COPA DO MUNDO: COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Julho 2014
COPA DO MUNDO REFORÇA CARÁTER DE CONFRATERNIZAÇÃO E DEVE IMPACTAR DIRETAMENTE O CONSUMO: MAIS DE 70% DOS MORADORES DAS CIDADES-SEDE ADMITEM QUE TERÃO GASTOS EXTRAS. Vai ter mesmo Copa do Mundo no Brasil? A poucas semanas do mundial de 2014, essa pergunta ainda rondava as redes sociais e a pauta da imprensa especializada, sintetizando o pessimismo e a desconfiança em relação à organização do maior evento futebolístico do planeta. Porém, passada a primeira semana, é preciso reconhecer algumas mudanças: a Copa do Mundo do Brasil surpreendeu dentro de campo, com jogos empolgantes e a maior média de gols, na fase de grupos, desde 1958. O engajamento das pessoas ficou evidente nos estádios, no entorno deles, nas ruas, nos bares e restaurantes das cidades escolhidas para receber as partidas do mundial. Agora que a competição já é uma realidade, é possível responder a algumas perguntas. De que forma os brasileiros estão vivenciando a Copa do Mundo em seu país? O que representa essa experiência para o consumo? Onde e como os torcedores estão assistindo aos jogos, e como preferem gastar seu dinheiro durante as confraternizações? Afinal, os brasileiros são a favor ou contra a Copa? Para mapear as primeiras impressões e identificar alterações nos padrões de consumo em função do mundial da FIFA, o SPC Brasil realizou um estudo amplo, ouvindo residentes de todas as cidades que receberão jogos. Entre 13 e 18 de junho (primeira semana do mundial) foram feitas 2.558 entrevistas pela web, com pessoas de todas as classes sociais, de ambos os sexos e idade igual ou superior a 18 anos. A margem de erro geral é de 2,0 p.p para um intervalo de confiança a 95%. 2
CONSUMO: ALIMENTAÇÃO, ROUPAS E ACESSÓRIOS, DECORAÇÃO E ATÉ APOSTAS EM BOLÕES CONCENTRAM GASTOS EXTRAS DURANTE A COPA. Confirmando o caráter de socialização da Copa do Mundo, 72% dos entrevistados nas cidades-sede revelam a intenção de ter gastos extras com alimentação, a fim de acompanhar os jogos em confraternizações com amigos e familiares. Nas cidades-sede, esse percentual corresponde a aproximadamente 14 milhões de pessoas. Levando em conta os itens mais citados como intenção de compra pelos consumidores: 84% REFRIGERANTES 50% SALGADINHOS/TIRA-GOSTO 40% CHURRASCO 39% CERVEJA 3
Pesquisa recente da Nielsen Brasil 1 mostra que a venda de itens como pipoca, salgadinho, refrigerante e cerveja pode aumentar até 100% num país-sede da Copa do Mundo, durante o evento. Ainda segundo a Nielsen Brasil 2, a venda de refrigerantes e cerveja no Brasil, durante os jogos do mundial de 2014, representará 10% das vendas anuais. Além da alimentação, os brasileiros também pretendem fazer outros gastos extras: 45% 40% 29% 20% 19% Roupas e acessórios temáticos (blusas e uniformes da seleção, bonés, cornetas etc.) Decoração Bolões TV a cabo Aparelhos de TV A pesquisa divulgada pelo SPC Brasil mostra, portanto, que os gastos dos consumidores durante a Copa do Mundo serão concentrados em setores específicos. Desta forma, a apuração dos índices oficiais de venda no varejo deverá mostrar uma alta nos setores de alimentação e bebidas e de forma menos intensa, no setor de vestuário e de eletrodomésticos. Tais altas, no entanto, não serão suficientes para reverter a tendência de desaceleração observadas nos últimos meses 3 por conta da atividade econômica mais fraca. 1 http://goo.gl/iwvy2d 2 http://goo.gl/6q5vra 3 A pesquisa mensal do comércio divulgada pelo IBGE mostrou recuo de 0,4% em abril com relação ao mês anterior no Volume de Vendas do Comércio Varejista. O resultado mantém a tendência de queda já mostrada no mês anterior (-0,5% em março). 4
DINHEIRO É O MEIO MAIS UTILIZADO PARA PAGAR A MAIORIA DAS DESPESAS EXTRAS. Para pouco mais da metade das pessoas ouvidas (53%), o dinheiro é a primeira opção na hora de comprar comidas e bebidas. Em segundo aparece o cartão de crédito à vista, com 23% da preferência. Já o cartão de crédito parcelado tem participação pouco expressiva, com apenas 4%. Considerando os gastos extras com roupas e acessórios temáticos, o dinheiro também revela ser a opção preferida dos consumidores (46%). O cartão de crédito à vista vem em segundo (23%), seguido pelo cartão de crédito parcelado, lembrado por 16% dos entrevistados. As despesas que correspondem a itens de decoração serão pagas, em sua maioria, em dinheiro: 71% dos consumidores ouvidos afirmam ser essa a opção preferida. Outros 14% citam o cartão de crédito à vista, enquanto 4% têm intenção de pagar esse tipo de despesa com cartão de crédito parcelado. Entre aqueles que pretendem gastar com bolões, o dinheiro aparece, mais uma vez, em primeiro lugar: 90% dos entrevistados optam por esse meio de pagamento, enquanto apenas 6% citam o cartão de crédito à vista. PELA TV OU DENTRO DO ESTÁDIO? Como já foi mostrado, apenas 19% das pessoas ouvidas dizem que vão investir na compra de um novo aparelho de TV. Entre esses, o meio de pagamento preferido é o cartão de crédito parcelado (53%). Em segundo lugar vem o dinheiro, escolhido por 30% dos entrevistados, e depois o cartão de crédito à vista, com 12% da preferência. Os gastos com ingressos da Copa do Mundo são citados como despesas extras por apenas 12% da amostra. Entre esses, o dinheiro é a forma de pagamento escolhida por 38% das pessoas. Na seqüência vêm o cartão de crédito à vista (33%), o cartão de crédito parcelado (19%) e o cartão de débito (9%). Considerando aqueles que afirmam a intenção de viajar para assistir a alguma partida, 36% dizem preferir o pagamento das despesas em dinheiro. O cartão de crédito parcelado está em segundo lugar, com 30% dos entrevistados, e na seqüência vem o cartão de crédito à vista (21%) e o cartão de débito (11%). 5
9% DOS ENTREVISTADOS ADMITEM QUE OS GASTOS EXTRAS COM A COPA DO MUNDO PODEM COMPROMETER AS FINANÇAS. O SPC Brasil perguntou aos moradores das cidades-sede da Copa do Mundo se eles teriam feito alguma reserva financeira para lidar com os gastos extras durante o evento. 58% responderam que não, acrescentando que o fato não deve ou não irá comprometer suas finanças. Outros 27% afirmam ter feito a reserva, sendo esta será suficiente para cobrir as despesas extras. O dado preocupante corresponde aos 9% que poderão ter suas finanças comprometidas: 5% das pessoas ouvidas admitem que vão gastar mais do que podem, podendo resultar no comprometimento das contas do mês; e outros 4% dizem ter feito reserva financeira, acrescentando que ela não será suficiente para todo o evento. PERCEPÇÃO DE PREÇOS: CONSUMIDOR ACREDITA EM AUMENTO NOS ITENS RELACIONADOS À COPA DO MUNDO. 93% perceberam aumento no valor de hotéis e pousadas De maneira geral, os entrevistados perceberam aumento nos preços praticados em vários setores. Com relação aos bares, por exemplo, o percentual chega a 81% da amostra. A percepção de alta é igualmente significativa no que diz respeito aos restaurantes (80%). Outro setor com percepção de aumento expressivo é o de supermercados, lembrado por 57% das pessoas ouvidas. Considerando hotéis e pousadas, o percentual chega a 93% da amostra. 6
Em relação às casas noturnas, boa parte dos consumidores (78%) também diz ter vivenciado o aumento de preços. A elevação dos valores pagos pelo serviço de táxi é percebida por 64% dos entrevistados pelo SPC Brasil. Finalmente, levando em conta as padarias, 38% dos consumidores das cidades-sede alegam percepção de aumento de preços. 78% CASAS NOTURNAS 64% TÁXI 38% PADARIAS Mais uma vez a pesquisa do SPC Brasil nos ajuda a traçar o que acontecerá com os dados econômicos durante a Copa do Mundo. Com relação à inflação, deveremos ver a alta de preços de itens específicos (como alimentos e bebidas, televisores e serviços ligados ao turismo e bares e restaurantes) refletir nos índices de inflação ao consumidor, como o IPCA e o IPC- Fipe, relacionados ao mês de junho e julho. A alta de preços de itens impulsionados pela Copa do Mundo, no entanto, deverá ser limitada ao período do mundial. 7
OS BRASILEIROS E A VIVÊNCIA NA COPA DO MUNDO: NAS CIDADES-SEDE, MAIS DA METADE AFIRMA ESTAR BASTANTE ENVOLVIDA. Durante a primeira semana de jogos deste vigésimo mundial de futebol organizado pela FIFA... 53% 50% 61% Dos entrevistados disseram estar bastante envolvidos, considerando sua vivência e participação no evento. Da amostra dá nota igual ou maior que 7 para a Copa do Mundo do Brasil. Dos entrevistados acreditam que os estrangeiros dariam notas entre 1 e 6, no máximo. Os moradores de Recife mostram o maior engajamento (61%), enquanto os de Porto Alegre (46%) e Belo Horizonte (44%) revelamse menos participativos. No geral, 24% das pessoas admitem envolver-se com a Copa de forma média, e 23% admitem baixo grau de participação. A visão dos brasileiros sobre o evento começa a se tornar mais clara quando eles são instados a avaliar a Copa como um todo. Ao atribuir notas de zero a 10, com zero significando péssimo, e 10 querendo dizer excelente, metade da amostra dá nota igual ou maior que 7 para a Copa do Mundo do Brasil. 14% das pessoas ouvidas dão nota 9 ou 10. Os moradores com a melhor impressão do torneio são os de Natal, onde 71% dão nota igual ou maior que 7, enquanto 21% dos entrevistados avaliam o mundial com notas entre 1 e 4. A avaliação piora quando a pergunta é sobre a opinião do resto do mundo em relação à Copa: 61% dos entrevistados acreditam que os estrangeiros dariam notas entre 1 e 6, no máximo. Outros 29% dos brasileiros imaginam que o resto do mundo daria nota 7 ou 8 para a competição, e apenas 10% da amostra afirma que as notas estão entre 9 e 10. 8
AS EXPECTATIVAS SOBRE A COPA NO BRASIL: PARA 41% DA AMOSTRA, O MUNDIAL ESTÁ MELHOR DO QUE SE IMAGINAVA. E quanto ao cumprimento, ou não, das expectativas dos brasileiros em relação à realização da Copa do Mundo? Entre os residentes nas 12 cidades-sede do mundial, 41% acreditam que a competição está melhor do que eles imaginavam. Destaque para Manaus, lugar em que esse número chega a 54%, e também Natal, com 53%. Apenas 16% das pessoas ouvidas acreditam que a Copa está pior ou muito pior que imaginavam. E para 40% o evento está dentro das expectativas normais ou seja, nem pior, nem melhor. O SPC Brasil também quis saber o que pensam os brasileiros sobre o país ser sede do mundial da FIFA, e 41% dizem ser favoráveis. Mais uma vez, Manaus (56%) e Natal (55%) são os locais mais favoráveis à condição de sede ocupada pelo país. Outros 19% mostram-se indiferentes, enquanto 38% dos entrevistados dizem ser contrários. 41% Acreditam que a competição está melhor do que eles imaginavam. A mesma porcentagem de entrevistados é favorável sobre o país sediar mundial da FIFA. 9
ENGAJAMENTO: SENDO A FAVOR OU NÃO, A MAIORIA ABSOLUTA VAI ASSISTIR AOS JOGOS. 83% dos entrevistados dizem que vão assistir a um ou mais jogos, nos estádios e/ou pela TV. Apesar da porcentagem expressiva de pessoas que discordam da realização da Copa do Mundo no Brasil, o apelo inerente às partidas é maior: 83% dos entrevistados dizem que vão assistir a um ou mais jogos, nos estádios e/ou pela TV. Praticamente seis entre cada dez pessoas (59%) pretendem ver todas as partidas da seleção brasileira e os duelos envolvendo equipes de outros países. Este dado reforça a importância do futebol para o Brasil, considerado por Roberto DaMatta, um elemento significativo da identidade nacional. Em uma sociedade com uma complexa e rígida hierarquia social, o futebol surge como um elemento democrático, pois seus heróis não são determinados pela classe ou família a que pertencem, possibilitando certa horizontalização do poder 4. Trata-se, portanto, de um poderoso agente mobilizador de milhões de pessoas, promovendo integração do país, mesmo com tantas diferenças sociais 5. interesse gerado pela competição. Números apresentados nas contas oficiais do Twitter 6 dão conta de que até o dia 26 de junho já havia mais de 300 milhões de tweets sobre a Copa. Entre as principais menções, até esta data, estavam o atacante Neymar, o jogo de abertura do mundial entre Brasil e Croácia e o gol contra do lateral Marcelo, da seleção brasileira. No Facebook 7, a mesma tendência pôde ser observada: na primeira semana do mundial, 141 milhões de pessoas comentaram sobre as partidas e a competição, resultando em 459 milhões de interações (posts, comentários e curtidas). Em uma única semana, mais pessoas conversaram sobre a Copa do Mundo na rede social do que durante o último Super Bowl, o Oscar e as Olimpíadas de Inverno de Sochi, somados. Passados 18 dias de torneio, a Copa gerou mais recordes: 220 milhões de usuários comentando o mundial e um bilhão de interações, algo inédito na história do Facebook. Dentro ou fora do Brasil, o engajamento nas redes sociais é outra prova do enorme 4 DAMATTA, Roberto. Antropologia do óbvio-notas em torno do significado social do futebol brasileiro. Revista USP, n. 22, 1994. 5 HELAL, Ronaldo. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Mauad Editora Ltda, 2001. 6 https://twitter.com/twitterdata 7 http://goo.gl/0rvp8b 10
JOGOS DA COPA: UMA EXPERIÊNCIA DE SOCIALIZAÇÃO. Para a maioria dos brasileiros, assistir aos jogos da Copa do Mundo significa estar com amigos e familiares. Entre os entrevistados: 58% 47% revelam a intenção de ver ao menos uma das partidas em casa, recebendo amigos e parentes. preferem sair de casa e acompanhar o torneio na residência de amigos e familiares. 23% 9% dos residentes nas cidades-sede afirma que vai assistir a pelo menos uma partida em bares, na companhia de amigos e familiares. têm a intenção de ir ao estádio de futebol. Entre os que têm a intenção de ir ao estádio, chega a 23% o percentual de pessoas que pretendem viajar e acompanhar pelo menos uma partida na arena de outra cidade. A média de pessoas para cada grupo de viagem é de 5,5 pessoas, sendo que os destinos preferidos pelos entrevistados são Fortaleza (40%), Rio de Janeiro (39%), Belo Horizonte (27%) e São Paulo (24%) cidades que receberão jogos da seleção brasileira. Na hora de justificar o deslocamento, 67% da amostra alegam a vontade de acompanhar os jogos, pelo fato de estarem muito envolvidos com a competição. 11
CONCLUSÃO A Copa do Mundo de 2014 é uma festa com convite aparentemente obrigatório para os brasileiros, o que equivale a dizer que o torneio vai acontecer no quintal de cada um, mesmo que alguns não sejam favoráveis ou simplesmente discordem do fato de o Brasil ser sede. A reforçar esses argumentos está o alto número de pessoas que revelam intenção de assistir a uma ou mais partidas da Copa 83% da amostra. Passadas as incertezas sobre a realização do mundial de seleções da FIFA no Brasil, é possível dizer que o engajamento e a participação dos residentes nas cidades-sede são expressivos, com 53% dos entrevistados na pesquisa do SPC Brasil afirmando estarem bastante envolvidos, e com metade da amostra dando nota igual ou maior que sete para a competição. Evento que oferece inúmeras oportunidades de socialização e confraternização, a Copa do Mundo do Brasil será vivenciada pelos brasileiros na companhia de familiares e amigos. As conseqüências diretas sobre o consumo envolvem o aumento das despesas extras com vários itens, entre eles comida e bebida, roupas e acessórios, novos aparelhos de TV, pacotes de assinatura de TV a cabo e até apostas em bolões. Para a imensa maioria desses gastos extras, o dinheiro é o meio de pagamento preferido. Ainda em relação às despesas motivadas pela Copa, é significativa a parcela de entrevistados (9%) que admite o risco de ver suas finanças comprometidas. Por outro lado, ao prepararem-se para os eventos de confraternização os consumidores acabam acompanhando de perto a situação dos preços. A percepção de aumento nos valores praticados passa por inúmeros setores, especialmente bares e restaurantes, hotéis e pousadas, casas noturnas e serviço de táxi. A pesquisa do SPC Brasil e as suas conclusões em relação ao comportamento do consumidor também nos ajudam a antecipar movimentos que deverão aparecer nos índices oficiais. Do lado das vendas no varejo, deveremos observar altas em setores específicos (como supermercados e lojas de equipamentos eletrônicos), mas ainda insuficientes para reverter a tendência de piora nas vendas, reflexo da atividade econômica mais fraca. Do lado da inflação, os índices de preços dos meses de junho e julho deverão mostrar altas concentradas em alimentação, televisores, serviços de hotelaria e bares e restaurantes. Tais efeitos deverão, no entanto, ser limitados ao período do mundial. 12