PERDAS POR VOLATILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO FERTILIZANTE APLICADO EM POMARES DE CITROS

Documentos relacionados
Estratégias de manejo da fertilidade do solo na citricultura

Avanços na fertirrigação dos citros: estado nutricional das plantas

Bases para Uso Mais Eficiente de Nutrientes pelos Citros

Manejo Regenerativo de Solos para Citricultura.

PERDAS DE NITROGÊNIO POR VOLATILIZAÇÃO DE AMÔNIA ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DE UREIA EM SOLOS AGRÍCOLAS

Redução das perdas de nitrogênio pelo uso de fertilizantes nitrogenados estabilizados na região Sul do Brasil

Tecnologias para fertilizantes nitrogenados. Prof. Dr. Douglas Guelfi

Adubação do Milho Safrinha. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico (IAC), Campinas

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

08/06/2017. Prof. Dr. Reges Heinrichs FCAT UNESP/Dracena

Fertilizantes nitrogenados: obtenção, características, ação fertilizante e emprego

Eficiência de uso do nitrogênio: Bases fisiológicas para o uso dos fertilizantes

Tecnologias para fertilizantes nitrogenados. Prof. Dr. Douglas Guelfi

Iniciação Científica (PIBIC) - IFMG 2 Professora Orientadora IFMG. 3 Estudante de Agronomia.

Diagnose Foliar na Cultura dos Citros

NITROGÊNIO. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Experimental de Dracena Faculdade de Zootecnia

PERDAS DE NITROGÊNIO POR VOLATILIZAÇÃO DE AMÔNIA EM DIFERENTES FONTES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DO MILHO SOB PLANTIO DIRETO

Eficiência de uso de P: modelo de programa de pesquisa em citros

Emissão de GEEs em Sistemas Integrados.

RENDIMENTO DA CULTURA DO MILHO COM DIFERENTES FONTES NITROGENADAS EM COBERTURA SOB PLANTIO DIRETO

Boas Práticas para Uso Eficiente de Fertilizantes na Cultura do Milho. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico, Campinas (IAC)

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

ADUBAÇÃO DA CANA - DE-AÇÚCAR

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

6 CALAGEM E ADUBAÇÃO

ADUBAÇÃO DE CULTURAS ANUAIS EM SOLOS ARENOSOS. Heitor Cantarella

Nutrição, Adubação e Calagem

MANEJO DA ADUBAÇÃO. Prof. Dr. Danilo Eduardo Rozane.

Fertilizantes nitrogenados: obtenção, características, ação fertilizante e emprego

Produtos da Pesquisa em solos e fertilizantes. Dr. Juliano Corulli Corrêa

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

A Cultura do Algodoeiro

SUMÁRIO. Capítulo 1 ESCOPO DA FERTILIDADE DO SOLO... 1

1. Nitrato de potássio para uma nutrição vegetal eficiente

Termos para indexação: nitrogênio, matéria seca, Brachiaria decumbens, recuperação, acúmulo

Manejo de Solos. Curso de Zootecnia Prof. Etiane Skrebsky Quadros

Calagem e gessagem na cultura dos citros. Prof. Dr. José Eduardo Creste Presidente Prudente - SP

Eficiência da Adubação Nitrogenada Com Ureia Revestida Por Polímero na Cultura do Milho

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE FERTILIZANTES

5. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES DE SOLOS

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE FERTILIZANTES

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DE FÁBRICA DE CELULOSE E PAPEL

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO FONOLITO VIA MINERAL EM LARANJEIRAS ADULTAS

PRODUTIVIDADE DE MILHO PRODUZIDO SOB DIFERENTES ADUBOS NITROGENADOS E DOSES INCORPORADO EM COBERTURA

RESPOSTA DO ALGODOEIRO A DOSES E MODOS DE APLICAÇÃO DE FÓSFORO EM SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NO CERRADO (*)

DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO MILHO SAFRINHA, FONTES E MODOS DE APLICAÇÃO DE FÓSFORO EM SISTEMA DE SUCESSÃO COM SOJA NO ESTADO DO MATO GROSSO

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

O atual sistema de manejo da fertilidade do solo propicia a adequada nutrição das plantas de citros? Ondino Cleante Bataglia

Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão- ConBAP 2014 São Pedro - SP, 14 a 17 de setembro de 2014

UTILIZAÇÃO DA URÉIA PROTEGIDA NA FERTIRRIGAÇÃO DO CAFEEIRO IRRIGADO POR GOTEJAMENTO PALAVRAS-CHAVE: NUTRIÇÃO MINERAL E ORGÂNICA, CAFÉ, IRRIGAÇÃO.

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

Otrigo é uma das principais culturas para produção

Engª. Agrª. M.Sc: Edimara Polidoro Taiane Mota Camargo

CÁTIONS NO SOLO. PAULO ROBERTO ERNANI, Ph.D. Professor da UDESC Bolsista do CNPq

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL VALORIZA. VALORIZA/Fundação Procafé

Doses de potássio na produção de sementes de alface.

n junho- 2011

IX Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí IX Jornada Científica

SISTEMAS DE PRODUÇÃO E EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE FERTILIZANTES

PERDA DA AMÔNIA POR VOLATILIZAÇÃO DO CHORUME DE SUÍNOS APLICADO EM LAVOURA CAFEEIRO

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

ADUBAÇÃO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Resposta da Cultura do Milho Cultivado no Verão a Diferentes Quantidades de Calcário e Modos de Incorporação

Projeto Citros: 100 toneladas

Fatores de emissão de N 2 O para fertilizantes nitrogenados e resíduos agroindustriais

Fertilidade do solo para culturas de inverno

EFEITO DE DOSES CRESCENTES DE NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO SÔBRE A PRODUÇÃO DE RAÍZES DE MANDIOQUINHA-SALSA ( 1 )

Piracicaba SP / 09 de Junho de 2016

Melhoria da eficiência dos fertilizantes e corretivos para alta produtividade. Prof. Telmo Amado

SISTEMA DE PLANTIO E MANEJO

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES QUÍMICAS DO SOLO SOB INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA DE EFLUENTE DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORA.

Influência de Formulações Nitrogenadas Sobre Atributos do Solo, Produção e Pós-Colheita da Laranjeira-Pera

Gestão da fertilidade do solo no sistema soja e milho

CALAGEM NA SUPERFÍCIE DO SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO EM CAMPO NATIVO. CIRO PETRERE Eng. Agr. (UEPG)

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Curso de Zootecnia Disciplina de Manejo e fertilidade do Solo ADUBAÇÃO ORGÂNICA

A Cultura da Cana-de-Açúcar

A tecnologia que está ao lado do produtor: POLYBLEN

DINÂMICA DOS FERTILIZANTES NITROGENADOS A BASE DE NITRATO

MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO

Quadro 1 - Fatores para conversão de unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Unidades.

Agricultura de Precisão em Citros Mapeamento de Produtividade e Adubação em Taxas Variáveis

PARCELAMENTO DA COBERTURA COM NITROGÊNIO PARA cv. DELTAOPAL E IAC 24 NA REGIÃO DE SELVÍRIA-MS

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus Experimental de Dracena Curso de Zootecnia Disciplina: Fertilidade do solo e fertilizantes

UTILIZAÇÃO DE ADUBOS NK DE LENTA OU PROGRAMADA LIBERAÇÃO, PROTEGIDOS, ORGANOMINERAIS E ORGÂNICOS ASPECTOS GERAIS ROBERTO SANTINATO

A melhor escolha em qualquer situação

OBSERVAÇÕES SOBRE A ADUBAÇÃO FOLIAR EM FEI- JOEIRO (Phaseolus vulgaris L.) II ( 1 ). EDUARDO ANTÔNIO

OS BENEFÍCIOS E OS DANOS DO COBRE NA PRODUÇÃO DAS FRUTEIRAS DEFICIÊNCIA DE COBRE EM FRUTEIRAS

37º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS

DINÂMICA DO NITROGÊNIO NO SOLO PROVENIENTE DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS NA CULTURA DA SOJA

A CULTURA DO MILHO: CORREÇÃO, ADUBAÇÃO E ESTUDO DE CASO

EFEITO DOS NÍVEIS DE SATURAÇÃO POR BASES NOS COMPONENTES DE ACIDEZ DE QUATRO LATOSSOLOS SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

OTIMIZAÇÃO DE INSUMOS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO SOJA-MILHO SAFRINHA

DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL E ANÁLISE FOLIAR

Comunicado Técnico. Adubação com uréia em pastagem de Brachiaria brizantha sob manejo rotacionado: Eficiência e perdas 1.

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

Uso Eficiente de Fertilizantes na Nutrição de Plantas

Transcrição:

SOLOS E NUTRIÇÃO PERDAS POR VOLATILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO FERTILIZANTE APLICADO EM POMARES DE CITROS DIRCEU MATTOS JUNIOR 1, HEITOR CANTARELLA 2 e JOSÉ A. QUAGGIO 2 RESUMO A produção dos citros é bastante influenciada pela fertilização nitrogenada. O manejo adequado do pomar está associado ao uso eficiente dos fertilizantes. Contudo, em vista das características das diferentes fontes de nitrogênio (N), podem ser bastante significativas perdas do N aplicado por volatilizacão de amônia (NH 3 ). Resultados de pesquisas desenvolvidos em pomares de citros na Flórida e no Brasil demonstram o potencial de perda de NH 3 após a aplicação de uréia e nitrato de amônio na superfície do solo. Termos de indexação: amônia, uréia, nitrato de amônio, fertilização. SUMMARY GASEOUS LOSSES OF NITROGEN FERTILIZERS APPLIED TO CITRUS ORCHARDS Fruit yield of citrus is largely regulated by the N fertilization. Adequate nutrient management of citrus trees is 1 Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC. Rod. Anhanguera, km 158, 1349-97 Cordeirópolis (SP). E-mail: ddm@centrodecitricultura.br. 2 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais (IAC). Av. Barão de Itapura, 1481, 131-97 Campinas (SP). Bolsista do CNPq. ARTIGO TÉCNICO

264 DIRCEU MATTOS JUNIOR et al. related to efficient use of nitrogen (N) fertilizers. However, losses of N through volatilization of ammonia (NH 3 ) can be very significant due to the characteristics of different N sources. Research reports conducted in orange groves in Florida and Brazil have demonstrated the potential for NH 3 losses following application of urea and ammonium nitrate to the soil surface without incorporation of the fertilizer. Index terms: ammonia, urea, ammonium nitrate, fertilization. 1. INTRODUÇÃO A produção dos citros é bastante dependente da fertilização com nitrogênio (N) porque esse nutriente tem importante papel no crescimento vegetativo e no desenvolvimento reprodutivo. Sua exportação pela colheita de frutos é cerca de 1,2 a 1,9 kg N t -1, a qual é comparável à de potássio e muito superior à de outros nutrientes. A uréia [(NH 2 ) 2 CO] é o fertilizante nitrogenado que mais se emprega nos diferentes sistemas de produção agrícola no Brasil e no mundo. Isso se deve ao baixo custo por quilograma de N, à alta solubilidade e ao alto teor de N no fertilizante (45% N), o que favorece o transporte, a estocagem, o manuseio e a aplicação no campo via solo e via foliar. Contudo, a eficiência agronômica da uréia pode ser bastante reduzida em virtude da perda de N por volatilização de amônia (NH 3 ) para a atmosfera. Perdas por volatilização para outras fontes de N, como nitrato de amônio, têm sido menores. 2. VOLATILIZAÇÃO DE AMÔNIA Dependendo do ph do solo, qualquer adubo que contenha N amoniacal está sujeito a perdas de N por volatilização de NH 3. No entanto, em solos ácidos, predominantes na região citrícola brasileira, as perdas esperadas devem ser muito pequenas para a maioria dos fertilizantes, exceto para a uréia.

PERDAS POR VOLATILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO... 265 No solo, a uréia é hidrolisada pela ação da urease, uma enzima produzida por bactérias e fungos e também presente em resíduos vegetais. A hidrólise desse adubo consome íons hidrogênio (H ) e provoca um aumento localizado do ph do solo, na região próxima do local de aplicação (Reações 1 e 2). urease (NH 2 ) 2 CO H - HCO 3 2 NH 4 (1) - HCO 3 H CO 2 H 2 O (2) O ion amônio (NH 4 ) na fase aquosa (aq) do solo entra em equilíbrio com a amônia (NH 3 ) (Reação 3). Com o aumento da concentração do NH 4 em solução, ocorre o deslocando do equilíbrio da reação no sentido da formação de NH 3. NH 4 NH 3 (aq) H (3) O NH 3 (aq), por sua vez, está sujeito à volatilização conforme a reação abaixo: NH 3 (aq) NH 3 (ar) (4) O equilíbrio da Reação 3 é descrito para soluções puras e, dada a natureza de dissociação das espécies químicas, por uma expressão definida quimicamente como pka, a qual relaciona o ph da solução em que a concentração relativa de NH 4 e NH 3 é de 5%. Para esse equilíbrio em particular (Reação 4), o pka é 9,5 e nos informa ainda que nos valores de ph = 6, 7, 8 e 9, aproximadamente,36,,36, 3,6 e 36% do N total na solução de equilíbrio estará presente como NH 3 (aq) respectivamente. Assim, a perda de NH 3 para a atmosfera estará basicamente relacionada ao ph e à concentração de NH 4 na solução do solo. As perdas aumentam em função de condições ambientes, tais como alta temperatura e umidade do solo, e elevado gradiente de concentração de NH 3 na atmosfera, favorecido pela velocidade do vento. A volatilização de NH 3 nos pomares de citros é mais significativa quando se aplica o fertilizante nitrogenado em solos arenosos, com menor poder tampão (CTC) e ph alto e em caso de uso de doses mais

266 DIRCEU MATTOS JUNIOR et al. elevadas de N. A aplicação do fertilizante na superfície do solo coberto com resíduos vegetais tende a aumentar as taxas de perdas do N, em vista de uma barreira formada pelos resíduos entre o grânulo do fertilizante e o solo, da manutenção da umidade do solo na camada superficial por períodos mais prolongados, e da maior atividade da enzima urease, responsável pela transformação bioquímica do N amídico no ion amônio (NH 4 ). A incorporação do fertilizante em profundidade no solo tende a reduzir significativamente as perdas de NH 3. O manejo do mato na citricultura procura minimizar a competição das plantas invasoras para aumentar o potencial de produção de frutos. A aplicação de herbicidas, na linha de plantio, nos dois lados da árvore, e a roçada mecânica do mato na entrelinha, lançando os resíduos sob a copa, onde os fertilizantes são normalmente aplicados a lanço, tornaram-se práticas bastante comuns. A incorporação do fertilizante no solo de pomares já instalados é normalmente difícil e pode causar sérias injúrias ao sistema radicular dos citros. Existem na literatura trabalhos medindo as perdas potenciais, por volatilização de NH 3, do N aplicado em sistemas agrícolas e desenvolvidos em ambientes controlados, tais como laboratório e casas de vegetação. Contudo, essas estimativas de perda podem não representar as condições de campo, pelo preparo de amostras de solo e pelas condições artificiais do ambiente, como temperatura, umidade e fluxo de ar na superfície. 3. VOLATILIZAÇÃO DE NH 3 EM CONDIÇÕES DE CAMPO Existem vários métodos propostos para avaliar as perdas de N por volatilização no campo e que utilizam coletores de NH 3, isótopo estável 15 N e informações micrometeorológicas. O uso de câmaras semi-abertas - coletor de Nômmik - para permitir trocas gasosas com a atmosfera e instaladas diretamente sobre a superfície do solo, contendo internamente esponjas preparadas em laboratório para fixar o gás NH 3 proveniente do fertilizante, é uma estratégia bastante eficaz.

PERDAS POR VOLATILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO... 267 Efetuaram-se as avaliações utilizando as câmaras descritas em um pomar de laranja Hamlin com seis anos de idade, na Flórida, plantadas em um solo arenoso (97% de areia) e com ph de 6,9 na camada superficial. Após a aplicação de uréia e nitrato de amônio, verificou-se um rápido aumento das perdas de N por volatilização de NH 3, durante os cinco dias após a aplicação dos fertilizantes. Maiores perdas foram constatadas quando se utilizou a uréia, para a qual atingiu cerca de 11% do N total aplicado (Figura 1 A e B). Diferenças entre as fontes de N deveram-se à variação do ph do solo, ocorrido após a aplicação dos fertilizantes. No caso da uréia, o ph do solo aumentou de 6,9 para 8,4, não havendo variação significativa para o ph do solo não adubado e daquele que recebeu o nitrato de amônio. Para simular o efeito do gradiente de concentração de NH 3 entre a superfície do solo e a atmosfera, instalou-se microventiladores no interior das câmaras regulado na velocidade média do vento no pomar (,7 m s -1 ). As perdas totais estimadas para uréia e nitrato de amônio aumentaram, representando 12 e 3% do N total aplicado no solo nas formas de nitrato de amônio e uréia, respectivamente, Figura 1A e 1B. No Brasil, em pomar de laranja Valência com cinco anos de idade e plantado em um solo de textura média e ph de 5,4 na camada de a 2 cm de profundidade, avaliou-se a perda de N por volatilização de NH 3 em três diferentes safras agrícolas, após a aplicação de uréia e nitrato de amônio (Figura 2A, B e C). Embora o ph fosse inferior ao observado no solo na Flórida, as perdas de N foram bastante significativas para a uréia, pois o ph da solução do solo ao redor dos grânulos de uréia pode chegar a valores superiores a 9, após dissolução do fertilizante e hidrólise. Novamente, maiores taxas de volatilização ocorreram durante os três primeiros dias após a aplicação dos fertilizantes em abril (fim do período das chuvas). As perdas cumulativas de NH 3 provenientes do nitrato de amônio representaram, no máximo, 1% do N aplicado ao solo. As perdas do N aplicado observadas para a uréia variaram de 15 a 26% na dose de 6,7 kg ha -1 de N, 15 a 32% na dose de 33,3 kg ha -1 de N, e 19 a 44% na dose de N, de 86,7 kg ha -1 de N, nos três anos avaliados. Essas doses representaram um terço da dose de N aplicada anualmente no pomar.

268 DIRCEU MATTOS JUNIOR et al. Volat. NH 3, % N aplicado Volat. NH 3, aplicado, % Volat. NH 3, aplicado, % Volat. NH 3, %N aplicado 32 24 16 8 32 24 16 8 A: A: Nitrato de de amônio c/ com ventilador s/ sem ventilador 1 2 3 5 B: B: Uréia 1 2 3 5 Dias após adubação Dias após adubação c/ com ventilador ventilador s/ sem ventilador ventilador Figura 1. Perda cumulativa de N, aplicado como (A) nitrato de amônio e (B) uréia na superfície do solo, por volatilização de amônia, em pomar de laranja Hamlin na Flórida. Legenda: com ventilador = com circulação adicional de ar na câmara de amostragem simulando a velocidade do vento no campo; sem ventilador = sem circulação adicional de ar na câmara de amostragem.

PERDAS POR VOLATILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO... 269 Volat. NH 3, %N aplicado Volat. NH 3, aplicado, % 5 3 2 1 A: 1996 UR (86,7) UR (33,3) UR (6,7) NA (86,7) 3 6 9 12 15 18 Volat. NH 3, % N aplicado Volat. NH 3, aplicado, % 5 3 2 1 B: 1997 3 6 9 12 15 18 21 UR (86,7) UR (33,3 e 6,7) NA (86,7) Volat. NH 3, %N aplicado Volat. NH 3, aplicado, % 5 3 2 1 C: 1999 1998 4 8 12 16 2 24 28 32 Dias após adubação UR (86,7) UR (33,3) UR (6,7) NA (86,7) Figura 2. Perda cumulativa de N, aplicado como uréia e nitrato de amônio na superfície do solo, por volatilização de amônia, em pomar de laranja Valência no Brasil. Legenda: UR = uréia e NA = nitrato de amônio; números entre parênteses indicam a dose de N, em kg ha -1, aplicada na superfície.

27 DIRCEU MATTOS JUNIOR et al. A sobreposição dos grânulos do fertilizante nas maiores doses favorece as reações químicas já explicadas e, conseqüentemente, o potencial de volatilização de NH 3. Outro fator que contribuiu à variação de perdas de NH 3 foram as chuvas. Em 1996 e 1999, a aplicação dos fertilizantes foi feita com o solo úmido, favorecendo a solubilização dos fertilizantes e a hidrólise e, aumentando, por conseguinte, a concentração de NH 4 na solução do solo e a volatilização de NH 3 (Reação 3). Em 1997, a superfície estava seca, determinando menor taxa de volatilização de NH 3 nos dias subseqüentes à aplicação dos fertilizantes. Seis dia depois, uma chuva de 41 mm praticamente cessou as perdas por volatilização pela remoção ou incorporação do NH 4 para camadas mais profundas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Perdas de N por volatilização de NH 3 reduzem a eficiência do fertilizante nitrogenado aplicado na superfície e sem incorporação, em pomares de citros, podendo chegar a 44% do total aplicado quando a fonte é a uréia, mesmo quando a reação do solo é ácida. O nitrato de amônio deve ser a fonte preferida para o manejo nutricional dos citros quando o potencial de perdas é significativo, já que as taxas de volatilização de NH 3 verificadas foram sempre menores em relação à uréia. BIBLIOGRAFIA CANTARELLA, H. & QUAGGIO, J.A. Adubação com macro e micronutrientes em citros. In: DONADIO, L.C. & BAUMGARTNER, J.G. (Eds.) In: SE- MINÁRIO INTERNACIONAL DE CITROS - NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO, 4., 1996, Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargill. 1996. p.161-178. MATTOS JUNIOR, D. Citrus response functions to N, P, and K fertilization and N uptake dynamics. 2. 133p. Tese (Ph.D. Agricultural and Life Sciences, Soil and Water Science Dept.) - University of Florida, Gainesville FL. NÔMMIK, H. The effect of pellet size on the ammonia loss from urea applied to forest soil. Plant and Soil, v.39, p.38-318, 1973. STEVENSON, F.J. & COLE, M.A. Cycles of soil: carbon, nitrogen, phosphorus, sulfur, micronutrients. 2ed. New York : John Wiley, 1999. 427p.