Estudo comparativo entre cefalometria manual e computadorizada (análise de Steiner, Tweed e Downs) em telerradiografias laterais.

Documentos relacionados
BRUNO NEHME BARBO MODELOS DIGITAIS: COMPARAÇÃO DO ESCANEAMENTO EM DIFERENTES ANGULAÇÕES E DE 4 MÉTODOS DE SOBREPOSIÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS VIII PROFESSORA MARIA DA PENHA ARARUNA CENTRO DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIA E SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA

Estudo comparativo das análises cefalométricas manual e computadorizada


4. MATERIAL E MÉTODO

Estudo comparativo entre traçados cefalométricos manual e digital, através do programa Dolphin Imaging em telerradiografias laterais

MARIANE MICHELS. Avaliação da confiabilidade da análise cefalométrica automática

ATUALIDADES DA CEFALOMETRIA RADIOGRÁFICA

MARIEL DE SOUZA KUSSANO ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS TRAÇADOS CEFALOMÉTRICOS MANUAL E COMPUTADORIZADO

Estudo da inclinação do plano palatino em relação à base posterior do crânio em indivíduos portadores de oclusão normal

MARIO VEDOVELLO FILHO E COLABORADORES. Cefalometria. Técnicas de Diagnóstico e Procedimentos. 2ª Edição

PROGRAMA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA

Influência da marcação do ponto S por dois métodos sobre o traçado cefalométrico Padrão USP

Estudo comparativo de medidas cefalométricas sagitais obtidas em telerradiografia digital e tomografia computadorizada de feixe cônico

APARECIDA FERNANDA MELOTI CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DENTOESQUELÉTICAS DAS MÁS OCLUSÕES DE CLASSE I, CLASSE II E CLASSE II SUBDIVISÃO

AVALIAÇÃO DO ÂNGULO "Z" DE MERRIFIELD NA FASE DE DENTIÇÃO MISTA. Evaluation of the Merrifield s "Z" angle in the mixed dentition

PROPOSTA DE UM PLANO CEFALOMÉTRICO

da cefalometria em 1931 por Broadbent longitudinalmente procurado estruturas referência longitudinal se tornasse

Nely Rocha de Figueiredo. 63a 11m. Atendimento: 2/5/2014. Dr Sergio Pinho

(038) Pós-Graduandos em Ortodontia pela UNINGÁ- Varginha- MG 3 Professor Mestre da UNINGÁ- Varginha-MG R E V I S T A U N I N G Á

Tratamento de Classe II, Divisão 1, com ausência congênita de incisivo lateral superior

Carolina Perez Couceiro

Reproductibility of Cefalometric Tracings in Different Instances

Determinação do tipo facial: cefalometria, antropometria e análise facial

Análise da deflexão, do comprimento anterior e posterior da base do crânio, em indivíduos dolicofaciais, com má oclusão de Classe III esquelética

Características cefalométricas dos indivíduos Padrão I

Análise do ângulo nasolabial, em pacientes tratados ortodonticamente, com ou sem extrações dos pré-molares RESUMO UNITERMOS ABSTRAT

Avaliação da inclinação do incisivo inferior através da tomografia computadorizada

Estudo dos Determinantes Cefalométricos da Relação Ântero- Posterior Maxilomandibular em Amostra de Oclusão Normal

Especificação dos Casos quanto às Categorias

ConScientiae Saúde ISSN: Universidade Nove de Julho Brasil

PALAVRAS-CHAVE: Ortodontia, Análise Facial, Estética.

Determinação dos valores cefalométricos de Wits em jovens amazonenses, com oclusão normal

ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA - INNOVARE

Molares Decíduos Decíduos

Ponto A. Informações e imagens extraídas do livro "Anatomia Radiológica em Norma Lateral" (2009), Editora Previdence, Buenos Aires, Argentina.

Estudo cefalométrico da correlação da anatomia da base craniana com o padrão facial e as bases apicais

Má oclusão Classe II, 2ª Divisão de Angle, com sobremordida acentuada

PALAVRAS-CHAVE: Padrão facial; Cefalometria; Estudo comparativo.

Traçado e Análise Cefalométrica: Uma Solução Computacional

Estudo comparativo entre a Análise Facial Subjetiva e a Análise Cefalométrica de Tecidos Moles no diagnóstico ortodôntico

Desenvolvimento de uma ferramenta para a realização de traçados cefalométricos

Bráquetesq. metálicos cerâmicos plásticos. corpo; base (superfície de contato). fio). aletas; fixação.

Variações cefalométricas e sua correlação com o vedamento labial Interface Fonoaudiologia e Ortodontia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA NÁDIA ASSEIN ARÚS

UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE MESTRADO EM ODONTOLOGIA

Algumas diretrizes estatísticas para a avaliação do erro do método na mensuração de variável quantitativa

Telerradiografias obtidas em posição natural da cabeça alteram as grandezas cefalométricas?

Alterações esqueléticas craniofaciais em portadores de anemia falciforme na cidade de Juiz de Fora. Re s u m o. Ab s t r a c t

Novo método estatístico para análise da reprodutibilidade

PALAVRAS-CHAVE: Maloclusão de Angle Classe ll; Ortodontia corretiva; Aparelhos ortodônticos funcionais.

Tratamento estatístico de observações geodésicas

IV Curso Especialização em Ortodontia Clínica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LORENA MARQUES FERREIRA DE SENA

Comparative study of cephalometric radiographs obtained with different film-object distances concerning cephalometric analysis interpretation

DESENVOLVIMENTO DE UM FRAMEWORK PARA GERAR ANÁLISES CEFALOMÉTRICAS

Classificação das maloclusões

Análise da correlação entre a angulação (mesiodistal) dos caninos e a inclinação (vestibulolingual) dos incisivos

Estudo cefalométrico das características ânteroposteriores

Lívia Nascimento de Figueiredo

A r t i g o In é d i t o

GRASIELLE VIEIRA CARNEIRO LEVANTAMENTO DA INCIDÊNCIA DE AGENESIAS DENTÁRIAS ENTRE 7 A 16 ANOS EM PACIENTES NA REGIÃO DE CAMPO GRANDE - MS

Alterações do plano oclusal decorrentes do tratamento ortopédico com o Bionator de Balters em pacientes com má-oclusão classe II, divisão 1 a

MUSTAPHÁ AMAD NETO ESTUDO DA PADRONIZAÇÃO PARA A DETERMINAÇÃO DE PONTOS CEFALOMÉTRICOS UTILIZADOS NA CEFALOMETRIA RADIOLÓGICA.

LAB. - Laboratório multidisciplinar (37) quadro branco e Multimídia B.A. - Banheira para Typodont (04)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA DEPARTAMENTO DE CIRURGIA E ORTOPEDIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA

Estudo Comparativo dos Padrões Cefalométricos Preconizados por Steiner com Indivíduos Brasileiros Portadores de Oclusão Excelente 1

Estudo Comparativo entre os Padrões Cefalométricos Dentários da Análise de Steiner e Tweed em Brasileiros Nordestinos com Oclusão Normal

Cephalometric Assessment of Skeletal and Dentofacial Changes in Class I and II Subjects Treated With Extraction of Four First Premolars.

Má oclusão Classe II de Angle tratada sem extrações e com controle de crescimento*

UNIVERSIDADE PAULISTA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE

Previsibilidade das medidas ANB e 1-NA da análise cefalométrica de Steiner*

desta escala em uma fotografia revelada. A redução na ampliação foi de 52%, ou seja, as medidas lineares nas fotografias corresponderam

de Riedel 27 foi a que apresentou melhor concordância

Estudo da Recidiva em Pacientes com

Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics

Luiz Cesar de MORAES Professor Titular da Disciplina de Radiologia, do Departamento de Cirurgia, Periodontia e Radiologia, - Faculdade

SANDRA HELENA DOS SANTOS**; EDMUNDO MÉDICI FILHO***; LUIZ CESAR DE MORAES***, MARIA APARECIDA OLIVEIRA COSTA GRASIOZI*** ABSTRACT

Stomatos ISSN: Universidade Luterana do Brasil Brasil

A r t i g o I n é d i t o

Análise de modelos ortodônticos pelo método digitalizado* Analysis for orthodontics models through digitalized methods

UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE MESTRADO EM ODONTOLOGIA

UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ODONTOLOGIA AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE E COMPORTAMENTO

SUZY CRISTINA GRAVENA SIMULADOR DE DESENVOLVIMENTO DA ARCADA DENTÁRIA

Estudo cefalométrico individualizado do posicionamento da maxila em indivíduos com equilíbrio facial e oclusão normal*

Análise da Fidelidade do Plano Horizontal de Frankfurt em Relação à Linha Sela-Násio 1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PÓS-GRADUAÇÃO

AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CEFALOMÉTRICAS ESQUELÉTICAS PROMOVIDAS PELO AVANÇO MANDIBULAR COM O APARELHO DE PROTRAÇÃO MANDIBULAR TIPO 4

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Lucas Forgerine Zanette COMPARAÇÃO ENTRE AS ANÁLISES CEFALOMÉTRICAS MANUAL E COMPUTADORIZADA CURITIBA 2010

AVALIAÇÃO DAS DISTORÇÕES NAS TELERRADIOGRAFIAS LATERAIS REALIZADAS EM DIFERENTES EQUIPAMENTOS

Tratamento estatístico de observações

Posição do incisivo inferior em pacientes braquifaciais e sua correlação com a maloclusão Classe I, II e III esquelética 1

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CIDNEY HIROAKI CATO

O uso de marcadores para identificação de posicionamento dentário em telerradiografias frontais póstero-anteriores: proposta de um método

Estimativa da variação topográfica na determinação do ponto pório

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS VIII PROFESSORA MARIA DA PENHA ARARUNA CENTRO DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIA E SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA

Estudo da recidiva da sobremordida relacionada com a curva de Spee, em pacientes Classe II, divisão 1, na fase pós-contenção*

REVISÃO DA LITERATURA

Transcrição:

Estudo comparativo entre cefalometria manual e computadorizada (análise de Steiner, Tweed e Downs) em telerradiografias laterais Ana Paula Abdo Quintão * Robert Willer Farinazzo Vitral ** Re s u m o Em uma amostra de brasileiros, portadores de oclusão normal, determinaram-se os valores angulares preconizados nas análises de estudiosos por meio de telerradiografias em norma lateral. Essa amostra constou de 23 adultos, sendo 12 do gênero masculino e 11 do gênero feminino, com dentição permanente, sem tratamento ortodôntico prévio, todos com oclusão normal, com exceção dos terceiros molares, e perfil facial harmônico. Através de cada uma das telerradiografias laterais foram obtidos os traçados cefalométricos manuais e computadorizados. Os resultados obtidos foram comparados e tratados estatisticamente através do teste t de Student (P<0,05). Após o estudo, concluiu-se que houve diferença entre os traçados manuais e computadorizados quanto aos ângulos que envolvem os planos mandibular e oclusal. Palavras-chave: Circunferência craniana. Radiologia. Ortodontia. 1 In t r o d u ç ã o A cefalometria surgiu como uma evolução da craniometria, a partir da padronização de técnicas radiográficas e do desenvolvimento do cefalostato por Broadbent em 1931, passando então a permitir a visualização de pontos de referência, faciais e cranianos sendo, desde então, utilizada como parte dos registros para auxiliar o diagnóstico e planejamento dos tratamentos ortodônticos (VILELA, 1998). Devido a essa modalidade de exame radiográfico complementar, tornou-se possível avaliar, longitudinalmente, o crescimento e desenvolvimento dos ossos maxilares, diagnosticar anomalias e alterações encontradas nas regiões do crânio, analisar o paciente em várias fases do tratamento, além de salvaguardar o ortodontista no aspecto profissional, servindo como documentação legal (TRAJANO; PINTO, 2000). Ricketts (1969) introduziu na cefalometria a tecnologia dos computadores, onde medidas são registradas automaticamente. A informação gráfica contida no cefalograma (posição dos pontos) é transformada em dígitos que o computador pode armazenar, manipular e recuperar. Os dois métodos mais comuns em cefalometria computadorizada são a digitalização dos pontos e a digitalização do filme. Com a evolução da tecnologia, o computador passou a ser utilizado na Ortodontia tanto na prática administrativa quanto no diagnóstico ortodôntico, realizando a análise cefalométrica computadorizada. A utilização dessa técnica trouxe várias vantagens como: a diminuição em relação ao tempo de realização da análise cefalométrica, quando comparada à análise convencional; o maior acesso do ortodontista a grande número de variáveis, o que permite obter mais informações que auxiliem no diagnóstico, bem como a possibilidade de planejar tratamentos alternativos, que auxiliam, principalmente, em planos de tratamento cirúrgicos (HALAZONETIS, 1994). A análise cefalométrica computadorizada permite que qualquer técnica de análise (Steiner, Ricketts, Bimler, Tweed, entre outros) seja empregada, dependendo da existência da programação e dos equipamentos adequados. Independente da forma de execução, a cefalometria sempre exige uma apurada técnica de trabalho para evitar a ocorrência de erros (PEREIRA; MUNDSTOCK; BERTHOLD, 1987). * Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Odontologia, Juiz de Fora - MG. PROBIC/FAPEMIG. E-mail: paulinha_abdo@hotmail.com ** Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Odontologia, Departamento de Odontologia Social e Infantil, Juiz de Fora - MG. HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 2, p. 95-99, abr./jun. 2010 95 868.indd 95 05/11/2010 09:23:01

Sandler (1988), comparando os erros envolvidos na tomada de medições lineares e angulares, utilizando três métodos diferentes: traçado manual, digitalização dos pontos e digitalização de radiografias cefalométricas laterais de 25 pacientes, relatou que a reprodutibilidade e a rapidez são aspectos importantes na cefalometria computadorizada, contudo, erros podem ocorrer em qualquer um dos O presente estudo se propôs a comparar a similaridade do método computadorizado em relação ao manual, comparar medidas cefalométricas obtidas por meio das análises manual e computadorizada em telerradiografias laterais, avaliando-se a capacidade de reprodutibilidade do operador e do programa de computador. 2 Ma t e r i a l e mé t o d o s Foram avaliadas 23 telerradiografias préexecutadas de pacientes adultos, sendo 12 do gênero masculino e 11 do gênero feminino, com dentição permanente, sem tratamento ortodôntico prévio, todos com oclusão normal, com exceção dos terceiros molares, e perfil facial harmônico. As telerradiografias laterais foram executadas em clínica particular utilizando o aparelho Orthophos3C/ Sirona-Siemens seguindo as normas de utilização fornecidas pelo fabricante. Os filmes radiográficos utilizados foram da marca Kodak, com écran lanex regular, e tendo sido processados através do método tempo/temperatura, segundo as normas do fabricante. Para o traçado manual, foram utilizados: negatoscópio, transferidor, esquadro, régua, lapiseira grafite 0,3mm, borracha e 50 folhas de papel de acetato transparentes. Para o traçado computadorizado, foi utilizado um computador com o software Radiocef Studio, um scanner (HP Scanjet G4050) e uma impressora HP Deskjet 656C. Após seleção da amostra e realização do erro de método, um único pesquisador (iniciais do examinador), treinado e calibrado por especialistas em Radiologia e Ortodontia, realizou os traçados cefalométricos através do método manual. Os traçados computadorizados foram realizados por um único operador também devidamente calibrado. O traçado manual foi realizado da seguinte forma: sobre cada radiografia cefalométrica adaptouse uma folha de papel de acetato transparente, traçando-se o cefalograma em negatoscópio. O lápis e o transferidor foram sempre os mesmos e utilizados pelo mesmo operador. Fez-se a delimitação da estrutura dento-esquelética e, em seguida, demarcaram-se os pontos, traçados de linhas e planos de referência da estrutura dento-esqueletal. A análise cefalomética utilizada foi composta por medidas estabelecidas por Downs, Steiner e Tweed. Foram utilizadas as seguintes medidas angulares (em graus): - Ângulo Facial - Ângulo de Convexidade - Ângulo A-B - Plano Mandibular - Eixo Y - Plano Oclusal - Ângulo Interincisal - II.PO - II.PM - FMA - FMIA - IMPA - SNA - SNB - ANB - SND - GoGn.SN - PO.SN - IS.NA - II.NB A análise computadorizada fez uso do software Radiocef Studio que utiliza scanner para obter a imagem digitalizada da radiografia, que aparece no monitor, onde a marcação de pontos é feita com o cursor do mouse. Os pontos demarcados foram os mesmos do traçado cefalométrico manual. Os valores obtidos nas análises de Downs, Steiner e Tweed foram submetidos ao teste estatístico t de Student que avalia médias amostrais, e, a partir de um valor crítico, estabeleceu se a diferença encontrada teve significância estatística (p<0,05). Para o Erro de Método foram selecionadas aleatoriamente 10 radiografias de pacientes adultos, traçadas manualmente 2 vezes cada uma, com intervalos de uma semana entre elas. Para a análise da distribuição normal, foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk. A distribuição da curva de dados se deu de forma normal. Utilizou-se para análise do Erro Sistemático o teste correlação Intraclasse (ICC). Na análise do erro sistemático, todas as medidas apresentaram uma Excelente replicabilidade (P<0,0001), sem diferença significante entre a 1ª e a 2ª medida. Para a última medida (Ângulo Interincisal), o grau de replicabilidade foi Bom. Também foi feita a Análise do Erro Casual (fórmula de Dahlberg). O erro casual foi muito pequeno, mostrando uma ótima precisão das medidas. 3 Re s u l t a d o s Os resultados encontrados estão apresentados na Tabela 1. 96 HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 2, p. 95-99, abr./jun. 2010 868.indd 96 05/11/2010 09:23:01

Tabela 1 Média aritmética, desvio padrão e teste t para os valores encontrados através dos traçados cefalométricos manual e computadorizado Variável Analista Média Desvio padrão Valor de p Facial Convex A-B P. Mand. Eixo Y P.Oclusal Interincis. II.PO II.PM FMA FMIA IMPA SNA SNB ANB SND GO.Gn.SN PO.SN IS.NA II.NB Interincis. *Diferença estatisticamente significativa (P<0,05). Fonte: Os autores (2009). 4 Discussão O ângulo do plano mandibular de Downs apresentou diferença significativa, após aplicação do teste t de Student, quando traçado pelos métodos manual e computadorizado (P<0,05). Da mesma forma, houve diferença significativa quanto ao plano mandibular de Tweed (FMA) e Steiner (GoGn.SN). A significativa diferença se deve aos métodos empregados para traçado em cada um dos meios. A 87,70 88,54 3,41 3,16-4,04-4,04 24,28 25,33 59,89 59,23 8,65 6,79 127,13 127,99 111,54 107,51 94,37 94,00 24,28 25,30 61,35 61,32 94,37 93,38 82,63 82,77 80,24 80,38 2,48 2,39 77,24 77,05 29,24 31,03 15,02 13,59 22,80 22,91 27,30 26,40 127,13 128,50 3,18 2,71 5,64 5,66 3,02 2,99 4,82 4,76 3,14 3,30 3,00 3,65 8,86 9,60 7,03 24,06 8,88 8,65 4,82 4,84 7,38 6,45 8,88 8,15 3,97 3,95 3,35 3,57 2,34 2,33 3,39 3,58 4,97 4,83 4,66 5,49 7,22 7,27 5,86 6,06 8,86 9,07 0,104 0,492 0,974 0,012* 0,127 0,015* 0,328 0,410 0,610 0,012* 0,967 0,115 0,687 0,640 0,698 0,467 0,000* 0,021* 0,862 0,082 0,116 divergência no feixe de raios X na tomada radiográfica pode culminar com o aparecimento de dupla imagem no caso de estruturas bilaterais, como o bordo inferior da mandíbula. Para os traçados manuais adotou-se um traçado médio entre as imagens geradas correspondentes aos lados esquerdo e direito. Já o traçado computadorizado utilizando o software Radiocef Studio, utiliza a estrutura correspondente ao lado esquerdo, sendo esta mais superior e posterior em relação à correspondente do lado direito. A diferença nos métodos HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 2, p. 95-99, abr./jun. 2010 97 868.indd 97 05/11/2010 09:23:02

empregados pode causar uma variação nas medidas angulares encontradas. Os ângulos correspondentes ao plano oclusal de Downs (P.Oclusal) e ao plano oclusal de Steiner (PO.SN) apresentaram diferenças significativas (P<0,05), após empregado o teste t de Student. Para o traçado manual utilizou-se as médias dos entrecruzamentos dos primeiros molares e dos incisivos centrais para obtenção do plano oclusal. Já o software Radiocef para o traçado cefalométrico computadorizado, utiliza, para formação do plano oclusal, o ponto médio da distância entre a cúspide mesial do primeiro molar superior e a cúspide mesial do primeiro molar inferior (ponto posterior de Downs) e o ponto na borda incisal do incisivo central inferior (incisão incisiva inferior). Sendo assim, o traçado cefalométrico computadorizado não utiliza o entrecruzamento entre os incisivos centrais superior e inferior, tendo como base somente o incisivo inferior. Essa diferença entre os métodos empregados gera uma variação nos valores angulares obtidos. Mas, é importante enfatizar que é permitida alteração do plano oclusal pelo operador quando realizado o traçado cefalométrico computadorizado através do Radiocef Studio. Porém, isso depende da precisão e do método adotado pelo operador para a marcação dos pontos. Os demais valores angulares não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os Em relação ao método manual, o método computadorizado oferece vantagens quanto aos recursos empregados que favorecem a visualização da imagem e a diminuição do tempo para realização do traçado. A precisão e a confiabilidade do resultado obtido dependem da capacidade, aptidão e treinamento do operador. Em contrapartida, o método computadorizado exige equipamentos como computadores, scanners e software específicos, havendo assim, um custo e um investimento mais altos em comparação com o método manual. O Radiocef utiliza scanner para obter a imagem digitalizada da radiografia, que aparece no monitor, onde a marcação de pontos é feita com o cursor do mouse. Favorece a visualização da imagem, pois possui recursos como o controle de brilho, contraste, negativo, pseudocolorização, realce de bordas, relevo, zoom e ferramentas que auxiliam na localização de pontos. São oferecidas mais de 20 análises para cinco tipos diferentes de exames: cefalometria lateral, frontal, idade óssea, estudo de modelos e a análise facial, realizada sobre a fotografia do paciente. Permite a personalização das análises, com inclusão de novos pontos, planos e medidas, bem como a sobreposição de traçados, da radiografia sobre a fotografia e do cefalograma sobre a radiografia (RADIOCEF, 2001). Dentre trabalhos realizados por outros autores, onde os métodos manual e computadorizado foram comparados os resultados sugerem, em sua maioria, não haver diferenças significativas entre as medidas obtidas. Davis e Mackay (1991) compararam as análises cefalométricas manual e computadorizada, com e sem recursos gráficos adicionais, que se apresentaram superiores ao método manual. Martins (1993) avaliou os erros advindos dos traçados cefalométricos manuais e computadorizados. Podem ocorrer erros de projeção radiográfica bem como de localização dos pontos cefalométricos causados por falta de conhecimento, ou devido às inúmeras definições existentes para a maioria dos pontos, além das assimetrias, que dificultam sua localização na imagem. A cefalometria pode ser uma ferramenta poderosa para o clínico, quando usada de forma adequada e com cuidado. Constatou-se também que o uso do computador e a performance do observador não foram capazes de reduzir os erros. Os mesmos existem e sua soma será expressa no traçado final. O importante é sempre haver a observação de um profissional competente e experiente, pois isto tornará o processo mais confiável (PEREIRA, 1994). Para Taylor (1995), o maior inconveniente do traçado manual é o tempo e a dificuldade requeridos. O desenvolvimento de programas de computador minimizou estes problemas. Segundo Tourne (1996), a análise cefalométrica envolve um número de procedimentos técnicos, utilizando diferentes equipamentos. Cada processo pode introduzir algum erro. A magnitude dos erros acumulados tem uma relação direta com a interpretação dos dados, sua confiabilidade clínica e científica. 5 Co n c l u s ã o Dentre as variáveis angulares analisadas o plano mandibular das análises de Downs, Tweed (FMA) e Steiner (GoGn.SN) apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Os ângulos do Plano Oclusal de Downs e PO.SN de Steiner também apresentaram diferenças estatisticamente significativas quando obtidos os traçados cefalométricos manuais e computadorizados. As demais medidas angulares não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os 98 HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 2, p. 95-99, abr./jun. 2010 868.indd 98 05/11/2010 09:23:02

Comparative study of manual and computerized cephalometric measurements (Steiner, Tweed and Downs analysis) in profile cephalograms Ab s t r a c t In a Brazilian sample, with normal occlusion, the angular values used in Steiner, Tweed and Downs analysis were determined by means of lateral radiographs. This sample consisted of 23 adults: 12 males and 11 females, with permanent dentition, without previous orthodontic treatment, all of them with normal occlusion, except the third molars, and harmonic facial profile. From each cephalometric radiograph were obtained the manual and computerized tracings. The obtained results were compared and statistically analyzed by t test of Student (P<0.05). After the study, it was concluded that there was difference between manual and computerized tracings related to mandibular and occlusal planes. Keywords: Cephalometry. Radiology. Orthodontics. Referências BRANGELI, L. A. M. et al. Estudo comparativo da análise cefalométrica pelo método manual e computadorizado. Revista Regional de Araçatuba, Araçatuba, v. 54, n. 3, p. 234-241, 2000. DAVIS, D. N.; MACKAY, F. Reability of cephalometric analysis using manual and interactive computer methods. British Journal of Orthodontics, Londres, v. 18, no. 2, p. 105-109, 1991. HALAZONETIS, D. J. Computer-assisted cephalometric analysis. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, Saint Louis, v. 105, no. 5, p. 517-521, 1994. MARTINS, L. P. Erro de reprodutibilidade das medidas das análises cefalométricas de Steiner e de Rickets pelos métodos convencional e computadorizado, 1993. Dissertação (Mestrado em Odontologia) Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual de São Paulo, Araraquara, 1993. NAINI, F. B.; OTASEVIC, M.; VASIR, S. N. A. Comparison of manual tracing, digitizing and computer cephalometric analysis. Virtual Journal of Orthodontics, Florence, Mar. 2001. Disponível em: <http://www.vjo.it/034/compaen.htm>. Acesso em: 9 set. 2001. PEREIRA, B. P; MUNDSTOCK, C. A; BERTHOLD, T. B. Introdução à cefalometria radiográfica. Porto Alegre: UFRGS, 1987. RADIOCEF. Informativo RADIOCEF VIEWER. 2001. Disponível em: <www.radiocef.com.br> Acesso em: 22 set. 2001. RICKETTS, R. M. The evolution of diagnosis to computerized cephalometrics. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, Saint Louis, v. 55, no. 6, p. 795-803, 1969. SANDLER, P. J. Reproducibility of cephalometric landmark identification. British Journal of Orthodontics, Londres, v. 15, no. 2, p. 105-110, 1988. TAYLOR, R. W. Advances in cephalometric analysis. In: JACCOBSON, A. Radiographic cephalometry from basic to videoimaging. Chicago: Quintessence, 1995. TOURNE, L. P. M. Accuracy of a commercially available digitizer: a new method for assessment of errors in linearity. Angle Orthodontist, Appleton, v. 66, no. 6, p. 433-440, 1996. TRAJANO, F. S.; PINTO, A. S. Estudo comparativo entre os métodos de análise cefalométrica manual e computadorizada. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, Maringá, v. 5, n. 6, p. 57-62, 2000. VILELA, O. V. de cefalometria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. PEREIRA, C. B. Advento da Informática na Ortodontia. In: ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE PAULISTA DE ORTODONTIA, 4., 1974, São Paulo. Programa oficial. São Paulo, 1994. Disponível em: <http://www.bnet.com.br/cleber/ advento.html>. Acesso em: 26 nov. 1998. Enviado em 17/12/2009 Aprovado em 11/3/2010 HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 2, p. 95-99, abr./jun. 2010 99 868.indd 99 05/11/2010 09:23:02