Caraterização geral da arquitetura gótica portuguesa. A singularidade da igreja cisterciense de Alcobaça. A influência do modelo mendicante.
Caraterísticas gerais da arquitetura gótica portuguesa (sécs. XIII-XIV) Corpo da igreja com 3 naves; Planta em cruz latina, pela existência de transepto; Cabeceira tripartida : capela-mor (abside) e duas 2 capelas laterais (absidíolos); Cobertura em madeira (por falta de recursos - solução também já adoptada pelo românico), abobadamento apenas na cabeceira; Escala das construções é superior ao românico; Espaçamento entre os arcos das naves é cada vez maior, tornando o espaço interior mais amplo; Em Portugal, quando comparado com o românico, o gótico é um fenómeno mais urbano; Arquitetura associada fundamentalmente a ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos);
Caraterísticas gerais da arquitetura gótica portuguesa (sécs. XIII-XIV) Escalonamento das naves: a nave central é mais alta do que as laterais. Esta situação permite abrir vãos para as janelas na nave central criando um clerestório. Logo, existe mais iluminação nesta nave; A cobertura da naves laterais é feita de telhado a uma só água enquanto na nave central o telhado tem duas águas; Uso do arco quebrado em vez do arco a pleno centro; Abóbada de cruzaria de nervuras ou em arco quebrado; Ao contrário do noroeste da Europa, não se recorreu aos vitrais polícromos. Os vitrais utilizados são brancos, tal como aconteceu na maior parte do gótico meridional. Escultura arquitetónica recorre a elementos vegetalista;
ALCOBAÇA Tarouca e outras construções cistercienses introduziram no nosso país algumas características do Gótico (arco quebrado, abóbda de berço quebrado). Mas é no estaleiro de Alcobaça (1178-1252) que se encontra o grande momento de adopção da arquitectura gótica no nosso país. Formou uma grande quantidade de pedreiros e mestres de obras que dominavam a mais importante técnica da arquitectura gótica: a abóbada em cruzaria de nervuras.
ALCOBAÇA Alcobaça recebeu a doação de 44 000 hectares, que incluíam 13 vilas e 4 portos marítimos (zona de Óbidos, Peniche, Paredes). O estaleiro de Alcobaça foi dirigido por mestres franceses e formou inúmeros pedreiros nacionais durante 2 ou 3 gerações. Posteriormente, estes indivíduos difundiram pelo país as técnicas que aprenderam em Alcobaça. Muitas construções românicas que estariam em conclusão nos inícios do século XIII receberam acabamentos influenciados por estes mestres. Um bom exemplo é a torre-lanterna da Sé de Coimbra, construída entre c.1218 e 1250.
ALCOBAÇA Com carta de couto de 1153, os monges instalaram-se em edifícios provisórios, provavelmente em madeira, naquilo que constituía o "mosteiro velho". Em 1178 iniciaram-se as obras da actual construção (cerimónia de fundação), após um período em que a preocupação essencial se prendia com o arroteamento de terras pantanosas e de bosques. As "granjas" cistercienses como explorações eficientes: produzir muito, a baixo preço, alta produtividade, mão de obra barata.
ALCOBAÇA Em 1223 dá-se a mudança para o "mosteiro novo. Mas só em 1252 se realiza a sagração do templo (cerimónia de sagração). O aspecto de igreja-fortaleza pode dever-se à traumática experiência causada pela incursão das forças de Almançor em 1191, que dizimou a comunidade religiosa de Alcobaça. A fachada foi alterada por volta de 1700/1725, mantendo-se grande parte do portal e da rosácea originais.
ALCOBAÇA Alcobaça possuía um grande significado político tanto a nível interno como a nível externo (Cister, nesta altura, possuía tanto poder quanto o Papado). A dimensão e riqueza que alcançou rapidamente transformaram a abadia alcobacense numa das principais estruturas económicas e políticas do país - uma situação que se manteve praticamente inalterável até à época do Marquês de Pombal.
ALCOBAÇA No seu apogeu, Alcobaça tinha 32 casas fundadas de raiz ou filiadas: 18 abadias masculinas, 14 femininas. Tutelava ainda 2 ordens militares (Avis e Cristo). O panteão régio deixou de ser Santa Cruz de Coimbra (um importante foco de moçarabismo) para passar a ser Alcobaça. Alcobaça segue o modelo da abadia-mãe de Claraval II (fundada em 1174), devido à sua filiação e proximidade cronológica. Planta de 3 naves de igual altura (praticamente), as laterais, com metade da largura da nave central, quase que são estreitos corredores. A julgar pelos suportes da nave central, existiram três fases distintas de construção: 4 (a partir do transepto) +6+2 (entrada).
ALCOBAÇA Simbolismo do número de pilares da nave central, 12x2, metáfora dos doze apóstolos de Cristo, pilares da Igreja católica, e pilares desta Igreja de Alcobaça. A planta de Alcobaça funda-se no princípio da ortogonalidade. O respeito por um sistema de medidas proporcional (tanto na altura ou comprimento das naves, como na espessura dos muros) cria uma sensação de euritmia (à letra, «harmonia num conjunto», ou justa proporção). Existe proporcionalidade entre as diferentes partes do conjunto (um denominador comum que se multiplica e desmultiplica).
ALCOBAÇA Segundo Virgolino Jorge, a unidade de medida utilizada em Alcobaça foi o pé real francês (pied du roi: 0,32484 metros), dado que o projecto veio de Claraval. Segundo o mesmo autor, o módulo unitário é de 32 pés reais (ou seja, 10,40 metros), correspondendo às dimensões do cruzeiro da igreja. A Jerusalém Celeste também tinha planta quadrangular, Apocalipse de S. João, 21, 16: «a cidade formava um quadrado e o seu comprimento era igual à sua largura».
ALCOBAÇA Virgolino Jorge encontrou as seguintes dimensões decorrentes do sistema proporcional da igreja: 16 pés (profundidade das capelas radiais; largura do deambulatório; intervalo médio entre os pilares da nave; largura do parlatório; largura das galerias do claustro); 32 pés (cruzeiro da igreja; largura da nave central); 48 pés (largura do transepto); 64 pés (altura interior do transepto); 160 pés (comprimento do transepto); 320 pés (comprimento da igreja).
FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO (finais séc. XII, inícios XIII) Mosteiro cisterciense
FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO Santa Maria de Aguiar (c.1170-inícios séc. XIII)
FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO (finais séc. XII, inícios XIII)
FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO (finais séc. XII, inícios XIII)
FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO (finais séc. XII, inícios XIII)
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa As Ordens Mendicantes chegaram a Portugal logo no 1º terço do séc. XIII, acompanhando o crescimento das cidades e vilas, num momento em que o reino estabelecia as suas fronteiras definitivas. Fixaram-se nas periferias urbanas, quase sempre em construções pobres e temporárias de madeira. Muitas vezes eram edifícios cedidos por entidades públicas ou assistenciais. Foi aos poucos que edificaram os seus edifícios definitivos.
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa Como em Itália ou no Sul de França, donde eram originários os mendicantes, o modelo arquitectónico seguido era o de igrejas pobres, pequenas e modestas, mas suficientemente dignas. Em Portugal o modelo mendicante mais comum tem grandes semelhanças com a igreja templária de Santa Maria do Olival, em Tomar, e irá ser copiado em quase todas as igrejas das restantes ordens e na maior parte das igrejas paroquiais entre os séculos XIII e inícios do século XVI.
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa O modelo mais comum consiste em: 3 naves escalonadas; iluminação directa pelo clerestório da nave central (com janelas sobre o eixo dos pilares); transepto saliente; naves com 3, 5 ou 7 tramos (com cobertura de madeira).
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa Os pilares das arcadas: têm secção reduzida estão espaçados entre si têm 2 colunas embebidas nas faces longitudinais (às vezes têm formato cruciforme, indiciando uma tentativa de criar naves abobadadas).
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa Não possuem torres, apenas campanários de dimensões modestas. A altura do edifício, regra geral, é relativamente pequena. Por norma não existem arcobotantes (os contrafortes são suficientes). Os alçados estão sempre limitados a dois registos.
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa Cabeceira escalonada (em planta e volume). Abobadamento limitado à cabeceira, constituída por capela-mor ladeada por 2 ou 4 absidíolos. Cobertura em cruzaria de ogivas simples, ou desdobrada em vários liernes, especialmente no caso de absides poligonais
O papel das Ordens Mendicantes na definição da arquitectura gótica portuguesa O modelo mendicante foi adoptado por outras ordens religiosas e por igrejas paroquiais. As igrejas góticas totalmente abobadadas são extremamente raras, bem como igrejas com deambulatório e capelas radiantes. A diferença entre a cabeceira e o corpo da igreja deve-se à origem dos patrocínios. Normalmente, a construção e conservação da cabeceira fica a cargo do comendador ou padroeiro da Igreja, enquanto a construção e conservação do corpo da Igreja fica a cargo dos fregueses.
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém Convento fundado em 1242. O seu aspecto actual data de finais do séc. XIII / inícios de XIV (e do séc. XX). Transepto saliente, cabeceira escalonada, 5 tramos. O formato semi-circular da capela-mor indicia uma data recuada. Notar: pobreza dos materiais ausência de coberturas abobadadas na nave escalonamento em 3 naves parcimónia dos elementos decorativos.
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
S. Francisco de Santarém
Santa Clara de Santarém Convento fundado em 1259 e concluído nos inícios da centúria seguinte. Extensão pouco habitual no nosso país. Interior aberto e fluído. Esta igreja sofreu inúmeras alterações através dos restauros (ex. as coberturas da cabeceira encontram-se muito alteradas). A igreja tem 3 naves escalonadas, 7 tramos, transepto saliente, cabeceira escalonada com 5 capelas, capela-mor poligonal. Não tem portal axial, uma vez que era um convento feminino.
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
Santa Clara de Santarém
S. Domingos de Elvas Convento fundado em 1267. 3 naves escalonadas, 5 tramos, cabeceira tripartida, capela-mor e 2 absidíolos poligonais e 2 rectangulares, transepto saliente, pilares espaçados. O abobadamento do transepto foi realizado mais tarde (uma excepção à norma mendicante). Iluminação da capela-mor é das melhores de toda a arquitectura gótica mendicante do nosso país. Notar o acentuado desvio dos muros da igreja, provavelmente relacionado com o aproveitamento de alicerces mais antigos.
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
S. Domingos de Elvas
Elvas
Elvas
Elvas