Enfrentamento aotráfico de Pessoas: Boas Práticas e Cooperação Jurídica. O trabalho forçado é a antítese do trabalho decente

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Transcrição:

Enfrentamento aotráfico de Pessoas: Boas Práticas e Cooperação Jurídica O trabalho forçado é a antítese do trabalho decente

Trabalho Forçado Convenção sobre trabalho forçado, 1930 (29). todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a outra sob ameaça de sanção e para o qual ele não tiver se oferecido espontaneamente. Convenção sobre a Abolição do Trabalho Forçado (105), 1957. Define que trabalho forçado jamais pode ser usado para fins de desenvolvimento econômico ou como instrumento de educação política, de discriminação, disciplinamento através do trabalho ou como punição por participar de greves.

Tráfico de Pessoas Protocolo sobre Tráfico, 2000. recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou acolhimento de uma pessoa por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, seqüestro, fraude ou engano para fins de exploração. Por exploração entende-se, no mínimo, a exploração da prostituição alheia ou outras formas de exploração sexual, trabalho forçado ou serviço forçado, escravidão ou práticas análogas à escravidão, servidão ou extração de órgãos

Declaração da OIT sobre os Princípios Fundamentais do Trabalho - 1998 Liberdade sindical; Reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; Eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; Abolição efetiva do trabalho infantil; Eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação.

Relatório OIT Trabalho Forçado 2005/2009

Tráfico de Pessoas - 2005 N de Pessoas em situação de trabalho forçado Ásia e Pacífico 9.490.000 1.360.000 América Latina e Caribe 1.320.000 250.000 N de Pessoas em situação de trabalho forçado em conseqüência do tráfico África Subsaariana 660.000 130.000 Países Industrializados 360.000 270.000 Oriente Médio e Norte da África 260.000 230.000 Países em Transição 210.000 200.00 Mundo 12.300.000 2.450.000

Estimativa Global Vítimas de tráfico Vítimas de Trabalho Forçado? 2.4 12.3 Pessoas traficadas vítimas de trabalho forçado

2005 Exploração Sexual Comercial (43%) Exploração Econômica (32%) Mista (25%)

2005 - Gênero Exploração Econômica Forçada por sexo Exploração Sexual Comercial forçada por sexo Mulheres e Meninas (56%) Homens e Meninos (44%) Mulheres e Meninas (98%) Homens e Meninos (2%)

Estimativa da media anual de lucros gerados pelo tráfico de trabalhadores forçados (US$) - 2005 Países Industrializados Países em Transição Exploração Sexual (por trabalhador) Exploração Econômica (por trabalhador) Totais (em milhões) 67200 30154 15513 23500 2353 3422 Ásia 10000 412 9704 América Latina 18200 3570 1348 Africa Subsaariana 10000 360 159 Oriente Médio 45000 2340 1508 Mundo 31654

Países Industrializad os Países em Transição O Custo da Coação - 2009 Vítimas Trabalho Forçado Vítimas do Tráfico Salários Incompletos Taxas de recrutamento Custo derivado da Coação 113.000 74.133 2.508.368.218 400.270.777 2.908.638.995 61.500 59.096 648.682.323 42.675.823 691.358.145 Ásia e Pacífico 6.181.000 408.969 8.897.581.909 142.855.489 9.040.437.398 América 995.500 217.470 3.390.199.770 212.396.124 3.602.595.894 Latina e Caribe Africa Subsaariana Oriente Médio e Africa do Norte 537.500 112.444 1.494.276.640 16.994.438 1.511.271,079 229.000 203.029 2.658.911.483 551.719.286 3.210.630.769 Mundo 8.117.500 1.075.141 19.598.020.343 1.366.911.936 20.964.932.279

Tráfico interno de pessoas para fins de exploração do trabalho escravo

J u r i s p r u d ê n c i a g l o b a l

Publicação - Jurisprudência O objetivo desta publicação é introduzir juízes, procuradores e outros profissionais do direito às formas em que os tribunais nacionais e internacionais têm analisado o termo "trabalho forçado e tráfico de pessoas. A esperança é que esta ferramenta de ensino seja útil para os profissionais no julgamento dos casos, bem como de na elaboração de políticas e projetos de lei, na investigação às denúncias e fortalecendo condenações penais, civis e trabalhistas. 2 casos a seguir: Bélgica,

Base legal: Bélgica Pela Lei de 10 de agosto de 2005, a Bélgica acrescentou um novo capítulo no Código Penal, que consistiu na inclusão dos artigos 433d e 433h para adaptação legislativa pós ratificação do Protocolo de Palermo.

Bélgica Fatos: Por um período de dois meses, Mehmet Ormanci, um migrante irregular da Turquia, trabalhou para Cengiz Yönel e Bouassam Abdellah em sua padaria. Seu trabalho consistia em esvaziar sacos de farinha e limpeza e varredura da padaria. Em 24 de janeiro de 2006, um inspetor de serviços sociais descobriu que Ormanci estava trabalhando sem autorização e que ele não estava sendo pago, recebendo apenas alimentos vendidos como uma forma de remuneração.

Bélgica Fatos: Os réus foram acusados de violar a Lei de 10 de Agosto 2005 por "recrutamento, transporte, transferência, alojamento e por receber ORMANCI Mehmet, a fim de colocá-lo para o trabalhar ou permitir que ele seja colocado para trabalhar em condições contrárias à dignidade da pessoa humana ". Especificamente, eles o recrutaram para trabalhar em condições insalubres, e com um salário que era abaixo do salário mínimo garantido. Na verdade, o pagamento consistiu exclusivamente de frutas e legumes. Eles cometeram esta violação agravada com a circunstância de abusar da vulnerabilidade Ormanci, devido à sua situação irregular e condição social precária.

Pena: Bélgica Cengiz Yönel foi condenado a 14 meses de prisão e multa de 5.500 euros. Abdellah Bouassam recebeu uma sentença de um ano de prisão e uma multa 5.500 euros. Ormanci optou por não denunciar na esfera civil e, portanto, não houve reparação de danos a ele.

França Base legal: Em 2003, a França promulgou o artigo 225-4, que define 'tráfico de seres humanos ", como: "Recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou o acolhimento de uma pessoa em troca de remuneração ou qualquer outro benefício, a fim de colocá-lo à disposição de um terceiro, identificado ou não, de modo a permitir a exploração contra a pessoa dos crimes de violência sexual, exploração de mendicância, ou a imposição de viver ou condições de trabalho incompatíveis com a dignidade humana, ou para forçar essa pessoa a cometer qualquer crime ou contravenção. É punível com sete anos de prisão mais uma multa de 150.000

França Fatos: Monsieur B. criou uma empresa no setor têxtil em Vendée, França e contratou dezenas de trabalhadores. Na oficina, os trabalhadores eram proibidos de levantar a cabeça, falar ou sorrir. Monsieur B. vigiava os trabalhadores para detectar quaisquer sinais de infração e os puniria se sorrissem ou conversassem. Além disso, Monsieur B. se recusou a abrir as portas no verão, apesar do calor extremo. Durante o inverno, ele desligou o sistema de aquecimento em um clima muito frio. Ele insistiu que os trabalhadores retirassem seus casacos. Constantemente ameaçava, os trabalhadores com o fechamento da empresa forçando-os a deixar seus empregos.

França Pena: Monsieur B. foi condenado a dois anos de prisão e uma multa de 100.000 euros. No âmbito civil, as vítimas da violação do art. 225-14 receberam 3.000 euros cada.

www.oit.org.br Luiz Machado Coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Forçado e Tráfico de Pessoas Email: machado@oitbrasil.org.br