seca, para ambos tratamentos, porém com um aumento de mais de 200% na relação entre o preparo reduzido e o convencional. Este valor maior provavelmente se dá ao maior contato entre solo e semente e pela maior quantidade de matéria orgânica provocado pelo preparo reduzido, observação também feita por Amado et al.(2000). A Tabela 1 mostra que não houve diferença estatística significativa entre os fatores preparo do solo e velocidade da semeadura para a variável profundidade de semeadura. Lopes et al. (2001) trabalhando com semeadura direta observaram que a profundidade de semeadura foi menor do que as encontradas neste trabalho. Estudando a variável massa da espiga a estatística mostrou que houve influência significativa de acordo com dados apresentados na Tabela 1. Na tabela 4 está apresentado o resultado do teste de Tukey, a 5%. Tabela 4 - Valores médios para a massa de espiga da cultura do milho. Fator Massa de espiga (kg ha -1 ) Preparo Reduzido Preparo Convencional 4.128 a 5.212 b Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 49
A massa de espiga apresentou-se significativamente maior no preparo convencional. Carvalho et al. (2004) trabalhando em plantio convencional e reduzido utilizando diferentes doses de adubo verde encontrou valores um pouco menor, porém uma diferença ainda maior no preparo convencional. De acordo com a análise estatística dos resultados (Tabela 1), as distribuições percentuais de palha, sabugo e grãos na espiga apresentam resultados estatisticamente semelhantes para os fatores preparo de solo e velocidade de semeadura. Foram encontrados maiores valores para palha e sabugo no preparo convencional (10,8 e 14,5%) em relação ao preparo reduzido (10,2 e 13,8), em relação aos grãos o preparo convencional apresentou valores maiores, assim como para a velocidade de 5 km h -1, porém não significativos. Em relação ao fator velocidade de semeadura os valores foram bem parecidos. Carvalho et al. (2004) encontrou diferença significativa para o preparo convencional para os parâmetros sabugo e grãos, Bayer et al.(1998) encontrou valores similares a este trabalho. CONCLUSÕES A velocidade de semeadura não causou interferência significativa nos parâmetros estudados. O tipo de preparo do solo proporcionou diferenças na porcentagem de cobertura vegetal incorporada, na massa vegetal seca e na massa da espiga, porém não apresentou diferenças significativas na emergência de plântulas, profundidade de semeadura, na porcentagem de palha, de sabugo e de grãos. REFERÊNCIAS AMADA,T. J. C.; MIELNICZUK, J.; FERNANDES, S. B. V. Leguminosas e adubação mineral como fontes de nitrogênio para o milho em sistemas de preparo do solo. Revista Brasileira de Ciência do solo. v.24, n.1, p.179-189. 2000. BAYER, C.; MIELNICZUK, J.; PAVINATO, A. Sistemas de manejo do solo e seus efeitos sobre o rendimento do milho. Revista Ciência Rural. Santa Mária, v.28, n.1, p.23-28, 1998. BERTOL, I.; ALBUQUERQUE, J. A.; LEITE, D.; ALMARAL. A. J.; JUNIOR, W. A. Z. Propriedades físicas do solo sob preparo convencional e semeadura direta em rotação e sucesso de culturas, 50
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