Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: 1

Documentos relacionados
Cantares de cando o amor era novo

Literatura Medieval. Trovadorismo (1189/1198)

Semana 4 Sexta Feira L.E. Períodos Literários. O Trovadorismo

A/ ELVIRA FIDALGO AMORY BURLAS ANTOLOGÍA DE LAPOESÍA MEDIEVAL GALLEGO-PORTUGUESA NIGRATREA

LÍNGUA PORTUGUESA ENSINO MÉDIO PROF. DENILSON SATURNINO 1 ANO PROF.ª JOYCE MARTINS

Prof. Eloy Gustavo. Aula 2 Trovadorismo

TROVADORISMO Literatura Portuguesa Profª Flávia Andrade

OS SÍMBOLOS POÉTICOS DAS CANTIGAS DE AMIGO LINGUA GALEGA E LITERATURA 3º ESO CPI AS REVOLTAS (CABANA DE BERGANTIÑOS) PROFESORA: ANA MARTÍNS

Literatura na Idade Média

Origens da literatura portuguesa. UNIDADE 2 Capítulo 4 (parte 1)

Ensino Médio - Unidade Parque Atheneu Professor (a): Kellyda Martins de Carvalho Aluno (a): Série: 1ª Data: / / LISTA DE LITERATURA

CONTEXTO HISTÓRICO Clero Nobreza Povo

ESCOLAS LITERÁRIAS / ESTILOS DE ÉPOCA UMA INTRODUÇÃO. 1 TROVADORISMO [séculos XII XV]

Trovadorismo. da Ribeirinha - Paio Soares de Taveirós. Literatura medieval (de 1189/1198 a 1434) INÍCIO: Cantiga

Samples of medieval poetry

Trovadorismo e Humanismo Literatura Portuguesa

4 POESIA TRADICIONAL PORTUGUESA

2 Em que data começou o Trovadorismo em Portugal, e que fato marcou essa data?

TROVADORISMO. Origem, Significado & Contexto Histórico. Por: Brayan, Vinicius, Thierry, Weverton & Davi

06/05/ Início: 1189 (1198?) Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós.

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

TROVADORISMO DEFINIÇÃO

Arte de Trovar (Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: B) [...] Capítulo IIII

TROVADORISMO. Colégio Portinari Professora Anna Frascolla 2010

Referencias Bibliográficas

português João de Deus

Tarefa 07 Professor Fernando Marinho. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Mar (fragmento)

TEXTOS PARADIDÁTICOS. Literatura - 1 Ano Mauricio Neves

LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO, Maio/2009 Vol. IV CANTIGAS MEDIEVAIS X FUNK: UMA COMPARAÇÃO PEDAGÓGICA

UNIDADE A literatura galego portuguesa medieval. A literatura galego portuguesa medieval A lírica medieval galegoportuguesa

AULA 01 LITERATURA. Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV).

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO

A SODOMIA NO JUGAR DE PALABRAS


D. Dinis. Cantigas. Publicado originalmente em D. Dinis ( ) Projeto Livro Livre. Livro 299

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA CAMPUS JOINVILLE

Era Medieval ... XII XV XVI... (1189) (1418/1434) (1527) Santo António [ de José António da Silva ]

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO

Apêndice. Gladis Massini-Cagliari

A1: Atestações de ar em posição pré-verbal - textos portugueses

Trovadorismo- Século XII ao XV

Trovadorismo (séc. XII ao XV)

Cabia ao trovador a atitude de vassalo, lançando-se aos pés de sua amada. A cantiga de Pero Garcia Burgalês ilustra tal procedimento:

O MOVIMENTO TROVADORESCO E A NOBREZA DE CORTE IBÉRICA Doi: /8cih.pphuem.4099

500 Cantigas d Amigo 108

Trovadorismo Trovadorismo

Martim Codax Ai Deus, se sab'ora meu amigo Ai Deus, se sab'ora meu amigo com'eu senheira estou em Vigo! E vou namorada...

María Pérez, Balteira, ou, María Balteira na Literatura medieval. Escolma de textos

Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa Prova ª Fase Ensino Secundário º Ano de Escolaridade

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

Encarte

CANTIGAS TROVADORESCAS

Cantigas d Amigo with aab Forms by Galician Jograres

METUS PRAECLUDIT VOCEM: A MUDEZ D AMOR (1)

Leitura: Rom 8, 8-11 Carta de S. Paulo aos Romanos

Amor Pra Valer Tony Sabetta ISRC BR MKP Nunca É Tarde A. Hammond e J. Bettis Versão: Marina de Oliveira ISRC BR MKP

Romanceiro. Almeida Garret

Poesia Acústica #3 Capricorniana Clube do Violão. (Intro) Em7 Bm C7M D2. Eu tava doido pra cantar pra ela nosso som C7M D2

16. ORGIA Embebeda-se e, por fim, queima a taberna. E todos pela estrada fora dançam.

VÓS, QUE CONHECEDES A MIM TAM BEM... - AS SOLDADEIRAS VÓS, QUE CONHECEDES A MIM TAM BEM... TROTTOIR AND TROUBADORISM

GATIÑAS E GATIÑOS. Club

TROVADORISMO. Contexto histórico e características do Trovadorismo, uma escola literária que ocorreu durante o feudalismo. Imagem: Reprodução

POESIAS AO VENTO. Poemas de AMOR VINTE. e uma crônica desesperada POESÍAS AL VIENTO

Nº20A Domingo V da Quaresma Acreditai!

Literatura Portuguesa: Poética

Vaiamos, irmãa, vaiamos folgar [en] nas ribas do lago, u eu vi andar a las aves meu amigo.

ROI QUEIMADO 3. B 714 f. 156r -v V 315 f. 51v. 3 quand V : (che) quãd B 5 barato B 10 bem B : tem V 15 catar (ne ~ ) B 19 m el Nunes : mal BV bom V

Obras Corais para Coro a cappella e Coro com Órgão

Meu bem querer. Ao Único. 02 ME Bené Carlos Gomes

A Rocha. Tom: A# (intro 2x) Gm A# D# A# D#

Ficha de transcrição / Póvoa do Varzim / A bruxa e o peixe. A bruxa e o peixe

REFRÃO ORANTE TU ÉS FONTE DE VIDA

Entrada: Eis-me Aqui, Senhor. Eis-me aqui, Senhor! Eis-me aqui, Senhor! Pra fazer Tua Vontade, pra viver do Teu Amor

Cifras de Beth Carvalho por André Anjos

Trovadorismo (Portugal:1189/ )

PROJETO LITTERA ( QUADRO GERAL COMPARATIVO DAS CANTIGAS POR CANCIONEIROS 1

Júúoloxía da lírica galego-portuguesa

origens europeias professor Abaurre Pontara Cesila 1 A literatura na Idade Média 2 O Humanismo módulo

PEÇA TEATRAL: DEU A LOUCA EM ROMEU E JULIETA

Literatura. Grande literatura é apenas uma linguagem carregada de sentido até ao mais elevado grau possível (Ezra Pound)

NOSSA SENHORA DE LOURDES E DIA MUNDIAL DO DOENTE

Teste de diagnóstico de Espanhol 8º ano nível A2 MATRIZ

2ª FEIRA 19 de novembro

Mês Vocacional & Festa da Assunção de Nsa. Senhora

FÉRIAS

2ª FEIRA 07 de janeiro. Vídeo O vídeo está disponível na pasta _BomDiaDiario do global :P

JUIÃO BOLSEIRO 3. B 1167 f. 249v V 773 ff. 121v -122r

EL ACENTO DIACRÍTICO

Capitulo 18 2Sm 18:1 E Davi contou o povo que tinha consigo, e pôs sobre eles capitães de mil e capitães de cem.

11. A LITERATURA GALEGA MEDIEVAL (1)

HOJE FALAMOS DE GRAÇA E PAZ

Atividades de Recuperação Paralela de Português

COMUNICAÇÕES A IMAGEM DA DAMA: O ELOGIO À SENHOR NAS CANTIGAS DE AMOR DE DOM DINIS

Atividades de Recuperação Paralela de Literatura

Prof. Dr. Paulo Roberto Sodré Universidade Federal do Espírito Santo/Ufes

KUDURO MIX VEM DANÇAR KUDURO. fa#+ É p ra quebrar kuduro, vamos dançar kuduro. Seja morena ou loira, vem balançar kuduro, oi oi oi

E dizem eles que é com amor fingimento e sinceridade na poesia profana galego-portuguesa

Alberto Caeiro O Pastor Amoroso

JOÃO ZORRO E MARCAS DE SUA INDIVIDUALIDADE POÉTICA

Transcrição:

1. No mundo non me sei parelha (Pai Soares de Taveirós) No mundo non me sei parelha, mentre me for como me vai, ca já moiro por vós e ai! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia! Mao dia me levantei, que vus enton non vi fea! E, mia senhor, des aquel di, ai! me foi a mi mui mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelha d haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d alfaia nunca de vós houve nen hei valia d ũa correa. 2. Ay mia senhor, u non jaz al (Nuno Fernandez Torneol) Ay mia senhor, u non jaz al, averei mui ced a morrer, pois vosso ben non posso aver; mais direi-vus do que m é mal: de que seredes, mia senhor fremosa, de min pecador! E praz-me si Deus me perdon! de morrer, pois ensandeci por vos, que eu por meu mal vi; mais pesa-me de coraçon de que seredes, mia senhor fremosa, de min pecador! E de morrer m é mui gran ben, ca non poss eu mais endurar o mal, que mi-amor faz levar, mais pesa-me mais d outra ren de que seredes, mia senhor fremosa, de min pecador! 3. Esso mui pouco que oj eu falei (João Garcia de Guilhade) Esso mui pouco que oj eu falei con mia senhor, gradeci-o a Deus, e gran prazer viron os olhos meus! Mais do que dize gran pavor per hei; ca me tremi assi o coraçon que non sei se lh o dixe ou se non. Tan gran sabor houv eu de lhe dizer a mui gran coita que sofr e sofri por ela! Mais tan mal dia nasci, se lh oj eu ben non fiz entender! ca me tremi assi o coraçon que non sei se lh o dixe ou se non. Ca nunca eu falei com mia senhor se non mui pouc oj ; e direi-vos al: non sei se me lh o dixe ben, se mal. Mais do que dixe estou a gran pavor; ca me tremi assi o coraçon que non sei se lh o dize ou se non. E a quem muito trem o coraçon, nunca ben pod acabar sa razon. 4. Noutro dia, quando m eu espedi (João Soares Coelho) Noutro dia, quando m eu espedi de mha senhor, e quando mh-ouu a ir e me non falou, nen me quis oyr tam sen ventura foi que non morri, que, se mil uezes podesse morrer, meor coita me fora de sofrer! Hu lh eu dixi: «con graça, mha senhor!» catou-m un pouco e teve-mi en desden; e, por que mj non disse mal nen ben, fiquey coitad e cõ tan gran pauor que, se mil uezes podesse morrer, meor coita me fora de sofrer! E sei muy ben, hu m eu d ela quitey e m end eu fuy, e nõ mj quis falar, ca, pois ali non morri com pesar, nũnca iamais con pesar morrerey, que, se mil vezes podesse morrer, meor coita me fora de sofrer! 5. Se eu podesse desamar (Pero da Ponte) Se eu podesse desamar a quen me sempre desamou, e podess'algún mal buscar a quen me sempre mal buscou! Assí me vingaría eu, se eu podesse coita dar, Mais sol non posso eu enganar meu coraçón que m'enganou, por quanto me fez desejar a quen me nunca desejou. E per esto non dormio eu, porque non poss'eu coita dar, Mais rog'a Deus que desampar a quen m'assí desamparou, vel que podess'eu destorvar a quen me sempre destorvou. E logo dormiría eu, se eu podesse coita dar, Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 1

Vel que ousass'eu preguntar a quen me nunca preguntou, por que me fez en si cuidar, pois ela nunca en min cuidou. E por esto lazeiro eu, porque non poss'eu coita dar, 6. Levad, amigo que dormides as manhanas frias (Nuno Fernandez Torneol) Levad, amigo, que dormides as manhanas frias; todalas aves do mundo d amor dizian: Levad, amigo, que dormide -las frias manhanas; todalas aves do mundo d amor cantavan: Todalas aves do mundo d amor diziam; do meu amor e do voss en ment avian: Todalas aves do mundo d amor cantavan; do meu amor e do voss i enmentavam: Do meu amor e do voss en ment avian; vós lhi tolhestes os ramos en que siian: Do meu amor e do voss i enment avam; vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan: Vós lhi tolhestes os ramos en que siiam e lhi secastes as fontes en que beviam: Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavan e lhi secastes as fontes u se banhavan: 7. Ai, madr, o meu amigo, que non vi (Nuno Fernandez Torneol) Ai, madr, o meu amigo, que non vi á gram sazon, dizen-mi que é qui madre, per bõa fé, led and eu. E sempr eu punhei de lhi mal fazer, mais, pois ora vēo por me veer, madre, per bõa fé, led and eu. 8. Sen meu amigo manh' eu senlheira (Julião Bolseiro) Sen meu amigo manh' eu senlheira e sol non dormen estes olhos meus e, quant' eu posso, peç' a luz a Deus e non mi-a dá per nulha maneira, Quand' eu con meu amigo dormia, a noite non durava nulha ren, e ora dur' a noit' e vai e ven, non ven a luz, nen pareç' o dia, E, segundo, com' a mi parece, comigo man meu lum' e meu senhor, ven log' a luz, de que non ei sabor, e ora vai noit' e ven e crece, Pater nostrus rez' eu mais de cento, por aquel que morreu na vera cruz, que el mi mostre mui cedo a luz, mais mostra-mi as noites d' avento, 9. Aquestas noites tan longas (Julião Bolseiro) Aquestas noites tan longas que Deus fez en grave dia por mi, por que as non dormio, e por que as non fazia no tempo que meu amigo soía falar comigo? Por que as fez Deus tan grandes, non poss eu dormir, coitada! e de como som sobejas quisera-m outra vegada no tempo que meu amigo soía falar comigo. Porque as Deus fez tan grandes, sen mesura e desiguaaes, e as eu dormir non posso? por que as non fez ataes, no tempo que meu amigo soía falar comigo? Por quanta coita el por mi levou non lhi poss al fazer, mais, pois chegou, madre, per bõa fé, led and eu. Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 2

10. Seiam' eu na ermida de San Simion (Mendinho) Seiam' eu na ermida de San Simion, e cercaronmi as ondas que grandes son. Estando na ermida ant' o altar, cercaronmi as ondas grandes do mar. E cercaronmi as ondas que grandes son; nen ei i barqueiro nen remador. E cercaron mi as ondas do alto mar; non ei i barqueiro nen sei remar. Non ei i barqueiro nen remador: morrerei eu, fremosa, no mar maior. Non ei i barqueiro nen sei remar: morrerei eu, fremosa, no alto mar. 11. Cada que ven o meu amig' aqui (Joahn Garcia de Guilhade) Cada que ven o meu amig' aquí, diz-m', ay amigas! que perd' o seu sen por mí, e diz que morre por meu ben; mays eu ben cuydo que non est assí; ca nunca lh' eu vejo morte prender, nẽ-no ar vejo nunca ensandecer. El chora muyto e filha-s' a jurar que é sandeu e quer-me fazer fis que por mí morr', e, poys morrer non quis, muy ben sey eu que á ele vagar: ca nunca lh' eu vejo morte prender, nẽ-no ar vejo nunca ensandecer. Ora vejamos o que nos dirá, pois vẽer viv' e poys sandeu non for! Ar direy lh' eu: "Non morrestes d' amor!" Mays ben se quite de meu preyto ja: ca nunca lh' eu vejo morte prender, nẽ-no ar vejo nunca ensandecer. E ja mays nunca mi fará creer que por mí morre, ergo se morrer. 12. Eu velida non dormia (Pedro Eanez Solaz) Eu velida non dormia, e meu amigo venia, Non dormia e cuidava e meu amigo chegava, O meu amigo venia, e d'amor tan ben dizia, O meu amigo chegava, e d'amor tan ben cantava, Muito desejei amigo, lelia doura que vos tevesse comigo, Muito desejei amado, lelia doura que vos tevesse a meu lado Leli, leli, par deus, leli lelia doura, bem sei eu que nom diz leli, Bem sei eu quem nom diz leli, lelia doura demo x'é quem nom diz lelia, 13. Quantas sabedes amar amigo (Martin Codax) Quantas sabedes amar amigo treides comig'a lo mar de Vigo Quantas sabedes amar amado treides comig'a lo mar levado Treides comig'a lo mar de Vigo e veeremo-lo meu amigo Treides comig'a lo mar levado e veeremo-lo meu amado Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 3

14. Maria do Grave, grav é de saber (João Soarez Coelho) Maria do Grave, grav é de saber por que vos chaman Maria do Grave, ca vós non sodes grave de foder, e pero que sodes de foder mui grave; e quer, em gran conhocença, dizer: sen letrad ou trobador seer, non pod omen departir este grave. Mais eu sei ben trobar e ben leer e quer assi departir este grave, vos non sodes grav en pedir aver, por vosso con, e vós sodes grave, a quen vos fode muito, de foder; e por aquesto se dev entender por que vos chaman Maria do Grave. E pois assi departi este grave, tenho-me end ora por mais trobador; e ben vos juro, par Nostro Senhor, que nunca eu achei [molher] tan grave com é Maria e já o provei do Grave; nunca pois molher achei que a mi fosse de foder tan grave. 15. Ai dona fea! fostes-vos queixar (João Garcia de Guilhade) Ai dona fea! fostes-vos queixar porque vos nunca louv en meu trobar mais ora quero fazer un cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai dona fea! se Deus mi perdon! e pois havedes tan gran coraçon que vos eu loe en esta razon, vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! 16. Rui Queimado morreu con amor (Pedro Garcia Burgalês) Rui Queimado morreu con amor en seus cantares, par Sancta Maria, por ũa dona que gran ben queria, e, por se meter por mais trobador, porque lh ela non quis [o] ben fazer, fez-s el en seus cantares morrer, mas ressurgiu depois ao torcer dia! Esto fez el por ũa sa senhor que quer gran ben, e mais vos en diria: porque cuida que faz i maestria, e nos cantares que fez a sabor de morrer i e desi d ar viver; esto faz el que x o pode fazer, mas outr omen per ren non [n]o faria. E non há já de sa morte pavor, senon la morte mais la temeria, mas sabe ben, por la sabedoria, que viverá, dês quando morto for, e faz-[s ]en seu cantar morte prender, desi ar viver: vede que poder que lhi Deus deu, mais que non cuidaria. E, se mi Deus a min desse poder, qual oi el há, pois morrer, de viver, jamais morte nunca temeria. 17. Proençaes soen mui ben trobar (Dom Dinis) Proençaes soen mui ben trobar e dizem eles que é com amor; Mais os que trobam no tempo da frol e nom em outro, sei eu bem que nom am tam gram coita no seu coraçom qual m'eu por mia senhor vejo levar. Pêro que trobam e sabem loar sãs senhores o mais e o melhor que eles podem, soo sabedor que os que trobam quand'a frol sazom á, e nom ante, se deus me perdom nom am tal coita qual eu ei sen par. Ca os que trobam e que s'alegrar vam eno tempo que tem a color a frol comsigu'e, tanto que se for aquel tempo,logu'en trobar razom no am, nom vivem em qual perdiçom oj'eu vivo, que pois m'á de matar Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 4

18. Ai madr', o que me namorou (Pero da Ponte) Ai madr', o que me namorou foi-se noutro dia daqui e, por Deus, que faremos i Ca namorada me leixou? Filha, fazed'end'o melhor: pois vos seu amor enganou, que o engane voss'amor. Ca me nom sei [i] conselhar, mia madre, se Deus mi perdom! Dized', ai filha, por que nom? Quero-me vo-lo eu mostrar: Filha, fazed'end'o melhor: pois vos seu amor enganou, que o engane voss'amor. Que o recebades mui bem, filha, quand'ante vós veer, e todo quanto vos disser outorgade-lho e, por en, Filha, fazed'end'o melhor: pois vos seu amor enganou, que o engane voss'amor. 19. Pois nossas madres van a San Simon (Pêro de Viviaez) Pois nossas madres van a San Simon de Val de Prados candeas queimar, nós, as meninhas, punhemos de andar con nossas madres, e elas enton queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i. Nossos amigos todos lá irán por nos veer, e andaremos nós bailando ante eles, fremosas en cós, e nossas madres, pois que alá van, queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i. Nossos amigos irán por cousir como bailamos, e podem veer bailar moças de bon parecer, e nossas madres pois lá queren ir, queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i. 20. Las Siete Partidas, Partida I, Título 9, Lei 30 (Afonso X) Ley 30 - Retraer en los hechos o en las cosas cómo fueron o son pueden ser es gran binestancia a los que en ellos saben avenir. Y para esto ser hecho como conviene, deben allí ser consideradas tres cosas: tiempo y lugar y manera. Y tiempo: deben cuidar que convenga a la cosa sobre la que quieren retraer, mostrando por buena palabra o por buen ejemplo o por buena hazaña otra que semeje con aquella para alabar la buena o para desatar la mala. Y otrosí deben considerar el lugar, de manera que lo retrayeren, que lo digan a tales hombres que se aprovechen de ello, así como si quisieren aconsejar a hombre escaso diciéndolo ejemplos de hombres grandes, y al cobarde de los esforzados. Y manera: deben cuidar de retraer en manera que digan por palabras cumplidas y apuestas lo que dijeren y se semeje que sabían bien aquello que dicen, otrosí, que aquellos a quienes lo dijeren tengan gusto en oírlo y en aprenderlo; y en el juego deben cuidar que aquello que dijeren sea apuestamente dicho, y no sobre aquella cosa que fuere en aquel lugar a quien jugaren, mas a juegos de ello; como si fuere cobarde, decirle que es esforzado, y al esforzado, jugarle de cobardía, y esto debe ser dicho de manera que aquel con quien jugaren no se tenga por denostado, y más, lo tomen con placer, y que tengan con qué reír de ello, tanto él, como los otros que oyeren. Y otrosí, el que lo dijere, que lo sepa bien reír en el lugar donde conviniere, pues de otra manera no sería juego; y por eso dice el verbo antiguo que no es juego donde hombre no ríe, pues sin falta el juego con alegría se debe hacer, y no con saña ni con tristeza. Por eso quien se sabe guardar de palabras excesivas y desapuestas, y usa de estas que dicho hemos en esta ley, es llamado palaciano, porque estas palabras usaron los hombres entendidos en los palacios de los reyes más que en otros lugares, y allí recibieron más honra los que las sabían. 21. Donzela, quen quer entenderia (Pero de Armea) Donzela, quen quer entenderia que vós mui fremosa parescedes: se assi é, como vós dizedes, no mundo vosso par non avia; a min, que i vosso par ouvesse, quen a meu cuu concela posesse, de parescer ben vencer vos ia. Vós andades dizend' en concelho que sobre todas parescedes ben, e con tod' esto non vos vej' eu ren, pero põedes branqu' en vermelho; mais sol que s' o meu cuu de si pague, e poser un pouco d' alvaiade, reveer-s' á convosco no espelho. Donzela, vós sodes ben talhada se no talho erro non prendedes, ou en essa saia que vós tragedes; e pero sodes ben colorada, quen ao meu cuu posesse orelhas e lhi ben fingesse as sobrancelhas, de parescer non vos devera nada. Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 5

22. Estavan oje duas soldadeiras (João Baveca) Estavan oje duas soldadeiras dizendo ben, a gran pressa, de si; e viu a ũa delas as olheiras de sa companheira, e diss' assi: - Que enrugadas olheiras tẽedes! E diss' a outra: - Vós com' as veedes desses cabelos sobr' essas trincheiras?......... en esse vosso rostro. E des i diss' el' outra vez: - Já vós dult' avedes; mais tomad' aquest' espelh' e veeredes tôdalas vossas sobrancelhas veiras. E ambas elas eran companheiras, e diss' a ũa en jogo outrossi: Pero nós ambas somos muit' arteiras, milhor conhosqu' eu vós que vós a min. E diss' a outra: - Vós, que conhocedes a min tan ben, por que non entendedes como son covas essas caaveiras? E, depois tomaron senhas masseiras e banharon-se e loavan-s' a si; e quis Deus que, nas palavras primeiras que ouveron, que chegass' eu ali; e diss' a ũa: - Mole ventr' avedes; e diss' a outr': - E vós mal ascondedes as tetas, que semelhan cevadeiras. 23. Pelo souto de Crecente (Airas Nunes) Pelo souto de Crecente ũa pastor vi andar muit'alongada de gente, alçando voz a cantar, apertando-se na saia, quando saía la raia do sol, nas ribas do Sar. E as aves que voavan, quando saía l'alvor, todas d'amores cantavan pelos ramos d'arredor; mais non sei tal qu'i'stevesse, que en al cuidar podesse senón todo en amor. [...] 24. Lourenço jograr, ás mui gran sabor (Afonso X, o Sábio) - Lourenço jograr, ás mui gran sabor de citolares, ar queres cantar; des i ar filhas-te log' a trobar e teest' ora ja por trobador. E por tod' esto ũa ren ti direi: Deus mi confonda, se oj' eu i sei destes mesteres qual fazes melhor. - Johan Garcia, soo sabedor de meus mesteres sempr' adeantar, e vós andades por mi os desloar; pero non sodes tan desloador que con verdade possades dizer que meus mesteres non sei ben fazer; mais vós non sodes i conhocedor. - Lourenço, vejo-t' agora queixar pola verdade que quero dizer; metes-me ja por de mal conhocer, mais én non quero tigo pelejar e teus mesteres conhocer-t' os ei, e dos mesteres verdade direi: "ess' é que foi con os lobos arar". - Johan Garcia, no vosso trobar acharedes muito que correger, e leixade mi, que sei ben fazer estes mesteres que fui começar, ca no vosso trobar sei-m' eu com' é: i á de correger, per bõa fe, máis que nos meus, en que m' ides travar. - Ves, Lourenço, ora m' assanharei, pois m'ali entenças, e tod'o farei o citolon na cabeza quebrar. - Johan Garcia, se Deus mi pardon, mui gran verdade digu' eu na tençon, e vós fazed' o que vos semelhar. 25. in: Romanceiro, 1843 (Almeida Garrett) A acusação de uniformidade parece-nos singular: é o mesmo que desdenhar da primavera pela multidão das suas flores... A impressão de uniformidade nasce de vermos estes poemas reunidos em volumosas coleções, que talvez não pensaram nem desejaram fazer seus autores. Mas, em verdade, não é só nas canções de amor; todo o poema lírico, se ele realmente foi fiel à natureza e não pretender mais do que expressar sentimentos individuais, há de circunscreverse a muito estreitos limites, tanto de sentir como de pensar. A prova e exemplo está nos mais altos gêneros de poesia lírica de todos os povos. O sentimento há de ocupar o primeiro lugar para poder expressar-se com poesia e força; e onde o sentimento predomina, variedade e riquezas de pensa mento são de importância muito secundária. Grandes variedades em poesia lírica não se acham senão nas épocas de imitação, em que se capricha de tratar toda a casta de assuntos em toda a sorte de formas Base de dados da Lírica Galego Portuguesa: http://www.cirp.es/pls/bdo2/f?p=meddb2 6