Condições laborais dos emigrantes e imigrantes

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Transcrição:

Condições laborais dos emigrantes e imigrantes Imigrantes Portugueses 1

Os portugueses que estão alegadamente a ser vítimas de exploração laboral na Holanda são jovens à procura do primeiro emprego ou desempregados com mais de 40 anos. Os trabalhadores portugueses que vieram para a Holanda e se encontram nesta situação dramática são jovens entre os 15 e os 20 anos, que andam à procura do primeiro emprego, mas encontram-se também pessoas com mais de 40 anos que estavam desempregadas. Na maioria, os trabalhadores são provenientes do Norte de Portugal, nomeadamente de Fafe e Guimarães, existindo ainda um maior número de homens do que de mulheres a ir para a Holanda. Esta notícia é sequência da denúncia da exploração laboral a trabalhadores portugueses, que estarão a trabalhar e a viver em condições sub-humanas na Holanda. Segundo relatos de trabalhadores ao responsável, cerca de 50 portugueses estão a trabalhar na região de Den Hélder, norte da Holanda, em regime de quase escravidão e a viver em condições degradantes. Os portugueses chegam à Holanda através de um anúncio de jornal colocado por pseudo-empresas angariadoras de mão-de-obra barata que lucram, no mínimo, 10 euros por cada trabalhador e não fazem quaisquer descontos. O salário que os enganadores recebem por cada trabalhador/hora é de cerca de 15 euros, dos quais apenas dão cinco aos assalariados que fornecem às empresas holandesas. Esses emigrantes não falam holandês e a maioria também não sabe inglês, são transportados para o trabalho em carrinhas da empresa que os contratou e são obrigados a trabalhar entre 14 a 16 horas diárias. Este é mais um de uma série de problemas semelhantes que têm existido na Holanda com portugueses. A actual situação ganha contornos mais graves porque, há um ou dois anos os trabalhadores pensavam que iam ganhar uma coisa e ganhavam outra, mas 2

agora já sabem que vão ganhar apenas cinco euros por a embalar legumes, frutas ou flores. A necessidade é tão grande que vêm nessas condições, acrescentando que, ao contrário do que muitos portugueses pensam, os trabalhos para que são contratados são temporários e ao fim de um mês podem ficar parados. Para o conselheiro das Comunidades Portuguesas, o mais grave é que esta situação também está a ser do interesse de Portugal, porque estas pessoas deixam de constar dos centros de emprego, não pedem rendimento mínimo nem subsídio de desemprego e a delinquência social desaparece do país para ir para fora. Os governos, português e holandês têm de tratar deste assunto porque estas pessoas são seres humanos que estão a ser atirados para um gueto social que não existia. Contactada pela Agência Lusa, a presidente da Federação da Comunidade Portuguesa na Holanda, Teresa Heymans, vai mais longe e considera que o problema pede medidas mais drásticas. Esta questão já não pode ser tratada a nível local. Tem de ser tratada a nível da União Europeia porque há Direitos do Homem que estão a ser ultrapassados, disse. Essas pessoas não têm o que comer, não têm dinheiro e muitas vezes são sujeitas a maus-tratos e a ameaças de morte, por isso, é que têm medo de falar com as autoridades, explicou a responsável. Para Teresa Heymans, era importante que a Europa colocasse na sua agenda política esta situação, que é uma autêntica escravatura e já atingiu proporções tão grandes que abrange também Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Suíça e Espanha. Em declarações à Agência Lusa, fonte da Embaixada de Portugal na Holanda afirmou que as autoridades estão atentas e a acompanhar a situação com total empenho. Os Emigrantes em Portugal 3

Os trabalhadores imigrantes são frequentemente considerados trabalhadores precários, não só em Portugal, mas também em muitos outros países receptores de imigrantes. Contudo, a precariedade não é um atributo exclusivo do trabalho imigrante. Aliás, assistimos actualmente a uma preocupação social e política crescente com a precarização contemporânea das relações laborais, afectando tanto imigrantes como outros trabalhadores, dos pouco aos altamente qualificados, seja qual for a sua nacionalidade. Os padrões de inserção dos trabalhadores imigrantes no mercado de trabalho português estão bem identificados. Estudos realizados até ao momento concluíram que os trabalhadores originários dos PALOP - mas também os fluxos mais recentes de trabalhadores brasileiros e de vários países do Leste/Sudeste da Europa, como a Ucrânia, Roménia e Moldávia, direccionavam-se sobretudo para o segmento secundário, com destaque para trabalhos pouco qualificados nos sectores da construção civil, trabalho doméstico, hotelaria e restauração, limpezas industriais e urbanas, e agricultura. Porém, regista-se uma concentração principalmente em três sectores: Construção civil - 26% do total de trabalhadores estrangeiros está neste sector; Hotelaria e restauração ocupam 15% dos trabalhadores estrangeiros; Trabalho doméstico dados da Segurança Social relativos às contribuições de trabalhadoras registadas como domésticas, indicam que cerca de 30% das trabalhadoras deste sector são estrangeiras. Existe ainda uma presença importante no sector dos serviços a empresas. Estudos têm focado essencialmente a distribuição ocupacional dos imigrantes e algumas das condições de trabalho que lhes estão associadas, sobretudo ao nível dos contratos de trabalho e do pagamento de contribuições para a Segurança Social. Está ainda por realizar uma caracterização mais detalhada das condições de trabalho dos imigrantes. Destacam-se também desta modalidade de inserção laboral, indicando que as novas vagas de imigração (do Brasil e do Leste da Europa) vieram reforçar os segmentos secundários do mercado de trabalho, caracterizados por maior precariedade e irregularidade laboral (sobretudo no sector da construção), informalidade da relação de trabalho (sobretudo na construção e limpeza), e, em geral, horários de trabalho prolongados, baixas remunerações (sobretudo no caso das limpezas) e baixo estatuto. Ou seja, a entrada dos imigrantes oriundos do Leste/Sudeste da Europa e do Brasil 4

veio acentuar a importância do segmento mais desfavorável do mercado de trabalho enquanto receptor de trabalhadores imigrantes. No mesmo ano, analisando as trajectórias socioprofissionais de imigrantes cabo-verdianos em Portugal, concluem que estes imigrantes estão sobretudo inseridos no mercado de trabalho secundário, com fracas possibilidades de dele sair. Contudo, menciona-se que muitos conseguiram deixar os empregos precários, sem contrato de trabalho, com que tinham iniciado a sua actividade laboral, para relações mais estáveis e formais, passando a integrar um segmento mais formal ainda no mercado secundário. Os baixos salários actuais estão entre as queixas mais referidas pelos imigrantes. Em alguns casos levando mesmo os imigrantes a desistir do trabalho, porque não compensa. A discriminação manifesta-se de diversas formas e tem também sofrido alterações. Vários imigrantes referiram que havia uma preferência notória por trabalhadores com nacionalidade portuguesa e brancos. Contudo, com o passar do tempo esta preferência esbateu-se no acesso a ocupações menos qualificadas, persistindo ainda nos locais de trabalho e também, de forma marcada, no acesso a segmentos mais qualificados do mercado de trabalho. Na maioria os imigrantes dizem que nunca se sentiram alvo de discriminação (70%). 5