PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE BIOMASSA RESIDUAL DA INDÚSTRIA DE CELULOSE. Neumara Luci Conceição Silva



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Transcrição:

PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE BIOMASSA RESIDUAL DA INDÚSTRIA DE CELULOSE Neumara Luci Conceição Silva Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos para a Obtenção do Grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) Orientador: Nei Pereira Jr., Ph.D. Escola de Química Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010

ii PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE BIOMASSA RESIDUAL DA INDÚSTRIA DE CELULOSE Neumara Luci Conceição Silva Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos para a obtenção do Grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) Escola de Química Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010

FICHA CATALOGRÁFICA S586p Silva, Neumara Luci Conceição Produção de bioetanol de segunda geração a partir de biomassa residual da indústria de celulose/ Neumara Luci Conceição Silva. 2010. xiii, 109 f.: il. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Porcessos Químicos e Bioquímicos) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, Rio de Janeiro, 2010. Orientador: Nei Pereira J.r, Ph.D. 1. Bioetanol. 2. Biomassa residual. 3. Indústria de celulose. Teses. I. Pereira Jr., Nei (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química. IV. Título. CDD: 665.776

Aos meus pais, fontes de minhas forças, à minha irmã, exemplo que sempre procurei seguir, e ao meu amor, Petteri, dedico-lhes este trabalho. iv

v AGRADECIMENTOS A Deus, por me permitir realizar mais um sonho; Ao professor Nei Pereira Jr. pela compreensão, confiança, oportunidade de trabalhar em seus laboratórios e ser orientada por um admirável e excepcional pesquisadorprofessor, que compartilhou seu conhecimento e experiência; Aos meus amigos e colegas de trabalho Roberto Nobuyuki Maeda e Gabriel Jaime Vargas Betancur pela colaboração, atenção, conhecimento, paciência e valiosa amizade; À Heloísa Barros Bastos, pela dedicação, carinho, companherismo e, principalmente, colaboração nos experimentos realizados. Aos estudantes e funcionários dos Laboratórios de Desenvolvimento de Bioprocessos, em especial a Carolina Barcelos, Mariana Mello, Felipe Oliveira, Luiz Claudio e Jorge, pela ajuda na solução de problemas e pelo companherismo que tornaram o ambiente de trabalho muito agradável; Aos funcionários da secretaria de pós-graduação da Escola de Química pela atenção e ajuda na solução de problemas burocráticos; Ao Petteri, pela compreensão, confiança, companherismo, carinho, apoio e por toda colaboração direta ou indireta durante esta minha importante jornada; Aos funcionários da empresa Aracruz Celulose, Rudine Antes, Braz José Demuner e Pablo Cadaval Santos por fornecerem tão prontamente informações sobre o trabalho; Aos professores Maulori Currie Cabral e Maria Isabel Liberto pelos valiosos ensinamentos recebidos durante minha vida acadêmica; À minha família, por acreditar e apoiar desde os meus pequenos desejos até os grandes e difíceis sonhos; À PETROBRÁS e ao CNPq pelo auxílio financeiro.

vi PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE BIOMASSA RESIDUAL DA INDÚSTRIA DE CELULOSE Resumo da Dissertação de M.Sc. apresentada ao programa de pósgraduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro Brasil. Orientador: Nei Pereira Jr. Neumara Luci Conceição Silva A grande dependência de fontes de energia não renováveis e altamente poluentes, como o petróleo e seus derivados, tem levado a sociedade a buscar alternativas para a utilização de combustíveis renováveis. As pesquisas atuais sinalizam como tecnologia emergente a produção de etanol combustível a partir de biomassas residuais de composição lignocelulósica. Neste contexto, o presente trabalho objetivou produzir bioetanol carburante empregando uma concepção de processo denominado SSF (Simultaneous Saccharification and Fermentation) a partir da celulose contida no resíduo oriundo do sistema de decantação da indústria de celulose, utilizando linhagens da levedura Saccharomyces cerevisiae e visando estabelecer condições que aumentassem a produtividade e eficiência do processo. Como resultados desta dissertação, foram obtidas as melhores condições da pré-hidrólise enzimática (relação sólido:líquido 1:4 e 17,5 FPU/g de carga enzimática) e determinadas as condições que conferiram o maior valor para a produtividade volumétrica (16 h de pré-hidrólise enzimática, 8 g/l para concentração celular e 36 h de fermentação). A máxima concentração de etanol obtida quando o processo SSF foi conduzido em frascos agitados, foi de 77,6 g/l em 64 h, empregando Saccharomyces cerevisiae de panificação. O melhor resultado obtido quando a fermentação foi conduzida em biorreator, foi de 74,6 g/l em 64 h, utilizando celulases comerciais (Multifect) e suplementando o hidrolisado enzimático com fontes de fosfato e nitrogênio e soluções de sais minerais e ácido cítrico, que foi fermentado por uma cepa industrial de S. cerevisiae codificada como JP1. Os resultados mostraram-se bastante promissores e apontam para maiores desdobramentos.

vii SECOND GENERATION BIOETHANOL PRODUCTION FROM RESIDUAL BIOMASS OF CELLULOSE INDUSTRY Abstract of the M.Sc. dissertation presented to the post graduation program on Technology of Chemical and Biochemical Process of the Chemistry School of Federal University of Rio de Janeiro Brazil. Supervisor: Nei Pereira Jr. Neumara Luci Conceição Silva The large reliance on non-renewable sources and highly polluting fuels such as petroleum and its derivatives, has led the society to seek alternatives to the use of renewables. Current research indicates as emerging technology the production of fuel ethanol from residual biomass of lignocellulosic composition. This study aimed at producing fuel ethanol using a design process called SSF (Simultaneous Saccharification and Fermentation) from the cellulose containing residue arisen from the separating system of the cellulose manufactory, using strains of the yeast Saccharomyces cerevisiae. The work also aimed at establishing process conditions that increase the productivity and efficiency. As results of this study, the best preenzymatic hydrolysis conditions (solid:liquid ratio 1:4 and 17.5 FPU/g of enzyme loading) was obtained and the conditions that allowed the highest volumetric ethanol productivity was determined (16 h pre-hydrolysis, 8.0 g/l for cell concentration and 36 h of fermentation). The maximum ethanol concentration, obtained when the SSF process was performed in flasks, was 77.6 g/l in 64 hours, using the bakery yeast Saccharomyces cerevisiae. On the other hand, when the fermentation was carried out in bioreactor, the highest ethanol concentration was 74.6 g/l at 64 h of SSF process, using a commercial enzyme preparation (Multifect) and supplementing the enzymatic hydrolysate with sources of phosphate and nitrogen and mineral salts and citric acid solution, which was fermented by an industrial strain of S. cerevisiae coded as JP1. The results were very promising and point to major developments.

viii ÍNDICE CAPÍTULO 1 1. APRESENTAÇÃO DO TEMA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 1 CAPÍTULO 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5 2.1. BIOMASSA: FONTE DE BIOENERGIA 5 2.1.1. Celulose 8 2.1.2. Hemicelulose 10 2.1.3. Lignina 11 2.1.4. Pré-tratamentos 12 2.1.5. A celulose no contexto de biorrefinaria 13 2.1.6. Hidrólise enzimática da celulose 14 2.2. A INDÚSTRIA DE CELULOSE 16 2.2.1. Produção de celulose 19 2.2.2. Resíduos gerados na produção de celulose 22 2.2.3. Aspectos econômicos da indústria de celulose 24 2.3. O BIOETANOL NO CONTEXTO DE 2ª GERAÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS 2.3.1. Dimensões técnicas e ambientais do uso de bioetanol como combustível veicular 26 26 2.3.2. Evolução do bioetanol combustível no mercado 28 2.3.3. Progresso das ações ambientalistas 33 2.3.4. Produção de bioetanol de segunda geração 34 2.3.5. Estratégias para a produção de bioetanol de segunda geração 2.3.6. Principais resultados reportados na literatura 37 42

ix CAPÍTULO 3 3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 45 3.1. JUSTIFICATIVA 45 3.2. OBJETIVOS 46 CAPÍTULO 4 4. MATERIAIS E MÉTODOS 48 4.1. MATÉRIA-PRIMA 48 4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS BIOMASSAS PM1, PM2 E PM3 50 4.3. MICROORGANISMO 50 4.3.1. Manutenção, ativação e propagação celular de S. cerevisiae JP1 4.4. AVALIAÇÃO DA FERMENTABILIDADE DE PM1, PM2 E PM3 PARA PRODUÇÃO DE BIOETANOL 4.5. ESTUDO COMPARATIVO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PM1, PM2 E PM3 50 52 53 4.6. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO SSF DE PM3 54 4.6.1. Delineamento Central Composto Rotacional (DCCR) 54 4.6.2. Planejamento univariável 55 4.6.3. Validação das melhores condições do processo SSF 55 4.7. DESEMPENHO DAS CELULASES LADEBIO NO PROCESSO SSF DE PM3 55 4.8. SUPLEMENTAÇÃO DO HIDROLISADO 56 4.9. MÉTODOS ANALÍTICOS 57 4.9.1. Determinação de açúcares e etanol 57 4.9.2. Quantificação celular 58 CAPÍTULO 5 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 60 5.1. CARACTERIZAÇÃO DAS BIOMASSAS PM1, PM2 E PM3 60

x 5.2. AVALIAÇÃO DA FERMENTABILIDADE DE PM1, PM2 E PM3 PARA PRODUÇÃO DE BIOETANOL 5.3. ESTUDO COMPARATIVO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PM1, PM2 E PM3 5.4. PLANEJAMENTO SEQUENCIAL PARA OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO SSF 61 64 73 5.4.1. DCCR 73 5.4.2. Planejamento univariável 79 5.4.3. Validação das melhores condições do processo SSF em frascos agitados 84 5.5. PROCESSOS SSF CONDUZIDOS EM BIORRETAOR 85 5.5.1. Processo SSF empregando a linhagem industrial S. cerevisiae JP1 e celulases comerciais Multifect 5.5.2. Processo SSF empregando S. cerevisiae JP1 como inóculo e consórcio celulásico LADEBIO 5.5.3. Processo SSF empregando S. cerevisiae JP1, celulases comerciais Multifect e hidrolisado suplementado com fontes de nitrogênio, fosfato e sais minerais 85 89 92 5.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 94 CAPÍTULO 6 6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES 98 6.1. CONCLUSÕES 98 6.2. SUGESTÕES 100 CAPÍTULO 7 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101

xi ÍNDICE DE FIGURAS Figura 2.1. Esquema estrutural simplificado das fibras do material lignocelulósico 7 Figura 2.2. Estrutura química da celulose 9 Figura 2.3. Componentes da fração hemicelulose 10 Figura 2.4. Precursores primários da lignina 12 Figura 2.5. Biorrefinaria de matérias-primas lignocelulósicas: produtos da celulose 14 Figura 2.6. Fluxograma de blocos da produção da pasta de celulose 20 Figura 2.7. Evolução da produção brasileira de celulose 24 Figura 2.8. Destinos das exportações brasileiras de celulose 25 Figura 2.9. Evolução das emissões de gases dos veículos brasileiros 28 Figura 2.10. Evolução da produção de cana-de-açúcar, etanol e açúcar no Brasil 29 Figura 2.11. Teor médio de etanol anidro na gasolina brasileira 29 Figura 2.12. Evolução da produção de veículos a etanol hidratado e de sua participação nas vendas de veículos novos Figura 2.13. Evolução dos preços médios para o consumidor do bioetanol hidratado e da gasolina comum no Brasil 30 31 Figura 2.14. Vendas de álcool etílico e de gasolina automotiva no Brasil 31 Figura 2.15. Evolução da produção de bioetanol do Brasil e dos EUA 32 Figura 2.16. Produção mundial de bioetanol combustível em 2008 32 Figura 2.17. Perspectivas da produção de biocombustíveis 33 Figura 2.18. Fermentação alcoólica 36 Figura 2.19. Diagrama da Sacarificação e Fermentação em Separado (SHF) 38 Figura 2.20. Diagrama da Sacarificação e Fermentação Simultânea (SSF) 39 Figura 2.21. Diagrama do processo de Sacarificação e Co-Fermentação Simultânea 40 Figura 2.22. Diagrama do Bioprocesso Consolidado (CBP) 41 Figura 4.1. Fluxograma da produção de celulose 49 Figura 4.2. Polpas PM1 e PM2 e resíduo PM3 da indústria de celulose 49 Figura 4.3. Biorreator instrumentado 52 Figura 4.4. Fermentômetro 58 Figura 4.5. Regressão linear e coeficiente de correlação para a quantificação de biomassa de S. cerevisiae JP1 Figura 5.1. Concentração de açúcares após 12 h de pré-hidrólise enzimática, utilizando relação S:L 1:4 e 32 FPU/g de carga enzimática Figura 5.2. Perfis cinéticos do processo SSF das biomassas PM1, PM2 e PM3, empregando 2 g/l de S.verevisiae de panificação 59 62 63

xii Figura 5.3. Concentração de açúcares e etanol após 96 h de SSF 63 Figura 5.4. Hidrólise enzimática da biomassa PM1 66 Figura 5.5. Hidrólise enzimática da biomassa PM2 66 Figura 5.6. Hidrólise enzimática da biomassa PM3 66 Figura 5.7. Gráfico de Pareto para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM1 Figura 5.8. Gráfico de Pareto para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM2 Figura 5.9. Gráfico de Pareto para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM3 Figura 5.10. Superfície de resposta para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM1 Figura 5.11. Superfície de resposta para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM2 Figura 5.12. Superfície de resposta para a concentração de glicose (g/l) como variável de resposta da hidrólise enzimática de PM3 Figura 5.13. Concentração de glicose após hidrólise enzimática de PM1, PM2 e PM3 69 69 70 70 71 71 72 Figura 5.14. Perfis cinéticos dos processos SSF do DCCR para PM3 74 Figura 5.15. Gráfico de Pareto para a concentração de etanol (g/l) como variável de resposta do SSF de PM3 Figura 5.16. Superfície de resposta para concentração de etanol (g/l) como variável de resposta do SSF de PM3 78 78 Figura 5.17. Experimento 8 do DCCR para SSF de PM3 79 Figura 5.18. Perfis cinéticos de SSF do planejamento univariável 81 Figura 5.19. Concentrações de etanol equivalente e etanol (CLAE) do planejamento univariável Figura 5.20. Perfil cinético do SSF na validação das melhores condições do processo SSF com PM3 em frascos agitados 81 84 Figura 5.21. Cinética do pré-inóculo de S. cerevisiae JP1 86 Figura 5.22. Cinética do crescimento de S. cerevisiae JP1 em biorreator 87 Figura 5.23. Perfil cinético do processo SSF de PM3 em biorreator empregando S. cerevisiae JP1 e celulases Multifect Figura 5.24. Perfil cinético do processo SSF de PM3 em biorreator empregando celulases LADEBIO e S. cerevisiae JP1 Figura 5.25. Perfil cinético do processo SSF de PM3 em biorreator com hidrolisado suplementado com fontes de nitrogênio, fosfato de potássio, solução de sais minerais e ácido cítrico 88 90 93

xiii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 2.1. Composição química parcial de alguns materiais lignocelulósicos 8 Tabela 2.2. Diferenças entre hemicelulose e celulose 11 Tabela 2.3. Comparação de rotação e rendimento de árvores 17 Tabela 2.4. Caracterização de espécies de eucalipto 19 Tabela 2.5. Maiores produtos mundiais de celulose em 2008 25 Tabela 2.6. Propriedades da gasolina e do bioetanol 26 Tabela 2.7. Condições empregadas para produção de bioetanol de segunda geração por SSF na literatura Tabela 4.1. Meio de cultura para manutenção da S. cerevisiae JP1 50 Tabela 4.2. Meio de cultura para crescimento do pré-inóculo 51 Tabela 4.3. Composição da solução de sais minerais e ácido cítrico 51 Tabela 4.4. Intervalo utilizado para construir o DCCR para a hidrólise enzimática de PM1, PM2 e PM3 Tabela 4.5. Intervalo utilizado para construir o DCCR para o processo SSF de PM3 Tabela 5.1. Caracterização das biomassas PM1, PM2 e PM3 61 Tabela 5.2. Concentrações de açúcares e etanol no início e final do SSF 63 Tabela 5.3. Concentração de açúcares liberados na hidrólise enzimática (HE) de PM1 Tabela 5.4. Concentração de açúcares liberados na hidrólise enzimática (HE) de PM2 Tabela 5.5. Concentração de açúcares liberados na hidrólise enzimática (HE) de PM3 Tabela 5.6. Concentração de açúcares no início do SSF e de etanol equivalente, açúcares e etanol no final do processo (48h) Tabela 5.7. Análise de variância (ANOVA) para concentração final de etanol do DCCR Tabela 5.8. Concentração de açúcares no início do SSF e de etanol equivalente (equival.), açúcares e etanol no final dos processos SSF (36h) do planejamento univariável Tabela 5.9. Concentração de açúcares no início do SSF e de etanol equivalente (equiv.), açúcares e etanol no final do SSF (36h) na validação das melhores condições Tabela 5.10. Concentração de açúcares e etanol no início e final do processo (64h) em biorreator empregando S. cerevisiae JP1 e celulases Multifect Tabela 5.11. Concentração de açúcares e etanol no início e final do processo (64h) em biorreator empregando S. cerevisiae JP1 e celulases LADEBIO Tabela 5.12. Concentração de açúcares e etanol no início e final do SSF (64h) em biorreator empregando S. cerevisiae JP1, celulases Multifect e hidrolisado suplementado Tabela 5.13. Condições utilizadas e resultados obtidos em cada etapa da pesquisa 43 53 54 67 67 67 75 77 82 84 89 92 94 96

CAPÍTULO 1. Apresentação do tema 1 CAPÍTULO 1 1. APRESENTAÇÃO DO TEMA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO O suprimento de energia está na base da estruturação e da dinâmica operacional da sociedade humana nos seus mais diversos aspectos, desde o bemestar individual até o desempenho industrial e de prestação de serviços. Neste contexto, o petróleo tem tido uma importância ímpar, sendo responsável pelo fornecimento de um terço da energia primária consumida no planeta. Assim, alterações no suprimento ou no uso do petróleo teriam desdobramentos econômicos, políticos e sociais importantes para a maior parte das nações do mundo. A sociedade humana depara-se, agora, com a escassez e com o aumento do preço desta fonte não renovável de energia. Avaliações mais pessimistas afirmam que em torno de 41 anos chegar-se-ia à sua total depleção (ODAC, 2007). Paralelamente, a combustão crescente de combustíveis fósseis, iniciada há 60 anos, tem gerado, juntamente com o desmatamento, o acúmulo na atmosfera de gases poluentes, particularmente de CO 2, responsáveis pelo efeito estufa e conseqüentes alterações climáticas. Esse atual quadro exige mudanças nos padrões de industrialização e de consumo da sociedade humana, de forma a reduzir a emissão de gases de efeito estufa (PEREIRA Jr. et al., 2008).

CAPÍTULO 1. Apresentação do tema 2 Embora as crises de petróleo anteriores, como a dos anos 1970, responsáveis pelo aumento do preço do petróleo, tenham sido episódicas, a conjunção e sinergia dos fatores acima mencionados, indicam uma tendência crescente e irreversível no aumento do preço do petróleo e, em um prazo mais longo, a diminuição do seu uso. Neste contexto, a busca por fontes renováveis de energia e de alternativas ao uso do petróleo está mobilizando internacionalmente e de forma ímpar setores acadêmicos, industriais, sociais e governamentais com ênfase no desenvolvimento de processos biotecnológicos de menor impacto ambiental (PEREIRA Jr. et al., 2008). O Brasil já vem, por muitas décadas, utilizando apenas álcool como combustível ou sob a forma de uma mistura contendo de 22% a 25% de álcool na gasolina, colocando o país em uma posição extremamente favorável internacionalmente, em termos de emissão de CO 2. Atualmente, o Brasil produz 25 bilhões de etanol por ano a partir da cana-de-açúcar. O plantio dessa matéria-prima, realizado em terras aráveis de boa qualidade, deverá ser expandido devido à crescente demanda nacional e internacional de álcool (MAPA, 2010). No entanto, para evitar a expansão desmedida das áreas de cultivo, têm se desenvolvido processos biotecnológicos que permitam a utilização de biomassas residuais de composição lignocelulósica, abundantemente geradas nos setores agrícolas e florestais. Dentre estas biomassas, os resíduos celulósicos provenientes da produção de pasta de celulose e separados na etapa de decantação constituem uma das fontes mais promissoras de carboidratos para a produção de bioetanol de segunda geração. Os resíduos lignocelulósicos agroindustriais são matérias-primas de grande interesse industrial uma vez que podem ser utilizadas para a produção de uma gama de produtos, não somente o etanol. Os materiais lignocelulósicos são constituídos majoritariamente por celulose, hemicelulose e lignina. Dentro do conceito de biorrefinaria, as frações devem ser separadas seletivamente de acordo com suas características e as do produto desejado, sendo necessário desenvolver processos eficientes para disponibilizar os monômeros (açúcares) e para a transformação destes através de processos de fermentação com altas taxas de produção (PEREIRA Jr. et al., 2008).

CAPÍTULO 1. Apresentação do tema 3 No caso da utilização da celulose contida no resíduo fibroso do sistema de decantação da indústria de celulose, faz-se necessário a sua hidrólise, utilizando enzimas específicas, que pode ser conduzida em sinergia com o processo de fermentação da glicose, o qual se denomina Sacarificação e Fermentação Simultânea (Simultaneous Saccharification and Fermentation SSF). No presente estudo tencionou-se desenvolver um processo SSF para o aproveitamento da celulose, contida no resíduo sólido proveniente do sistema de decantação da indústria de celulose, para a produção de bioetanol combustível. Composta de sete capítulos, a presente dissertação procurou cobrir de forma abrangente esta complexa temática. No primeiro capítulo, é apresentado de forma sumarizada, o paradigma defectivo que a população mundial vive com os combustíveis de origem fóssil, apontando suas principais problemáticas e destacando o bioetanol como excelente alternativa de combustível veicular. O segundo capítulo apresenta uma revisão bibliográfica sobre os temas que tangem a temática do presente trabalho: a biomassa lignocelulósica como fonte de bioenergia; a produção de celulose e seus resíduos; e o bioetanol, relatando a importância do seu uso, a sua produção e as estratégias para a obtenção desta substância química. As justificativas e os objetivos que nortearam a construção deste presente trabalho são relatados no terceiro capítulo. Os materiais utilizados e as metodologias empregadas são descritas no quarto capítulo, enquanto os resultados obtidos, assim como a análise estatística e fenomenológica dos mesmos são apresentados no quinto capítulo. No sexto capítulo, encontram-se as conclusões obtidas a partir dos experimentos realizados e as sugestões para a continuidade deste trabalho. As referências utilizadas para dar embasamento textual ao trabalho são listadas no sétimo capítulo. A seguir, estão listados os artigos publicados, em revistas indexadas e anais de congressos nacionais, decorrentes do desenvolvimento do trabalho de pesquisa desta dissertação de mestrado.

CAPÍTULO 1. Apresentação do tema 4 SILVA, N.L.C; BETANCUR, G.J.V.; VASQUEZ, M.P.; BARROS, E.; PEREIRA Jr., N. (2010). Ethanol production from residual wood chips of cellulose industry: Acid pretreatment investigation, hemicellulosic hydrolysate fermentation and remaining solid fraction fermentation by SSF process. Applied Biochemistry and Biotechnology (no prelo). SILVA, N.L.C; BASTOS, H.B.; PEREIRA Jr., N. (2009). Second generation ethanol production from residual biomass of cellulose industry. Artigo submetido ao Brazilian Journal of Chemical Engineering. SILVA, N.L.C; BETANCUR, G.J.V.; PEREIRA Jr., N. (2009). Produção de bioetanol a partir de cavaco residual da indústria de celulose: Otimização do pré-tratamento ácido e fermentação do hidrolisado hemicelulósico. Trabalho completo publicado nos anais do XVII Simpósio Nacional de Bioprocessos (SINAFERM), CD-ROM, 6 páginas. SILVA, N.L.C; BASTOS, H.B.; BETANCUR, G.J.V.; MAEDA, R.N.; PEREIRA Jr., N. (2009). Produção de etanol de segunda geração a partir de biomassas residuais da indústria de celulose. Trabalho completo publicado nos anais do XVII Simpósio Nacional de Bioprocessos (SINAFERM), CD-ROM, 6 páginas. SILVA, N.L.C; BETANCUR, G.J.V.; PEREIRA Jr., N. (2009). Avaliação do potencial da biomassa residual da indústria de celulose para a produção de bioetanol. Trabalho completo publicado nos anais do IX Simpósio de Hidrólise Enzimática de Biomassas (SHEB), CD-ROM, 7 páginas. SILVA, N.L.C; MAEDA, R.N.; PEREIRA Jr., N. (2009). Otimização da hidrólise enzimática da biomassa residual da indústria de celulose. Trabalho completo publicado nos anais do IX Simpósio de Hidrólise Enzimática de Biomassas (SHEB), CD-ROM, 12 páginas.

CAPÍTULO 2. Revisão Bibliográfica 5 CAPÍTULO 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são apresentados os diferentes aspectos teóricos que tangem a temática abordada: a biomassa, como material lignocelulósico, e os meios de sua conversão em bioetanol; a indústria de celulose e sua produção, relatando as matérias-primas utilizadas e os resíduos gerados neste processo; e o bioetanol, abordando suas dimensões técnicas e ambientais, evolução do seu uso como combustível veicular, sua produção e as estratégias concebidas para este fim. 2.1. BIOMASSA: FONTE DE BIOENERGIA Em geral, denomina-se biomassa qualquer matéria de origem vegetal que dispõe de bioenergia e que pode ser processada para fornecer formas bioenergéticas mais elaboradas e adequadas para o uso final. Portanto, seriam exemplos de matérias a lenha, os resíduos de serrarias, o carvão vegetal, o biogás resultante da decomposição de lixo orgânico e de outros resíduos agropecuários, bem como os biocombustíveis líquidos, como o bioetanol e o biodiesel. No amplo contexto da bioenergia, a produção de biocombustíveis líquidos a partir de biomassa

CAPÍTULO 2. Revisão Bibliográfica 6 tem sido considerada para atender particularmente às necessidades de transporte veicular. Para esses fins, ainda não existem outras alternativas renováveis, além dos biocombustíveis, com maturidade tecnológica e viabilidade econômica suficientes (ZHANG & SMITH, 2007). Com exceção da cana-de-açúcar, as tecnologias comercialmente disponíveis na atualidade para a produção de bioetanol de primeira geração a partir de biomassas sacaríneas e amiláceas envolvem ganhos energéticos e ambientais bastante estreitos. Além disso, essas matérias-primas apresentam uma limitada vantagem econômica e encontram, em geral, mercados alternativos mais remuneradores, como alimentos ou insumos para outros fins. Entretanto, apesar de suas destacadas vantagens, a cana-de-açúcar não é uma opção viável para todas as regiões do planeta. E por esse motivo, os países do hemisfério norte vêm procurando incessantemente rotas tecnológicas que permitam a produção de um biocombustível eficiente, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista econômico (BNDES, 2008). A tendência de estudos, como já havia sido reportado por VÁSQUEZ et al. (2007), é desenvolver processos biotecnológicos que permitam a utilização de biomassas residuais de composição lignocelulósica, como palha de milho e arroz, bagaço de cana-de-açúcar e resíduos da indústria de celulose, abundantemente geradas nos setores agrícolas e florestais, para a produção de bioetanol de segunda geração. O bioetanol de segunda geração vem sendo produzido pela hidrólise e fermentação de materiais lignocelulósicos desde o fim do século XIX, mas somente nos últimos 20 anos essa tecnologia tem sido proposta para atender o mercado de combustíveis. Os principais programas de pesquisa e desenvolvimento são conduzidos nos Estados Unidos e na Europa, basicamente em escalas experimentais de produção, mas seu sucesso poderia transformar o bioetanol em um biocombustível passível de ser produzido em quase todas as regiões do mundo, aproveitando a alta disponibilidade de resíduos orgânicos de diversas fontes. Praticamente todos os resíduos de biomassa, produzidos nas atividades agrícolas e industriais, e mesmo o lixo urbano, apresentam elevados teores de materiais lignocelulósicos (MACEDO et al., 2008).

CAPÍTULO 2. Revisão Bibliográfica 7 A população humana produz milhões de toneladas de resíduos agroflorestais anualmente. O Brasil, por exemplo, produziu em 2007 aproximadamente 400 milhões de toneladas de subprodutos agroflorestais, incluindo os resíduos gerados na indústria de celulose (PEREIRA Jr. et al., 2008). Os materiais lignocelulósicos são formados por estruturas duras e fibrosas, compostas majoritariamente pelos polissacarídeos celulose e hemicelulose (cerca de 70% da massa seca), entremeados por outra macromolécula formada por álcoois aromáticos, a lignina, aos quais se encontram unidos por ligações covalentes e de hidrogênio (Figura 2.1) (LEE, 1997). Em menores proporções, e dependendo da origem do vegetal, também podem ser encontrados resinas, ácidos graxos, fenóis, taninos, compostos nitrogenados e sais minerais, principalmente, de cálcio, potássio e magnésio (NEUREITER et al., 2002). As tecnologias para a obtenção de bioetanol de segunda geração, produzido a partir de materiais lignocelulósicos, envolvem a hidrólise dos polissacarídeos da biomassa em açúcares fermentáveis e sua posterior fermentação. Para executar essa tarefa, o processo de hidrólise utiliza tecnologias complexas e multifásicas, com base no uso de rotas ácidas e/ou enzimáticas para a separação dos açúcares e remoção da lignina (PEREIRA Jr. et al., 2008). Figura 2.1. Esquema estrutural simplificado das fibras do material lignocelulósico (LEE, 1997) A composição e a estrutura da biomassa têm forte influência na natureza e nos rendimentos dos processos de hidrólise e fermentação. Sendo que a composição básica da biomassa lignocelulósica depende do vegetal de origem e, no

CAPÍTULO 2. Revisão Bibliográfica 8 caso de biomassas agroflorestais residuais, da região, idade e período de coleta do material. Na Tabela 2.1 pode ser visualizada a variação da composição química básica de algumas biomassas de composição lignocelulósica. Tabela 2.1. Composição química parcial de alguns materiais lignocelulósicos Material lignocelulósico Celulose (%) Hemicelulose (%) Lignina (%) Farelo de cevada 23,0 32,7 24,4 Sabugo de milho 31,7 34,7 20,3 Folhas de milho 37,6 34,5 12,6 Bagaço de cana 40,2 26,4 25,2 Palha de arroz 43,5 22,0 17,2 Palha de trigo 33,8 31,8 20,1 Palha de sorgo 34,0 44,0 20,0 Casca de aveia 30,5 28,6 23,1 Eucalyptus grandis 40,2 15,7 26,9 Eucalyptus globulus 46,3 17,1 22,9 Fonte: TAMANINI & HAULY (2004); CANETTIERI et al. (2001); MUSSATO & ROBERTO (2002) Desta maneira, faz-se necessário conhecer a estrutura e as principais características dos principais componentes da biomassa lignocelulósica: celulose, hemicelulose e lignina. 2.1.1. Celulose A celulose (23% - 50% da matéria seca da biomassa lignocelulósica) é um polímero linear que contém até 15.000 unidades de β-d-glicoses unidas por ligações glicosídicas β-1,4 carbono-carbono e por ligações de hidrogênio intramoleculares (ligações entre unidades de glicose da mesma molécula) e intermoleculares (entre unidades de glicose de moléculas adjacentes) (Figura 2.2) (ARANTES & SADDLER, 2010). As ligações intermoleculares são responsáveis pela rigidez; e as ligações intramoleculares são responsáveis pela formação de fibrilas, estruturas altamente ordenadas que se associam formando as fibras de celulose. As fibrilas apresentam