ZOOCIÊNCIAS 10(1): 73-76, abril 2008

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Observação do comportamento predatório de Liophis miliaris orinus em Hylodes meridionalis.73 Revista Brasileira de ZOOCIÊNCIAS 10(1): 73-76, abril 2008 ISSN 1517-6770 Comunicação Científica Observação do comportamento predatório de Liophis miliaris orinus (Serpentes, Colubridae) em Hylodes meridionalis (Anura, Hylodidae), Serra Geral, Rio Grande do Sul, Brasil André Felipe Barreto Lima 1 & Patrick Colombo 2 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Depto. Ecologia, Lab. de Ecologia de Populações e Comunidades. Avenida Bento Gonçalves, nº 9500, Bl. IV, prédio 43.422, Campus do Vale - Agronomia, Porto Alegre - RS, Brasil. 91.501-970. E-mail: afblima@hotmail.com 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Depto. Zoologia, Lab. Herpetologia. Avenida Bento Gonçalves, nº 9500, Bl. IV, prédio 43.435, Campus do Vale - Agronomia, Porto Alegre, RS, Brasil. 91.501-970. cinolebia@hotmail.com Abstract. Observation of predatory behavior of Liophis miliaris orinus (Serpentes, Colubridae) in Hylodes meridionalis (Anura, Hylodidae), Serra Geral, Rio Grande do Sul, Brasil. Detailed records on the prey-predator inter-specific relation are limited in literature, especially as far as the diet of certain groups of snakes is concerned. This communication reports on the opportune instant of observation at the time when the amphibian Hylodes meridionalis was predated by the semi-aquatic snake Liophis miliaris orinus, within the Floresta Ombrófila Densa, Atlantic Forest, South of Brazil. This note also considers brief comments on the distribution, behavior and diet of the genus Liophis. We came to the conclusion that H. meridionalis may be considered a type of anurus-prey of the serpent L. m. orinus. Key words: feeding behavior, anuran predation, Liophis, Hylodidae, Atlantic Forest. Resumo. Registros detalhados da relação inter-específica predador-presa são limitados na literatura, sobretudo, em relação a à dieta de determinados grupos de serpentes. Essa comunicação relata a observação oportuna no momento em que o anfíbio Hylodes meridionalis foi predado pela serpente semi-aquática Liophis miliaris orinus, em interior de Floresta Ombrófila Densa, área da Mata Atlântica, Sul do Brasil. Essa nota também considera breves comentários sobre a distribuição, o comportamento e a dieta do gênero Liophis. Concluímos que H. meridionalis pode ser considerado um tipo de anuro-presa da serpente L. m. orinus. Palavras-chaves: comportamento alimentar, predação de anuro, Liophis, Hylodidae, Mata Atlântica. Composto por 36 espécies, o gênero de serpentes Liophis Wagler, 1830 apresenta ampla distribuição geográfica entre as Américas Central e a do Sul ao leste dos Andes (DIXON, 1983; MICHAUD & DIXON, 1989) e pode apresentar atividade diurna ou noturna (SAZIMA & HADDAD, 1992). Em geral, são serpentes de médio porte sendo encontradas próximas ou em contato com ambientes aquáticos (ex.: rios, lagos, córregos, poças etc) e que devido ao hábito semi-aquático de muitas de suas espécies são vulgarmente conhecidas como cobras-d água. No Rio Grande do Sul, Brasil, ocorrem duas sub-espécies de L. miliaris Linnaeus, 1758; L. m. orinus e L. m. semiaureus (LEMA, 1994), cuja última foi considerada atualmente como uma espécie válida e renomeada como L. semiaureus por GIRAUDO et al. (2006). Anuros da Família Hylodidae distribuem-se entre os estados brasileiros de Alagoas (Nordeste) e Rio Grande do Sul (Sul), além do Norte da Argentina (CARCERELLI & CARAMASCHI, 1993; NASCIMENTO et al., 2001; POMBAL et al., 2002; GRANT et al., 2006). As espécies do gênero Hylodes Fitzinger, 1826 são restritas a Região Leste do Brasil em associação com a Mata Atlântica (HADDAD & POMBAL, 1995; HADDAD et al., 1996; POMBAL et al., 2002). Hylodes meridionalis é endêmica das encostas montanhosas da Região

74. LIMA & COLOMBO da Serra Geral, na Mata Atlântica do sul do país, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, ocorrendo em riachos pedregosos, em média e alta altitudes, no interior de florestas (KWET & DI BERNARDO, 1999). No Rio Grande do Sul é uma espécie relativamente comum em corpos d águas lóticos cercados por floresta primária e secundária madura, ocorrendo desde o Município de São José dos Ausentes, ao norte do estado, até o Município de Caraá, ao sul (Obs. pess.). Esta comunicação científica registra a observação oportuna do comportamento predatório de uma serpente L. m. orinus alimentando-se de um anfíbio H. meridionalis, em área do domínio da Mata Atlântica, ao sul do Brasil. Em 09 de janeiro de 2006, às 11:00h, durante expedição científica em dia ensolarado de verão, no Município de Itati (29º23 02"S; 50º11 17"W), Rio Grande do Sul, próximo à Rodovia RS-486 (Rota do Sol), Região da Serra Geral, flagrou-se o comportamento alimentar de L. m. orinus predando H. meridionalis, em leito rochoso de um pequeno córrego semi-seco, no interior de Floresta Ombrófila Densa (Fig.1). Após ser fotografada, a serpente foi capturada para identificação e coleta de informações morfológicas com uso de paquímetro (precisão 0,1mm) e balança (precisão 0,1g) manuais para registros do comprimento rostro-anal (CRA) e da massa do animal, respectivamente. A confirmação da espécie foi realizada por especialista com base em diversas fotografias que também foram obtidas durante a captura da serpente. Dados morfológicos foram registrados do anuro encontrado morto, que apresentava marcas de mordida na região inguinal, indicando ser este o local do primeiro ataque (Fig.2), quando a presa encontravase de costas para o seu predador. O exemplar de H. meridionalis era um adulto com 4,12cm (CRA) e massa corpórea de 7,5g, ao passo que a L. m. orinus era um juvenil com 33,5cm (CRA) e 14g de massa corpórea. A serpente foi liberada no mesmo local de captura, enquanto o anuro morto foi coletado e depositado (UFRGS 02501) na coleção do Laboratório de Herpetologia do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em geral, colubrídeos do gênero Liophis alimentam-se principalmente de anuros e girinos, além de peixes, salamandras, lagartos e invertebrados (AMARAL, 1977; VITT, 1983; MICHAUD & DIXON, 1989; HENDERSON & BOURGEOIS, 1993; MARTINS & OLIVEIRA, 1998; LIMA & JUNCÁ, 2002). Para a espécie L. miliaris o mesmo foi observado, no que se refere a anfíbios anuros serem a principal presa de sua dieta (SAZIMA & HADDAD, 1992; LEMA, 1994; MARQUES, 1998), todavia, no litoral do Rio Grande do Sul foi relatado uma proporção similar no consumo de anuros e peixes (principalmente muçuns) na dieta da espécie (BORGES-MARTINS et al., 2007). Apesar de estar claro que a alimentação de L. miliaris seja composta basicamente de anuros e girinos, a existência de registros mais detalhados da relação inter-específica (espécie de predador x espécie de presa), ainda são limitados na literatura, sobretudo, a documentação fotográfica desse comportamento na natureza. Por fim, H. meridionalis pode ser um tipo de anuro-presa da serpente L. m. orinus na área de domínio da Mata Atlântica da Região da Serra Geral, no Rio Grande do Sul. AGRADECIMENTOS Figura 1. Liophis miliaris orinus predando Hylodes meridionalis em leito rochoso de córrego na Região da Serra Geral, Município de Itati, Rio Grande do Sul, Brasil. Aos colegas biólogos: o doutorando Luiz Ernesto Costa Schmidt pelo convite de participarmos da equipe de expedição científica do seu projeto: Estrutura genética, morfometria e comportamento sexual das espécies crípticas Paratrechalea azul e Paratrechalea ornata (Araneae, Thechaleidae) em duas micro-bacias da encosta da Serra Geral no Rio Grande do Sul, do Curso de Pós-Graduação

Observação do comportamento predatório de Liophis miliaris orinus em Hylodes meridionalis Figura 2. Hylodes meridionalis morto, apresentando as marcas da mordida de Liophis miliaris orinus (setas) na região inguinal. em Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizando-nos estrutura e o apoio logístico necessários a área de estudo, e ao Dr. Márcio Borges-Martins (UFRGS) pela confirmação da identificação da serpente, indicação de importantes referências e revisão do trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, A. 1977. Serpentes do Brasil - iconografia colorida. São Paulo: Melhoramentos, 248p. BORGES-MARTINS, M.; ALVES, M.L.M.; ARAÚJO, M.L.de; OLIVEIRA, R.B.de; ANÉS, A.C. 2007. Répteis. In: BECKER, F.G.; RAMOS, R.A. & MOURA, L.A. (org.). Biodiversidade. Regiões da Lagoa do Casamento e dos Butiazais de Tapes, Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Brasília: Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Biodiversidade e Florestas, pp.292-315. CARCERELLI, L.C. & CARAMASHI, U. 1993. Ocorrência do gênero Crossodactylus Duméril & Bibron, 1841 no nordeste brasileiro, com descrição de duas espécies novas (Amphibia, Anura, Leptodactylidae). Revista Brasileira de Biologia 52: 415-422. DIXON, J.R. 1983. Taxonomic status of the South American snakes Liophis miliaris, L. amazonicus, L. chrysostomus, L. ossoroensis and L. purpurans. Copeia 1983, 791-802. GIRAUDO, A.R., ARMAZENDIA, V.& CACCIALI, P. 2006. Geographic variation and taxonomic status of the Southern most populations of Liophis miliaris (Linnaeus, 1758) (Serpentes: Colubridae). Herpetological Journal 16: 213-220. GRANT, T.; FROST, D.R.; CALDWELL, J.P.; GAGLIARDO, R.; HADDAD, C.F.B.; KOK, P.J.R.; MEANS, B.D.; NOONAN, B.P.; SCHARGEL, W. & WHEELER, W.C. 2006. Phylogenetic systematics of dart-poison frogs and their relatives (Anura: Athesphatanura: Dendrobatidae). Bulletin of the American Museum of Natural History 299: 1-262. HADDAD, C.F.B & POMBAL, J.P.Jr. 1995. A new species of Hylodes from southeastern Brazil (Amphibia: Leptodactylidae). Herpetologica 51: 279 286. HADDAD, C.F.B.; POMBAL, J.P.Jr. & BASTOS, R.P. 1996. New species of Hylodes from the Atlantic Forest of Brazil (Amphibia: Leptodactylidae). Copeia 1996:965 969. HENDERSON, R.W. & BOURGEOIS, R.W. 1993. Notes on the diets of West Indian Liophis (Serpentes: Colubridae). Caribian Journal Science 29 (3-4): 253-254. LEMA, T. 1994. Lista comentada dos répteis ocorrentes no Rio Grande do Sul, Brasil. Comunicações do Museu de Ciencias e Tecnologia da PUCRS, Série Zoologia 7, 41 150. LIMA, F.M.P. & JUNCÁ, F.A. 2002. Impalatabilidade de girinos de Hyla Semilineata (Anura: Hylidae) a serpentes do gênero Liophis (Colubridae: Xenodontinae). Sitientibus Série Ciências Biológicas 2(1/2): 82-84. MARTINS, M. & OLIVEIRA, M.E. 1998. Natural history of snakes in forest of the Manaus region, Central Amazonia, Brazil. Herpetolical Natural History 6 (2): 78-150. MARQUES, O.A.V. 1998. Composição faunística, história natural e ecologia de serpentes da Mata Atlântica, na Região da Estação Ecológica Juréia-Itatins, São Paulo, SP. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, Departamento de Zoologia. MICHAUD, E.J. & DIXON, J.R. 1989. Prey items of 20 species of the Colubridae snake genus Liophis. Herpetological Review 20 (2): 39-41..75

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