Resumos do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia Porto Alegre/RS 25 a 28/11/2013



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Transcrição:

15127 - Vivência em um estabelecimento agrícola familiar: reflexões sobre as estratégias de reprodução econômica e social na comunidade Santa Luzia, nordeste paraense Experience in a family farm establishment: reflections on the reproduction strategies economic and social community in Santa Luzia, northeastern Pará BEZERRA, Robson Melo 1 ; ARAÚJO, Danillo das Chagas 1 ; ROSAL, Louise Ferreira 2 1 Graduandos do 8º semestre de Agronomia e Bolsistas do Programa de Educação Tutorial PET Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará IFPA Campus Castanhal, robson.mb@hotmail.com, nillo010@hotmail.com; 2 Professora Dra. e Tutora do PET Agronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará IFPA Campus Castanhal, louiserosal@gmail.com Resumo: O presente trabalho refletir sobre as estratégias de reprodução econômico e social em um estabelecimento agrícola familiar na comunidade de Santa Luzia, Tomé-Açú/PA, durante o estágio de vivência. A experiência revelou que a implantação dos sistemas agroflorestais e a criação de associação pela comunidade, foram os principais fatores que contribuem para melhoria da qualidade de vida da família em estudo. Palavras-Chave: vivência; estratégia; trabalho; SAF; agroecossistemas. Abstract: The present work reflect on reproductive strategies economic and social in a establishment family farm in the community of Santa Luzia, Tomé-Açú/PA during the stage of living. Experience has shown that the implementation of agroforestry systems and the creation of the community association, were the main factors that contribute to improving quality of life for the family under study. Keywords: experience; strategy; work; SAF; agroecosystem. Contexto Ocorrida na comunidade de Santa Luzia, distante aproximadamente 37 km do município de Tomé-Açú/PA, a experiência aqui descrita foi realizada por alguns discentes do 7º semestre do curso de Agronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará IFPA, Campus Castanhal, no período de 20 de abril a 01 de maio de 2013, referente ao 2º Estágio de Campo, proposto pelo Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso. O município de Tomé-Açú, situado cerca de 200 km de Belém, encontra-se na mesorregião do nordeste paraense e ocupa uma área de 5.179 km 2. Limita-se ao norte com os municípios de Acará e Concórdia do Pará; a leste com São Domingos do Capim, Aurora do Pará e Ipixuna do Pará, ao sul com Ipixuna do Pará e a oeste com Tailândia e Acará (BARROS et al., 2009). Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 1

Historicamente, Tomé-Açú surgiu como colônia japonesa (FRAZÃO et al., 2005) e a base de sua agricultura era destinada a plantios de monocultivo da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.). Com a expansão desordenada da cultura, houve uma desvalorização de mercado, desmotivando sua perpetuação na região. O que não se esperava ocorreu a partir de 1957 com o surgimento da doença fúngica de solo, conhecida por fusariose (Fusarium solani f. sp. piperis), que atacou severamente os plantios, a partir da década de 70. Neste contexto, houve a necessidade de se repensar novos desenhos de agroecossistemas capazes de mudar o cenário o qual se encontravam. Buscas por alternativas econômicas fizeram com que sistemas consorciados, em rotação e sequencial, com cultivos perenes e anuais fossem implantados, visando aproveitar áreas antes, durante e depois do plantio da pimenta-do-reino (HOMMA, 1994). O sistema agroflorestal (SAF) é uma técnica sustentável de uso da terra, em que há um consórcio de espécies arbóreas, cultivos agrícolas e/ou criação de animais, utilizados também, em alguns casos, como estratégia para recuperação de áreas degradadas (OLIVEIRA, 2010). Dessa forma, com a implantação dessa técnica, iniciou-se a reestruturação da agricultura no município de Tomé-Açú, bem como nas comunidades circunvizinhas, como a de Santa Luzia. Este trabalho objetiva refletir sobre as estratégias de reprodução econômica e social em um estabelecimento agrícola familiar na comunidade de Santa Luzia, Tomé-Açú/PA, durante o estágio de vivência orientado pelo eixo temático Agroecossistemas Amazônicos e Trabalho do curso de Agronomia do IFPA Campus Castanhal. Descrição da experiência Após algumas reuniões entre a Comissão Organizadora de Estágio Supervisionado (COES) para tratar do destino do estágio, bem como a forma de atuação dos educandos no local, ficou decidido que a vivência seria feita em Tomé-Açú, na comunidade de Santa Luzia, em virtude da afinidade que o local tem com o tema proposto pelo PPP do curso. Para que a atividade se desenvolvesse da melhor maneira possível, foi ofertada aos alunos uma oficina metodológica com a disponibilização de documentos de auxílio, como questionário para diagnosticar o estabelecimento agrícola familiar, um roteiro de coleta de dados socioeconômicos e uma apostila sobre análise de agroecossistemas. Assim, no dia 20 de abril de 2013, os educandos seguiram viagem para a comunidade em questão. Chegando à localidade, os alunos foram recebidos pelos moradores e foi organizada uma reunião geral para tratar dos objetivos, direitos e deveres de todos ali envolvidos, tanto pela parte dos estudantes e professores, quanto pela parte das famílias dos agricultores que os acolheriam. Ao final da reunião, foi feita a distribuição dos discentes em duplas e cada equipe foi acolhida por uma família. Já na residência do agricultor, composta por 4 pessoas, os estudantes e a família 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

tiveram uma conversa mais informal para se conhecerem melhor. No dia seguinte, foi realizada uma caminhada transversal na propriedade, para que os educandos se familiarizassem com a realidade que iriam vivenciar durante o período do estágio. Segundo Souza (2009), essa forma de caminhada deve ser feita acompanhada de um informante local para que o observador se aproprie melhor do contexto local. Oriundo do estado do Maranhão, o agricultor foi mais um imigrante que chegou ao município de Tomé-Açú em busca de melhoria de vida e começou a trabalhar nos pimentais de uma família de japoneses ali instalados. Com o passar do tempo, ele adquiriu um terreno e começou a implantar sua própria roça de monocultivo de pimenta. Em trocas de experiências com outros agricultores, percebeu uma forma alternativa de agricultura diversificada através da implantação de SAF s. Nessa perspectiva, utilizou consorciada à pimenta, culturas como o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), o cacau (Theobroma cacao) e a mandioca (Manihot esculenta). Assim, deu-se início seu projeto de reestruturação das estratégias na produção agrícola e na reprodução social da família, uma forma de agricultura que valoriza a autossuficiência na alimentação, uma renda diversificada, possibilitaria, também, a conservação dos recursos naturais. Após o ciclo produtivo da pimenta, e com a inclusão de outras espécies frutíferas e madeireiras como mogno africano (Khaya ivorensis), ingá (Ingá edulis Mart.), cedro (Cedrela fissilis Vell), banana (Musa spp.), açaí (Euterpe oleracea), goiaba (Psidium guajava) e acerola (Malpighia punicifolia L.), o SAF surgiu como uma estratégia adotada para reduzir a sazonalidade da pimenta, possibilitando condições futuras de renda. Atualmente, o cupuaçu é produzido de forma orgânica, sem uso de fertilizantes sintéticos ou defensivos, o que agrega mais valor ao produto, e consequentemente um aumento na renda da família. Outras atribuições importantes que o SAF traz são o controle da erosão, pois reduzem o impacto da água e do sol sobre o solo, e a ciclagem de nutrientes, por estarem continuamente depositando material orgânico no solo, contribuindo para a fertilidade do solo (Nogueira et al., 2008). Na sustentabilidade dos SAF s, devem-se considerar todas as trocas de benefícios seja endógeno ou exógeno. Não existe uma forma única de se criar um SAF s, mas cada modelo é adequado a uma realidade distinta. A matriarca cuida da casa, ajuda no roçado no tempo da colheita da pimenta, além de trabalhar na Associação dos Produtores e Produtoras Rurais da Agricultura Familiar do Município de Tomé-Açu (APRAFAMTA). Essa associação foi fundada no ano de 2005 e possui 23 famílias associadas. Nesse espaço, os agricultores beneficiam frutas como cupuaçu, maracujá, acerola, açaí e cacau em forma de polpas. A comercialização acontece na própria cidade, além da exportação para indústrias de outros estados. Os educandos tiveram a oportunidade de participar de um dia de trabalho na associação, acompanhando todos os processos inerentes à atividade como rece- Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 3

bimento, pesagem, lavagem e despolpa dos frutos, chegando ao ponto de embalar e armazenar em câmara fria. Os filhos, de 17 e 15 anos, estudam em um período do dia e no outro ajudam tanto o pai nas atividades da roça, quanto sua mãe nos afazeres domésticos, além da criação de pequenos animais que são consumidos pela família como galinhas (Gallus gallus domesticus) e suínos (Sus domesticus). Apesar da experiência negativa que muitos agricultores do local tiveram com monocultivo, alguns estão aderindo, novamente, a essa forma de agricultura, porém com a cultura do dendê (Elaeis guineensis Jacq.), espécie bem adaptada ao solo e clima da região Embrapa (2010) e que vem apresentando expansão constante no nordeste do estado. Algumas empresas como a Biopalma da Amazônia S.A., estão financiando projetos para os agricultores, isso tem contribuído para o grande número de produtores que estão apostando na produção quase que exclusiva da cultura. Na comunidade de Santa Luzia há um conflito de ideologia entre os agricultores que aderiram aos projetos financiados por essas empresas e aqueles que não querem aderir, por compreenderem que assim terão falta de autonomia do uso de sua própria terra, transformando-se em assalariados rurais. Resultados Com a introdução dos SAF s e a criação da associação, a família está se beneficiando com a renda extra, sobretudo, com agregação de valor em seus produtos beneficiados. Se a base da economia era voltada basicamente para a lavoura da pimenta e demandava um grande esforço de todos os membros da casa para mantê-la, hoje o desgaste é menor, pois se tem como auxílio os maquinários da associação para fazer a despolpa dos frutos vindo dos SAF s o que vem contribuir na renda familiar durante o ano inteiro, não concentrando o lucro na safra da pimenta. Alguns problemas ambientais, sociais e econômicos observados na comunidade ainda são acanhados, mas com tendência a projeções maiores seja pela abertura de novas áreas plantadas com a cultura, poluição sonora com o tráfego constante de veículos carregados, bem como a danificação das estradas pelo grande peso dos caminhões carregados. Segundo Cunha (2012), esses problemas deveriam ser de responsabilidade direta das instituições que financiam os projetos com a palma, e também dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Mas há um enorme descaso. Os agricultores que aderiram aos projetos do dendê estão perdendo as características de camponês, uma vez que se tornam altamente dependentes de insumos externos, além de perderem sua autonomia e segurança alimentar que buscaram e conseguiram, após bastante tempo. Assim, o estágio de campo auxilia na construção de conhecimento sobre a realidade da agricultura familiar camponesa na Amazônia, contribuindo na formação dos educandos. 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

Agradecimentos Ao IFPA - Campus Castanhal pela oportunidade dada aos educandos; à comunidade de Santa Luzia pela acolhida; e em especial à família que nos recebeu com amor e carinho, além de se disporem para atender nossas demandas e interesses. Referências bibliográficas: CUNHA, R. S.; CARVALHO, B. V. L.; FELIZARDO, A. O.; SOUSA, R. P. Os impactos causados pela monocultura do dendê em concórdia do Pará: uma análise preliminar. II Semana de Integração em Ciência, Arte e Tecnologia (SICAT 2012) e I Feira de Saberes e Sabores Construindo saberes e valorizando sabores amazônicos. Castanhal, PA, 2012. EMBRAPA. Zoneamento agroecológico do dendezeiro para as áreas desmatadas da Amazônia legal. Rio de Janeiro. 2010. Disponível em: <http://www.cnps.embrapa.br/zoneamento_dende/zondende.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2013, às 10:0 h. FRAZÃO, D. C.; HOMMA, A. K. O.; ISHIZUKA, Y. MENEZES, A. J. E. A.; MATOS, G. B.; ROCHA, A. C. P. N. Indicadores tecnológicos, econômicos e sociais em comunidades de pequenos agricultores de Tomé-Açú, Pará. Belém: Embrapa, Amazônia Oriental, 2005. 57 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos, 229). HOMMA, A. K. O.; WALKER, R. T.; CARVALHO, R. A.; FERREIRA, C. A. P.; CONTO, A. J.; SANTOS, A. I. M.; SCATENA, F. N. Dinâmica dos sistemas agroflorestais: o caso dos agricultores nipo-brasileiros em Tomé-Açú, Pará. Congresso Brasileiro sobre Sistemas Agroflorestais. Encontro sobre Sistemas Agroflorestais nos Países do MERCOSUL. Porto Velho, RO (Brazil). 3-7 Jul 1994. NOGUEIRA, R. S.; OLIVEIRA, T.S.; MENDONÇA, E.S.; ARAÚJO FILHO, J.A. Formas de fósforo em Luvissolo Crómico Órtico sob sistemas agroflorestais no município de Sobral-CE. Revista Ciência Agronômica, v. 39, p. 494-502, 2008. OLIVEIRA, Nara Oliveira; JACQ, Clara; DOLCI, Maurício; DELAHAYE, Florian Desenvolvimento Sustentável e Sistemas Agroflorestais na Amazônia matogrossense. Dossiê, 10 2010: Número 10, Revista Franco Brasileira de Geografia. PPP AGRONOMIA, Projeto Político Pedagógico do Curso de Agronomia do IFPA/Campus Castanhal. Castanhal: IFPA, 2010. (MIMEO). SOUSA, M. M. O.; A utilização de metodologias de Diagnóstico e Planejamento Participativo em Assentamentos Rurais: O Diagnóstico Rural/Rápido Participativo (DRP) Em Extensão, Uberlândia, v. 8, n. 1, p. 34-47, jan./jul. 2009. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 5