ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NAS NASCENTES DO RIO PACOTI NOS MUNICÍPIOS DE PACOTI E GUARAMIRANGA, CEARÁ, BRASIL Francisca Leiliane Sousa de Oliveira(1) Maria Lucia Brito da Cruz(1) Lutiane Queiroz de Almeida(2) (1)UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE; (2)UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO UNESP, Rio Claro, SP leila.geografia@gmail.com; mlbcruz@gmail.com; lutianealmeida@hotmail.com Introdução Os recursos naturais no Maciço de Baturité, historicamente, encontram-se bastante alterados em função da contínua expansão de atividades produtivas, verificadas nos processos de uso e ocupação da terra, por conta de suas características hidroclimáticas e de solos, o que propiciou maior potencialidade a sua formação territorial. A área objeto deste estudo está inserida na Área de Proteção Ambiental de Baturité, instituída 1990 pelo Governo do Estado do Ceará a Área de Proteção. Essa unidade de conservação de uso sustentável tem como limite a cota de 600m do maciço, abrangendo os municípios de Aratuba, Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmácia e Redenção. Sendo objeto do presente estudo as áreas de nascente do Rio Pacoti localizadas nos municípios de Guaramiranga e Pacoti dentro dos limites da APA. O maciço de Baturité onde está inserido a APA acima da cota altimétrica de 600m, de acordo com SOUZA (1979) recebe a nomenclatura de Maciço Residual Cristalino, em que nos vastos aplainamentos que caracterizam o sertão cearense, surgem, de quando em quando, áreas de exceção que representam verdadeiras ilhas de umidade no contexto geral semi-árido. Trata-se dos maciços antigos constituídos por rochas metamóficas ou intrusivas revestidos primariamente por florestas perenifólicas ou subperenifólicas com morfogênese química e evolução associada com os processos de dissecação do relevo. Devido as características ambientais e pela proximidade da capital, o Maciço obteve nas últimas décadas maior concentração demográfica se comparada com os espaços sertanejos que a circundam, com isso veio os diferentes tipos de uso e ocupação da terra. Esses fatos tem contribuído de forma significativa para os processos de 1
Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais degradação, comprometimento da biodiversidade e descaracterização da paisagem serrana. Nesse contexto, é válido salientar os vários impactos ambientais apresentados na região: desmatamento indiscriminado, assoreamento de riachos, queimadas, agricultura em áreas com topografia inadequada, contaminação dos recursos hídricos por agrotóxicos dentre outros. Devido às características geomorfológicas que compõe a APA, a maior parte destas áreas degradadas estão localizadas ao longo dos recursos hídricos, uma vez que essas regiões apresentam uma topografia menos acidentada, sendo essas áreas classificadas como de preservação permanente pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA Nº. 303, de 20 de março de 2002, logo não sendo admitido seu desmatamento (SILVA, 2006). Dentro desta perspectiva, o Geoprocessamento segundo Xavier da Silva (2001) é um conjunto de técnicas computacionais que opera sobre uma base de dados georreferenciados, capaz de integrar fatores físicos, bióticos e sócio-econômicos que retratam a realidade ambiental de uma determinada região, auxiliado com os dados precisos e atualizados do Sensoriamento Remoto, definido por Rocha(2000), como a aplicação de dispositivos que colocados em aeronaves ou satélites,que nos permitem obter informações sobre objetos ou fenômenos na superfície da terra, sem contato físico com eles, revelaram-se como uma ferramenta capaz de realizar a análise da integração dos diversos componentes ambientais da área de estudo. Diante do exposto, o estudo parcial de uso e ocupação das nascentes do Rio Pacoti considerado importante para a região por apresentar escoamento continuo, drenando uma vasta área onde estão localizadas extensas faixas de cultivo e fornecendo água para as populações que o circundam, foi realizado a partir da utilização da imagem SPOT 2004 e seguida de acompanhamento em campo foram identificadas e analisadas quatro áreas consideradas nascentes do Rio Pacoti, denominadas nascente de Patubiba, Botija, São José e São Pedro. 2
Figura 01: Localização das Nascentes do Rio Pacoti- CE. Material e Métodos Para determinar as áreas de nascente do Rio Pacoti, que estão dentro dos limites dos municípios de Guaramiranga e Pacoti, foi realizado o mapeamento com base na geomorfologia local, contemplando a drenagem superficial da região, confeccionados a partir da análise em Ortofotocartas do Projeto de Desenvolvimento do Sistema Fundiário Nacional, realizado através do convênio firmado entre o INCRA Instituto Nacional de Reforma Agrária e o IDACE Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará datada de 1988, em conjunto com uma classificação de uma imagem do satélite SPOT-5 de 2004. De posse da identificação parcial das nascentes, delimitou-se através de buffers as Áreas de Preservação Permanente APP, com as distâncias especificadas pela resolução do CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002, atribuindo um buffer 100 metros para as feições de nascentes. Já para realizar o mapa de uso e ocupação dessas nascentes foram utilizados dados propostos no documento técnico de Mapeamento da Cobertura Vegetal e do Uso/Ocupação do Solo da APA da Serra de Baturité através 3
Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos FUNCEME e Superintendência Estadual do Meio Ambiente SEMACE. Resultados e Discussão A partir do Mapeamento da Cobertura Vegetal e do Uso/Ocupação do Solo da APA da Serra de Baturité (FUNCEME, 2006), considerando a APA com uma área total de 32.690ha na cota de 600m, foi destacado os dados quantificados dos municípios de Guaramiranga e Pacoti no qual se insere a área objeto deste estudo, onde pode-se observar a seguinte classificação na Tabela 1: Tabela 1 Quantificação das áreas florestadas com concentração e uso agrícola da APA da Serra de Baturité CE Classes - Área dos municípios inseridos na APA (ha) GUARAMIRANGA PACOTI Total por Classe Água 21,08 5,82 26,09 Agroextrativismo 167,69 575,70 743,39 Floresta conservada 1028,03 282,93 1310,96 Floresta 2557,35 1883,06 4440,41 Parcialmente degradada Floresta degradada 649,65 1756,46 2405,92 Floricultura 1,71 1,71 Fruticultura 461,91 682,38 1144,29 Oleicultura 233,56 70,39 303,95 Policultura 461,71 683,47 1145,18 Povoado 8,55 6,13 14,68 Sede distrito 4,90 4,90 Sede municipal 27,09 28,31 55,4 Total 5618,33 5979,55 11596,88 Nessa perspectiva, foi inserido ao polígono municipal de Guaramiranga e Pacoti, o documento técnico proposto pela FUNCEME (2006), de uso e ocupação da APA de Baturité, mapeando os pontos das áreas determinadas nascentes de Patubiba, Botija, São Jose e São Pedro, destacando através de buffers as APPs com as distâncias especificadas pela resolução do CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002, atribuindo um buffer 100 metros para as feições de nascentes (Figura 02). 4
Figura 02: Uso e ocupação das nascentes do Rio Pacoti. Analisando as áreas de APP circunscrita em um raio de 100m de cada ponto considerado nascente do Rio Pacoti foi possível identificar pontos de degradação parcial da floresta perenifólia/subperenifólia, isso devido uso agrícola para fruticultura, policultura e oleicultura. Nessa perspectiva a análise dos dados apresentados junto do mapeamento de uso e ocupação das nascentes realizado a partir da quantificação das florestas com concentração de uso agrícola, expôs os impactos negativos notáveis também em outros pontos da APA, como a modificação da cobertura vegetal e possíveis alterações na permeabilidade dos solos, erosão e posterior assoreamento dos reservatórios naturais, a poluição dos solos e dos recursos hídricos que abastecem o Rio Pacoti provocando alterações significativas para a região. (Figuras, 03 e 04) 5
Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais Figuras 03 e 04: Deslizamento de encosta e assoreamento de riacho nas proximidades da nascente. Resultados e discussões As áreas de nascente do Rio Pacoti merecem maior destaque quando observado o ecossistema que as envolve, dotado de potencialidades, sendo necessário analisar o processo de preservação dos recursos naturais como parte fundamental para os mananciais dotados de regime semi-perenizado presente na Serra de Baturité, que por se tratar do alto curso do rio Pacoti, em parte de seu percurso o rio percorre áreas de planícies alveolares e em outras vales que apresentam encostas de alta declividade. Expondo as limitações de uso que as diferenciam, constatou-se pontualmente condições de desequilíbrio causados pelo mau uso da terra. Dessa maneira, constatou-se que, os impactos negativos presentes nas nascentes estão inseridos também em outro contexto em áreas com legislação vigente da APA da Serra de Baturité, onde podem ser apontados problemas conhecidos, como a modificação da cobertura vegetal, erosão e assoreamento dos reservatórios naturais, deslizamentos de terra. De posse desses dados faz-se necessário um estudo mais aprofundado do objeto em questão. 6
Referências Bibliográficas CEARÁ/PROURB. 2002. Plano de Desenvolvimento Regional do Maciço de Baturité. Fortaleza. CEARÁ/SEMACE. 1991. Superintendência Estadual de Meio Ambiente. Zoneamento Ambiental da APA da Serra de Baturité: Diagnóstico e Diretrizes. Fortaleza: SEMACE. FUNCEME. 2006. Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. Mapeamento da Cobertura Vegetal e do Uso/Ocupação do Solo da APA da Serra de Baturité. Fortaleza. RESOLUÇÃO do CONAMA Nº 303 de março de 2002: Áreas de Proteção Permanente. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br>. Acesso em: 15 jul. 2009. ROCHA, C. H. B. 2000. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar. Juiz de Fora: Ed. Do Autor, 220 p. SILVA, C. A. 2006. Geoprocessamento aplicado ao mapeamento de vulnerabilidade ambiental: uma análise integrada do ambiente para suporte à decisão no município de Pacoti CE. Monografia Curso de Especialização em Geoprocessamento Aplicado a Análise Ambiental e Recursos Hídricos Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia. Fortaleza. SOUZA, M, J, N. 2000. Bases geoambientais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In: LIMA, L. C. (Org.) Compartimentação Territorial e Gestão Regional do Ceará. Fortaleza: FUCEME. XAVIER DA SILVA, J. 2001. Geoprocessamento para Análise Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 228 p. 7