FRUTAS DO CERRADO: RIQUEZA POUCO CONHECIDA Frutas do cerrado: riqueza pouco conhecida João Paulo Tadeu Dias 1 1 Professor Doutor em Agronomia (Horticultura), Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Br 158, Km 655 - Antiga FAB - Nova Xavantina - MT. CEP 78690-000 Caixa postal 08, correio eletrônico: diasagro2@gmail.com; O bioma Cerrado possui uma flora típica da região muito importante para a conservação das diferentes espécies, uma vez que existe complementaridade entre elas (Almeida; Lousada, 2009), diversidade na composição da flora apícola (Mendonça et al., 2008), fonte alternativa de alimento e nutrientes (Silva et al., 2008), além de plantas com propriedades medicinais (Souza; Felfili, 2006) e diversas plantas frutíferas. O Cerrado é uma área prioritária para conservação da biodiversidade mundial, isto é, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. Nos últimos 35 anos mais da metade dos seus dois milhões de quilômetros quadrados originais foram cultivados com pastagens plantadas e culturas anuais. O Cerrado possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo (com mais de 7.000 espécies), com alto nível de espécies que só ocorrem nesse local (endêmicas). A riqueza de espécies de aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos é igualmente grande, embora a riqueza de mamíferos seja relativamente pequena, quando comparado a outros biomas. As taxas de desmatamento no Cerrado têm sido historicamente superiores às da Floresta Amazônica e o esforço de conservação do bioma é muito inferior ao da Amazônia: apenas 2,2% da área do Cerrado se encontram legalmente
protegida. Diversas espécies animais e vegetais estão ameaçadas de extinção, e estima-se que 20% das espécies ameaçadas ou endêmicas não ocorram nas áreas legalmente protegidas. As principais ameaças à biodiversidade do Cerrado são a erosão dos solos, a degradação dos diversos tipos de vegetação presentes no bioma e a invasão biológica causada por gramíneas de origem africana (KLINK; MACHADO, 2005). Diversas espécies nativas apresentam potencial frutícola no Cerrado, contudo são uma riqueza pouco conhecida pela população em geral, exceto pelo povo de comunidades locais. Essa riqueza desconhecida é pouco explorada economicamente, exceto de maneira extrativista pelas comunidades locais. Frutas, como por exemplo, o baru, o jatobá-do-cerrado, o tucum-do- Cerrado e o babaçu podem ter potencial para estimular o consumo de frutas, levando em conta o sabor e o aroma peculiar de cada fruta, além do apelo à saúde. O fato de possuírem propriedades antioxidantes, vitaminas e minerais, pode ser um fator a atribuir-lhes qualidades de prevenir e controlar algumas doenças, como por exemplo, as cardíacas e diferentes tipos de câncer. No entanto, ainda são escassos estudos na literatura científica relacionando os aspectos nutricionais das frutas do Cerrado, consumo regular e ação na prevenção e controle de doenças. O baru (Figura 1) é encontrado em toda área de domínio do Cerrado brasileiro. A planta apresenta, em média, 12 m de altura por 8 m de diâmetro de copa. Cada árvore pode produzir de 1000 a 3000 frutos cujo diâmetro maior é de 5 a 7 cm e o diâmetro menor de 3 a 5 cm, com peso entre 26 a 40 g e encontra-se uma única semente de, apro- ximadamente, 1,17 g. A casca e a polpa apresentam cor amarronzada e a semente, de coloração creme a branca,
é envolvida por uma película marrom escura. A amêndoa é oleaginosa, com propriedades revigorantes e estimulantes ao suor; das sementes extrai-se o óleo fino de baru, sendo potencialmente medicinal. Cabe ressaltar que, o baru apresenta uma polpa aromática e de agradável sabor semelhante ao do amendoim, pode ser consumida ao natural ou na forma de castanha torrada (Figura 1). Também pode ser consumida por mamíferos como, por exemplo, o gado e o morcego, além de aves como o tucano (ARAKAKI et al., 2009). O jatobá-do-cerrado (Figura 2) é uma árvore decídua de aproximadamente 20 m, com tronco retorcido, copa baixa e folhas compostas bifoliadas. O fruto é um legume seco alongado com ápice e base arredondada, mede 8,7 cm a 20 cm de comprimento, 2,1 cm a 6,5 cm de largura e 2,0 cm a 4,3 cm de espessura, textura rugosa devido à presença de pontuações pequenas, salientes e arredondada, além de cor variando do marrom-claro ao marrom-escuro (quase preto). Em cada fruto ocorrem de uma a seis sementes globosas, largo-oblonga, obovada, comprida, medindo 17,8 mm a 28,4 mm de comprimento e 19,7 mm de espessura. Envolvendo as sementes, há o arilo amarelo-esverdeado, macio, fibroso-farináceo, com cheiro característico e sabor doce, constituindo a polpa comestível (CARVALHO, 2007). A palmeira tucum-do-cerrado (Figura 3) pode ter de 4 a 6 m de altura por 3 a 4 m de diâmetro de copa e apresentar de 3 a 4 cachos, sendo que esses podem conter de 100 a 300 frutos cada um. Os frutos são globosos com 2 a 3 cm de diâmetro por 3 a 5 cm de comprimento, e pesam em torno de 25 g. Apresentam coloração esverdeada e laranja quando maduro e a polpa é de cor violácea. A utilização dos frutos se dá por meio de consumo da fruta fresca ou em forma de sucos, sorvetes, geléias, vinhos e vinagre. Essa palmeira
geralmente possui troncos em touceiras, raramente são encontradas plantas individuais e, seus troncos são cobertos com espinhos negros. As folhas são pinadas e, também, contém longos espinhos negros no pecíolo, em número de 5 a 9. As folhas podem ser utilizadas no artesanato para confecção de cordas, redes e sacolas (SOUZA et al., 2014). As palmeiras babaçu (Figura 4) destacam-se entre as plantas encontradas no território brasileiro, sobretudo no bioma Cerrado, chegando a atingir entre 10 a 20 metros de altura, de 25 a 44 cm de diâmetro do caule (estipe) e com 7 a 22 folhas medindo de 4 a 8 m de comprimento. O babaçu pode possuir até seis cachos por planta ou mais, cada cacho possui de 240 a 720 frutos, sendo que esses frutos são lenhosos, ovais alongados, de polpa fibrosa-farinácea, podendo atingir de 5 a 15 cm por 3 a 8 cm de diâmetro e chegando a pesar de 90 a 240 g. Este fruto apresenta epicarpo (camada mais externa bastante rija), mesocarpo (com 0,5 a 1,0 cm, rico em amido), endocarpo (rijo, de 2 a 3 cm) e amêndoas (de 2 a 8 por fruto, com 2,5 a 6 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura). A polpa retirada do mesocarpo é usada para o fabrico de farinha, bolos e mingaus. A cor da casca do fruto maduro é amarronzada e a cor da polpa é branca a bege. O babaçu é amplamente utilizado para extração de óleo para uso doméstico e industrial (SILVA, 2008). Frutíferas do Cerrado, como por exemplo, o baruzeiro, o jatobá-do- Cerrado, o tucum-do-cerrado e o babaçu, além do coquinho-babão, o pequizeiro, o cajueiro-do-cerrado, o muricizeiro, o buritizeiro, a bacabeira e a macaubeira, assim como tantas outras espécies têm importância singular na ecologia e diversidade de plantas e animais da região, além do valor como fonte alimentar, cultural, medicinal, comercial e como fonte alternativa de renda
dos povos da região. Ademais, o Brasil pode despontar como grande produtor e fornecedor de produtos oriundos dessas espécies, adaptadas às condições de solo e clima da região do Cerrado e tidas como rústicas, vigorosas e produtivas. Figura 1. Fruto, folha e castanha torrada de baru (pronta para o consumo). Figura 2. Ramos com folhas e frutos verdes, além de sementes de jatobá-do- Cerrado.
Figura 3. Muda da palmeira tucum-do-cerrado com folhas e frutos novos. Figura 4. Palmeiras babaçu dispersas no bioma Cerrado.
REFERÊNCIAS ARAKAKI, A. H. et al. O baru (Dipteryx alata Vog.) como alternativa de sustentabilidade em área de fragmento florestal do Cerrado, no Mato Grosso do Sul. Interações, Campo Grande, v. 10, n. 1, p. 31-39, 2009. ALMEIDA, S. S. P.; LOUSADA, J. N. C. Estrutura da Comunidade de Scarabaeinae (Scarabaeidae: Coleoptera) em fitofisionomias do Cerrado e sua Importância para a conservação. Neotropical Entomology, v. 38, n.1, p. 032-043. 2009. CARVALHO, P. E. R. Jatobá-do-Cerrado Hymenaea stigonocarpa. Embrapa Florestas, Colombo, PR, 2007, 8 p. (Circular técnica 133). MENDONÇA, K.; et al. Plantas Apícolas de Importância para Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) em Fragmento de Cerrado em Itirapina, SP. Neotropical Entomology, v. 37, n.5, p.513-521. 2008. KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade, v. 1, n. 1., p. 147-155, 2005. SILVA, M. R. et al.caracterização química de frutos nativos do cerrado. Ciência Rural, v.38, n.6, p. 1790-1793, 2008. SILVA, M. R. S. Distribuição do babaçu e sua relação com os fatores geoambientais na Bacia do Rio Cocal, Estado do Tocantins. 2008. 91 f. (Dissertação de Mestrado), Curso de Pós-graduação em Geografia, Universidade de Brasília, 2008. SOUZA, A. L. et al. Superação da dormência de sementes de Tucum (Astrocaryum huaimi Mart.). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, n. 2, p. 749-758, 2014. SOUZA, C. D.; FELFILI, J. M. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta botanica brasilica, v. 20, n.1, p. 135-142. 2006.