ANÁLISE DE JOGO NO FUTSAL ESCOLAR: situação e efetividade de finalização Fabiola de Araujo Cabral / UFMG Gibson Moreira Praça / UFMG Camila de Souza Teixeira / UFMG Cristino Júlio Alves da Silva Matias / UFMG Pablo Juan Greco / UFMG gibson_moreira@yahoo.com.br ոո Palavras-chave: Futsal, Análise de Jogo, Finalizações. INTRODUÇÃO No Futsal, bem como nos demais Jogos Esportivos Coletivos, evidenciam-se duas fases dentro de um jogo: ofensiva e defensiva, além das transições entre uma e outra. Nestas fases, coexistem conceitos táticos específicos para cada uma. A tática ofensiva se inicia quando a equipe está com a posse de bola (SILVA et al., 2011) e se fundamenta em três princípios que norteiam as ações neste contexto: conservação da posse de bola (evitando que a equipe adversária o ataque); criação de desequilíbrios na defesa adversária (criando espaços, para assim progredir até a meta adversária, gol); ato de finalização (marcando o gol, tento) (MORENO, 1996; TAVARES, 2002; LEITE, 2012). 408 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013
Neste estudo, na perspectiva da análise de jogo (ANGUERA, 1999), será investigado o terceiro princípio dentre os anteriormente apresentados: a finalização. Neste princípio, é importante levar em conta que tão importante quanto finalizar mais vezes a gol durante um jogo é possuir alta efetividade nas finalizações, ou seja, ser capaz de marcar o maior número de gols em um menor número de chutes à baliza. As finalizações tem sido objeto de diversos estudos (MARCHIORI, 2011; SANTANA; GARCIA, 2007; CUNHA et al., 2009). Contudo, ainda há pouca clareza no que diz respeito às características da finalização em jovens de níveis competitivos e idades mais baixos, representados, neste estudo, pela categoria sub-13 escolar da cidade de Belo Horizonte. Desta forma, o objetivo deste trabalho é investigar a relação entre a situação de finalização e a efetividade das finalizações entre praticantes de futsal em praticantes com idade baixa e praticantes de competição em nível escolar. MATERIAIS E MÉTODOS Amostra: Dez jogos de futsal masculino, categoria sub-13 (atletas com idade igual ou inferior a 13 anos de idade completos no ano de 2011), do campeonato metropolitano escolar de 2011, da cidade de Belo Horizonte, num total 1.783 sequências ofensivas e 905 finalizações. Os jogos foram filmados com a câmera posicionada na lateral da quadra fixada a um tripé e manuseada de forma a registrar as sequências ofensivas de cada equipe. As imagens foram digitalizadas para o computador. A criação do banco de dados foi realizada com a utilização do software DartFish Team Pro. Os critérios de Silva et al. (2005), adotados neste estudo, abordam três indicadores de jogo, os quais são: situação, setor e resultado da finalização. Dentro do indicador situação, utilizado no presente, há seis parâmetros: jogo organizado (JO), contra-ataque (CA), lateral (TL), escanteio(tc), falta (FT) e bola roubada (BR). Fidedignidade das observações Foi utilizado o método teste re-teste em dias diferentes (estabilidade) com intervalo de tempo entre uma observação e a outra de 07 dias. O índice R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013 409
Kappa confirmou a concordância intra-avaliador para situação (Kappa = 0,858). Para inter-avaliadores o cálculo do Kappa teve os seguintes resultados: situação (Kappa = 0,926). Foi considerada 20% da amostra total das ações analisadas configurando 181 ações (TABACHNICK; FIDELL, 1989). Os resultados mostram que há fidedignidade intra e inter-avaliador (LANDIS; KOCH, 1997). Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva com a utilização da frequência absoluta e a frequência relativa. RESULTADOS A partir dos jogos analisados, observou-se uma média de 90,4 ações por jogo com 105 gols marcados. O gráfico 1 apresenta a frequência relativa de finalizações em cada uma destas situações nos jogos observados. Gráfico 1 - Frequência absoluta e relativa de finalizações em cada situação. Referente à situação nas quais os gols ocorreram, o gráfico abaixo apresenta os resultados em percentuais em cada situação. Gráfico 2 - Frequência absoluta e relativa de gols em cada situação. 410 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013
A tabela 1, mostrada abaixo, apresenta o total de finalizações em cada situação, o total de gols em cada situação e, a partir da razão entre estes dados, a efetividade (gols/finalizações) em cada situação. Tabela 1 - Total de finalizações, total de gols e efetividade por situação. Situação Total de Finalizações Total de Gols Efetividade Jogo Organizado 208 22 10,58% Contra-ataque 50 17 34,00% Lateral 258 19 7,36% Escanteio 113 8 7,08% Falta 72 8 11,11% Bola Roubada 203 31 15,27% Total 905 105 DISCUSSÃO Por meio dos dados expostos, observa-se que a quantidade de finalizações em uma dada situação pode não apresentar relação direta com a quantidade de gols nesta situação. Como exemplo, evidenciam-se o baixo número de finalizações advindas de Contra-ataque e a alta efetividade nesta situação e o alto número de finalizações em Tiros laterais associado à baixa efetividade nesta situação. É a partir do Contra-ataque e do Tiro Lateral que os dados serão discutidos abaixo. Percebe-se que a situação que mais se destaca em efetividade de finalização é o contra-ataque, resultado em consonância com estudo de Leite (2012). Observa-se, porém que essa situação foi a que apresentou as menores frequências de finalização na amostra analisada. Este resultado pode ser justificado pela baixa eficiência defensiva das equipes em situações de inferioridade numérica defensiva, características do contra-ataque. Nesta situação, segundo Miranda (2005), ocorrem menos roubadas de bola em relação a situações com igualdade ou superioridade numérica defensiva. Desta forma, cabe ao defensor, adotar estratégias como o retardo do ataque, ou Princípio da Contenção (BRAVO; OLIVEIRA, 2012; COSTA et al., 2010), a indução à beirada, eu R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013 411
permite a si próprio entrar em condição de 1x1 com o atacante, e fechamento de linhas de passe, que dificulta a troca de bola entre os atacantes na situação de Contra-ataque e cria assim condições temporais para que mais companheiros se coloquem em condição de participar da defesa e efetivarem-se os demais Princípios de Jogo na fase defensiva Cobertura Defensiva, Unidade Defensiva, Concentração e Equilíbrio (BRAVO; OLIVEIRA, 2012; COSTA et al., 2010). Destaca-se, em outro ponto, que as situações de tiro lateral foram as que mais ocorreram finalizações, entretanto, foi uma das situações que menos teve resultados positivos, menor efetividade. Deve-se, portanto, alertar os treinadores para uma possível mudança nas manobras ofensivas realizadas nos tiros laterais. A manobra na qual o jogador que cobra o lateral rola a bola com a sola dos pés, o suficiente para que a bola apenas saia da linha de cobrança, enquanto o batedor corre em direção à bola e finaliza a gol, foi frequentemente observada durante os jogos analisados. Entretanto, quando tais jogadas se tornam mecânicas e não automáticas, os jogadores (pessoa) param de perceber o as características ambientais e as situações de jogo (tarefa), o que, no âmbito da Teoria da Ação (NITSCH, 2009), estaria no cerne das tomadas de decisão no contexto esportivo. Desta forma, as tomadas de decisão, em situações mecanizadas, tornam-se ineficazes e facilmente marcáveis. Além disso, se as equipes utilizam frequentemente essa manobra ofensiva, obviamente os marcadores serão capazes de anular a jogada e sua efetividade será reduzida, conforme demonstrado neste estudo. Assim, torna-se necessário a criação de ações tática de grupo que, além de permitir a participação ativa de mais jogadores na quadra de jogo, o que aumenta a complexidade no processo de defesa, surpreenda a equipe adversária, o que leva a desequilíbrios na defesa e, consequentemente, torna a finalização mais eficaz. Desta forma, é fundamental que a metodologia de ensino-aprendizagem-treinamento proposta não apenas diga ao atleta o que fazer, mas principalmente seja capaz de conduzir os jogadores à resolução das situações-problema do jogo (GRECO; BENDA, 1998). CONCLUSÕES A partir dos dados apresentados conclui-se que o tiro lateral foi a situação com maior incidência de finalizações. Contudo, foi o contra-ataque que 412 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013
apresentou maior efetividade, o que revela haver distorções entre as estratégias adotadas pelas equipes para a marcação de gols e as chances efetivas em cada situação. Desta forma, sugere-se que o processo de ensino-aprendizagem-treinamento capaz de conduzir os atletas à resolução das situações-problema do jogo de modo autônomo com ações de adaptação e antecipação em diferentes cenários, com inteligência e criatividade (VILHENA; GRECO, 2009; VILHENA; MATIAS; GRECO, 2011; MOREIRA; MATIAS; GRECO, 2013). REFERÊNCIAS ANGUERA, M. Observación en deporte y conducta cinésio-motriz: aplicaciones. Barcelona: Edicions Universitat de Barcelona, 1999. BRAVO, L.; OLIVEIRA, M. T. Comportamentos táticos no jogo de futsal: os princípios do jogo. Millenium, n. 42, p.127-142, jan./jun. 2012. COSTA, I. T.; GARGANTA, J. M.; GRECO, P. J.; MESQUITA, I. Análise e avaliação do comportamento tático no futebol. Revista da Educação Física, v. 21, n. 3, p. 433-455, 2010. CUNHA, G. A.; SOUZA, P. R. C.; ABRAS, D. R.; BACKES, R. M.; COSTA, V. T. Análise das variáveis ataque e finalização da modalidade futsal: comparação entre as categorias sub-15 e adulta. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 8, n. 5, 2009. GRECO, P. J.; BENDA, R. N. (Org.) Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. v. 2, Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. LANDIS, J. R.; KOCH, G. C. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics, v. 33, n. 1, p. 159-174, mar. 1997. LEITE, W. S. S. Analysis of the offensive process of the Portuguese Futsal Team. Pamukkale Journal of Sport Sciences, n. 3, v. 3 p. 78-89, 2012. MARCHIORI, C. L. Análise do chute ofensivo nos jogos universitários gaúchos de futsal 2011. Monografia (Graduação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011. MIRANDA, C. Defesa zona pressing enquanto sistema defensivo precursor do aumento de finalizações: estudo de jogos finais da Taça UEFA e Liga dos Campeões. Dissertação (Licenciatura) Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 2005. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 408-414, 2013 413
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