ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE 1758 FRATURAS FACIAIS TRATADAS NO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO, RECIFE/PE



Documentos relacionados
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES PORTADORES DE FRATURAS FACIAIS

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS TRAUMATISMOS BUCOMAXILOFACIAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ-PR ENTRE OS ANOS DE 1997 E 2003

Trabalho de Conclusão de Curso

Etiologia e incidência das fraturas faciais: análise de 152 casos

Etiologia e incidência das fraturas faciais: estudo prospectivo de 108 pacientes

PERFIL DE PACIENTES COM FRATURAS MANDIBULARES ATENDIDOS NOS PLANTÕES DIURNOS DO SÁBADO E DOMINGO DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO: RECIFE/PE

TRAUMA DENTAL - O QUE É? O QUE FAZER? RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Traumatismo buco-maxilo-facial: experiência epidemiológica no primeiro ano do serviço de Residência da Especialidade

Levantamento Epidemiológico das fraturas faciais no hospital regional de urgência e emergência de Presidente Dutra - MA

EPIDEMIOLOGIA DAS FRATURAS ZIGOMÁTICAS: UMA ANÁLISE DE 10 ANOS

Mandible fractures: a retrospective analysis of 27 cases*

Pós-graduandos em nível de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela USC Bauru SP, Brasil. 2

ESTUDO DE PREVALÊNCIA DAS FRATURAS BUCOMAXILOFACIAIS NA REGIÃO DE PELOTAS

rlas v.2, n.1 (2017) Artigo Completo: Incidência de traumatismos faciais

PREVALÊNCIA DE TRAUMATISMOS MAXILO-FACIAIS E DENTAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO-SOCORRO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP

Análise do Tempo Médio de Internação em Pacientes com Fraturas Faciais em Hospitais de Urgência e Emergência da Paraíba PB

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

OCORRÊNCIA DE TRAUMA NA REGIÃO BUCOMAXILOFACIAL NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL DE PELOTAS/RS UM ESTUDO RETROSPECTIVO

Análise Epidemiológica de Fraturas Bucomaxilofaciais em Pacientes Atendidos no Hospital Universitário de Santa Maria-Husm: um estudo retrospectivo

Índice de fraturas faciais no Hospital São Vicente de Paulo em Passo Fundo RS: estudo retrospectivo de dez anos

Epidemiologia das fraturas mandibulares em pacientes atendidos na região de Araçatuba

Trabalho de Conclusão de Curso

Fraturas de face em idosos: estudo retrospectivo de um ano em hospital público de Belo Horizonte MG)

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO:

SECRETARIA DE SAÚDE SECRETARIA EXECUTIVA DE VIGILÂNCIA À SAÚDE GERÊNCIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

RESUMO INTRODUÇÃO. Artigo Original

Fraturas mandibulares na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul

Campanha de Prevenção ao Trauma de Face: Promoção à Nome: Ladyanne Pavão de Menezes Coordenadora: Profª Drª Gabriela Granja Porto

Estagiário do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Maria Amélia Lins - FHEMIG 2

Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de fraturas de face

TRAUMA NO IDOSO ELDERLY TRAUMA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CIRURGIA E TRAUMATOLOGIA BUCO- MAXILO-FACIAL

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

Índice e tratamento de Fraturas Faciais

WALABONSO BENJAMIN GONÇALVES FERREIRA NETO FRATURA DA CABEÇA DA MANDÍBULA. CARACTERÍSTICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.

Key words: Mandibular Injuries; Facial Injuries; Epidemiology.

Morbidade por Causas Externas em Idosos e sua Relação com Lesões Maxilofaciais

Otrauma à região facial frequentemente resulta em lesões

Trauma é o problema de saúde pública com maior potencial

Epidemiologia dos traumas de face do serviço de cirurgia plástica e queimados da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto

Por ser a mandíbula o único osso móvel da face e estar

Revisão de 150 casos de fratura de mandíbula entre os anos de 2010 e 2013 no Hospital Universitário Cajuru - Curitiba, PR

PERFIL DOS TRAUMATISMOS MAXILOFACIAIS NO SERVIÇO DE CTBMF DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO RECIFE PE

Traumas faciais: uma revisão sistemática da literatura

Os autores analisaram 450 ortopantomografias (radiografias panorâmicas), onde foram observados um total de

Perfil epidemiológico dos pacientes com fraturas faciais atendidos em um hospital de Goiânia-Goiás

Artigo Original. Epidemiologia da fratura de face de pacientes atendidos no pronto socorro de cirurgia plástica do Distrito Federal

USO DA BARRA DE ERICH PARA ESTABILIZAR FRATURAS MAXILOMANDIBULARES RELATO DE CASO

Fraturas faciais em pacientes atendidos no Hospital Antonio Targino - PB

Fraturas de mandíbula: análise de 166 casos

AVALIAÇÃO DOS TRABALHOS III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE TRAUMA DO NORDESTE DIA 23 DE MAIO DE 2019 HORÁRIO TELA CÓDIGO TÍTULO

Aspectos Epidemiológicos dos Pacientes com Traumas Maxilofaciais Operados no Hospital Geral de Blumenau, SC de 2004 a 2009

Gastos financeiros do Sistema Único de Saúde com pacientes vítimas traumatismo facial

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS ESTUDANTIS. 1. Modalidade da Ação. 2. Apresentação do Proponente

Análise epidemiológica das fraturas faciais em um hospital secundário

Análise retrospectiva dos traumatismos buco-maxilofaciais em Pelotas, RS, em um período de 10 anos

Prevalência de lesões corporais em região oro-facial registrados no Instituto Médico Legal de Pelotas/RS. 1. Introdução

Fraturas de Face em Crianças e Adolescentes: Estudo Retrospectivo de Um Ano em Hospital Público1

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Perfil das pessoas mortas na cidade de São Paulo em circunstâncias violentas (2011)

Perfil epidemiológico de mortalidade por CAUSAS EXTERNAS. Porto Alegre

Mário César Furtado da Costa

FACULDADE MERIDIONAL - IMED CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CIRURGIA E TRAUMATOLOGIA BUCOMAXILOFACIAL

DELEGACIA REGIONAL TRIBUTÁRIA DE

Atendimento odontológico aos idosos no centro de saúde Waldomiro lobo. Lázaro Cassiano Pereira Filho Turma 3

TRAUMATISMO FACIAL EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA

Epidemiologia dos traumatismos de face em pacientes jovens no estado do Ceará

DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DE APOSENTADORIA - FORMAÇÃO DE CAPITAL E ESGOTAMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES

TABELA PRÁTICA PARA CÁLCULO DOS JUROS DE MORA ICMS ANEXA AO COMUNICADO DA-46/12

Gilmara Noronha Guimarães 1 Rafaela Campos Emídio 2 Rogério Raulino Bernardino Introdução

Acidentes com Motocicletas: Um Perfil dos Atendimentos Realizados no Hospital Getúlio Vargas -Recife - PE


PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS VIOLÊNCIAS INTERPESSOAIS E AUTOPROVOCADAS EM IDOSOS. RECIFE, 2010 A 2017

INTRODUÇÃO. 15. CONEX Resumo Expandido - ISSN

GDOC INTERESSADO CPF/CNPJ PLACA

ATENDIMENTOS POR INTOXICAÇÕES EXÓGENAS NO ESTADO DE SERGIPE

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS VI JORNADA ACADÊMICA DE ODONTOLOGIA (JOAO) PAINEIS ÁREA 1: DENTÍSTICA, PRÓTESE DENTÁRIA E DISFUNÇÃO TEMPORO-MANDIBULAR

INCIDÊNCIA DE FRATURAS FACIAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS-SP

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

Prevalência de complicações oftalmológicas em portadores de fraturas do complexo zigomático

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE ACIDENTES OFÍDICOS EM MACHADO/MG NO TRIÊNIO E SUA RELAÇÃO COM A ESCOLARIDADE DOS ENVOLVIDOS.

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

Estudo da prevalência de fraturas mandibulares em Joinville-SC. Study of prevalence of mandibular fractures in Joinville-SC

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

BICICLETAS 2008 BICICLETAS

CRISTIANE PINTO RIBEIRO TRAUMATISMOS ALVÉOLO-DENTÁRIOS: ESTUDO DE UMA AMOSTRA HOSPITALAR

FRATURA BILATERAL DE CABEÇA DE MANDÍBULA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA TRABALHO DE CONCLUÃO DE CURSO

Estudo epidemiológico do trauma bucomaxilofacial em um hospital de referência da Paraíba.

as principais características dos idosos brasileiros e a atual condição de saúde bucal desse coletivo.

V. Resultados 2012 FIGURA 3- DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA SEGUNDO O TIPO DE EXTRAÇÃO

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO TRAUMA DE FACE DOS PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO SOCORRO DE UM HOSPITAL PÚBLICO

Palavras-chave: Hepatite viral humana; Vigilância epidemiológica; Sistemas de informação; Saúde pública.

As internações por Causas Externas

RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia ISSN: Universidade da Região de Joinville Brasil

FREQUÊNCIA DE NEOPLASIA EM CÃES NA CIDADE DO RECIFE NO ANO DE 2008.

Transcrição:

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE 1758 FRATURAS FACIAIS TRATADAS NO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO, RECIFE/PE Epidemiological Study of 1758 Facial Fractures Treated at Hospital da Restauração in Recife, Pernambuco, Brazil Recebido em 05/2005 Aprovado em 08/2005 Marcelo Ferreira Lima Falcão * Airton Vieira Leite Segundo ** Márcia Maria Fonseca da Silveira *** RESUMO OBJETIVO: Este trabalho teve como finalidade realizar um estudo retrospectivo das fraturas faciais tratadas no Hospital da Restauração na cidade do Recife/PE, no período compreendido entre janeiro de 1988 a dezembro de 1998. MATERIAL E MÉTODO: Foram examinados 1486 prontuários e coletados dados relativos aos pacientes, etiologia dos traumatismos e localização anatômica das fraturas. RESULTADOS: As fraturas faciais perfizeram um total de 1758 fraturas com o gênero masculino, representando 84% da amostra, sendo a faixa etária mais acometida entre 21 a 30 anos. As causas mais freqüentes foram as agressões, com 43% da amostra, sendo a mandíbula o osso mais acometido. CONCLUSÕES: Conclui-se que pacientes masculinos, na 3ª década de vida, são os mais acometidos no traumatismo bucomaxilofacial, sendo as agressões interpessoais as causas mais comuns. Descritores: Traumatismos faciais/epidemiologia. Traumatismos mandibulares/epidemiologia. ABSTRACT OBJECTIVE: The aim of the present paper was to make a retrospective study of the facial fractures treated at Hospital da Restauração in Recife, Pernambuco, from January to December 1998. MATERIALS AND METHOD: One thousand four hundred and eighty-six records were examined to collect patient data, etiology of the traumatisms and anatomical site of the fractures. RESULTS: There was a total of 1758 fractures, 84% of which were in males, with a predominance of the 21-30 years age group. The most frequent causes were physical aggression, comprising 43% of the sample, and the mandible was the most affected bone. CONCLUSIONS: It is concluded that male patients between 21 and 30 years of age are the ones most affected by oral and maxillofacial traumatism with interpersonal aggression as the most frequent cause. Descriptors: Facial injuries/epidemiology. Mandibular injuries/epidemiology. INTRODUÇÃO As lesões faciais, incluindo-se nestas as fraturas, assumem um papel de destaque nos atendimentos a pacientes politraumatizados nas emergências gerais. Estudos realizados com a intenção de traçar o perfil epidemiológico dos traumatismos faciais em todo o mundo correlacionam as mudanças sociais, urbanas e rurais como agentes modificadores das relações interpessoais, gerando ações de violências física tanto de caráter pessoal como de grupo, sendo * Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial (CTBMF) Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP/UPE), Coordenador do Serviço de CTBMF do Hospital da Face Recife/PE. ** Especialista em Estomatologia - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Residente em CTBMF do Hospital da Restauração - Recife/PE. *** Doutora e Mestre em Diagnóstico bucal Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), Professora Adjunta do Departamento de Medicina Oral da FOP-UPE. ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online)

FALCÃO et al. representado pelas agressões físicas, violência no trânsito, violência doméstica e violência à mulher. Sendo a face a verdadeira região de expressão da alma, em que todos os sentimentos são representados, o conhecimento das particularidades dos traumatismos faciais é importante, pois comprometem definitivamente a vida do ser humano e, quando mal abordados, deixam seqüelas, marginalizando o indivíduo do convívio social, gerando incapacidade de trabalho, condenando-o ao segregamento econômico. Pela diversidade de dados existentes na literatura e características das particularidades de cada região estudada, objetivou-se realizar um estudo epidemiológico dos traumatismos faciais em pacientes atendidos no Hospital da Restauração, na cidade de Recife, vislumbrando o levantamento das fraturas de face, tratadas no período compreendido entre 1988 e 1998, a fim de obtermos um perfil dos pacientes atendidos neste serviço, visando conscientizar os profissionais da saúde, em especial, o cirurgião bucomaxilofacial bem como as autoridades governamentais do estado de Pernambuco a promoverem campanhas preventivas junto à população. REVISÃO DA LITERATURA Palma, Luz e Correia (1995) realizaram um estudo epidemiológico das fraturas faciais atendidas no Hospital Municipal Dr. Artur Saboya em São Paulo, no qual foram avaliados 296 pacientes no período de um ano, sendo detectadas 327 fraturas. Foi observado que o gênero masculino foi acometido em 78% bem como houve uma concentração de 33% dos pacientes na faixa etária compreendida entre 21 e 30 anos. As quedas foram o principal agente etiológico, representando 34%, seguindo-se de agressões (26%). A distribuição dos ossos fraturados foi a seguinte: ossos próprios do nariz (36%), complexo zigomático (22,3%), mandíbula (21,9%), fraturas dentoalveolares (12%), fraturas Le Fort (2%) e fraturas associadas (6%). 66 Goldschmidt et al. (1995) realizaram um estudo retrospectivo das fraturas crâniomaxilofaciais em uma população de 109 pacientes geriátricos, num período de dois anos. Foram apresentados como causas principais das fraturas os acidentes automobilísticos, seguidos das quedas. Observou-se um percentual de 56% de homens que exibiam fraturas, constatando que as quedas foram a principal causa das fraturas nas mulheres e, nos homens, os acidentes com automóveis. Os autores concluíram que, para pacientes acima dos 50 anos, as quedas representavam a maioria das lesões craniofaciais, seguidas de agressão e acidentes autoviários. Hill et al. (1998) realizaram um levantamento durante um ano, no departamento de cirurgia oral da emergência do Hospital Cordiff Royal sobre injúrias maxilofaciais associadas aos esportes. Foram atendidos 790 pacientes com lesão de face, dos quais 695 pertenciam ao gênero masculino, 85, ao feminino e 10 não foram especificados, tendo-se uma relação homem-mulher de 8,2:1, com idade entre 11 a 68 anos, com idade média de 21 anos. Observa-se que, nos últimos anos, houve um incremento na popularidade dos esportes, verificando-se como fator etiológico das fraturas faciais o ciclismo, o futebol e a patinação no gelo como os mais freqüentes. Os autores chamam atenção que das fraturas ocorridas, 25% aconteceram em praças públicas e que os meses de férias representam um destaque neste estudo em relação à ocorrência. Leita Segundo et al. (2004) avaliaram os prontuários de 233 pacientes portadores de fraturas faciais atendidos no período de 01 de janeiro de 2000 até 31 de dezembro de 2001, no Serviço de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial do Hospital Regional do Agreste (Caruaru/PE), resultando num total de 261 fraturas faciais. Dos pacientes utilizados nessa pesquisa, 84% eram do sexo masculino, com maior concentração na faixa etária entre 11 e 40 anos. Quanto ao agente etiológico, os acidentes no trânsito foram os mais encontrados, seguidos de quedas e

agressões físicas. Observou-se que as fraturas nasais foram as mais encontradas, seguidas das fraturas da mandíbula, zigomático e maxila. METODOLOGIA Foram avaliados 1486 prontuários de pacientes portadores de fraturas faciais atendidos no período compreendido entre janeiro de 1988 a dezembro de 1998, no Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital da Restauração. Os prontuários foram obtidos no Setor de Arquivo Médico do HR, mediante autorização prévia para o manuseio. Foi elaborada uma ficha para coleta dos dados, com o objetivo de facilitar a posterior análise das informações obtidas. A referida ficha continha informações relativas à identificação do paciente, incluindo o número do prontuário, condições gerais do paciente, nível de consciência, comprometimento do trauma, agente etiológico e região atingida. A amostra foi estabilizada em um número total de 1758 fraturas maxilofaciais. Após a coleta dos dados, os resultados foram distribuídos em Tabelas e Gráficos e submetidos a tratamento estatístico. RESULTADOS Dos 1486 pacientes utilizados nessa pesquisa, 1249 eram do gênero masculino (84%) e 237 do gênero feminino (16%) (Tabela 1). Quanto à distribuição por faixas etárias, os Gráficos 1 e 2 representam a distribuição da amostra por décadas. Com relação ao nível de consciência no momento do atendimento, 91% dos pacientes encontravam-se conscientes, 4% inconscientes, e 5% não foram informados. Setenta e oito por cento dos pacientes apresentavam envolvimento isolado da face, enquanto 18% eram portadores de lesões em face e outras regiões do corpo e 4% não foi informado. Também foi avaliada a distribuição nos meses do ano em que ocorreram os traumatismos (Gráfico 3). Quanto aos agentes etiológicos, esses foram classificados em acidentes autoviários (carro, moto 40 35 30 25 20 15 10 5 0 30 25 20 15 10 5 0 FALCÃO et al. ANO Masculino Feminino TOTAL 1988 85 9 94 1989 83 8 91 1990 70 6 76 1991 93 25 118 1992 146 23 169 1993 148 26 174 1994 141 20 161 1995 144 36 180 1996 74 23 97 1997 121 28 149 1998 144 33 177 TOTAL 1249 237 1486 % 84,05 15,95 100,00 Tabela 1 Distribuição da amostra, de acordo com o gênero, em relação ao ano em que os pacientes obtiveram alta do Hospital da Restauração, no período de janeiro de 1988 a dezembro de 1998, Recife/PE. 0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 61 a 70 Acima de 70 Distribuição por faixas etárias Gráfico 1 - Distribuição da amostra, grupo masculino, de acordo com a faixa etária em relação ao ano em que os pacientes obtiveram alta do Hospital da Restauração. 0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 61 a 70 Acima de 70 Distribuição por faixas etárias Gráfico 2 - Distribuição da amostra, grupo feminino, de acordo com a faixa etária em relação ao ano em que os pacientes obtiveram alta do Hospital da Restauração. 67

FALCÃO et al. 160 140 120 100 80 60 40 20 0 68 Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Número de casos Gráfico 3 Representação da amostra, de acordo com os meses em que ocorreu o traumatismo. Out Nov ou atropelamento), agressões físicas (agressões interpessoais por socos e/ou chutes), agressões por projétil de arma de fogo (PAF), quedas, acidentes no trabalho, agressões por arma branca (objetos contundentes ou cortantes) e outras causas. O Gráfico 4 apresenta a distribuição com relação ao agente etiológico da amostra. Por fim, as fraturas foram classificadas, de acordo com os ossos afetados. A distribuição da freqüência das fraturas estão reunidos no Gráfico 5. Autoviário Agressão física Agressão por arma de fogo Queda Acidente de Trabalho A gress ão por arma branca Outros Não informado Dez 0 100 200 300 400 500 Feminino Masculino Gráfico 4 Representação da amostra em número de casos, de acordo com a causa do traumatismo. Mandíbula Maxila Zigomático Rebordo Infraorbitário OPN Não informado Gráfico 5 Representação da amostra, de acordo com o local da fratura. DISCUSSÃO A face bem como a cavidade bucal estão susceptíveis a agressões as mais diversas possíveis, sendo importante salientar que entre as agressões os traumatismos faciais, em especial as fraturas, assumem um papel de destaque nos atendimentos emergenciais em todo o mundo. As manifestações das fraturas faciais podem ocorrer nos indivíduos, variando em função do gênero, idade e raça, existindo algumas fraturas mais freqüentes em determinado grupo populacional, podendo ter predominância na infância, no adulto ou na terceira idade, tendo os mais variados tipos de agentes etiológicos que vão, desde agressões físicas à violência no trânsito, estando sujeito a agentes modificadores sociais (ADEKEYE, 1980; AMARATUNGA, 1988; CASSIO et al., 1994; EMSHOFF et al., 1997; LEITE SEGUNDO et al., 2004). A Tabela 1 demonstra a distribuição da amostra, de acordo com o gênero, em relação ao ano em que os pacientes obtiveram alta do Hospital da Restauração, no período de janeiro de 1988 a dezembro de 1998. É observado, nesta tabela, que nos onze anos analisados foram atendidos 1.486 pacientes portadores de fraturas faciais e encaminhados ao setor de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial. Vale ressaltar que foi tomada como base para informação a data da alta do paciente, pois o prontuário para manuseio e coleta dos dados só se encontrava disponível após essa data. Verifica-se, ainda, uma distribuição relativamente uniforme dos

pacientes por ano, chamando a atenção para o ano de 1996, quando foram atendidos 97 pacientes, estando este número possivelmente relacionado à diminuição dos traumatismos faciais ou atendimento dos pacientes traumatizados em outros centros hospitalares, ou mesmo, uma diminuição dos atendimentos por falta de recursos no referido ano. Quanto ao gênero acometido, observam-se 1.249 pacientes masculinos e 237 femininos, perfazendo um percentual de 84% e 16%, respectivamente, mantendo-se uma relação masculino-feminino de 5,3:1. A literatura referenciada é unânime quanto ao gênero masculino como sendo o mais atingido, tendo-se uma relação homem-mulher de 16,9:1 no estudo de Adekeye (1980); de 2,4:1 no de Amaratunga (1988); no de Falcone et al. (1990); 14:1 no de Abiose; Glass (1991); 2,8:1 no de Dimitroulis; Eyre (1991); 5,5:1 no de Tanaka et al. (1996); 2,5:1 Emshoff et al. (1997); 8,2:1 no de Hill et al. (1998) e 5,3:1 no de Leite Segundo et al. (2004). A distribuição da amostra quanto à faixa etária, em relação ao ano em que os pacientes obtiveram alta do Hospital da Restauração está demonstrada nos Gráficos 1 e 2. Os traumatismos faciais, em especial as fraturas, estão concentrados na faixa etária compreendida entre 11 e 40 anos, com um percentual de 35,13% na faixa etária de 21 a 30 anos. Quando estudamos a distribuição em faixas etárias por gênero, verificamos a concentração dos pacientes masculinos na faixa etária compreendida entre 11 e 40 anos, tendo o pico entre 21 e 30 anos com 36,51%. Chama-se a atenção para o Gráfico 2, o qual refere-se à distribuição do gênero feminino, com concentração dos pacientes na faixa etária de 11 a 30 anos, com 55,7%. Quando da comparação entre as faixas etárias, observa-se um envolvimento do sexo feminino numa faixa etária mais precoce que no masculino, dado este que sugere que as mulheres estão sujeitas aos fatores de risco para os traumatismos faciais de forma mais precoce. O Gráfico 3 mostra a distribuição da amostra, FALCÃO et al. de acordo com o mês do ano em que ocorreu o traumatismo, verificando-se que janeiro, julho, novembro e dezembro foram os meses em que ocorreu o maior número de fraturas faciais, o que poderia estar relacionado com o período relativo a férias e feriados no Brasil, os quais causam aglomeração e maior deslocamento de pessoas, ficando, assim, os indivíduos mais susceptíveis aos fatores de riscos, como agressões, violência no trânsito, uso indiscriminado de álcool e drogas bem como na prática de alguns esportes. Estas questões são levantadas e referenciadas nos trabalhos de Tanaka et al. (1996); Emshoff et al. (1997) e Hill et al. (1998). O Gráfico 4 expressa a distribuição da amostra de acordo com a causa dos traumatismos em pacientes atendidos no Hospital da Restauração na cidade de Recife. Das principais causas dos traumatismos faciais, os acidentes autoviários contribuem com 31,83%, seguidos por agressões físicas (22,21%), agressões por arma de fogo (18,71%), quedas (11,04%), acidentes de trabaho (1,68%), e agressão por arma branca (1,55%). Em relação aos acidentes automobilísticos como a principal causa das fraturas faciais, tem-se no trabalho de Olson et al. (1982) com 47,8%, Souza et al. (1983) com 72% e Abiose e Glass (1991) com 81,4%. Os fatores de riscos responsáveis pelos traumatismos variam muito, dependendo da comunidade analisada, dos costumes e hábitos sociais. Em levantamento envolvendo crianças, como nos estudos de Amaratinga (1988), de Cassio et al. (1994), Emshoff et al. (1997), verifica-se que os acidentes com quedas, associadas aos esportes são os maiores responsáveis pelas fraturas, enquanto em grupos de pacientes na senilidade, as quedas foram significativamente mais prevalentes como o encontrado por Falcone et al. (1990) e Goldschmidt et al. (1995). Quando da análise das causas mais freqüentes dos traumatismos faciais, quando da união dos tipos de agressão, ou seja, física, por arma branca e por 69

FALCÃO et al. arma de fogo, tem-se um percentual de 43%, sendo, portanto, as agressões, a causa mais comum dos traumatismos, seguindo-se dos pelos acidentes autoviários com 32%. No Gráfico 5, verifica-se a distribuição da amostra, de acordo com a região anatômica fraturada. As regiões mais acometidas foram, em ordem decrescente, mandíbula (55%), zigomático (17%), maxila (16%), ossos próprios do nariz (7%) e rebordo infra-orbitário (4%). A incidência das fraturas é muito variável na literatura, entretanto, em relação à mandíbula, dados semelhantes aos encontrados nesta pesquisa foram mencionados nos trabalhos de Adekeye (1980) com 62%; Galdermann e Cortezzi (1986) com 50%; Lobo et al. (1998) com 43%; Dimitroulis e Eyres (1991) com 51% e Tanaka et al. (1996) com 60%. Entretanto, quando da comparação com outras áreas anatômicas, observa-se que Souza et al. (1983); Palma; Luz e Correia (1995) e Leite Segundo et al. (2004) encontraram os ossos nasais como sendo a região mais fraturada, enquanto a região zigomática foi constatada por Abiose e Glass (1991) e Melo; Freitas e Abreu (1996). O fato de a mandíbula ser a região anatômica que mais tem exibido solução de continuidade, acontece, possivelmente, por ser o único osso móvel da face, desta forma estaria mais vulnerável a receber impactos fortes e fraturar. A região mais fraturada da mandíbula foi o corpo, com 54%, seguido do ramo (19%), mento (12%), côndilo (11%) e alvéolo (4%). CONCLUSÕES De acordo com a metodologia empregada e os resultados obtidos, pode-se concluir que: 1) Os pacientes mais acometidos foram os do gênero masculino. 2) A maior concentração de pacientes foi observada na faixa etária entre 11 e 40 anos. 3) As causas mais freqüentes dos traumatismos foram: autoviários, agressão física, agressão por arma de fogo, queda, acidente no trabalho e agressão por 70 arma branca, respectivamente. 4) Em períodos de férias, que no Brasil envolvem, geralmente, os meses de janeiro e julho, ou feriados prolongados, ocorre um aumento estatístico nos traumatismos faciais. REFERÊNCIAS ABIOSE, B. O.; CLASS, F. D. The incidence and management of middle third facial fractures at the University College Hospital, Ibadan, Nigeri. Fast African Medical Journal, vol. 68, p. 167-173, 1991. ADEKEYE, E. O. The pattern of fracture of the facial skeleton in Kuduna, Nigeria. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 49, p. 491-495, 1980. AMARATUNGA, N. A. Mandibular fractures in children a study of clinical aspects, treatment needs and complications. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 46, p. 637-640, 1988. COSSIO, P. et al. Mandibular fractures in children: A retrospective study of 99 fractures in 59 patients. Int. J. Oral and Maxillofac. Surg., vol. 33, p. 329-331, 1994. DIMITROULIS, G.; EYRE, J. A 7-year review of maxillofacial trauma in a Central London Hospital. Br. dent. j., vol. 170, p. 300, 1991. EMSHOFF, R. et al. Trends in the incidence and cause of sport Related mandibular fractures: A retrospective analysis. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 55, p. 585-592, 1997. FALCONE, P. A.; HAEDICKE, G. J.; BROOKS, G. Maxillofacial fractures in the Elderly: a comparative study. Plast. reconstr. surg., Baltimore, vol. 86, p. 443-447, 1990.

GALDERMANN, I. H.; CORTEZZI, W. Incidência e tratamento das lesões traumáticas à mandíbula, maciço facial e as estruturas dentárias na cidade do Rio de Janeiro de 1976 a 1982. RBO, Rio de Janeiro, 11, p. 820-826. FALCÃO et al. TANAKA, N. et al. Maxillofacial fractures sustained during sports. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 54, p. 715-719, 1996. GOLDSCHMIDT, M. J.; CASTIGLIONE, C. L.; ASSAEL, L. A. Craniomaxillofacial trauma in the Elderly. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 53, p. 1145-1149, 1995. HILL, C. M. et al. A one-year review of maxillofacial sports injuries treated at an Accident and Emergency Department. J. oral maxillofac. surg., Philadelphia, vol. 36, p. 44-47, 1998. LEITE SEGUNDO, A. V. et al. Incidência e tratamento de fraturas do côndilo da mandíbula no Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo e Associação Hospitalar de Bauru, no período de 1991 a 1995. Rev. odonto ciênc., Porto Alegre, v. 25, p. 7-39, 1998. MELO, R. E. V.; FREITAS, C. M.; ABREU, T. C. Trauma facial: uma análise de 1316 pacientes. Rev. odonto ciênc., Porto Alegre, v. 21, p. 167-181, 1996. OLSON, R. A. et al. Fractures of the mandible: A review of 580 cases. Am. Assoc. Oral Maxillofac. Surg., vol. 23, p. 2378-2391, 1982. PALMA, V. C.; LUZ, J. G. C.; CORREIA, F. A. S. Freqüência de fraturas faciais em pacientes atendidos num serviço hospitalar. Rev. odontol. Univ. São Paulo, São Paulo, v. 9, p. 121-126, 1995. SOUZA, L. C. M. et al. Estudo de 450 casos de fraturas dos ossos da face. Rev. Ass. Paul. Cirurg. Dent., São Paulo, v. 37, p. 256-260, 1983. 71