DENSIDADE POPULACIONAL DE TRIPES EM CULTIVARES DE SOJA 1 SARI, Bruno G. 2 ; GUEDES, Jerson V. C. 3 ; STÜRMER, Glauber R. 3 ; ARNEMANN, Jonas A. 3 ; PALMA, Janine 3 ; TOMAZI, Bruno R. 2 ; BOSCHETTI, Moisés J. 2 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Programa de Pós-graduação em Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: brunosari@hotmail.com, jerson.guedes@gmail.com RESUMO Na safra agrícola de 2011/12 foi realizado um experimento com o objetivo de avaliar a densidade de tripes em diferentes cultivares de soja. Para isso, foram semeadas 20 cultivares de soja em uma lavoura comercial do município de São Sepé - RS. As avaliações foram realizadas através da coleta de 20 folíolos de soja ao acaso na área, que foram acondicionados em sacos de papel e levados ao laboratório, onde foram realizadas contagens do número de indivíduos. A proporção de ninfas encontradas foi superior à de adultos, representado quase a totalidade dos indivíduos. Houve grande variabilidade no número de ninfas em função da cultivar avaliada, sendo que entre essas, FPS Urano e Dom Mario apresentaram densidades de tripes por folíolo superior a 25. Em relação aos adultos, as cultivares Ross Camino e Dom Mario foram as que apresentaram maior densidade, porém nunca ultrapassando um indivíduo por folíolo. Palavras-chave: Glycine max; Caliothrips phaseoli; pragas secundárias. 1. INTRODUÇÃO A soja é uma cultura de importância econômica no Brasil, sendo que na safra 2011/12 foram cultivadas 25,04 milhões de hectares, produzindo 66,36 milhões de toneladas do grão. No Rio Grande do Sul, foi cultivada em 4,2 milhões de hectares e foram produzidos 6,5 milhões de toneladas do grão (CONAB, 2012). A produtividade da soja é afetada por diversos fatores, e entre eles destacam-se os insetos-praga. Entre as pragas consideradas secundárias, o tripes ganhou destaque no Rio Grande do Sul na safra 2011/12, estando associada a condições de estiagem (ARIAS e ANDRIAN, 2009). Ataques severos de ninfas e adultos podem levar à senescência foliar, reduções na taxa de fotossíntese, condução estomática e transpiração (GAMUNDI et al., 2005; GAMUNDI e PEROTTI, 2009). Na Argentina, perdas de até 600 kg ha -1 são relatadas em altas infestações (até 60 indivíduos por folíolo) em estádio de enchimento de grãos (R5) (GAMUNDI et al., 2006). Vários são os fatores que podem estar relacionados com a incidência de tripes em cultivos de soja. Além de fatores climáticos, diferentes cultivares podem estar relacionados à 1
diferentes níveis de infestação da praga. Nesse sentido, estruturas foliares como número de tricomas ou o ciclo da cultivar podem influenciar na densidade de tripes na cultura (SEDARATIAN et al., 2010). No Brasil, Link et al. (1982) mostraram haver variação na densidade populacional e nos danos causados pela incidência de tripes em função da cultivar avaliada. Porém, são escassos os trabalhos de efeito de cultivares modernas de soja sobre a incidência de tripes, principalmente em relação à cultivares de ciclo indeterminado. Por isso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a densidade populacional de tripes em diferentes cultivares de soja. 2. METODOLOGIA O experimento foi realizado em lavoura comercial de soja, localizada no município de São Sepé RS. Foram semeadas nove linhas de cada cultivar (Tabela 1) com espaçamento 0,45 m, sendo que a população utilizada foi a recomendada para cada cultivar. Os tratos culturais seguiram as recomendações técnicas da cultura. Tabela 1: Características agronômicas e momento de avaliação das cultivares de soja analisadas no ensaio de efeito de cultivares. Santa Maria, 2012. Cultivar Grupo de Maturação Momento de avaliação* Hábito de crescimento BMX Apolo RR 5.5 R2 Indeterminado V Top RR 5.5 R1 Indeterminado BMX Turbo RR 5.8 R2 Indeterminado Nidera A 5909 RG 6.2 R1 Indeterminado V Max RR 5.9 V10 Indeterminado FPS Urano RR 6.2 R1 Determinado Fundacep 57 RR 6.2 V9 Determinado Syn 1161 RR 6.3 R1 Indeterminado Syn 1163 RR 6.3 R2 Indeterminado BMX Potência RR 6.7 V9 Indeterminado Nidera A 7321 RG 7.5 R1 Indeterminado Ross Camino RR 5.3 R2 Indeterminado NS 4823 RR 5.0 R2 Indeterminado NA 4990 RR 4.9 R2 Indeterminado BMX Energia RR 5.0 R2 Indeterminado BMX Ativa RR 5.6 R2 Determinado 2
Dom Mario 5.8i 5.8 R2 Indeterminado NS 5858 RR 5.8 R2 Indeterminado Nidera A 6411 RG 6.2 V9 Determinado TMG 7161 RR 5.9 R2 Indeterminado * Segundo escala fenológica proposta por Ritchie et al. (1982). As avaliações foram realizadas no dia 03 de fevereiro de 2012, sendo que 20 folíolos de soja foram coletados ao acaso do terço superior e acondicionadas em sacos de papel. Posteriormente, os folíolos foram levadas ao Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e o número de ninfas e adultos foram contados com o auxílio de uma lupa de 10 x de aumento. Os espécimes encontrados foram armazenados em frascos de vidro contendo álcool 50%, e enviados ao Biol. MSc. Élison Fabrício B. Lima do Laboratório de Taxonomia de Insetos de Importância Agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), sendo em sua maioria identificados como da espécie Caliothrips phaseoli. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualisado com quatro repetições, sendo que a média de indivíduos contados em cinco folíolos foram consideradas uma repetição. Os dados de ninfas e total foram submetidos à transformação X = X, enquanto os dados de adultos foram submetidos à transformação X = X+0,5 As médias foram comparadas pelo teste de Skott-Knott, com probabilidade de erro de 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados mostraram haver grande variabilidade na densidade de tripes em função das cultivares de soja (Tabela 2). Observa-se que o número de ninfas encontradas é muito superior ao de adultos, representando quase a totalidade dos indivíduos. Tabela 2: Número de ninfas, adultos e total (ninfas + adultos) encontrados em diferentes cultivares de soja. Santa Maria, 2012. Cultivares Número de tripes por folíolo Ninfas** Adultos*** Total** BMX Apolo RR 5,85 d* 0,15 b 6,00 d V Top RR 7,80 c 0,00 b 7,80 c BMX Turbo RR 10,85 c 0,10 b 10,95 c Nidera A 5909 RG 16,80 b 0,05 b 16,85 b V Max RR 10,25 c 0,05 b 10,30 c FPS Urano RR 27,70 a 0,10 b 27,80 a Fundacep 57 RR 4,95 d 0,00 b 4,95 d 3
Syn 1161 RR 18,90 b 0,00 b 18,90 b Syn 1163 RR 19,20 b 0,00 b 19,20 b BMX Potência RR 6,10 d 0,05 b 6,15 d Nidera A 7321 RG 9,25 c 0,10 b 9,35 c Ross Camino RR 9,35 c 0,30 a 9,65 c NS 4823 RR 16,35 b 0,05 b 16,40 b NA 4990 RR 4,20 d 0,00 b 4,20 d BMX Energia RR 5,55 d 0,10 b 5,65 d BMX Ativa RR 3,30 d 0,00 b 3,30 d Dom Mario 5.8i 25,25 a 0,40 a 25,65 a NS 5858 RR 4,15 d 0,00 b 4,15 d Nidera A 6411 RG 4,05 d 0,00 b 4,05 d TMG 7161 RR 4,45 d 0,05 b 4,50 d CV (%) 17,27 24,39 17,17 * Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Skott-Knott ao nível de 5% de probabilidade. ** Dados transformados para X = X. *** Dados transformados para X = X+0,5. As cultivares FPS Urano RR e Dom Mario 5.8i apresentaram as maiores densidades de ninfa, com um número de indivíduos superior a 25 por folíolo. Entre as demais cultivares, Nidera A 5909 RG, Nidera A 4823 RG, Syn 1161 RR e Syn 1163 RR foram as que mais se aproximaram deste valor, com número de tripes variando entre 16 e 20. Entre as demais cultivares, os menores valores de densidade observados foram de seis indivíduos por folíolo. Em relação ao número de adultos, observa-se baixa densidade de indivíduos, não ultrapassando o número de um tripes por folíolo. Mesmo assim, diferenças foram observadas entre as cultivares, com maior quantidade de adultos nas cultivares Ross Camino RR e Dom Mario 5.8i (Tabela 2). Como observado anteriormente, o número total de indivíduos foi influenciado principalmente por ninfas, sendo que os resultados foram semelhantes à densidade de ninfas por folíolo. Novamente as cultivares FPS Urano RR e Dom Mario 5.8i apresentaram a maior quantidade de indivíduos, apresentando densidade de tripes por folíolo de 27,80 e 25,65, respectivamente. (Tabela 2). Em elevada quantidade, essa praga pode acarretar dano econômico à cultura. A incidência de 25 a 30 indivíduos por folíolo pode levar a perdas de até 300 Kg ha -1 quando seu ataque ocorre em estádio de enchimento de grãos da soja (GAMUNDI et al., 2006). Nesse experimento, apenas as cultivares FPS Urano RR e Dom Mario 5.8i alcançaram esses valores. 4
Diferenças de populações de tripes em cultivares de soja podem estar relacionadas a diversos fatores, e entre eles estão características morfológicas como a pilosidade e a rugosidade dos tecidos, além do próprio tamanho dos folíolos de soja (SEDARATIAN et al., 2010). Desse modo, a escolha da cultivar de soja pode vir a ser uma ferramenta no manejo de controle da praga. 4. CONCLUSÃO Existe alta variabilidade na densidade de tripes em função da cultivar de soja utilizada, indicando que a escolha da cultivar pode vir a ser uma ferramenta no manejo da praga. REFERÊNCIAS ARIAS, N.; ADRIAN, M. Control de trips em el cultivo de soja. INTA EEA Concepción del Uruguay: Cultivo de Soja en el centro este de E. R. Resultados 2008/09. Disponível em:<http://www.gleba.com.ar/info/image/noticias/pdfs/control%20de%20trips%20en%20cultivos%20d e%20soja.pdf>. Acessado em: 10 ago. 2012. CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: grãos, nono levantamento, junho de 2012. Brasília: CONAB, 34 p. 2012. GAMUNDI, J. C. ; PEROTTI, E. ; MOLINARI, A. ; DIZ, J. Control y evaluación de daños de Caliothrips phaseoli (Hood) en cultivos de soja. Para mejorar la produción, INTA EEA Oliveros, n. 33, p. 77-80, 2006. GAMUNDI, J. C., PEROTTI, E. MOLINARI, A., MANLLA, A.; QUIJANO, D. Evaluación del daño de trips Caliothrips phaseoli (Hood) en soja. Para mejorar la produción, INTA EEA Oliveros, n. 30, p. 71-76, 2005. GAMUNDI, J. C.; PEROTTI, E. Evaluación de daño de Frankliniella schultzei (Trybom) y Caliothrips phaseoli (Hood) en diferentes estados fenológicos del cultivo de soja. Para mejorar la produción, INTA EEA Oliveros, n. 42, p., 107-111, 2009. LINK, D.; COSTA, E. C. ; CARVALHO, S. Nível de infestação de Caliothrips phaseoli em soja. Revista do Centro de Ciências Rurais, v.11, n.4, 257-261, 1982. RITCHIE, S.; HANWAY, J. J.; THOMPSON, H. E. How a soybean plant develops. Ames: Iowa State University of Science and Technology, Coop. Ext. Serv., 1982, 20 p. (Special Report, 53). 5
SEDARATIAN, A. ; FATHIPOUR, Y.; FARAHANI, S. Population Density and Spatial Distribution Pattern of Thrips tabaci (Thysanoptera: Thripidae) on Different Soybean Varieties. Journal of Agricultural Science and Technology, v.12, n.3, p. 275-288, 2010. 6