Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira: síntese 1

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Transcrição:

Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira: síntese 1 O Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa), em colaboração com as equipes da Empresa e parceiros, tem a meta de apresentar à Embrapa e à sociedade estudos prospectivos que auxiliem a explorar futuros possíveis. Os estudos capitaneados pelo Agropensa, além de aportar conhecimentos e informações aos diferentes atores e agentes das cadeias produtivas agropecuárias e afins, têm a importante função de apoiar a contínua reflexão, e eventual revisão, da agenda de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) da Embrapa. Em 2014, o Agropensa concluiu o estudo Visão 2014-2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira 2. A partir das referências organizadas no documento Visão 2014-2034, consolidadas a partir de uma extensa lista de documentos de apoio, relatorias, publicações de outras instituições e painéis com especialistas em diferentes áreas do conhecimento, a Embrapa revisitou seu Plano Diretor e as Unidades da Empresa engajaram-se na revisão de suas agendas de prioridades. Para este ano de 2015, o Agropensa apresenta o estudo "Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira", em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR). Esse trabalho foi validado junto ao Comitê Gestor das Estratégias da Embrapa (CGE), ao Presidente da Embrapa e aos Gestores das Unidades Centrais e Descentralizadas da Empresa. Na presente síntese, busca-se apresentar, sucintamente, o resultado desse trabalho com cenários. Em junho de 2015, inicia-se uma importante fase para sua discussão mais ampla no âmbito das Unidades, buscando o aprofundamento de questões-chave e a análise mais detalhada de algumas das implicações mais importantes desses cenários exploratórios à agenda de PD&I agropecuária, com recortes mais específicos no que concerne a produtos, biomas e temas. Detalhes adicionais sobre a origem e uso de cenários na Embrapa, bem como sobre os avanços identificados nesse trabalho com cenários exploratórios, junto à rede 1 Elaborado por Geraldo B. Martha Jr. a*, Marcos Antonio G. Pena Jr. a, Fernando Castanheira Neto b, Elaine C. Marcial b, Livia A. Torres a, Virgínia Gomes de Caldas Nogueira a, Vanessa Chervenski c, Giani Tavares Santos da Silva a, Antonio Carlos Wosgrau c. * Autor correspondente: agropensa@embrapa.br. a - Secretaria de Inteligência e Macroestratégia - Embrapa, Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa). b - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR). c Secretaria Geral da Presidência da República (SG/PR). 2 Detalhes em https://www.embrapa.br/agropensa/documento-visao. 1

de conhecimento 3, serão continuamente compartilhados na página do Agropensa 4 à medida que forem sendo processados e validados. O uso de cenários como ferramenta para apoiar a tomada de decisão da Embrapa O uso de cenários exploratórios é útil para explorar futuros possíveis, para definir caminhos alternativos e para apoiar o desenho de estratégias potencialmente mais apropriadas para cada um deles. O método é particularmente interessante em períodos em que o entorno apresenta maior instabilidade, estando sujeito a mudanças fundamentais dos condicionantes políticos, sociais, econômicos e tecnológicos (Johnson, 1989; Schwartz, 1990; Schoemaker, 1995; Godet, 2000; Van Notten, 2006; Chermack, 2011; Wack, 2014a,b). Uma visão comparativa dos principais métodos de cenarização, e exemplos de construção e uso de cenários no Brasil foram apresentados por Marcial (2011). Um exemplo pioneiro da aplicação da técnica, com foco na pesquisa agropecuária brasileira, foi apresentado por Ayres et al. (1990). Com os cenários exploratórios, o Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa busca colocar em perspectiva grandes incertezas quanto ao futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Mais do que isso, busca ampliar a capacidade de antevisão da Embrapa para lidar com desafios e incertezas, e ampliar o acesso a oportunidades, por meio do estabelecimento de uma sucessão lógica de eventos, permitindo a reflexão sobre como se poderá chegar a uma situação futura desejada. Esse trabalho com cenários exploratórios ainda orienta o monitoramento sistemático dos fatores-chave e das forças motrizes que afetam o desenvolvimento tecnológico da nossa agricultura. É interessante destacar que, no mundo real, nenhum cenário acontece exatamente como descrito. Geralmente, a trajetória da realidade evolui dentro do conjunto de cenários desenhados. O importante é que a lógica de cenários permite à Embrapa traçar um cenário adicional, aquele a ser perseguido pela Empresa nas próximas décadas, em conformidade com a sua visão e meios para atingi-la. Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira: elaboração O método central para a elaboração dos cenários exploratórios seguiu as propostas de Schwartz (1991) e da equipe da Global Business Network (Ogilvy & Schwartz, 2004), mas também foram utilizados elementos propostos por Godet (1994) e Porter et al. (2011). Resumidamente, o processo percorrido foi: (1) identificação da questão principal; (2) identificação das principais forças do ambiente local (fatores-chave); (3) identificação das forças motrizes ( macroambiente ); (4) classificação por grau de importância e de incerteza; (5) seleção da lógica dos cenários; (6) descrição dos cenários. 3 A rede de conhecimento é a base de operação do Agropensa, e é formada por atores e agentes das cadeias agropecuárias e afins, no País e no exterior, Unidades Centrais e Descentralizadas da Embrapa, bem como seus Laboratórios Virtuais no Exterior Labex. 4 Detalhes adicionais em www.embrapa.br/agropensa. 2

Na etapa que se inicia, conforme já comentado, avança-se com a rede de conhecimento na análise de implicações-chave desses cenários exploratórios em diferentes vertentes relevantes às estratégias de PD&I agropecuária. Subsequentemente, ter-se-á a etapa de seleção dos principais indicadores. A seguir, o monitoramento sistemático dos fatores-chave e das forças motrizes afetando o desenvolvimento tecnológico da agricultura assumirá caráter fundamental nessa estratégia de fortalecer a capacidade de antevisão de oportunidades, riscos e desafios ao desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira: possíveis futuros Os trabalhos coordenados pelo Agropensa apontaram para quatro grandes possíveis cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Esses cenários seguem dois eixos ortogonais (Figura 1). Um primeiro, tem em um extremo um futuro em que continuamos reféns da commoditização. Nessa condição, nossos produtores continuam expostos às flutuações de preços nos mercados internacionais (ciclos de altos e baixos), pois são tomadores de preços de insumos e de produtos. As possibilidades de diferenciação de produtos e agregação de valor são limitadas, e as oportunidades para a diversificação da produção fica restrita às principais commodities agrícolas. No outro extremo, tem-se um futuro no qual engaja-se na era da bioeconomia. As possibilidades de diversificação da produção (agropecuária tradicional, biofármacos, bioinsumos, bioprodutos, dentre outros) e agregação de valor são sobremaneira maiores e a exposição aos ciclos de preço das commodities agrícolas é menor. Nessa vertente, possivelmente surgirão as condições mais robustas para uma maior inclusão produtiva e para a expansão sustentada da renda no campo, pois estabelecem-se maiores possibilidades para a diferenciação de produtos e para a ampliação de mercados. Figura 1. Ilustração dos cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Fonte: Agropensa/Embrapa, SAE-PR (2015). 3

No outro eixo, transversal, tem-se, em um extremo, o protagonismo nacional em geração de rupturas tecnológicas e capacidade de inovação. Enquanto País, por meio dos setores privado e público, avança-se de modo firme nos investimentos em genética e em insumos agropecuários, já abrangendo linhas de futuro, como biofármacos e bioprodutos/bioinsumos industriais. O Brasil, nesse cenário, passa a atuar como exportador líquido de produtos, tecnologias e serviços nas dimensões alimentícia e não-alimentícia para diferentes mercados. Já no outro extremo desse eixo há um enorme retrocesso na capacidade de geração de conhecimento e inovação no País. A capacidade brasileira de gerar grandes rupturas tecnológicas e inovações de vanguarda na agropecuária e setores afins se deteriora nas próximas décadas e inevitavelmente surge forte dependência de importação de novas tecnologias com grande potencial de ruptura e inovação. O Brasil passa, assim, a ser coadjuvante nos esforços globais de PD&I agropecuária. Os cenários exploratórios originam-se do cruzamento dos dois eixos, que delimitam quatro quadrantes (Figura 1). No quadrante em que as principais forças são a era da bioeconomia e o protagonismo na geração de tecnologias de vanguarda e grandes possibilidades de inovação, temos o cenário Na crista da onda. No quadrante em que há esse protagonismo nas ações de PD&I, mas o pólo de atração tende para a commoditização, o cenário foi chamado de Celeiro do Mundo. No caso do quadrante delimitado pelos pólos refém da commoditização e dependência de importação de novas tecnologias de vanguarda, o cenário é o Casa de ferreiro, espeto de pau. Por fim, no quadrante em que as principais forças são a baixa capacidade de PD&I nacional, mas com foco em bioeconomia, o cenário é Perdeu o voo. O ditado é perdeu o bonde, mas com a imensa velocidade com que a bioeconomia se processa, ao se perder a janela de oportunidade que hoje está aberta, porém, se fechando, o Brasil corre o risco de ficar alijado desse fluxo de geração de conhecimentos e tecnologias de ponta e passa a depender, exageradamente, dos gigantes em PD&I mundial. Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira: análise dos impactos A lógica de cenários exploratórios é útil para analisar impactos, positivos e negativos, em diferentes recortes. Para citar alguns, o Agropensa e a rede de conhecimento avançarão nos estudos sobre os impactos desses diferentes cenários exploratórios sobre: 1) a estrutura e nível de investimento no sistema de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia & inovação agropecuária no Brasil (veja exemplo no box); 2) questões regionais, seus potenciais desdobramentos sobre a inclusão produtiva, a expansão da renda no campo e a geração de encadeamentos produtivos sustentados no tempo (inteligência territorial antecipatória); 3) indicadores de sustentabilidade (sentido amplo); e 4) ações para o fortalecimento do capital humano em organizações públicas e privadas de PD&I para fazer frente a esses desafios. Nessa estratégia buscam-se indicações de encaminhamentos e de ações práticas, valendo-se de um variado instrumental de análises. A equipe do Agropensa ainda pondera a possibilidade de que os cenários exploratórios sejam traduzidos em choques que possam ter seus potenciais efeitos e impactos testados em modelos econômicos, trazendo uma perspectiva multi-setorial. Em síntese, busca-se com essas análises que se desenrolam até o início de 2016 uma reflexão detalhada sobre como as cadeias produtivas agropecuárias e afins são influenciadas por esses diferentes cenários exploratórios. Com essa abordagem, que demanda 4

envolvimento amplo das Redes de Conhecimento, a Embrapa estará mais apta para analisar como esses futuros possíveis podem afetar seus macroprocessos e, assim, desenhar o cenário desejado para as próximas décadas para melhor atender à sociedade brasileira. Referências Ayres, C.H.S.; Araújo, J.D.; Paez, M.L.A. (Coord.Técn.) Cenários para a pesquisa agropecuária: aspectos teóricos e aplicação na Embrapa. Brasília: Embrapa/Secretaria de Administração Estratégica, 1990. 153p. Chermack, T.J. Scenario planning in organizations: how to create, use, and assess scenarios. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers Inc, 2011. 270p. Godet, M. From anticipation to action: a handbook of stratégie prospective. Paris: Unesco Publishing, 1994. 283p. Godet, M. The art of scenarios and strategic planning: tools and pitfalls. Technological Forecasting and Social Change, v.65, p.3-22, 2000. Johnson, B.B. Cenários para o planejamento tecnológico. Revista de Administração, v.24, p.94-99, 1989. Marcial, E.C. Análise estratégica: estudos de future no contexto da inteligência competitiva. Brasília: Thesaurus, 2011. 268p. Ogilvy, J.; Schwartz, P. Plotting your scenarios. Emeryville: Global Business Network (GBN), 2004. 19p. Porter, A.L.; Cunningham, S.W.; Banks, J.; Roper, A.T.; Mason, T.W.; Rossini, F.A. Forecasting and Management of Technology, 2a ed. New York: Wiley, 2011. 352p. Schoemaker, P.J.H. Scenario planning: a tool for strategic thinking. Sloan Management Review, winter, 25-40, 1995. Schwartz, P. The art of the long view: planning the future in an uncertain world. New York: Currency Doubleday, 241p. 1991. Van Notten, P. Scenario development: a typology of approaches. In: OECD, Think scenarios, rethink education. Paris: OECD, 2006. 200p. Wack, P. Scenarios: uncharted waters ahead. Harvard Business Review, September/October 1985. (acessado em 23 de agosto de 2014, disponível em https://hbr.org/1985/09/scenariosuncharted-waters-ahead). Wack, P. Scenarios: shooting the rapids. Harvard Business Review, November/December 1985. (acessado em 23 de agosto de 2014, disponível em https://hbr.org/1985/11/scenariosshooting-the-rapids). 5

Box Investimento em P&D agropecuários em diferentes cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura As análises dos impactos dos cenários exploratórios ainda se encontram em seus estágios iniciais, e os resultados mais robustos só surgirão no último trimestre de 2015. Trabalhos em andamento, resumidos na Figura 2, indicam que se sustentarmos os níveis históricos de intensidade de investimentos em P&D agropecuários no País, da ordem de 1,6% a 1,8% do PIB setorial, nas últimas quatro décadas, o Brasil deverá ter condições de atender os condicionantes do cenário Casa de ferreiro, espeto de pau. Possivelmente será capaz de avançar em algumas conquistas no ambiente delimitado pelo cenário Perdeu o voo. Esses, no entanto, possivelmente não são os cenários mais interessantes para compor a estratégia de desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, pois nesses casos perde-se a musculatura necessária para gerar grandes rupturas tecnológicas que sustentam o processo continuado de inovação de alto impacto para a sociedade. Figura 2. Demanda por investimento em P&D e participação público e privada frente a diferentes cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Trabalho em andamento. Fonte: Agropensa/Embrapa (2015). No caso do cenário Celeiro do Mundo, é possível que a intensidade de P&D agropecuário tenha que se elevar para a faixa de 2,0% a 2,5% do PIB setorial, patamar mínimo recomendado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a sustentação da capacidade de PD&I. O foco voltado para o cenário Na crista da onda implica em intensidade de investimentos da ordem de 4,0% do PIB setorial, compatível com 6

os níveis de investimento em PD&I dos países mais inovadores do mundo, como o Japão, a Coréia do Sul e a Finlândia. Em adição à necessidade de se elevar os investimentos em pesquisa no país para garantir a continuidade do ciclo virtuoso de inovação no setor agropecuário, é imprescindível incentivar o engajamento mais intenso do setor privado nas atividades de P&D agropecuários. Ampliar os aportes de recursos do tesouro nacional é, obviamente, ação estratégica e que deve ser perseguida. Entretanto, mesmo com essa ampliação de recursos, o financiamento público não será suficiente para sustentar os níveis de investimentos em pesquisa necessários para atender o potencial do Brasil na agropecuária e na bioeconomia nas próximas décadas. Parcerias público-privadas em pesquisa agropecuária, com foco em inovações de grande impacto, são caminhos interessantes para se assegurar parcela importante do fluxo de inovação. Em outros casos, é possível que a P&D no setor privado tenha ambiente favorável para ampliar a geração de novos conhecimentos e inovações sem o envolvimento do ente público. Em última análise, ampliar e consolidar o conjunto de ações de PD&I públicas, público-privadas, privadas, concorde objetivos e metas bem desenhados, são vitais para garantir a sustentabilidade e a competitividade sustentada das cadeias produtivas agropecuárias brasileiras e afins nas próximas décadas. *************** 7