Os Direitos das Pessoas com TEA após a Lei /12 (Lei Berenice Piana): o que mudou?

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Transcrição:

Os Direitos das Pessoas com TEA após a Lei 12.764/12 (Lei Berenice Piana): o que mudou? Renata Flores Tibyriçá Defensora Pública do Estado de São Paulo

O Que é Defensoria Pública? Defensoria Pública é instituição prevista na Constituição Federal (art. 134), presta assistência jurídica gratuita à população necessitada (geralmente são atendidas pessoas que tem renda familiar de 3 salários mínimos, mas é feita análise do caso concreto) Tem autonomia funcional e administrativa e iniciativa orçamentária, não sendo vinculada a nenhuma Secretaria do Governo do Estado. Tem quatro principais atribuições: a) Orientação jurídica; b) Educação em Direitos; c) Atuação extrajudicial (Conciliação e Mediação - CAM); e d) Atuação judicial (individual e coletiva).

Objeto da Lei 1) Instituir a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) 2) Estabelecer diretrizes para que esta Política se concretize

Quem é considerado, pela lei, pessoa com transtorno do espectro autista (TEA)? A pessoa que é portadora de síndrome clínica caracterizada por: 1) Deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de: comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento 2) Padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por: Comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; Excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamentos ritualizados; Interesses restritos e fixos.

Equiparação a pessoa com deficiência Pela Lei Berenice Piana: a pessoa com transtorno do espectro autista é considerada, PARA TODOS EFEITOS LEGAIS, pessoa com deficiência. Importância deste dispositivo legal: Antes da Lei o transtorno do espectro autista (TEA) era tratado como um transtorno mental e primordialmente na área da saúde mental, é importante o tratamento multidisciplinar, em especial o atendimento educacional, já que se trata de um transtorno de desenvolvimento; Significa que passa a ter legalmente (sem necessidade de interpretação) todos os direitos conferidos as pessoas com deficiência em todas as leis.

Diretrizes da Política Nacionalde Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

1) Intersetorialidade A Intersetorialidade de acordo com o projeto deve ocorrer: No desenvolvimento das ações; No desenvolvimento das políticas; e No atendimento. Importância desta Diretriz: As ações e políticas para autismo deixam de ser pensadas apenas na área da saúde mental. Agora as políticas e ações devem ser pensadas não apenas por uma pasta mas de forma integrada, bem como o atendimento deve ocorrer da mesma forma

2) Participação social Esta participação deverá ocorrer de duas formas: 1) Na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista (TEA); e 2) No controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação. Importância da Diretriz: Significa consultar não só profissionais, mas a comunidade, permitindo por exemplo que os pais e mães participem efetivamente da criação das políticas públicas, que sejam ouvidos; Os gestores não poderão fazer estas políticas sozinhos. Também deve ser permitida a participação na implantação, acompanhamento e avaliação, que, em geral, ocorrerá por Conselhos. Embora não mencione parece claro que envolve os 3 Conselhos (Saúde, Pessoa com Deficiência e Educação) nas 3 esferas (municipal, estadual e federal). Assim, as Associações podem e devem participar e reivindicar assentos nestes Conselhos.

3) Atenção integral à saúde A atenção integral às necessidades de saúde inclui: Diagnóstico precoce Atendimento multiprofissional Acesso à medicamentos e nutrientes Importância da Diretriz: Foram publicados um protocolo estadual e uma linha de cuidados federal, justamente para que o diagnóstico precoce e o atendimento multiprofissional possam efetivamente ocorrer, disseminando conhecimento na área médica. Não temos equipamentos públicos que garantam o diagnóstico e, se existem, são em quantidade insuficiente e nem prestam todo o atendimento multidisciplinar necessário. Nutrientes em geral não são fornecidos administrativamente, bem como alguns medicamentos para tratamento de comorbidades ou controlar sintomas do autismo, que acabam sendo pedidos por meio de ações judiciais individuais

Medicamentos - Há uma lista de medicamentos, chamada RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) que devem ser oferecidos pelo SUS. Esta lista está no site do Ministério da Saúde. - Se a pessoa não conseguir pegar o medicamento no posto de saúde, CAPS ou hospital, em geral, porque não faz parte da lista de Medicamentos, pode fazer uma solicitação para a Comissão de Farmacologia (Estado de SP). O formulário está disponível no site da www.saude.sp.gov.br em assistência farmacêutica. Formulário deve ser preenchido pelo médico; - Se não conseguir por meio deste pedido administrativo ou tiver urgência e não puder esperar, pode procurar a Defensoria Pública, se não tiver condições de pagar um advogado para entrar com uma ação judicial.

4) Inclusão escolar DIRETRIZ VETADA: Inclusão dos estudantes com transtorno do espectro autista nas classes comuns de ensino regular. Constituição Federal: art. 208, III, atendimento educacional especializado (AEE) aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino ; Garantia de atendimento educacional especializado gratuito a esses educandos, quando apresentarem necessidades especiais seguindo o capítulo V da L. 9.394/96 (LDB) que dispõe sobre a educação especial (o que significa que será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular art. 58, 2.º. Além disso, devem ser observadas as garantias do art. 59 da mesma lei) No ECA há previsão no mesmo sentido que é dever de assegurar o atendimento especializado (AEE) na rede regular de ensino para crianças e adolescentes

4) Inclusão escolar (cont) Importância da Diretriz que foi vetada: Escolas públicas, apesar de alguns projetos de inclusão em sala regular (como Projeto Inclui no município de São Paulo), tem dificuldades de realizar esta inclusão e as diferenças no aprendizado não são respeitadas. Não há aplicação de TEACCH, nem PECS. Nota Técnica n.º 24 da Diretoria de Políticas de Educação Especial não menciona a utilização de nenhuma técnica específica para autismo e é orientação ao sistema para implementação da Lei 12.764/2012. Sem opção geralmente criança fica fora da escola ou família busca Estado, com base no procedimento da ACP de Autismo uma escola especial credenciada ou conveniada. Ou, ainda, há pais e mães, com base na ACP que pedem o custeio privado de escola particular por meio de execução da ACP ou ação autônoma; A diretriz contribuía para que efetivamente tivéssemos um projeto de inclusão adequado às pessoas com TEA, considerando os diversos graus;

5) Inserção no mercado de trabalho Deve-se estimular a inserção no mercado de trabalho da pessoa com transtorno do espectro autista, observadas: a) As peculiaridades da deficiência; b) Disposições da 8069/90 (ECA) Conforme a alteração em EC 20/98 ficou proibido trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; Importância da Diretriz: Permitir a criação de uma política específica para inserção das pessoas com autismo no mundo do trabalho e para realizar cursos profissionalizantes; EC 65/2010 prevê a integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho. Possibilidade de trabalho como aprendiz e manutenção do BPC

6) Informação sobre o transtorno do espectro autista O Poder Público passa a ter a responsabilidade pela informação pública e suas implicações Importância da Diretriz: Garantir que o Poder Público realize um trabalho de divulgação sobre o que é o autismo, contribuindo para conhecimento pela sociedade ciivl e redução do preconceito; Evitar que pais e mães sejam colocados em situações vexatórias e tenham que se utilizar de recursos como colocar uma camiseta no filho para identificá-lo. Defensoria e Movimento Pró-Autista elaboraram cartilha de direitos justamente com esta finalidade de educação em direitos e buscar a conscientização da população.

7) Capacitação de profissionais Deve haver incentivo à formação e à capacitação de: Profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista; e Pais e responsáveis Importância da Lei: Precisamos de um trabalho de capacitação de pediatras nas UBS (porta de entrada do SUS atenção básica) e dos professores de escolas públicas (em especial municipais que atendem crianças menores de 6 anos, que contribuiria para identificação de sinais para o diagnóstico e intervenção precoce); Contribuir para que pais e responsáveis tenham conhecimento de métodos que possam auxiliar a comunicação e interação social e redução das estereotipias em casa, já que trabalho iniciado na escola/terapia deve continuar em casa.

8) Estímulo à pesquisa científica Deve haver um estímulo à pesquisa científica, com prioridade para: Estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problemas relativo ao transtorno do espectro autista no País Importância da Diretriz: Censo IBGE não incluiu autismo Os estudos epidemiológicos são essenciais para elaboração de políticas públicas. No Brasil há apenas um estudo em Atibaia realizado por Professora do Mackenzie, que menciona 1 para 330.

Contratos e convênios com pessoas jurídicas de direito privado Poder Público pode firmar contrato de direito público ou convênio com pessoas jurídicas de direito privado para cumprir as 8 diretrizes (exceto a IV, de educação, que foi vetada). Importância do dispositivo legal: Garantir efetivamente o atendimento especializado para as pessoas com TEA, já que muitos profissionais da rede pública desconhecem o autismo, contribuir para a capacitação dos profissionais; Os convênios podem ser para qualquer uma das diretrizes. Em relação à diretriz de educação estes convênios e contratos devem se basear em outras normas. No caso do Estado de São Paulo a própria ACP de Autismo prevê a possibilidade de convênios enquanto o Estado não tiver rede pública adequada.

Direitos da pessoa com transtorno do espectro autista

Direitos das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista Pessoas com deficiência tem os mesmos direitos que qualquer pessoa, além de direitos previstos em leis especiais. Os direitos das pessoas com deficiência, a despeito da Lei 7853/89 (trata do apoio a pessoa com deficiência), devem seguir principalmente o que está previsto o que está previsto na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que é considerada norma constitucional e, portanto, superior. A Lei 7853/89 continua em vigência, mas o que contrariar a Convenção não está mais em vigor, sendo considerada inconstitucional Quando crianças (de 0 à 11 anos) e adolescentes (12 a 18 anos) ainda tem os direitos previstos no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) A Lei Berenice Piana (L. 12.764/12) institui a Política Nacional de Proteção da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e define as diretrizes que deve esta política deve seguir

Vida, Integridade, Desenvolvimento, Segurança e Lazer A Lei Berenice Piana dá ênfase a alguns direitos específicos: a) Vida digna; b) Integridade física e moral; c) Livre desenvolvimento da personalidade; d) Segurança; e e) Lazer. Importância do dispositivo: Reproduz direitos previstos em outras leis na tentativa de reafirmá-los e que sejam definitivamente efetivados, considerando as características específicas das pessoas com TEA Equipamentos que tenham atendimento especializado

Proteção contra abuso e exploração A Pessoa com TEA tem direito: A proteção a qualquer forma de abuso e exploração. Importância do dispositivo: Garante que a pessoa com TEA não seja alvo de abuso e exploração Exemplo: caso a pessoa com TEA tenha alguma habilidade, os valores recebidos devem ser revertidos diretamente em seu proveito e não de seus pais ou responsáveis, o mesmo se diga de benefícios recebidos por ela

Saúde (diagnóstico e tratamento) Tem direito ao acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) Diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) Atendimento multiprofissional; c) Nutrição adequada e terapia nutricional; d) Medicamentos; e e) Informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento. Importância do dispositivo legal (além do previsto na diretriz 3): Garantir o atendimento nos serviços públicos para efetivar o direito à atenção integral à saúde; Poder Público, caso não tenha o serviço, deve disponibilizar e pode ser exigido judicialmente

Educação, moradia, trabalho e LOAS A pessoa com TEA tem acesso: a) À educação e ao ensino profissionalizante; b) À moradia, inclusive à residência protegida; c) Ao mercado de trabalho; e d) À previdência social e à assistência social. Importância do dispositivo legal: Devem haver moradias assistidas (moradias inclusivas ou residências protegidas) públicas para atendimento de adultos com pais idosos ou que não possuam mais família ou cuja família não tenha mais condições de garantir o atendimento adequado. Já há previsão em Portaria do MDAS e Plano Viver sem Limites Garantir o acesso aos benefícios assistenciais, como BPC e também apoio aos familiares com autismo; Garantia de transporte para efetivação do direito à educação e ensino profissionalizante.

Acompanhante terapêutico A pessoa com TEA incluída em classes comuns e ensino regular, terá direito a acompanhante especializado, nos termos do art. 2.º, inc. IV. Importância do dispositivo: VALIDADE JURÍDICA DO DISPOSITIVO É QUESTIONÁVEL EM RAZÃO DO VETO DO INCISO IV. Porém Nota Técnica da Direitoria de Políticas de Educação Especial do MEC afirma que tem validade para escolas privadas que não podem repassar custo para a família e nem podem inserir cláusula que exima a instituição dessa obrigação. Dec 7.611/2011 trata da oferta do apoio necessário O dispositivo visava garantir um acompanhante terapêutico (que deve ser um profissional formado e com capacitação em TEA e não um estagiário), que além de atribuições de cuidador, deve mediar contato dentro da escola, incluindo sala de aula, no recreio e nas atividades extra-classe. Projeto Inclui da Prefeitura de São Paulo prevê estagiário de pedagogia na sala para auxiliar professora e auxiliar de vida escolar (AVE) para acompanhar fora da sala, inclusive trocar fraldas. Há reclamações de falta de estagiários, bem como de AVEs, além de pais e mães informarem que os profissionais disponibilizados não tem capacitação suficiente para realizar o trabalho com alunos. Estado de SP criou Projeto Cuidadores recentemente

Proibições e vedações A Lei Berenice Piana dispõe que a pessoa com TEA: a) Não será submetida a tratamento desumano ou degradante; b) Não será privada de sua liberdade ou do convívio familiar; c) Não sofrerá discriminação por motivo da deficiência. Importância do dispositivo: Evitar maus tratos e locais que eram verdadeiros depósitos de pessoas Evitar o abandono e a total exclusão social, impedindo que sejam retiradas do convívio familiar e inseridas em instituições asilares contra a vontade dos pais e mães. Evitar que as pessoas com TEA sofram discriminações pois a sociedade desconhece o autismo e acham que se trata de uma criança, adolescente mal educado e muitas vezes os pais e mães tem que tentar explicar e as pessoas não compreendem. Campanhas de conscientização podem evitar que isto ocorra, de acordo com a diretriz 6.

Hipóteses de internação As internações médicas devem ocorrer em unidades especializadas e observar o disposto no art. 4.º da L. 10.216/2001 (Lei Antimanicomial) Importância do dispositivo: Evitar que pessoas com TEA sejam inseridas em instituições asilares e fiquem sem atendimento adequado, em verdadeiros depósitos de pessoas. Caso seja necessária uma internação, que ela seja breve visando inserir no convívio familiar ou, na impossibilidade, sejam encaminhadas para residências terapêuticas (ou como a lei chama: residência protegida) A internação, conforme o art. 4º da L. 10216/2001, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Além disso, o tratamento visa a reinserção social do paciente em seu meio e deve ser estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

Não impedimento de participação em planos privados A pessoa com TEA não será impedida de participar de planos privados de assistência à saúde em razão da sua condição de pessoa com deficiência Está na L. 9.656/98, no art. 14 que em razão da condição de pessoa portadora de deficiência, ninguém pode ser impedido de participar de planos privados de assistência à saúde Importância do dispositivo: Em tese o direito já era garantido, buscou com a Lei evitar qualquer discussão de interpretação, evitando-se qualquer exclusão.

Horário especial de Servidor Público O ARTIGO FOI VETADO Federal Pela lei buscava-se alterar um artigo do Estatuto do Servidor Público Federal para que passasse a ter a seguinte redação: A concessão de horário especial de que trata o 2.º estende-se ao servidor que tenha sob sua responsabilidade e sob seus cuidados cônjuge, filho ou dependente com deficiência SITUAÇÃO ATUAL: O horário especial para o servidor federal já existe pelo Estatuto, porém exige a compensação do horário. A ideia é equiparar ao direito do próprio servidor com deficiência que é independentemente de compensação. Há um projeto de lei de número 4526/94 que prevê algo semelhante, mas que nunca foi votado

Punição administrativa do gestor na recusa da matrícula escolar

Impossibilidade de recusa da matrícula em escola pública Se o gestor escolar ou autoridade competente recusar matrícula de aluno com TEA ou qualquer outro tipo de deficiência será punido: com multa de 3 a 20 salários mínimos; em caso de reincidência (apurada em processo administrativo com ampla defesa e contraditório): perde o cargo Importância do dispositivo: Pode ser aplicado não só para a recusa de alunos com TEA, mas também de outras deficiências É uma penalidade administrativa dirigida ao gestor escolar ou autoridade competente, assim, se aplica aos casos de recusa apenas de escolas públicas. No caso de escolas privadas há crime previsto na Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa: I - recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta;

Não aplicação de punição DISPOSITIVO VETADO Não seria aplicada a punição do gestor ou autoridade nos casos em que o serviço educacional fora da rede regular de ensino fosse mais benéfico ao aluno com TEA. Em situações de autismo severo.

Aplicação da Lei A Lei entra em vigor na data da publicação, ou seja, dia 28 de dezembro de 2012 Importância do dispositivo: Os dispositivos auto-aplicáveis já estão valendo, por exemplo, a equiparação a pessoa com deficiência e os direitos principalmente. Diretrizes terão que ser regulamentadas para saber como serão aplicadas.

Obrigada! Contatos: Defensoria Pública do Estado de São Paulo Avenida Liberdade, 32 10.º andar Centro São Paulo SP Telefone: 11-3105-5799 (r. 316) rtibyrica@defensoria.sp.gov.br Blog: aliberdadeehazul.com