TONY BELLOTTO Os escritores se levam a sério demais. Gente de banda não tem isso VICTORIA PHILPOTT LENISE PINHEIRO OG POZZOLI



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Transcrição:

REVISTA DO ITAÚ PERSONNALITÉ N O 26 ANO 7 TONY BELLOTTO VICTORIA PHILPOTT LENISE PINHEIRO OG POZZOLI TONY BELLOTTO Os escritores se levam a sério demais. Gente de banda não tem isso VICTORIA PHILPOTT LENISE PINHEIRO OG POZZOLI março abril maio EXEMPLAR DISTRIBUÍDO NAS AGÊNCIAS PERSONNALITÉ

OFICIAL DA MARINHA FAZ MEDIÇÕES EM CARTA NÁUTICA DURANTE TRAVESSIA DE 50 MINUTOS ATÉ A ILHA RASA (RJ) A BORDO DO AMORIM DO VALLE

EDITORIAL m dos maiores ídolos do rock nacional e também escritor já consagrado; um colecionador de 170 carros antigos que se orgulha de contar U minúcias da vida de cada um; uma jovem inglesa que viaja pelo mundo e abastece um blog de turismo que é referência na Europa; a mais importante fotógrafa de teatro do Brasil. Ao observar o sumário e deparar com o rosto do nosso quarteto principal, formado por Tony Bellotto, Og Pozzoli, Victoria Philpott e Lenise Pinheiro, você vai concluir, de cara, que a diversidade permeia a nossa 26 a edição. Conseguimos reunir histórias distintas que têm, como ponto de intersecção, uma palavra que dá norte ao nosso garimpo jornalístico: experiência. Mais do que simplesmente apresentar tais histórias, o desafio (para um título que já tem sete anos) é como apresentá-las. No perfil de Tony Bellotto, por exemplo, ao lado do texto que fala da produção literária dele, colocamos um outro, em dourado, sobre Bellini, detetive protagonista de seus livros. Para fechar, contamos em história em quadrinhos a evolução da banda Titãs, que deve lançar novo disco em maio. Já com a Lenise, em vez de editarmos um longo artigo, pedimos que ela fizesse uma seleção de fotos fundamentais de sua carreira: dessa forma, compreendemos a relevância da produção dela e também vemos a atuação dos principais atores do país. Com Og Pozzoli, tivemos o privilégio de conhecer uma das coleções automotivas mais significativas do país e destacamos quatro carros com um design e um estilo que não se encontram mais nos modelos modernos. E, para acompanhar o perfil de Victoria Philpott, reunimos em uma página os cafés da manhã que mais chamaram a atenção em suas andanças e pesquisas pelo mundo. Nos textos que acompanham o quarteto de personagens, alcançamos um conjunto bem eclético. Apresentamos Torres del Paine, um parque nacional no extremo sul da Patagônia chilena, pouco conhecido no Brasil, mas considerado um dos lugares mais lindos do mundo. Contamos a saga do cineasta Samir Abujamra na África: ele estava em um jipe que explodiu durante a gravação de um documentário no Saara Ocidental e sobreviveu para narrar como isso alterou seu jeito de ver a vida. Entrevistamos três frequentadores da Sala São Paulo e três musicistas da Osesp (que está em festa graças à celebração de seus 60 anos) para entender melhor qual é a emoção da música clássica ao vivo. Escalamos o escritor Ruy Castro para contar os detalhes de uma partida de futebol de praia no Rio de Janeiro que deu o que falar na década de 1940. Ainda no Rio, visitamos a Ilha Rasa, fechada para o público e endereço de um dos faróis mais emblemáticos da costa brasileira. Reportagens e histórias de vida muito interessantes que inspiram nossas próprias escolhas e deixam esta edição atraente do começo ao fim. MARCELO CORREA Um abraço e boa leitura, André Sapoznik Itaú Personnalité

COLABORADORES O jornalista RUY CASTRO, 66 anos, é autor de biografias como O anjo pornográfico (sobre Nelson Rodrigues), Carmen Uma biografia (Carmen Miranda) e Estrela solitária (Garrincha). Apaixonado por música do século 20, escreveu Chega de saudade: A história e as histórias da bossa nova. Em 2013, lançou Letra e música, coletânea de crônicas escritas para a Folha de S.Paulo. Nesta edição, narra a pelada no Leblon que reuniu a nata da cultura nacional nos anos 40. Conheço os detalhes dessa história é tudo verdade. Aos 35 anos de idade, o fotógrafo DANIEL ARATANGY tem 26 atrás das lentes. Nascido em Boston (EUA) e criado em São Paulo, ele fez o primeiro curso de fotografia aos 9 anos. Na adolescência, clicava as ruas de dia e revelava à noite. Profissional desde 1998, hoje colabora para revistas como Marie Claire e Playboy. Para esta edição, Daniel enquadrou Tony Bellotto para a capa. Mesmo tímido, o cara é tão gente boa, generoso e comprometido que as fotos fluíram muito bem, conta Aratangy. Natural de Campina Grande (PB), o cineasta, ator e escritor SAMIR ABUJAMRA, 44 anos, se considera um nômade pelo mundo. Em janeiro, ele esteve no Saara Ocidental filmando o documentário El desierto del desierto e, junto à sua equipe, foi surpreendido ao passar de carro sobre uma mina antitanque. Ele fez fotos e o relato em primeira pessoa dessa aventura, que você confere na matéria Tinha uma mina no meio do caminho. Paranaense de Assis Chateaubriand, LUIZ MAXIMIANO, 35 anos, entrou no mundo da fotografia por acaso, em 2006, quando morou em Amsterdã para ser missionário de uma ONG cristã. Começou a registrar os projetos sociais em que se envolvia e, no ano seguinte, ganhou o Canon Prize, na Holanda, como revelação. Ano passado, recebeu o prêmio Abril (melhor retrato) com uma série de boxeadores. Hoje colabora para Veja, Rolling Stone, GQ e revistas internacionais. Nesta edição, fotografou Og Pozzoli, colecionador de carros. DIVULGAÇÃO / LAURA ANCONA / PEPÊ SCHETTINO / ARQUIVO PESSOAL

EXPEDIENTE COLABORADORES ARQUIVO PESSOAL / OTAVIO SOUSA / ARQUIVO PESSOAL / ARQUIVO PESSOAL Editor Paulo Lima Diretor Superintendente Carlos Sarli Diretor Editorial Fernando Luna Diretora de Criação Ciça Pinheiro Diretor de Núcleo Tato Coutinho Diretor Financeiro Agenor S. Santos Diretora de Publicidade e Circulação Isabel Borba Diretora de Eventos e Projetos Especiais Proprietários Ana Paula Wehba Diretor de Redação Décio Galina Editora Lia Bock Produtora Executiva Kika Pereira de Sousa Assistente de Produção Juliana Carletti Departamento Comercial Supervisora de Projetos Especiais e Planejamento Comercial Ana Carolina Costa Oliveira Assistente Comercial da Diretoria Gabriela Trentin Assistente de Arte Marketing Publicitário Fabiana Cordeiro Gerentes de Contas Paulo Paiva e Roberta Rodrigues Assistente de Tráfego Comercial Aline Trida Para anunciar publicidade@trip.com. br Representantes Internacionais Sales Multimedia, Inc. (USA) info@multimediausa.com BA Romário Júnior DF Alaor Machado MG Rodrigo Freitas PE Wladmir Andrade PR Raphael Muller RJ Juliana Rocha RJ (Trip e Tpm) X² Representação RS/SC Ado Henrichs SE Pedro Amarante SP Interior Daniel Paladino Pesquisa de Imagens Aldrin Ferraz (coordenação) Bibliotecário Daniel de Andrade Estagiárias Gabriela Fraga e Janaína Mattos Produção Gráfica Walmir S. Graciano Produtor Gráfico Cleber Trida Tratamento de Imagens Roberto Longatto e Roberto Oliveira Revisão Ecila Cianni (coordenação), Janaína Mello, Jaqueline Couto e Marcos Visnadi Projetos Especiais e Eventos Coordenação Regina Trama Analista Mariana Beulke Trade e Circulação Diretora Daniela Basile Analista de Trade Renata Vilar Coordenadora de Assinaturas Andrea Fernandes Gerente de Circulação Adriano Birello Analista de Circulação Vanessa Marchetti Projetos Digitais Diretor de Mídias Eletônicas de Custom Publishing Beto Macedo Editores de Arte Débora Andreucci e Diego Maldonado Assistente de Arte Julia Vargas Editora Executiva Site Clarissa Beretz Redatora Site Carla Braga Gerente de Negócios Izabella Zuanazzi Núcleo de Vídeo Coordenação Ana Rosa Sardenberg Assistente de Produção e Finalização Viviane Gualhanone Editor de Vídeo Pitzan Oliveira TV Trip Direção Joana Cooper Diretora Assistente Anice Aun Editora Daniela Guimarães Relações Públicas Taís Neri Assistentes de RP Rafael dos Santos e Monalisa de Oliveira Colaboram nesta edição: Vanina Batista (direção de arte), Kiki Tohmé (designer), Carlos Messias e Edmundo Clairefont (edição de texto), Barbara Heckler, Carol Sganzerla, Décio Galina, Eduardo Duarte Zanelato, Fausto Salvadori Filho, Juliana Carletti, Kelly Cristina Spinelli, Luciana Lancelotti, Luis Patriani, Ruy Castro, Samir Abujamra, Tato Coutinho (texto), Camila Fontana, Carol Quintanilha, Daniel Arantangy, Felipe Pagani, Luiz Maximiano, Marcelo Correa, Marcos Vilas Boas, Nelson Mello, Zeca de Sousa (foto), Mauricio Pierro, Pedro Franz, Veridiana Scarpelli (ilustração), Omar Bergea (make) Comitê Itaú responsável por esta edição Fernando Chacon, André Sapoznik, Cristiane Portella, Danielle Sardenberg, Camila Carneiro e Elisangela Bonamigo Colaboradores DPZ Propaganda Marcello Barcelos e Elvio Tieppo Capa e quarta capa Daniel Arantangy Revista Personnalité é uma publicação trimestral da Trip Editora e Propaganda em parceria com o Itaú Personnalité. Endereço para correspondência: rua Cônego Eugênio Leite, 767, 05414-012, São Paulo, SP. E-mail: revistapersonnalite@trip.com.br www.tripeditora.com.br A Trip Editora, cons ci en te das questões am bi en tais e sociais, utiliza papéis Suzano com certificado FSC (Forest Stewardship Council) para impressão deste material. A Certificação FSC garante que uma matéria-prima florestal provenha de um manejo considerado social, ambiental e economicamente adequado. Impresso na Pancrom Certificada na Cadeia de Custódia FSC Formada em arquitetura e urbanismo pela USP, a paulistana VERIDIANA SCARPELLI abandonou os desenhos de móveis e objetos em 2007, para se dedicar à ilustração. Colabora com o jornal Folha de S.Paulo e com revistas como GOL Linhas Aéreas Inteligentes, Wine e Viagem & Turismo. Para a Revista Personnalité, recriou o jogo que reuniu a nata da cultura nacional no Leblon, em 1945. Não quis reproduzir um registro fotográfico e, sim, dar um empurrão para que cada um imaginasse essa pelada, curiosa e engraçada como deve ter sido. Os cliques do paulistano FELIPE PAGANI, 34 anos, podem ser vistos tanto em publicações nacionais, como Serafina e Vogue, como em estrangeiras: Sunday Times, GQ China e Men s Uno Hong Kong. Para esta edição, o fotógrafo, residente em Londres, realizou os retratos da inglesa Victoria Philpott, a jovem blogueira de turismo que está sempre em trânsito. Embora estivesse atrasada para embarcar para a Austrália, ela foi bem legal e garantiu boas fotos, ele relembra. O paulistano CARLOS MESSIAS, 32 anos, é mestre em literatura pela PUC-SP e jornalista especializado em cultura pop. Edita o site de música da Red Bull e colabora para as revistas Audi, GOL Linhas Aéreas Inteligentes, Veja SP e para o caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo. Ele uniu o fascínio pelas letras e a paixão pelo rock ao escrever sobre Tony Bellotto e Remo Bellini, o principal personagem do titã. Li o primeiro livro com ele ainda na adolescência e sempre cultivei um carinho pelo detetive, diz Messias. Com 14 anos de experiência em jornalismo, FAUSTO SALVADORI FILHO, 35, é repórter da revista Apartes, uma publicação da Câmara Municipal de São Paulo. Seu trabalho lhe rendeu uma menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos do ano passado. O grande talento de Fausto é contar histórias humanas e isso está evidente no perfil que ele fez do colecionador de carros antigos Og Pozzoli para esta edição.

SUMÁRIO 10 Cá entre Nós Música, cinema, gastronomia, viagem dicas de quem sabe viver bem 15 Prestígio NÃO É SÓ FACHADA Premiado fotógrafo de moda e de publicidade, Bob Wolfenson recorda a exposição com imagens de São Paulo que o inseriu nas galerias de arte 16 16 O MELHOR TRABALHO DO MUNDO Entre um desembarque da Tailândia e um embarque para a Austrália, Victoria Philpott nos recebeu em um café de Londres para contar como é a vida de uma blogueira de turismo 22 PRAZER, TORRES Considerado um dos lugares mais lindos do mundo, Torres del Paine, no extremo sul da Patagônia chilena, ainda é pouco conhecido no Brasil 32 MUDANÇA DE HÁBITO A discrição é a marca maior do trabalho de Lenise Pinheiro, uma das mais importantes fotógrafas de cena do teatro brasileiro. Por que então ela apareceu de freira para a sessão de fotos de Revista Personnalité? 40 AOS SEUS LUGARES Três músicos da Osesp e três frequentadores da Sala São Paulo falam da emoção de estar diante da principal orquestra do país 32

50 76 FELIPE PAGANI / DANIEL ARATANGY / LUIZ MAXIMIANO / MARCOS VILAS BOAS 50 CORAÇÃO ROCK N ROLL Entre o guitarrista e o escritor, o ídolo de rock e o detetive policial, Tony Bellotto recupera o espírito de garagem que marca o melhor de sua produção 60 AVISO AOS NAVEGANTES Uma viagem à Ilha Rasa, no Rio de Janeiro, cujo farol, desde a inauguração em 1829, segue o mais importante dos 7.400 quilômetros de costa brasileira 68 A PIOR PELADA DA HISTÓRIA Foi em 1945, na Praia do Leblon, o embate entre Copacabana e Ipanema. Envolveu Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino... craques da literatura, mas pernas de pau no futebol 76 AUTO FALANTE Quando está ao lado de um de seus 170 carros antigos, o colecionador Og Pozzoli dispara a contar a história de cada um com entusiasmo. É como se os automóveis falassem, revelando papas desobedientes e princesas ameaçadas de morte 84 TINHA UMA MINA NO MEIO DO CAMINHO O cineasta Samir Abujamra entrou para uma rara estatística: sobreviveu à explosão de uma mina antitanque no Saara Ocidental, onde filmou o documentário El desierto del desierto 90 Primeira Pessoa NÃO FAÇO ESTARDALHAÇO A chef Carla Pernambuco escolheu uma batedeira que a representa: Faço mil coisas ao mesmo tempo e não tenho tempo para a fadiga

CÁ ENTRE NÓS VIAGEM, GASTRONOMIA E CULTURA CONVIDADOS ESPECIAIS ABREM SUAS PREFERÊNCIAS PASSE A PASSE _ DAN STULBACH, ator Corintiano doente, Stulbach recorda a virada da seleção sobre os soviéticos na estreia da Copa do Mundo da Espanha (1982) e destaca golaço de Sócrates POR LUIS PATRIANI O gol da seleção brasileira que mais me marcou foi o golaço de empate que o Sócrates fez na vitória por 2x1, contra a União Soviética, na estreia da Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Eu era um garoto de 11 anos, torcedor do Corinthians, e aquela era a Copa dos meus sonhos. Perdê-la significaria, assim como se mostraria depois, a maior derrota da vida. Em campo, mais do que jogadores, havia heróis, legítimos personagens saídos dos álbuns de figurinha que transitavam entre a fantasia e a realidade. E o maior ídolo de todos era o Doutor Sócrates. O ícone do meu Timão. O jogo começa e, aos 31 minutos do primeiro tempo, a URSS abre o placar numa falha do goleiro Valdir Peres. A possibilidade da derrota me assustou. Era terrificante. Um pesadelo. Até que, aos 29 minutos do segundo tempo, a zaga soviética se atrapalha e a bola sobra para o rei do calcanhar, que domina a pelota, dá um drible seco no primeiro, desvia do segundo e emenda um canudo de fora da área, no ângulo direito do gigante Dasaev. Apesar da desclassificação diante da Itália e da amarga experiência infantil, aquele lindo gol ficará na minha memória como uma obra de ficção, a pura demonstração do poder de um super-herói. FICHA TÉCNICA BRASIL 2 X 1 União Soviética Segunda, 14/6/1982, estádio Ramón Sánchez Pizjuán, Sevilha. BRASIL Waldir Peres, Luizinho, Oscar, Leandro, Júnior, Sócrates, Falcão, Dirceu (Paulo Isidoro), Zico, Serginho Chulapa, Éder. Técnico: Telê Santana. UNIÃO SOVIÉTICA Dasaev, Chivadze, Sulakvelidze, Demianenko, Baltacha, Bessonov, Bal, Daraselia, Blokhin, Gavrilov (Susloparov), Shengelia (Andreev). GOLS Bal aos 34 minutos do 1º tempo; Sócrates aos 30 e Éder aos 43 do 2º tempo. DIVULGAÇÃO / FOTO DE ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO 10

CÁ ENTRE NÓS A MENSAGEM DA GARRAFA _ ADRIANA BARRA, estilista Da viagem para a Sicília, na Itália, em 2013, Adriana guarda uma garrafa muito especial: Ben Ryé Passito di Pantelleria 2011 POR LUCIANA LANCELLOTTI Em maio de 2013, fui para a Sicília e fiquei apaixonada por uma vinícola, a Donnafugata, em Pantelleria, uma ilha bem pequena. Foi onde conheci este vinho delicioso e muito específico. O fato de ser doce não o restringe às sobremesas. Ele é tomado sempre, em taças grandes, acompanhando as refeições. Foi tão marcante que comprei vários. Trouxe uma garrafa que guardo até hoje a sete chaves, pois sei que é difícil achar no Brasil. O NOME Em árabe, a expressão Ben Ryé significa filho do vento. A ilha é árida, ventosa e de árvores pequenas. A produção vinícola fica nas encostas vulcânicas. Já Donnafugata, em italiano, quer dizer mulher em fuga, uma alusão à história da rainha Maria Carolina. Com a chegada de Napoleão, em 1800, ela fugiu de Nápoles para a Sicília, onde estão os vinhedos da família produtora. DIVULGAÇÃO / ALAMY/LATINSTOCK / DIVULGAÇÃO O RÓTULO A ilustração de Stefano Vitale marca a terceira versão da etiqueta, que comemora o 20 o aniversário da primeira colheita. Impressos, os símbolos da ilha: as vinhas e as paredes de pedra dos dammusi, como são chamadas as casas típicas da ilha. Destaque para o logo da vinícola, uma mulher com cabelos esvoaçantes. A SAFRA Em 2011 os vinhedos de Pantelleria tiveram um ano ensolarado e quente, produzindo vinhos de excelente qualidade. A edição de 2014 do Gambero Rosso (guia de vinhos italianos mais respeitado do mundo) classificou o Ben Ryé 2011 com sua cotação máxima, os Tre Bicchieri. O PRODUTOR Fundada em 1983, a vinícola Donnafugata tem no comando a família Rallo, com tradição de mais de 150 anos na produção de vinhos Marsala e vinhedos em três partes da Sicília: Marsala, Pantelleria e Contessa Entellina. Um dos ícones do resgate do prestígio dos vinhos sicilianos. A UVA 100% Moscato de Alexandria, conhecida localmente como Zibbibo, colhida de vinhas centenárias, em 11 vinhedos diferentes. O nome Passito vem do fato de as uvas ficarem como passas, ao ar livre, durante um mês. Com a redução da água, o açúcar concentrado da fruta produz vinhos doces e encorpados. 11

CÁ ENTRE NÓS MEU CANTO _ EDUARDO LEME, galerista Da poltrona à mesinha, do cachorro à cabra, é tudo arte no escritório do proprietário da Galeria Leme, em São Paulo POR KELLY CRISTINA SPINELLI PRESENTE DE ARTISTA Adoro esta escultura dos caquinhos. Ganhei de David Batchelor, um artista que representamos e expôs aqui na galeria. É muito bacana, e não muito comum, ser presenteado pelos artistas. HEREDITARIEDADE Ganhei esta Nossa Senhora da minha mãe, e ela herdou do meu avô. É linda e tem valor sentimental importante por já ter passado por várias gerações da família. DESIGN DIFERENTE Não comprei esta mesinha de Giuseppe Scapinelli [1911-1982] pelo valor comercial, mas porque acho que ela tem um design diferente, que me agrada. Devo ter encontrado em um antiquário. MOBILIÁRIO BRASILEIRO Coleciono mobiliário brasileiro. Estas poltronas da Lina Bo Bardi [1914-1992] são lindas. Acho que comprei em um leilão há uns cinco anos. PEQUENO GIGANTE Este cachorrinho é inspirado no famoso cachorro balão do escultor [norte-americano] Jeff Koons, originalmente enorme. SOM DE CABRA Sobre a mesa tenho esta peça do português João Pedro Vale. Gostei muito da ideia dele, de usar guizos de cabras na obra. O resultado é ótimo. CAMILA FONTANA 12

CÁ ENTRE NÓS TRILHA SONORA _ PATRICIA PALUMBO, produtora cultural À frente do programa Vozes do Brasil, pela Eldorado FM, a jornalista paulista seleciona de jazz a rock, de Thelonious Monk a Karina Buhr POR JULIANA CARLETTI 1 2 1. SPIRIT IN THE DARK, ARETHA FRANKLIN Era criança e descobri este disco de 1970 com meu tio. Ali eu vi que é possível louvar a Deus mexendo os quadris. A faixa homônima é uma que não pode faltar quando a festa é para dançar. 5 6 3 DIVULGAÇÃO / DIVULGAÇÃO 2. RUBY, MY DEAR, THELONIOUS MONK Recorro a esta coletânea [Monk alone: The complete Columbia solo studio recordings 1962-1968] toda vez que preciso descansar minha cabeça de tanto ouvir música. A dinâmica do pianista tem muito silêncio, cheia de pausas e vazios. 3. CAMINHOS CRUZADOS, JOÃO GILBERTO O som [do álbum Amoroso, de 1976] dialoga com os standards do jazz norte-americano. Foi a primeira música mais adulta que ouvi na vida. 4. SEDUZIR, DJAVAN Quando tinha 15 anos, meus amigos e eu passávamos dias inteiros na praia, em São Sebastião, ouvindo o disco Seduzir [1981] e pensando nos romances que ainda não tínhamos vivido. 5. UM MÓBILE NO FURACÃO, PAULINHO MOSKA No final dos anos 90, as coisas estavam um pouco repetitivas em termos sonoros e o disco Móbile [1999] deu uma boa mexida rítmica no cenário. 6. MANIA DE VOCÊ, RITA LEE Tinha 14 anos. A faixa vinha nessa onda de amor explícito que definia o álbum Rita Lee, de 1979. A música embalava a brincadeira da tarde. Eu levava as minhas irmãs pra andar de patins e pensava naquelas letras deliciosas, mas ainda não decifrava tudo aquilo. 4 7. AZUL DA COR DO MAR, TIM MAIA O disco [homônimo, de 1970] foi uma contribuição marcante do meu pai à minha formação em música pop. A gente ouvia muito essa canção em casa, na vitrolinha. 8. EU MENTI PRA VOCÊ, KARINA BUHR Em 2010 a Karina fez um disco com o mesmo nome dessa canção. É um trabalho muito roqueiro sem nenhuma guitarra. Assim, ela trouxe o que eu acho de mais interessante na música brasileira de todos os tempos, que é a mistura. 7 8 13

CÁ ENTRE NÓS ÁGUA NA BOCA _ ANDRÉ CASTRO, chef Por trás da cozinha mediterrânea do D Olivino, um chef brasileiro com formação internacional e boas doses de energia e azeite POR KELLY CRISTINA SPINELLI Ele é carioca na certidão, mas não no sotaque. O acento de André Castro vem de Brasília, onde morou a partir dos 4 anos de idade e aprendeu a jogar capoeira. Depois, mudouse para Salvador e tomou gosto pela cozinha abrindo e administrando bares como o Casa Amarela. Ele também rodou pela Europa, de onde trouxe expressões como cuisine à la minute e a precisão técnica que hoje aplica no D Olivino, famoso pela variedade de azeites, do leve ao frutado, que entram em cena para acompanhar delícias como o Tagliatelle Nero Alla Pescatora, que ele ensina aqui. TAGLIATELLE NERO ALLA PESCATORA Ingredientes Molho 120 g de polvo pré-cozido 120 g de lula cortada em tiras ou anéis 180 g de camarão limpo e eviscerado 50 ml de azeite de oliva extravirgem 3 colheres (sopa) de manteiga gelada 100 ml de vinho branco de boa qualidade 100 ml de caldo de peixe 16 tomates cereja cortados em quatro 2 dentes de alho finamente picados 1 colher (sopa) de cebola finamente picada Ervas frescas picadas salsa, manjericão, tomilho e alecrim Sal e pimenta-do-reino moída na hora 1. UM INGREDIENTE INDISPENSÁVEL. Um abstrato ou um concreto? Abstrato: energia. Concreto: azeite. Tenho também uma tatuagem referente à capoeira. Mas sou professor de capoeira, não posso dizer que é um hobby. Modo de preparo Molho: Aqueça o azeite, adicione o alho, a cebola e, assim que ele liberar seu aroma, adicione os frutos do mar previamente temperados com sal e pimenta. Após 2 minutos, adicione o vinho e o caldo de peixe, que irão finalizar o cozimento dos frutos do mar. Salpique as ervas picadas e junte o tomates, reservando alguns para a finalização do prato. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Finalização: Cozinhe a massa em água fervente salgada. Assim que a massa estiver no ponto certo, leve-a à panela com molho fervente, junte a manteiga e salteie até montar o molho. Corrija os temperos se necessário. Leve ao prato, regando com um fio de azeite extravirgem, e finalize com cerefólio e tomate cereja. Rendimento: 4 porções. Tempo de preparo: 30 minutos. Leia no tablet a receita da massa negra 2. COMEÇO NA COZINHA. Foi a cozinha que me escolheu. Nunca tinha pensado em ser chef. Primeiro fui administrador. Comecei abrindo um barrestaurante em Salvador, depois outro, até que decidi ir estudar e me aperfeiçoar mais. 4. SABOR DE INFÂNCIA. A galinhada de parida da minha mãe. Sabe o que é isso? Um ensopado caseiro da galinha que se fazia para engrossar o leite das mulheres que tinham bebê. Por isso é de parida. Experimente D olivino R. Haddock Lobo, 1.159 São Paulo (SP) Tel.: (11) 3068-9797 3. UM HOBBY. A música. Tenho uma clave de sol tatuada na mão. O violão é minha válvula de escape. 5. A SUA COZINHA. A cozinha do D olivino é o que se chama de à la minute. É tudo artesanal e feito na hora. O D Olivino faz parte do Menu Personnalité. Conheça os pratos em: itau.com.br/personnalite/experiencia NELSON MELLO 14

POR Kelly Cristina Spinelli _ NÃO É SÓ FACHADA PRESTÍGIO BOB WOLFENSON Premiado fotógrafo de moda e de publicidade, Bob Wolfenson recorda a exposição com imagens de São Paulo que o inseriu nas galerias de arte ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO BOB WOLFENSON É difícil escapar dos rótulos. Se um ator é bom comediante, ele está fadado a fazer sucesso com suas piadas, mas terá dificuldade em conseguir papéis dramáticos. Não é diferente com músicos, dançarinos e fotógrafos Bob Wolfenson, por exemplo. Aos 60 anos, ele está há mais de três décadas no mercado. Primeiro, consagrou-se como um dos grandes nomes de ensaios de moda e produções publicitárias. Colecionou prêmios. Na Playboy, fez história enquadrando celebridades como Maitê Proença e Cleo Pires. Em 2004, Wolfenson decidiu mostrar outras facetas de seu trabalho. Um dos grandes turning points da minha carreira aconteceu quando fiz a exposição Antifa- chada e Encadernação dourada na Faap [Fundação Armando Alvares Penteado], conta. Até então, eu era o Bob Wolfenson da moda, das mulheres, da publicidade. A partir desse trabalho, consegui ter uma inserção maior entre as galerias. A mostra reuniu dois ensaios que não representavam nem a moda nem os comerciais. Antifachada englobava cerca de 40 fotos de São Paulo, cidade onde o fotógrafo nasceu e cresceu. Encadernação dourada era composta de 70 fotos de situações circunstanciais, algo como um álbum de fotografias da trajetória de Bob em seus caminhos de rotina. Eu tinha essa inquietação interior, trabalhos que queria mostrar, relembra. Rubens Fernandes, curador de fotografia da Faap, conseguiu um mês para eu expor e com dimensões grandiosas. Foi quase um trabalho muralista. Antifachada são fotos de São Paulo que remetem a paisagens da minha infância [cresceu no bairro Bom Retiro], esse amassado de concreto, essa certa decadência da região central. E Encadernação dourada é um livro de memórias, quase um caderno de notas. A partir desses trabalhos fui aceito em outro circuito. Desde então, fiz umas quatro ou cinco exposições, publiquei livros e desenvolvi muito esse meu outro lado. Tudo isso sem sair de cena do mundo da moda e da publicidade. RETRATO DO EDIFÍCIO COPAN, EM SÃO PAULO, PARTE DA EXPOSIÇÃO ANTIFACHADA, DE BOB WOLFENSON 15 Baixe a Revista Personnalité no tablet e assista ao vídeo com Bob Wolfenson

POR Eduardo Duarte Zanelato, de Londres FOTO Felipe Pagani O MELHOR TRABALHO DO MUNDO No primeiro e-mail que trocamos, Victoria Philpott respondeu do Vietnã. Na semana em que aceitou nos receber, acabara de voltar da Tailândia. Na entrevista em um café de Londres, planejava o embarque para a Austrália. Viajante profissional, a inglesinha de 28 anos vive mapeando trilhas e destinos pelo mundo em um dos mais concorridos blogs do Reino Unido

PERSONNALITÉ a Gâmbia, um pequeno país na costa africana, há um hotel N tão tranquilo que os ocupantes dos apenas nove chalés, com deques para um lindo rio, são, na verdade, coadjuvantes. Os verdadeiros hóspedes do Mandina Lodge são as 580 espécies de pássaros que vivem ali, nas cercanias de um paraíso natural, a floresta Makasutu. Em Cienfuegos, no litoral cubano, um restaurante pequenino oferece uma grande experiência gustativa. Pouca gente haverá de negar que comer um camarão vivo no Noma, em Copenhagen, é mesmo um momento inesquecível. Mas quem não quiser aguardar a longa fila de espera para experimentar a iguaria em um dos mais famosos restaurantes do mundo e preferir dar uma chance às lulas cozidas e aos camarões empanados da cozinha do El Tranvia, guardará a certeza de que há tanto ou mais prazer na simplicidade de um bom e velho prato feito à moda caseira. Esqueça Berlim, Nova York, Miami ou São Paulo. Uma grande e desconhecida arte de rua povoa os muros da pequena cidade africana de Kubuneh. Um dos bairros mais charmosos e coloridos do planeta chama-se Bo-Kaap, na Cidade do Cabo. Em Londres, o creme do novo rock inglês (e internacional, claro) ocupa o palco do Village Underground, sob os arcos pelos quais passam os trilhos que levam à estação de Shoreditch. Falando em música, existem poucos festivais tão peculiares quanto o que celebra os laços entre Japão e Vietnã. Acontece em agosto, em Hoi An, uma linda e histórica cidade do sudeste asiático. UMA ROTINA INCOMUM Sentada em um café da estação de Waterloo, em Londres, Victoria Philpott lista uma série de dicas de viagem tão fora do âmbito dos guias de turismo que é quase natural a fama que conquistou em tão pouco tempo. Aos 28 anos, Vicky é uma das blogueiras de viagem mais comentadas da Inglaterra. Seu blog, Vicky FlipFlop Travels (As viagens de Vicky Chinelo de Dedo, numa tradução livre; o apelido, dado por amigos, é uma corruptela do sobrenome), constrói uma ponte entre a vontade de conhecer o mundo e a ciência de como fazê-lo bem. Por conta de suas experiências, a inglesa acabou convidada a gerenciar o conteúdo de uma importante rede social, a GapYear, dedicada a quem pretende tirar sabáticos ou mochilar. Victoria é também a responsável pela equipe de especialistas do site Roundtheworldexperts, o principal da Inglaterra na oferta de passagens e planos a quem quer jornadas que circulem o globo. Ela ainda escreve para revistas e jornais, como o gigante Daily Mail. Por fim, é consultora de grandes companhias do continente.

VICTORIA PHILPOTT VIROU UMA OBSESSÃO. EMENDEI UM PERÍODO DE MUITAS VIAGENS ALEATÓRIAS Em 2010, a RailEurope, maior empresa do mundo na venda de bilhetes de trem, enviou Vicky para uma viagem de cinco meses pela Europa. O melhor. Trabalho. Do mundo!, ela diz, com a exclamação e as pausas todas. Sua missão: mapear destinos que a agência pudesse explorar. Nessa toada, Victoria passa ao menos três meses por ano viajando. E, a cada quatro semanas, uma se dá longe de casa. Nosso encontro ocorreu em um fim de tarde no meio do caminho entre o escritório onde trabalha, na região sudeste, e sua casa, nas cercanias de Abbey Road. O local, escolhido por ela, permitiria minutos a mais de papo numa semana de preparativos para a viagem seguinte: Austrália. O que me motiva é um negócio bem simples: amo visitar novos lugares, diz. E amo fazer coisas diferentes, o máximo possível. ARQUIVO PESSOAL TURNÊ EUROPEIA Victoria nasceu em Barton-under-Needwood, um vilarejo de 5 mil habitantes no interior inglês. Aos 18 anos, entrou na faculdade de jornalismo. Nas férias, atravessou o Atlântico e trabalhou em acampamentos de verão em Nova York. Conheci tanta gente interessante, e de toda parte, diz. Fui percebendo que não era muito aberta para o mundo. Daí por diante, definiu o que queria da vida. Virou uma obsessão. Emendei um período de muitas viagens aleatórias. Fui à Austrália. Conheci todo o resto do meu país, visitei a Espanha. Quando se formou, em 2007, Victoria se mudou para Londres. Por algum tempo, trabalhou em editoras de revistas. Ao juntar dinheiro suficiente, empacotou as coisas e, com o namorado, partiu em um mochilão. O casal ficaria quatro meses rodando por Espanha, França, Itália, República Tcheca, Sérvia e Eslovênia. Entre os espanhóis, Vicky ensinou inglês e pintou casas em troca de moradia. Fez o mesmo na Itália. A forma como nos relacionamos com as pessoas dessas cidades pequenas foi a melhor parte da viagem, conta. É completamente diferente de só ficar visitando os pontos turísticos, o que também fizemos, evidentemente. Mas percebi nisso um jeito de mesclar as experiências e ter uma ideia mais real da cultura de um país. Foi aí que Vicky decidiu transformar turismo em ganhapão. Ao voltar a Londres, conseguiu um emprego no site Hostel Bookers. Parte do trabalho era acompanhar blogs e publicações impressas para pescar dicas de viagem para os clientes do portal. Lia tudo aquilo e pensava: Também posso fazer isso!. Nesse ponto, decidiu criar seu blog. DE CIMA PARA BAIXO, RODA-GIGANTE NA FEIRA DE ABRIL EM SEVILHA, ESPANHA; TRÂNSITO DE GÔNDOLAS EM VENEZA. NA PÁGINA AO LADO, A ROTINA SELVAGEM OBSERVADA POR VICTORIA DURANTE SAFÁRI NO SERENGETI NATIONAL PARK, NA TANZÂNIA, EM 2012 19

PERSONNALITÉ _ Volta ao mundo em 10 cafés da manhã Para Victoria Philpott, a comida é parte fundamental de uma viagem. Ela listou em seu blog as refeições matinais mais significativas (e curiosas) de alguns países 1 2 3 4 9 8 6 5 10 7 1. ESCÓCIA Uma alternativa ao café britânico é essa opção em que o bacon, os ovos e o feijão vêm acompanhados por Haggis, iguaria típica recheada por vísceras de ovelha. grossa] gigante mergulhado no mel. Não conseguia parar de comer! quentinha de noodles misturado com ovos, vegetais e temperos picantes? 2 INGLATERRA Poucos digerem bem a mistura de ovos mexidos, bacon, salsicha, torradas e, acredite, feijão com molho de tomate logo no desjejum. Mas é uma das marcas do país. 3 JAPÃO Tofu com peixe, arroz e molho de soja. Um prato leve e tradicionalíssimo. 4. MARROCOS Provei um crumpet [espécie de panqueca 5. BAHAMAS Os grãos dão tom ao desjejum local. Essa espécie de canjica surge com cobertura de carne ou camarão para reforçar o sabor. 6. JORDÂNIA Homus, falafel e a coalhada seca labneh servidos ao lado de azeite, salsicha de cordeiro, geleias e manteiga. 7. MALÁSIA Que tal abrir o dia com uma tigela 8. PORTUGAL Em estilo art nouveau, o Café Majestic, no Porto, é experiência gastronômica farta. Provei o café continental com champanhe. 9. EUA Panquecas com bacon, melado e mirtilos são um delicioso golpe nas coronárias. 10. DINAMARCA Pão de centeio, queijos, cereais, salame, presunto, patês, mel e chocolate. 20